Não Dá Para Entender Dimensões de Gaiolas
Criar dificuldades
NÃO DÁ PARA ENTENDER – DIMENSÕES DE GAIOLAS
Aloísio Pacini Tostes – Ribeirão Preto SP
Fazemos uma síntese de nosso ponto de vista com respeito às dimensões dos recintos para abrigo de animais, texto desenvolvido com a efetiva colaboração de outros criadores. Obviamente quem cria pássaros, em criatórios comerciais ou amadoristas, trabalharia contra seus próprios interesses se adotasse práticas de maus tratos aos seus reprodutores e a seu produto: os filhotes. Isto está claro diante do fato de que aos criadores interessa produzir filhotes sadios e capazes de encarar uma atividade comercial cada vez mais competitiva, onde a qualidade vai definir preços e, consequentemente, o sucesso ou não, de sua criação. Poder-se-ia dizer que o ideal seria a criação em gaiolas de grandes dimensões, condição esta em que os pássaros, supostamente, teriam mais espaço para suas atividades, o raciocínio na realidade, não é tão simples. Dentro disso, a maioria dos criadores procura otimizar os locais de criação pois a técnica desenvolvida há várias décadas, aliada à tecnologia, propícia saúde, longevidade e a boa produtividade às aves. Até porque, qualquer tipo de prejuízo à saúde ou a ocorrência de aspectos genéticos deletérios, iria trazer a inviabilização na respectiva reprodução o que obrigaria a cessamento da atividade.
Por outro lado, cabe lembrar que “maus tratos” merecem uma definição a qual deve atingir a todos os tipos de animais, indivíduo por indivíduo, cada um é um ser vivente. Uma galinha nascida em uma granja de produção, não é diferente de um curió produzido em um criatório doméstico na questão de submetê-los a maus tratos. Ademais, a utilização de animais em laboratórios, indispensável à pesquisa biomédica e imprescindível para o sucesso da indústria farmacêutica, bem como, a utilização de cobaias, cães, primatas e outros animais em experimentos de biologia básica e aplicada e no ensino biomédico e veterinário, implica em sacrifícios e injúrias físicas a todos eles. Estas ações não se limitam a estresses ambientais, mas sim na interferência direta com o funcionamento dos seus organismos, muitas vezes gerando dores terríveis. Para minimizar estes efeitos, existem hoje alternativas e normas de zooética regulamentando estas atividades de ensino e pesquisa e são cobradas e cumpridas nas universidades e institutos de pesquisa sob o olhar atento de comissões especializadas, conforme exige a lei. Além disso, a produção em massa dos chamados “animais de laboratório” é hoje uma atividade desenvolvida, não apenas em biotérios de órgãos oficiais, mas também por empresas que os comercializam. Neles a criação é em massa e o espaço é o mais restrito possível, face à necessidade de se obter um máximo de produtividade, principalmente nos biotérios comerciais. Outra atividade onde espaço merece pouca consideração é na avicultura e na pecuária de corte envolvendo animais em confinamento. Todos sabem quão desumanos é o trato dado aos animais confinados, os chamados animais de produção, uma vida miserável, os quais terão de ser sacrificados/abatidos para serem servidos em muitas mesas, onde o número de vegetarianos é realmente insignificante. Bovinos e suínos de corte e eqüinos, dentre outros, passam ainda pelo processo de castração dos machos, na maioria das vezes praticada sem uso de anestésicos. Sabemos também que a pecuária, suinocultura e avicultura são atividades imprescindíveis para a economia brasileira e que contribuem e muito para a geração de empregos e para o sucesso de nossa balança comercial, é a famosa geração de riquezas para tentar manter a boa convivência e a paz entre nós.
O que não se pode esquecer que foram todos os animais, selvagens em priscas eras, porém hoje são produtos da atividade industrial humana.
Muito importante dizer que, nos criatórios de pássaros nativos do Brasil, especialmente, bicudos, curiós e canários-da-terra, não existe qualquer necessidade de se introduzir matrizes provenientes da natureza o que quer dizer que não se está considerando utilização de dimensões de recinto para indivíduos capturados, falamos exclusivamente para os nascidos em domesticidade. Em princípio, poder-se-ia alegar que hoje, o simples fato de aprisionar animais silvestre, é uma prática inadmissível, o que todos concordamos plenamente. No entanto, existem hoje diversidade e qualidade genética disponível em criatórios, face às dezenas de gerações desses pássaros já produzidas domesticamente. Mais ainda, a alta qualidade dos pássaros, grandes repetidores e de canto aprimorado não aceita a inclusão de eventuais indivíduos oriundos do tráfico de qualidade duvidosa e que prejudica o demorado e dispendioso trabalho de seleção.
