Técnicas de Manejo na Criação de Canário-da-Terra

PALESTRA proferida em maio de 2003 em Florianópolis

PALESTRA EM FLORIANÓLIS

No encontro dos Sicalienses, promovido pela COBRAP, dia 03 de maio de 2.003, em Florianópolis – SC, o dr. Paulo Rui de Camargo proferiu palestra, na sede da SAC – Sociedade Amigos do Curió, abordando o seguinte tema:

TÉCNICAS DE MANEJO NA CRIAÇÃO DE CANÁRIO-DA-TERRA

Paulo Rui de Camargo

De início, é importante fazer um rápido retrospecto da classificação taxonômica do gênero Sicalis, classificado por BOIE, em 1828, no qual está incluído o pássaro denominado popularmente, no Brasil, como canário-da-terra.

Como base referencial na classificação científica das várias espécies e subespécies desse pássaro, tomei por lastro os livros de ROBERT S. RIDGELY “Birds of South América”, Vol. I, ed. University of Texas, 2001 e de JAMES PETERS “Check List of the Birds of the World”, vol. XIII, editado por Raymond A. Paynter, 1970, Cambridge, Mass., Museum of Comparative Zoology.

No momento, existem classificados para o gênero Sicalis 11 espécies e 31 subespécies. Acredito, no entanto, que falte ainda uma classificação mais apurada para este gênero, já que se observa, em regiões distintas, o mesmo Sicalis flaveola brasiliesis com formas, colorações de penas, de bicos, de tarsos e pés com cores diversas e portes diferentes. Acredito que esta questão taxonômica será melhor estudada, podendo, no futuro, serem descritas cientificamente novas espécies e novas subespécies.

Abaixo relaciono, por ordem alfabética (para maior facilidade de consulta), as espécies e subespécies do canário-da-terra:

1) Sicalis aurivestris

espécie monotípica. Tamanho: 15 cms. Habita regiões andinas do Chile e Argentina.

2) Sicalis citrina

3 subespécies. Tamanho: 12 cms.

Sicalis c. browni

Sicalis c. citrina

Sicalis c. occidentalis

As subespécies browni e citrina habitam o território brasileiro na região Norte, Estado de Roraima.

3) Sicalis columbiana

3 subespécies – Tamanho: 11 cms.

Sicalis c. columbiana

Sicalis c. leopoldinae

Sicalis c. goeldi

As 3 subespécies habitam o território brasileiro, na região Norte e Centro do Brasil, com distribuição pelos Estados do Amazonas, Pará, Roraima, Goiás e Norte de Minas Gerais, ocorrendo, ainda, na Colômbia e Venezuela. A subespécie leopoldinae é conhecida pela denominação popular de canarinho Urucuia e a subespécie goeldi é conhecida por canarinho-do-Amazonas ou canarinho pirulito.

4) Sicalis flaveola

4 subespécies – Tamanho: brasiliensis e flaveola 13,5 cms ; pelzelni 12,5 cms. e valida 14/14,5 a 15 cms.

Sicalis f. brasiliensis

Sicalis f. flaveola

Sicalis f. pelzelni

Sicalis f. valida

A subespécie brasiliensis habita o território brasileiro, nos Estados do nordeste do Brasil, a partir do Estado do Maranhão, Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte até Alagoas, e também na região central, Estados de Goiás, Tocantins e Minas Gerais e região Sudeste, Estados do Rio de Janeiro e São Paulo. A subespécie flaveola também habita o território brasileiro, em partes do Estado do Acre e Amazonas, na região fronteiriça com a Venezuela. Esta subespécie é peculiar na Venezuela e Colômbia. A subespécie pelzelni habita o Brasil, nos Estados do Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul e sul e sudoeste do Estado do Mato Grosso do Sul, ocorrendo, também, no Uruguai, Paraguai e Argentina. A subespécie valida habita regiões andinas do Peru, Equador e Bolívia.

5) Sicalis lebruni

espécie monotípica. Tamanho: 14 cms. Habita o extremo sul da Argentina e Chile.

6) Sicalis lutea

espécie monotípica. Tamanho: 13,5 cms. Habita locais montanhosos do Peru, Bolívia e também Argentina.

7) Sicalis luteocephala

espécie monotípica. Tamanho: 14 cms. Habitante da Bolívia.

