O Divino, Maravilhoso Curió
Feio apenas nome
O DIVINO, MARAVILHOSO CURIÓ
Dinah Silveira de Queiroz
A um amigo importante, pessoa de grandes e sérias responsabilidades, mandei apenas um recado: a televisão havia apresentado um concurso de curiós, em Niterói. A resposta veio imediata e feliz: lá estivera ele concorrendo com um pássaro de sua criação e ganhara prêmio!
Parece não haver muita dúvida de que o mais apreciado de todos os pássaros canoros brasileiros o curió,pela harmonia de seu trinado e pela capacidade de ser educado para cantar horas seguidas na presença de outros pássaros e em meio aos seres humanos. Tenho um exemplar em minha casa, quase todo negro mas com tons avermelhados – daí que também o chamam de “avinhado” – pelo tom debaixo das asas. Seu bico curto e de aparência muito dura. É uma daquelas espécies de aves das quais se diz, com freqüência cada vez maior, que está em extinção. 0 extraordinário no curió é que ele se adaptou à criação em viveiros e gaiolas e se reproduz fora de seu meio natural; seu canto é educável dentro daquilo que os criadores especializados chamam de “estilo”.
A fim de proteger a espécie contra o desaparecimento, o Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal baixou uma portaria que exige seja o curió participante dos torneios sujeito ao “anilhamento”, isto é, a colocação de um pequeno anel numa perna, anel que normalmente se pode ser posto, sem riscos maiores, em pássaros muito jovens e filhotes. 0 objetivo é estabelecer que os pássaros que competem nos torneios – de onde lhes advirá o sucesso e o alto valor financeiro dos mesmos – procedam de criações domésticas e não sejam de origem selvagem, o que aumentaria o risco de extinção.
Hoje, na era do chamado “som quente”, e dos mais sofisticados aparelhos de gravação e reprodução de música e da não-música, há brasileiros que dão o preço que pedirem por um curió afamado.Tenho ouvido falar em quinze, vinte, trinta mil cruzeiros. E até mais do que se paga por um cachorro de alta raça. Que nunca falte o curió brasileiro, ainda selvagem na Amazônia e outras regiões, nosso avinhado, lindo, de canto bem temperado, feio apenas no nome de sua classificação zoológica: “Oryzoborus angolensis”.
Dinah Silveira de Queiróz