A fiscalização e a punição a caçadores de pássaros e aos traficantes, devem ser severas e exemplares. Não se pode jamais admitir criatórios que se vale de pássaros capturados da natureza. Acreditamos que com o advento do controle pelo IBAMA, via internet, as atividades de cada criadouro comercial ou não, terá que haver melhor transparência e isso ajudará muito no sentido de evitar desvios de conduta.
Portanto, a criação das espécies de pássaros deve ser tratada levando-se em conta também o seu lado econômico, que aliás encontra amparo na Lei.
Ora, “maus tratos” no caso de pássaros domesticados e produzidos em criatórios, os quais não existiriam não fosse a ação do homem, devem ser analisados levando-se em conta a necessidade de se cumprir metas de produtividade econômica baseada, antes de tudo, na geração de produtos de alta qualidade (filhotes sadios, não estressados capazes de aprender a cantar, cantar bem, competir em torneios e se tornarem reprodutores eficientes).
A dimensão das gaiolas deve ser de tal ordem a não comprometer o sucesso econômico da atividade e ao mesmo tempo evitar o colapso de uma atividade econômica em expansão no país, uma vez que o número de criatórios comerciais também autorizados e fiscalizados pelo IBAMA aumenta a cada ano, sem contar os criadores amadoristas, estes últimos geradores de vultosos recursos para a União em virtude das taxas cobradas, em âmbito nacional, pelas rubricas vinculadas ao IBAMA.
A criação de pássaros difere frontalmente da avicultura industrial. Em primeiro lugar pela ausência da manipulação genética das aves destinadas à alimentação. Ela pode ser biologicamente cruel quando se considera, por exemplo, o fato de que as linhagens de galinhas e perus desenvolvidas mundo afora geram “monstros” que crescem com grande rapidez apenas naquelas partes que interessam ao consumidor final, ou seja, peito, coxa etc.
No caso dos pássaros antes mais nada o que se visa é a longevidade dos indivíduos. Interessa ao criador que o pássaro esteja sempre sadio e seja capaz de gerar filhotes por mais de uma década, há inúmeros indivíduos com mais de vinte anos de idade em pleno processo de reprodução. Higiene e sanidade são preocupações básicas, uma vez que os maiores problemas na contenção de animais de qualquer tipo, estão ligados ao manejo, tais como: ambiente adequado (temperatura, luminosidade e ventilação), nutrição e logicamente deverá ser levado em conta o tamanho mínimo do recinto. Assim, em vez de se exigir gaiolas de dimensões impraticáveis, recomenda-se o uso de gaiolas higiênicas com grade no fundo, sem bandejas, para se minimizar o contato dos pássaros com suas fezes. Para isso, estas gaiolas estariam dispostas 10 cm acima de prateleiras forradas de papel sempre limpo. Da mesma maneira que não se pode exigir espaço amplo na criação de animais para consumo humano ou para uso experimental em laboratório, não se podem aceitar dimensões de gaiolas que comprometam a produção de filhotes em quantidade. Este é o antídoto principal contra a caça predatória e o tráfico de passeriformes silvestres (selvagens), principalmente os canoros. Portanto, o que se pede, é uma decisão capaz de atender a uma realidade prática do mundo dos criadores e que permita o máximo de conforto e espaço para os pássaros, sem que isso possa provocar qualquer dano físico ou comportamental no indivíduo. Este balanço lógico e racional, não poderá ser atingido sem se considerar a experiência secular dos criadores de pássaros. Muita gente supõe que seria ideal que não existissem pássaros ou mesmo animais em domesticidade, como se fosse possível. Porém este sonho é irrealizável, pois o próprio homem já se encarregou de destruir os habitats de grande número de aves em nome do progresso e do desenvolvimento. Além da grande necessidade psicológica de alguns de ter, perto de si, um animal como companhia. Muitos vem sendo salvos da extinção pelos criadores, os quais facilmente forneceriam filhotes para repovoar a natureza, caso os órgãos oficiais assegurem a proteção dos habitats, quem sabe, com a utilização de recursos provenientes do próprio setor para manter unidades de conservação. Num futuro próximo, esperamos que sejam estabelecidos mecanismos para que realmente possamos efetivar reintroduções sistemáticas por esse Brasil afora. Estamos trabalhando firmemente com esse objetivo, um comprometimento com o futuro e um efetivo interesse com a preservação. Como em qualquer país desenvolvido, no Brasil, a criação doméstica de pássaros para sobreviver e suprir a demanda interna e até mesmo a exportação deve ter obrigatoriamente um retorno econômico, no nosso caso consideramos também a geração de milhares de vidas de aves nativas. O sucesso até agora atingido, estará comprometido caso sejam efetuadas exigências exageradas que se prestaria para as atividades de órgãos de pesquisa do governo, mas nunca à iniciativa privada. Gaiolas exageradamente grandes sepultariam a atividade dos criatórios, não dá para entender o motivo em se tentar criar mais essa dificuldade.
Aloísio Pacini Tostes