8) Sicalis luteola

4 subespécies . Tamanho 11,5 a 12 cms.

Sicalis l. bogotensis

Sicalis l. chapmani

Sicalis l. chrysops

Sicalis l. eisenmanni

Sicalis l. flavissima

Sicalis l. luteiventris

Sicalis l. luteola

Sicalis l. mexicana

Habita o Brasil em varias regiões (migrante), desde a região Norte, Oeste, até a região sul e também Argentina, Bolívia e Colômbia. As subespécie Sicalis flavissima, luteola, chapmani e luteiventris são habitantes do território brasileiro.

9) Sicalis olivascens

4 subespécies. Tamanho: 14 cms.

Sicalis o. chloris

Sicalis o. mendozae

Sicalis o. olivascens

Sicalis o. salvini

Habita regiões andinas do Peru, Bolívia, Chile e Argentina.

10) Sicalis raimondii

espécie monotípica. Tamanho11,5 cms. Habitante do Peru.

11) Sicalis taczanowskii

espécie monotípica. Tamanho: 12 cms. Habitante do Equador e Peru.

Da relação taxonômica acima, pode-se verificar que o gênero Sicalis, no Brasil, possui 4 espécies (exemplo: citrina, columbiana, flaveola e luteola) e 12 subespécies (exemplo: citrina 2 subespécies (browni, citrina) ; columbiana 3 subespécies (columbiana, goeldi, e leopoldinae) ; flaveola 3 subespécies (brasiliensis, flaveola e pelzelni) e luteola 3 subespécies (chapmani, luteiventris e luteola)

Passarei, agora, a descrever vários conceitos, associados direta ou indiretamente a manutenção e criação dos canários-da-terra em ambiente doméstico.

I

Um dos itens mais importantes, na mantença e procriação das aves em gaiola, diz respeito aos procedimentos e à maneira certa de implementar um manejo adequado.

Entende-se por manejo adequado a utilização racional e a observância de todos os requisitos básicos, bem como o gerenciamento correto de todas as técnicas que envolvem a proteção e biosegurança dos pássaros. Esses cuidados o ornitófilo deve observar e, logicamente, executar para o bom tratamento de seus animais de estimação.

Nesta palestra irei abordar os seguintes tópicos: 1) alojamento-abrigo – local onde as gaiolas irão ser colocadas; 2) limpeza e higienização; 3) dietas – alimentação; 4) profilaxia – cura de doenças; 5) biosegurança ; 6) companheiros de reprodução ; estratégias de criação; 7) possibilidades de as aves criarem a prole ; 8) procedimentos de lida, limpeza e trato.

II

Geralmente quem inicia a criação de pássaros em gaiola pensa sempre, em primeiro lugar, na aquisição dos reprodutores. E deixa, para segundo plano, outros itens muito importantes, que precisam ser verificados antes da compra das matrizes.

Em primeiro lugar, deve-se pensar no local de abrigo dos reprodutores, ou seja, onde deverão ser alojados. Não me refiro, aqui, as gaiolas, mas ao aposento onde elas serão colocadas.

POSIÇÕES DO SOL: Sobre o local onde as gaiolas irão ser posicionadas, é bom lembrar que este lugar deve respeitar as posições do sol durante o dia. O cômodo onde as aves irão ficar alojadas deve ter um telhado de preferência com telhas de barro (que isolam melhor calor) para proteção contra a intensidade dos raios solares, do sereno e da chuva, mantendo um controle térmico saudável. Deve, ainda, possuir amplas janelas e portas teladas, para evitar fuga de pássaros e impedir a entrada de aves silvestres (especialmente pombas, pardais, rolinhas), que podem introduzir doenças e piolhos ou, ainda, moscas, pernilongos, ratos, baratas, lagartixas, aranhas e outros animais nocivos.

LUMINOSIDADE: O ciclo de iluminação é essencial durante a criação, pois tanto o excesso como a falta de luminosidade têm reflexos diretos no ciclo reprodutivo e nos rituais de acasalamento, especialmente nas fêmeas, para início da postura. É sempre benéfica a entrada de raios de sol, na parte da manhã, no aposento de criação. Sabe-se que o sol funciona como germicida natural. A luminosidade é essencial ao bem estar dos pássaros, seja durante a criação, seja no período de repouso (muda de penas). As aves seguem seu biorítmo normal, em função dos períodos de luz. A luz, natural ou artificial, captada pela retina dos olhos dos animais, promovem estímulos nervosos, captados pelo hipotálamo, estimulando os machos a produzirem suas vocalizações sonoras e, nas fêmeas, induzindo-as a iniciar o ciclo reprodutivo anual. Um ambiente iluminado propiciará melhores condições de saúde para os pássaros, o que nos faz lembrar o tradicional ditado “casa que entra sol, não entra médico nem remédio”.

