Fantástico 01/06/03

Reportagem

Foi com imenso pesar que vi veiculado mais uma vez neste programa uma reportagem sobre Tráfico de Animais Silvestres. A despeito que tal ilícito deva ser combatido com o maior rigor possível, não posso me furtar a tecer algumas críticas.

Em primeiro lugar, a impressão que me passa é que a fonte é sempre a mesma (RENCTAS), com os mesmos números e os mesmos fatos. Será que um jornalismo dito sério não deve procurar outras fontes para uma maior veracidade dos fatos?

Em todos os seus noticiários, desde o Jornal Nacional até programas como o Globo Repórter, números absurdos que são divulgados tiram toda a credibilidade do fato noticiado, números esses que só podem atender a uma crescente sede de sensacionalismo.

“38 milhões de animais são retirados anualmente da Natureza pelos caçadores”. Se esse número for real, e há tanto tempo divulgado, háverá hoje algum animal na Natureza?

“9 dentre dez animais chegam ao seu destino mortos”. Será que que só um sobrevivente é capaz de custear toda a operação e ainda dar lucro ao criminoso?

Eles divulgam o resultado das apreensões? Para onde são direcionados e quantos são reintroduzidos?

É eficaz a forma com que hoje as apreensões são feitas, na medida em que o traficante é imediatamente solto e lógicamente vai “correr” para se reabastecer e tentar recuperar o prejuízo?

É objetivo da Rede Globo colocar lado a lado traficantes e criadores sérios? Criar na opinião pública uma imagem desfavoravel auqeles que criam/mantem animais silvestres em cativeiro com a devida autorização do IBAMA? Se não, porque não divulgam o trabalho de criadores amadores, comerciais, conservacionistas e científicos como verdadeiros aliados na luta contra o tráfico?

Sou criador de pássaros nativos. Amante da Natureza. Solidário ao combate ao tráfico, mas não com a visão unilateral que os Srs. têm demonstrado. Talvez eu esteja errado, pois como poderia contestar esta prova incoteste do “padrão Globo de qualidade” ?

Temos várias organizações que cuidam da preservação. Criadores abnegados que não tem como fazer sua voz ecoar. Não seria a oportunidade para os Srs. se redimirem de tantas informações baseadas em números falsos e inflacionados?

“38 milhões por ano”. A cada ano esse número se repete, parece que ele ´imutável e os Srs. ainda não se aperceberam disso. Talvez um produtor de programa isento e não influenciado pelo loby onguista, posa vir a dar um tom mais realista às suas reportagens/ denúncias.

Escrito por Rogério Fujiura, em 2/9/2003