Rusticidade e Capacidade Reprodutiva

Criação

Álvaro Blasina –Juiz OBJO/FOB

Artigo editado em 15 Abril 2001

Revista SOAM1998

Quando falamos em canários de cor, a imagem que nos vem à mente é a de uma ave de extrema beleza, plumagem sedosa, forma extremamente estilizada etc. Todos esses aspectos são sem dúvidas, a marca registrada desse pássaro que hoje é o mais criado no mundo.

Existem no entanto, para nós criadores, aspectos que vão além de sua beleza externa e que são de extrema importância para o sucesso na criação. A sua estrutura interna, resistência às doenças e capacidade reprodutiva, são aspectos essenciais, muitas vezes esquecidos por nós.

Observandoa natureza, podemos apreciar que o perffeito equilíbrio que nela ocorre, se deve a uma constante adaptabilidade de cada uma das espécies existentes, ao meio em que vivem.

Existem leis extremamente interessantes, que particularmente e fascinam observar e que determinam a base da perpetuação das espécies. Na época previa ao cio, determinadas espécies, tem como comportamento básico, a briga entre os machos, sendo que os ganhadores e mais fortes serão aqueles que, aparecerão com as fêmeas para produzir filhos mais fortes. Os reprodutores que correm atrás de uma manada para se alimentarem, sempre pegam aquele indivíduo que corre menos, determinando que o mais fraco será excluído do rebanho. Na hora da fecundação, somente o primeiro espermatozóide, em dezenas ou centenas de milhões, será que irá fecundar o óvulo, indicando à espécie. Estas leis de seleção natural, são cumpridas rigorosamente desde as mais elementares formas, de vida até as mais evoluídas, e para qualquer uma delas, seja animal, vegetal ou aquática e enfim, nenhum ser vivo escapa dela. Mas como isso tudo dentro das espécies, tem comportamento em meu canaril? Em primeiro lugar nosso critério de seleção não esta orientado para a rusticidade e sim para beleza, de forma que já estamos mudando bastante as regras originais da vida selvagem. Isto acontece em qualquer seleção genética de todos os animais criados em cativeiro. Que cria cavalos de corrida, está preocupado em que seu produto corra cada vez mais rápido, quem cria frangos quer que seu produto tenha cada vez uma conversão de peso maior, e nós queremos que nossos filhotes sejam cada vez mais bonitos.

Por não fazermos uma seleção natural muito rigorosa, automaticamente estamos num risco que é o de termos colônias cada vez mais fraca. Como se tudo isso não bastasse, utilizamos para combater os inimigos das nossas aves, produtos que representam uma verdadeira “faca de dois gumes”, tais como antibiióticos sem ter feito um antibiograma, ou aplicamos subdosagens, estaremos provocando uma seleção natural nas colônias de bactérias, matando as mais fracas e permitindo que as mais fortes se perpetuem, sendo que esta seleção, sem lugar a dúvidas, mais cedo ou mais tarde, se voltarão contra nossas aves. O exemplo mais evidente deste perigo está no alto risco das infecções hospitalares, pois as cepas bactérias daqueles locais, suportam verdadeiras “batalhas químicas”, houve uma rigorosíssima seleção por rusticidade e em conseqüência o seu combate no organismo é extremamente difícil. A estrutura psicológica do ser humano é bastante diferente de tudo aquilo que ocorre na natureza. O leão, o tubarão, o lobo etc., são mostrados como indivíduos malvados perversos, e não como parte integrante de uma estrutura perfeita, cumprindo um papel fundamental na perpetuação das espécies. Por outro lado, temos uma sensibilidade muito grande por aqueles indivíduos mais fracos ou com alguma deficiência, o que faz dedicarmos com que demos a eles um trato mais esmerado, procurando por todos os meios, a sua sobrevida.

Todos nos já tivemos casos de filhotes fracos ou com deficiências, e constatamos que automaticamente, a canária se recusa a alimenta-lo deixando que o mesmo morra, e o que é pior, muitas vezes condenados a fêmea por tal comportamento.

Tenho a convicção, de que a grande maioria dos casos em que a fêmea não trata dos filhotes, ou ela está doente, ou os filhotes estão.

Muitas vezes, me pergutam também sobre métodos para tratar dos quistos de pena. Pessoalmente não vejo nenhum motivo para tratar deste problema. Os canários que apresentam quistos devem ser separados automaticamente do plantel.

Este problema, como tantos outros, que por ser transmitido geneticamente, representa um verdadeiro risco caso não seja eliminado.

A propensão às doenças, assim como o comportamento reprodutivo (fertilidade, quantidade de ovos colocados, cuidados com os filhotes, etc.) são todos eles, transmissíveis geneticamente.

Creio que no mínimo, devemos estar sempre conscientes deste fato, e saber que ele tem um peso importantíssimo no resultado final.

O nosso objetivo deve ser o de criar exemplares cada vez mais bonitos e numerosos, pois qualidade sem quantidade ou vice versa, redundarão fatalmente numa decepção na hora da avaliação dos nosso resultados e dos concursos.

Escrito por Álvaro Blasina, em 2/9/2003