AREJAMENTO: De outro lado, o local precisa ser arejado, com temperatura mais ou menos estável (entre 21/28graus centígrados), com bastante claridade (sem insolação direta por muito tempo). Este local necessita, outrossim, ser seco (sem excesso de umidade) e isento de correntes diretas de vento encanado. O ar quente e viciado, sem uma eficiente ventilação, além de demasiada umidade, constituem fatores desfavoráveis à mantença e a criação das aves em domesticidade. Outro ponto problemático são odores e cheiros desagradáveis, os quais precisam ser eliminados, com adequada e constante renovação de ar puro. Por fim, o piso e as paredes devem ser constituídos de materiais que facilitem a limpeza e a lavagem.

Umidade do ambiente: ambientes úmidos, facilitam a prliferação de fungos e bactérias, com conseqüências drásticas para a saúde dos pássaros.

Ainda no que tange a este primeiro item, deve ser observado onde a ave irá ser alojada. Se for apenas um pássaro (que irá ser mantido isolado, por exemplo, só para cantar), ele pode ser instalado numa gaiola, compatível com o seu tamanho. Exemplificando, se for um brejal ou um coleirinho, uma gaiola pequena. Se for um corrupião ou um sabiá, uma gaiola maior e, assim por diante.

CRIAÇÃO MONOGÂMICA E POLIGÂMICA : Se o objetivo for a criação monogâmica (um casal por gaiola), este casal deverá ficar confinado em uma gaiola-criadeira com espaço suficiente para estes moradores. Se a criação for poligâmica (um macho para várias fêmeas) cada fêmea deverá ocupar sua própria gaiola-criadeira e, o macho, a sua. Os reprodutores serão unidos quando o macho estiver fogoso e cantando e, a fêmea, pedindo gala. Depois da gala o macho volta para sua gaiola. Esta operação geralmente é feita durante um ou dois dias (alguns criadores usam três/quatro dias) para que todos os ovos sejam fertilizados. Toda gaiola deve ter as acomodações necessárias de molde a atender as necessidades espaciais das espécies nelas mantidas. As melhores gaiolas criadeiras são aquelas que têm grade acima do piso ou da bandeja de fundo, evitando que as aves tenham contato direto com os excrementos.

GAIOLAS – SUPORTES – PRATELEIRAS – ESTRUTURAS : Em criações domésticas, as gaiolas podem ser colocadas em estruturas metálicas (tipo armação-carrinho), em prateleiras, ou penduradas, em suportes, nas paredes de um cômodo, ou de um quarto especialmente destinado a esta finalidade. Jamais pendurar as gaiolas em paredes emboloradas, mofadas e úmidas, ou em corredores, onde haja ventos frios, constantes e encanados. Estes fatores negativos prejudicam a saúde das aves. As gaiolas devem ser posicionadas uma ao lado da outra, de maneira que os reprodutores não se visualizem. Nos lados das gaiolas coloca-se um anteparo, um tabique de madeira, chapas de metal, ou divisórias de plástico ou acrílico para impedir a visão.

ACESSO VISUAL: Durante o período reprodutivo os casais não podem ter acesso visual a outras gaiolas. Se os reprodutores enxergarem-se uns aos outros a criação fica inviabilizada (devido ao instinto territorialista, belicoso neste período), pois os reprodutores passam a maior parte do tempo hostilizando-se mutuamente. Os machos brigam com suas próprias fêmeas, estas podem não fabricar o ninho ou mesmo destruí-lo depois de pronto, além da morte de filhotes pelos pais (por falta de alimentação, ou porque são rejeitados ou porque acabam sendo expulsos e jogados fora dos ninhos).

