Combate ao tráfico ilegal
Combate
A distribuição de cestas básicas para manter o homem no campo e com o objetivo de que ele deixe de depredar, eu acho pouco. Claro que respeito a idéia e é uma solução, embora paliativa. Mas o nosso caboclo se sente envergonhando em receber “esmolas” do Governo, que lhe dão um sentimento de mendicância. Eles querem trabalho, ganhar com o seu suor o sustento seu e da sua família, dentro daquela idéia de que o trabalho dignifica o homem. Faz-me, novamente, lembrar de Gonzaguinha: “sem o seu trabalho, o homem não tem honra. E sem a sua honra, se morre, se mata”. Isso quer dizer que o homem desempregado, no seu desespero, vendo seus filhos pedir o “pão” que ele não lhes pode dar, ele se desnorteia, despreza o discernimento, a consciência e o sentimento de culpa de seu ato criminoso. Mas como ele mantém a educação e o pensamento de que a pobreza não justifica o crime, porque ainda lhe resta algum orgulho dos seus ancestrais e da orientação que recebeu deles, o sentimento de religiosidade e o medo da Justiça, ele foge do roubo e envereda-se por aquilo que considera um “crime menor”, levando até seus filhos ao caminho do crime, porque eles caçam e extraem (animais e plantas) e os menores vendem, porque estes, por serem menores, cometem o chamado ato infracional e não o crime, e não podem ser processados. É o que na linguagem do crime se chama de “segurar a bronca”. Até aqui, os danos são menos graves. A partir daí é que o caso toma o verdadeiro status de devastação, de destruição, de predação e extinção (somado, evidentemente, aos danos causados pelas grandes empresas, contra as quais há um estranho silêncio e algumas das quais até patrocinam certas organizações de defesa do meio ambiente), porque finalmente o miserável se acostuma e passa a considerar aquilo como trabalho, como profissão. Então entra o traficante e ele passa a ser usado para as caçadas. Há quem acredite que esses miseráveis não representam grande importância no tráfico, pois só se vê o que ocorre em beira de estrada, mas não é preciso ser muito inteligente para concluir que o grande traficante, esperto que é, não se expõe e nem se dá ao trabalho de caçar. No máximo distribui as armadilhas. Para juntar uma boa quantidade de animais, que lhe compense os custos, é evidente que ele estabelece pontos de coleta, que não ficam ‘a mostra, porque não é crível que uma só pessoa consiga em tão pouco tempo, pelos números divulgados, reunir tantos animais caçados e tantos produtos vindos o extrativismo predatório. Depois vem o Governo. Se precisa de energia elétrica, dane-se o meio ambiente. Se precisa de extração mineral; se precisa de carvão vegetal; se precisa concorrer com o Mercado Externo… Até se precisar passar com o avião… Ah, mas não pode dar subsídios para o emprego. A Lei de “Irresponsabilidade” Fiscal não permite que se gaste mais de 6% do orçamento com recursos humanos. Então nem dá para transformar esses pobres extrativistas em vigilantes da biodiversidade. Ainda, dentro deste tema, se fala muito em vida, sofrimento, dor, maus tratos, ferimentos e mutilação de animais. E a pesca esportiva? Alguém já viu um peixe sorrindo alegremente pelo prazer incomparável de estar se debatendo pendurado num anzol? Tem até programas de televisão incentivando essa prática. Que me perdoem e não julguem os pescadores que eu seja contra ou a favor ou que eu esteja lhes recriminando. A atividade é legal, como legal é a criação de pássaros. O que me espanta é que somente a jaula ou a gaiola é que causa sofrimento aos bichos. Finalmente a vida. Ah, a vida! Tem preservacionistas por aí salvando bichos com a vida de outros bichos. A quem é dado o direito de decidir qual vida é mais importante que outra? Para quem defende a Natureza, havia de defender todas as formas de vida, ou não foi a Natureza também quem as criou? Se a Natureza é perfeita, se tudo tem sua função no ecossistema, a ninguém é dado o direito de tirar uma vida em favor de outra. Para a serpente, sua vida é mais importante do que a do sapo e por isso ela o devora. Mas para o sapo, sua vida é mais importante do que a da cobra, e se não tem defesa natural ele foge… Qual vida vale mais? A do bicho ou a das “presas vivas” ou alimentos vivos? Estes últimos não são bichos? Vivos o nome já diz que são. Quem já não viu, também na TV, treinar-se um animal para caçar para depois fazer a soltura. Um preá para uma cobra, um rato para um gavião, um coelho para uma jaguaritirica (um perú para o Natal do homem).
E são os criadores de passarinhos que devem assumir a responsabilidade de combater o tráfico…
Escrito por Valdemir Roberto Barros, em 2/9/2003