Ambientalismo é guiado pelo medo

Não se baseia na ciência

Ambientalismo é guiado pelo medo, diz Patrick Moore

Ex-integrante do Greenpeace defende hoje energia nuclear e manejo sustentável

Roberta Jansen escreve para “O Globo”:

Ele enfurece os ambientalistas tradicionais desde que deixou o Greenpeace — do qual foi co-fundador e onde trabalhou por nove anos — e passou a defender a energia nuclear como a grande solução para o combate ao aquecimento global. Polêmico, Patrick Moore é atualmente diretor da NextEnergy Solutions, a maior distribuidora de energia geotérmica do Canadá, e conselheiro do setor nuclear.

Ele participa, na terça-feira, no Rio, do XII Congresso Brasileiro de Energia, patrocinado pela Indústrias Nucleares do Brasil e Eletronuclear, e do Fórum Internacional de Energia Renovável, em Florianópolis.

– O senhor costuma dizer que o movimento ambiental não é guiado pela ciência. Por quê?

Porque em muitas áreas não é mesmo. A produção de energia é uma delas. Muitos grupos, o Greenpeace entre eles, defendem a eliminação da energia fóssil, nuclear e hidroelétrica, que respondem por 99% da energia do mundo. Então não acho que estejam sendo realistas, nem baseando suas opiniões em ciência. É impossível eliminar tudo isso e ainda termos a nossa civilização. Eles dizem que as energias renováveis são suficientes. Talvez estejam desinformando as pessoas, contando histórias da carochinha impossíveis de serem atingidas. No caso dos transgênicos é a mesma coisa. Não há evidência científica de que esses grãos causem danos, mas sim de que são benéficos. E se recusam a ouvir isso. Muitos são contra também o manejo sustentável das florestas. Então, não se baseiam em ciência.

– O que guia o movimento ambiental hoje? Interesses políticos, industriais?

O movimento ambiental se tornou uma indústria global. Não sou contra isso. O ambientalismo é guiado hoje por campanhas de desinformação e medo, nas quais não há ciência para embasar. A maioria dos militantes é ingênua, acredita naquilo. Mas os líderes lançam essas campanhas apenas para arrecadar fundos. Não há problema em arrecadar fundos, desde que não seja baseado em desinformação. Acho que a tendência é que percam credibilidade ao não ouvirem a ciência, mas isso leva tempo ainda.

– Quando foi que o senhor mudou de idéia a respeito da energia nuclear? Por que isso aconteceu?

Nos 90, por conta das mudanças climáticas.Acho que, de qualquer forma, reduzir o uso de combustíveis fósseis é uma boa idéia. E é uma boa idéia também para a saúde da população, para a conser vação. E ampliar o uso da energia nuclear é a melhor forma de fazer isso. A nuclear é a única que pode ser usada em larga escala para a redução das emissões porque é viável do ponto de vista econômico e, ao mesmo tempo, atende à crescente demanda por energia. Uma das coisas mais irônicas hoje é que, como o movimento ambiental é contra a energia nuclear e a hidroelétrica, que poderiam reduzir em muito o uso de combustíveis fósseis, ele é hoje o maior entrave para essa redução. Por que a energia solar e a eólica não seriam a solução? E a hidroelétrica? Moore: Não dá para fechar uma usina de carvão, por exemplo, contando com energia solar e eólica. Precisamos de energia quando não estiver ventando e à noite. Mas a energia nuclear pode substituir sim. Ela não é apenas a melhor alternativa hoje, mas para o futuro também. A hidroelétrica depende da capacidade dos rios. O Brasil tem sorte. Mas há nações que não têm isso.

– Muitas pessoas o acusam de ser pautado pelos interesses da indústria nuclear. O que o senhor diz?

Eu digo as coisas que eu digo porque acredito nelas. Em minhas apresentações exponho as minhas próprias opiniões baseadas em fatos. Estudo seriamente esse assunto há quase 40 anos, sou reconhecido por meu conhecimento nessa área. Eu sei o que as pessoas dizem, mas isso não é verdade. Eu apóio a energia nuclear porque acho que ela é a solução para um futuro sustentável. E faço isso por razões ambientais: a energia nuclear não mata gente todos os dias como as emissões de combustível fóssil. É uma energia limpa, seus resíduos não são jogados no meio ambiente, como os do carvão por exemplo.

– Mas os resíduos nucleares são uma das maiores preocupações.

Os resíduos não são um problema porque sabemos onde eles estão e sabemos que estão em segurança, isolados, não sendo lançados no meio ambiente.

– O senhor defende o plantio de árvores para o uso da madeira. Todo o movimento ambiental quer matar o senhor?

Bem, eu acho que eles discordam de mim. E eu também acho que eles estão errados. Acho que deve haver reservas, áreas protegidas sim. Mas também precisamos de madeira para a nossa civilização, para fazer casas, móveis, papel. E é bom porque é um recurso renovável. Por que não maximizar o volume de madeira de forma sustentável? Precisamos plantar mais árvores para, então, usá-las.

– O Brasil está entre os maiores emissores de CO2 graças ao desmatamento da Amazônia. Isso não é uma má idéia?

Acho que precisamos plantar mais árvores. Mas acho que o desmatamento da Amazônia vem sendo exagerado. Mais de 80% da floresta estão de pé. Em que outra parte do mundo se vê isso? Em lugar nenhum. E a maior parte da área desmatada é para a agricultura. Acho que ninguém está queimando a floresta porque é divertido. E não vejo nenhum mal nisso se você tem áreas protegidas — quesito no qual o Brasil é campeão. O país tem uma das melhores legislações do mundo sobre uso da terra, tem um alto nível de preocupação ambiental. Mas é mostrado internacionalmente pelo movimento ambiental como um país que está destruindo sua floresta. Resumindo, acho que o país está sendo tratado de forma injusta, mas acho também que os brasileiros têm um complexo de inferioridade forte. Acham que são ruins quando, na verdade, estão fazendo coisas melhores do que o resto do mundo. O país tem 95% de sua energia proveniente de hidroelétricas e boa parte dos carros movida a álcool, deveria estar orgulhoso disso.

Escrito por Patrick Moore , em 16/11/2008