III

O segundo item limpeza – higienização – desinfecção é fundamental na manutenção de qualquer animal cativo. Tudo o que se relacionar à mantença dos pássaros e aos utensílios/equipamentos usados precisam ser escrupulosamente limpos, assim também o local de criação, as gaiolas, os bebedouros, a água servida, os alimentos (sementes, farinhadas, frutas, legumes, verduras, grit (mistura de areia/casca de ovo triturada/farinha de ostra e sais minerais), os comedouros, vasilhas, poleiros, os ninhos, as caixas-ninho, os materiais de sua confecção. Sem uma higienização bem feita, nenhuma ave poderá manter-se em condições de plena saúde e, obviamente, o sucesso na criação ficará na dependência da eventualidade.

LIMPEZA DAS GAIOLAS deve começar pela bandeja do fundo. Retiram-se os papéis que revestem o piso (se eles forem utilizados) ou limpam-se as fezes e outras resíduos com uma espátula e uma esponja, tudo para evitar que os dejetos ou mesmo a poeira acumulados venham a contaminar os alimentos e a água de beber. Depois da limpeza do piso, pode-se trocar as sementes, a ração e as farinhadas e, por último, a água. Os comedouros, bebedouros, grades e pisos devem ser limpos e desinfetados (exemplo: cloro diluído em água) pelo menos de três em três dias. Isto é fundamental.

BANHOS : Os pássaros devem tomar banhos frequentes, de preferência uns quatro por semana, no mínimo. Durante a época de muda de penas, o banho deve ser diário, desde que, obviamente, o tempo estiver bom. Se a ave não quiser tomar banho, o criador-ornitófilo poderá borrifar água nas penas, por meio de um borrifador/aspergidor. Não esquecer dos banhos de sol, nas primeiras horas da manhã. Isto é extremamente salutar à saúde dos animais. De vez em quando um passeio com o pássaro ou a mudança da gaiola de lugar também influencia na melhoria da atividade e no comportamento. Estes passeios ou mudanças despertam a agilidade, ajudam a “esquentar” um pássaro que estava inativo, indolente ou “frio”, sem fogosidade ou tenha parado de cantar.

IV

O tópico dieta – alimentação também constitui outro ponto primordial, que jamais poderá ser desprezado, pois dele irá depender a higidez do plantel. Não esquecer que o passarinho que vive em gaiola não tem as mesmas oportunidades de escolha de alimentos do que dispõe um pássaro livre. Assim, deve-se compensar este aspecto, assegurando as pássaros engaiolados um dieta saudável, rica, variada de opções, para que os animais façam a escolha de acordo com sus necessidades. A comida a ser servida deverá ser a melhor, a mais saudável, a mais fresca e limpa possível. Observar os prazos de validade dos produtos e suas respectivas procedências. Nunca esquecer as especializações de dietas, como, por exemplo, entre os pássaros frugívoros e insetívoros.

SEMENTES : Procuro fornecer o maior número variado de sementes, isentas de poeira e sujidades, em uma proporção de 60% de alpiste, entremeado e misturado com outras sementes da estação, como os painços (branco, amarelo, português, vermelho, verde e preto), niger, perila, nabão, colza, gergelim, senha e milheto. Na mistura de sementes acrescento (para quilo de sementes) 2 colheres de sopa de Emulsão de Scott (óleo de fígado de bacalhau). Incorporo o óleo de fígado de bacalhau às sementes, revolvendo as sementes e mexendo com as mãos até que a emulsão desapareça, sendo absorvido pelas sementes. Forneço, também, em recipientes separados uma mistura de arroz sem casca, quebrado, do tipo mitu (japonês) ou arroz integral, sem casca, quebrado, misturado com quirerinha fina de milho e trigo quebrado usado para quibe.

ALIMENTOS VEGETAIS : Em meu aviário, as verduras, legumes e frutas são outras fontes alimentícias importantes e necessárias, fornecidas diariamente, dando variabilidade de opções na dieta dos pássaros. Elas são fornecidas variando-se os tipos de verdura, legumes e frutas. Todos são higienizados antes de serem disponibilizadas para as aves. Utilizamos o microcloro que, diluído na água, atua como bactericida. Os vegetais são deixados imersos durante 15 minutos no agente bactericida. Depois lavados e servidos aos pássaros.

VERDURAS: entre as hortaliças destaco o almeirão e a escarola, mas dou, também, intercaladamente, couve (inclusive os talos), catalonia, radiche, folhas de beterraba, acelga, espinafre, repolho, folhas de caruru, agrião e rúcula.

