A vingança do velho curió

A natureza é perfeita

João Soares costumava ir a Minas no Mês de abril a um mesmo brejo pegar apenas um filhote macho de um determinado casal de curió. 0 “velho curió” pai – como João o chamava – só dava um canto (não repetia) tinha o canto horrível e “grego” assemelhado com o de uma garrincha ou tico-tico. Ficava sempre muito agitado com a presença de João pois sabia das intenções dele. Se pudesse falar certamente diria: “com tantos casais por aí, por que será que esse homem tem marcação comigo e sempre me leva um filhote?”. João contudo, só queria filhotes do “velho curió” porque eram depois de adultos comprovadamente excelentes matrizes para reprodução em seu criadouro e porque aprendiam com facilidade o canto estilo “ribeirão”.

Naquele dia do outono de 1948, especialmente, conseguiu coletar um filhote extremamente bonito, cabeçudo e de porte elegante que se adaptou facilmente ao novo ambiente doméstico. Com apenas 1 mês de gaiola cantava alegremente e comia todos os tipos de alimentos que lhe eram ministrados. Com o nome de “Diamante” aos dez meses de idade era um “mestre” do canto “ribeirão” que aprendera com os outros curiós de seu dono. Cantava até 2 minutos sem parar repetindo até 35 vezes. Além disso, muito valente, produzia filhotes de excelente qualidade que aprendiam seu próprio canto naturalmente. Nunca se tinha visto um curió semelhante naquela região. Na opinião unânime dos entendidos era o “mosca branca”, “o maioral” e “o melhor curió do mundo”.

Anos depois, chegada a época, João – que havia decidido a só possuir curiós de sua própria e excelente criação – iria, pela última vez, ao brejo de Minas pegar um pardo. Resolveu levar consigo “Diamante” para “chamar”. Lá chegando imediatamente encontrou o “velho curió” que indignado como sempre, assentou perto da gaiola do filho “Diamante” e em uma atitude estranha pôs-se a cantar insistentemente até o momento de João ir embora.

Ao voltar para casa à noite João acomodou “Diamante” e foi dormir. No outro dia bem cedinho acordou sobressaltado; parecia que estava sonhando ao escutar o canto “grego” do “velho curió” em sua casa. Logo constatou que o canto que ouvia era real e que “Diamante” naquelas horas de ontem, havia aprendido por herança atávica o desagradável canto do pai. Parou de repetir e, até morrer, no ano de 1976, não mais conseguiu cantar o estilo “ribeirão”.

Escrito por Aloísio Pacini Tostes, em 29/3/2004