LEGUMES: o pepino forneço em pedacinhos, tipo cubos pequenos ( 3 cms X 3 cms), todos os dias, o ano todo. Outros legumes como jiló (dois tipos), maxixe, berinjela, abobrinha italiana e abobrinha de pescoço, rabanete e pimentas, dedo-de-moça e cambuci .

FRUTAS : Entre as frutas a número 1 é a banana (tanto a nanica, prata e ouro), maçã, pêra, carambola, laranja, melão (a parte branca perto da casca), goiaba, araçá, podendo ser usadas outras frutas regionais, dependendo da região onde os pássaros estão alojados.

GRIT: A mistura de areia, casca de ostras/mariscos/de ovos de galinha, misturado com sais minerais e carvão vegetais em micro partículas, é imprescindível estar permanentemente, disponível em todas as gaiolas, para todos os pássaros, durante o ano todo. Normalmente utilizo areia de praia (do tipo tombo – repleta de partículas de conchas, de casca de ostras e mariscos.

V

Sobre profilaxia e doenças, é necessário alertar para alguns detalhes importantes e indispensáveis. Toda ave que entrar no aviário deve passar por uma quarentena. Nesta etapa, há que se proceder a uma observação criteriosa da ave para verificar se, eventualmente, apresenta alguma anomalia na saúde. O criador de aves precisa manter o sistema imunológico de seus pássaros sobre controle. Neste período, o criador fará um controle diuturno, observando atentamente o comportamento do animal recém introduzido. Além disso, deverá aspergir um anti-ácaro/piolho, bem assim um vermífugo para matar qualquer endo-ecto-parasita que esteja incrustado nas penas e eliminação de vermes do intestino. De outra parte, neste período, o orniticultor deve colocar diariamente um recipiente para banho. Logo apos o pássaro haver feito a limpeza das penas, a banheirinha pode ser removida em seguida, evitando-se que o líquido remanescente, quase sempre impuro, possa ser ingerido.

EXERCÍCIOS APÓS A MUDA: É adequado que o pássaro seja estimulado ao exercício após a muda, pois, embora o repouso e a tranqüilidade seja um aspecto importante durante a fase de renovação de penas, precisamos restaurar sua disposição, após este período de ociosidade física. Para as fêmeas e machos a tonicidade muscular é um fator de extrema importância. Nos machos, para reabilitarem a sua disposição para o canto, bem como, para assegurar vigor durante o sobrevôo das galas, e, nas fêmeas, para evitarmos a dificuldade para expelir ovos, devido a falta de um tônus adequado, nos músculos do oviduto.

Sintomas anômalos no comportamento, na postura e mesmo a inatividade ou atividade diferente do pássaro devem ser prontamente investigados e as causas combatidas imediatamente, com medicação específica. Em caso de dúvida sobre qual o procedimento correto ou remédio apropriado, o melhor é consultar um veterinário, de preferência especializado em aves, inclusive com a realização de exames, inclusive das fezes, não só para detecção de enfermidades, como para posterior tratamento, com medicamentos condizentes.

Aqui cabe um outro aviso. Trata-se dos poleiros. O melhor, no meu entendimento, é substituir os poleiros industrializados, todos do mesmo diâmetro, por outros (no especial ramos e pequenos galhos de árvore), escolhendo três diâmetros distintos: um poleiro mais grosso, um médio e outro mais fino. Isto evita deformações nos tarsos, dedos e unhas, inclusive futuros problemas nas articulações, nervos e músculos, já que poleiros, todos iguais, do mesmo diâmetro, acabam causando lesões articulares e crescimento exagerado das unhas.

VI

A respeito do quinto item, pode-se definir biosegurança como o conjunto de medidas e práticas de manejo para minimizar ou evitar no plantel a presença de bactérias, fungos, vírus, parasitas, microorganismos indesejáveis, insetos ou roedores, que possam vir a contaminar ou alterar a salubridade, a boa saúde dos habitantes do aviário. O objetivo da biosegurança é manter a saúde dos pássaros sob rígido controle, para que possam viver, crescer, mudar as penas, acasalar, botar e chocar seus ovos e que estes possam eclodir sem problemas, os filhotes possam se desenvolver e atingir a idade adulta. A biosegurança deve servir para um perfeito controle sanitário, evitando-se fatores de risco, o contágio de animais doentes e a proliferação de doenças.

FRESTAS E BURACOS : Neste item é fundamental lembrar que todas as trincas, frestas, buracos e aberturas estejam devidamente fechadas, não permitindo a entrada de piolhos, mosquitos, pernilongos, vespas, formigas, aranhas, baratas, gongos, camondongos, ratos e ratazanas e outros animais indesejáveis, que podem dissiminar agentes transmissores de moléstias contagiosas.

DESINFECÇÃO : Outros pontos a serem observados com rigor dizem respeito a desinfecção periódica do aviário, fornecimento de água pura, limpeza diária do chão, sementes, verduras, legumes e outros alimentos. Todos os alimentos devem ser bem lavados e de preferência desinfetados.

VII

Companheiros de reprodução–Estratégias de criação. Bem antes do início dos períodos procriatórios (entre março-abril a setembro-outubro), ou seja nos meses de maio/junho/julho/agosto os reprodutores precisam descansar, repor suas forças e energias, ser bem alimentados e vermifugados para terem boa saúde durante a época de cria.

USO DE PÁSSAROS AMAS. Este recurso pode se tornar um grande facilitador da criação doméstica. Para facilitar a criação de

Canários da Terra, podemos recorrer a utilização de “amas”, que atuarão como pais adotivos.

Distintos motivos podem justificar a adoção deste recurso: a) fêmeas que bicam seus próprios ovos; b) outras que botam seus ovos fora do ninho; c) outras que botam, mas não chocam; d) outras que lançam seus filhotes fora do ninho; e) outras que não alimentam adequadamente seus filhos; f) outras que bicam e acabam matando os seus filhotes; g) para aumentar a produtividade, deixando para as fêmeas de Canário da Terra apenas a função da postura.

Assim, para suprir necessidades que se apresentem em situações adversas, ou mesmo para aumentar a produção de filhotes, a utilização de pássaros “amas” tem-se mostrado uma excelente alternativa. Uma fêmea de Canário da Terra, que fique apenas com o mister de botar, permitirá que tenhamos até 8 posturas na temporada, pois a incunbência da choca e alimentação dos filhotes, ficarão para as “amas”.

Após anos de experiência, percebi que a melhor “ama”, são os Canários (Serinus canarius) da conhecida Raça Espanhola. São canários de menor porte.Mostram um excelente instinto maternal, e, tanto as fêmeas como os machos, apresentam um comportamento bastante satisfatório.

Ressalte-se por fim, que para evitarmos contaminação cruzada, sempre devemos tratar primeiro as gaiolas que tem filhotes, em seguida os pássaros novos, antes de manejar as gaiolas onde encontam-se somente pássaros adultos. Este roteiro está associado com a lógica imunológica, onde, os pássaros adultos, apresentam um sistema imunológico mais maduro.

MELHORES AVES : O passarinheiro deverá escolher, para servir de reprodutores, os seus melhores pássaros do plantel. A escolha deve recair nos exemplares que apresentarem os melhores dotes, seja no porte, postura, alimentação dos filhotes, aspecto das penas, agilidade, fogosidade, fibra, valentia e, principalmente, a qualidade do canto dos machos. Evitar sempre aves doentes, de qualidades inferiores, medrosas, com penas sem viço e impróprias para a reprodução.

LINHAGEM E SELEÇÀO GENÉTICA : Na criação doméstica a linhagem e a seleção genética são requisitos importantes. A perfeição haverá de ser exigência fundamental, a mola mestre na escolha dos reprodutores. Em certas espécies de pássaros (por exemplo, bicudos e curiós), um fator básico e indispensável a ser considerado é a qualidade do canto, bem como a sua repetição. Não esquecer, ademais, que as vocalizações dos machos têm papel preponderante na criação. O canto dos machos exerce um poderoso efeito excitante no sistema nervoso das fêmeas, mudando o estado fisiológico dos seus cérebros, aumentando os níveis de hormônio que, por sua vez, acabam influenciando no comportamento sexual-reprodutivo. Por isso, elas precisam ouvir os machos cantar. Os repertórios vocais, com variedades de sons, ritmos e intensidades, acabam acelerando e desencadeando, na época própria da procriação, os processos reprodutivos.

VIII

A possibilidade de os pássaros criarem a prole é outro tema basilar.

INFORMAÇÕES E ESTUDOS : De nada adianta ter bons reprodutores, local adequado, gaiolas e recintos apropriados, se não forem conhecidas as regras básicas e os procedimentos capitais de criação de pássaros em cativeiro. Nada deve ser feito de orelhada, sem planejamento e sem conhecimentos especializados. Muita gente tenta criar, mas desconhece por completo os rudimentos mínimos das práticas de manejo procriatório. Por isso, a criação doméstica muitas vezes fracassa ou fica por conta do acaso. Assim, o criador consciente tem obrigação de procurar informações. Necessita ler, estudar, pesquisar, visitar aviários de outros criadores, a fim de observar e obter os subsídios necessários sobre a espécie que pretenda criar. Cada gênero e cada espécie de pássaro tem suas peculiaridades próprias na criação. Desta forma, não adianta arriscar, gastar tempo e dinheiro à toa, uma vez que sem base e sem o sólido apoio de conhecimentos, o futuro é incerto e, quase sempre, desastroso. Aí o desânimo toma conta do criador despreparado.

IX

O oitavo e último item, isto é os procedimentos de lida, trato e limpeza são também itens que podem ser melhor executados, minimizando o trabalho do ornitófilo. A lida é o modo, a maneira como os nossos animaizinhos de estima são diariamente examinados, zelados, manejados, nutridos, eventualmente manipulados, curados e medicados. A lida deve ser racional, um passatempo gratificante. Jamais encarada como encargo obrigacional entediante, uma incumbência ou um fardo maçante. O prazer deve substituir a chatice. A lida, o trato e a limpeza devem ser realizadas com calma, sem atropelos, sem barulhos desnecessários e gestos bruscos. Ela pode ser cumprida de forma a economizar energia e tempo do passarinheiro. Por exemplo: encher e trocar a água dos bebedouros Esta troca não deve ser feita gaiola por gaiola. O melhor procedimento é possuir um número dobrado de bebedouros. Se o passarinheiro tiver dez gaiolas deve possuir mais dez bebedouros de reserva. Ele irá encher, de uma única vez, os dez bebedouros de reserva e os colocar em cada gaiola. Esta será apenas uma operação. As mãos ficarão molhadas uma vez só. Os outros bebedouros usados serão imersos em uma vasilha ou balde de plástico, com água clorada. O próprio cloro higieniza os bebedouros, os quais, no dia seguinte, estarão limpos para serem usados novamente. Estes procedimentos ergonômicos agilizam o processo de lida, economizando, como dito acima, energia e tempo do criador, facilitando o serviço. Este é apenas um exemplo de como a lida, limpeza e trato podem se transformar em tarefas mais racionalizadas e menos cansativas, especialmente para empregados domésticos, que adoram executar o mínimo trabalho, utilizando a lei do menor esforço como paradigma de suas atividades.

Ruídos e barulhos: um ambiente ruidoso, pode gerar incomodas situações de stress para os pássaros, quebrando sua imunidade, deixando-os suceptiveis a instauração de doenças.

Correntes de Ventos: o local deve estar abrigado de correntes de vento, fator que poderá ocasionar problemas respiratórios para os pássaros, devido às variações bruscas de temperaturas, bem como, ao ar carregado de pó.

LIMPEZA DAS GAIOLAS: A limpeza nas gaiolas deve começar pelo bandeja do fundo. Retiram-se os papéis que revestem o fundo do piso (se forem utilizados) ou remove-se as fezes e outros detritos, evitando-se assim, que a poeira levantada neste momento, contamine a nova comida e água de bebida que será fornecida aos pássaros. Após limpada a bandeja, é que iremos trocar as sementes, a ração, farinhada e por último a água de beber.

X

O tema deste desta explanação é repleto de procedimentos que poderiam ser melhor esclarecidos para propiciar mais informações complementativas ao criador iniciante. Mas o limite de tempo desta palestra inibe a inclusão de outras especificidades e maiores explicações técnicas. Este conferencista, todavia, está a disposição para, se for o caso, prestar esclarecimentos ou solucionar de quaisquer dúvidas.

Maio de 2.003

O palestrante é 1º Diretor Técnico de Criação de Canário da Terra da COBRAP

Escrito por Paulo Rui de Camargo, em 12/1/2004