Extrusados

Nutrição

O extrusado poderá ser a alimentação ideal do futuro. Mas por enquanto acredito que ainda faltam muitas pesquisas e experiências para se afirmar categoricamente é a a melhor ração para passeriformes.

Estamos numa fase de transição e não devemos apostar tudo numa novidade por questões econômicas, higiênicas e práticas.

Precisamos pensar primeiramente no bem estar dos passarinhos. A sujeira a gente limpa e a economia deve ser prioridade das criações de aves de produção e consumo, voltadas para este fim – aliás com extrema crueldade.

Não devemos ser inflexíveis e retrógrados, mas também não devemos nos atirar em afirmações teóricas, ainda carentes de comprovação. Nem podemos dar irrestrita aprovação aos métodos alienígenas ou utilizados em outras criações. Se é verdade que a criação doméstica é tão diferente da vida silvestre, a ponto de mudar as características criadas pela Natureza, também é verdade que a A América do Norte, a Europa e a Ásia são muito diferentes do Brasil, como diferentes são os canários de cor e os pássaros exóticos, dos nossos nativos. Há muitas influências externas, principalmente as climáticas, que tornam diferentes os organismos e suas necessidades, numa e noutra região do Globo.

Assim é com os humanos e com os animais não deve ser diferente. É preciso tempo e pesquisa. Pelo menos uma outra ração do tipo extrusada foi lançada há alguns anos como alimento único e completo e hoje já não tem o mesmo prestígio ou a mesma aceitação.

É difícil abraçar uma teoria quando ainda estamos engatinhando na compreensão geral dos nativos. Não é novidade que não temos veterinários nem nutricionistas especializados em passeriformes. Até hoje não se chegou a um entendimento comum, por exemplo, a respeito da quantidade necessária de proteínas, de vitaminas e outros aspectos da nutrição dos pássaros. Nem sobre doenças e medicamentos. Os grandes investimentos, inclusive do Governo ou com apoio dele, em relação as aves, estão voltados para a produção de carne e ovos, com reflexos na produção de peles e outros subprodutos, mas nem aí se chegou a conclusões definitivas. Verdadeiras fortunas são empregadas na criação industrial de aves, inclusive na parte nutricional, mas eu particularmente não tenho conhecimento da utilização de extrusados na criação industrial. É possível que o extrusado seja economicamente inviável, mas os seus adeptos afirmam que o aproveitamento e os resultados o tornam proporcionalmente mais baratos. É certo que as aves industriais têm vida bem mais curta, mas com tantos investimentos nessa área, e ainda se consideramos a finalidade, que é o consumo desses produtos pela população, é de se supor que ainda não se chegou a uma certeza quando ‘a formulação ideal das rações.

Recentemente foi lançada no mercado uma ração especial para produção de ovos sem colesterol ou com elementos de combate ao colesterol, mas não tardou em ter sua utilização contestada pela ciência.

Quando o mundo investe pesado em pesquisas e produção de transgênicos e clonagem, enquanto organizações do mundo todo combatem ferozmente esse avanço da ciência, o que dizer, diante disso, do extrusado para pássaros, uma área desconhecida e até desprezada no meio científico?

Alega-se também que os extrusados minimizam a possibilidade de contaminação, seja ela qual for.

É compreensível que isso ocorra em relação ‘as sementes, pelas condições em que estas são expostas no comércio varejista.

Mas o mesmo se alega em relação ‘as farinhadas embaladas. Já aqui ficam algumas dúvidas.

A matéria prima do extrusado é e mesma de outras farinhadas. Se a contaminação vem com a matéria prima, ambos estão sujeitos a contaminação.

Não podemos deixar de considerar que o processo de fabricação do extrusado, quente ou frio, elimina muitas bactérias e protozoários. Nesse aspecto, em relação ‘a sementes o extrusado nos parece mais seguros. No entanto, com relação as farinhadas, estas também estão sujeitas a um rigoroso controle de qualidade, tanto que estão sendo utilizadas com sucesso há muito tempo e não temos tido notícia de doenças causadas pelas farinhadas que conhecemos.

Mesmo assim, em ambos os casos exitem o perigo da existência de toxinas na matéria prima, que nenhum processo de fabricação pode eliminar. Essas toxinas podem ter efeito cumulativo, de modo que não evidencia sintomas imediatos que idenfiquem a ração como causa de algum mal, seja ela extrusada ou comum.

Aí se argumenta o controle de qualidade, tanto da matéria prima quanto das rações já fabricadas.

Mas quem nos garante, assumindo a responsabilidade, que os extrusados têm melhor controle de qualidade dos que as farinhadas da Lavizoo, Beppler e outras. Não sei é boato ou não, mas já houve comentários de que respeitáveis indústrias de ração animal e alimentação humana teriam colocado em alguma ocasião produtos contaminados no mercado.

Falando em alimentação humana, onde há preocupação maior, a extrusão só tem sido utilizada para dar forma a alguns produtos, especialmente biscoitos. O mais comum são as farinhas pré-cozidas.

De maior possibilidade é a contaminação depois do fabrico: antes da embalagem, na estocagem, na distribuição, venda ou consumo, não havendo a partir da fabricação muito mais segurança do que as sementes. Até pior, em caso de umidade. Portanto, o risco existe sempre e não pode haver descuido.

Muitos criadores – inclusive eu – há tempo vem indicando a farinhada CC-2030-Premium como uma das melhores do mercado. Entretanto a embalagem não contém informações obrigatórias ao consumidor, quanto ao fabricante etc. Confesso que eu não havia observado isso e só tomei conhecimento com a observação feita pelo Rodrigo. Mas já pedi informações ao meu fornecedor e não tiver resposta vou pedir informações ao Ministério da Agricultura. Afinal, alguém deve se responsabilizar pelo produto.

Um dos mais fortes argumentos a favor do extrusado é de que ele contém tudo o que o pássaro precisa. Será mesmo possível uma receita capaz de reunir ou substituir tudo o que existe na natureza? Outra é quanto ao balanceamento. Isso até pode ser possível, com muita pesquisa, experiência e comprovação.

Só que se afirma que não se deve administrar mais nada, sob pena de modificar o balanceamento da ração. Aqui precisa haver uma distinção bem clara. Se houver mistrura ao extrusado, pode ocorrer o desbalanceamento, mas se se forem administrados outros alimentos em separado é evidente que o balanceamento do extrusado não sofrerá alterações. Apenas se estará dando ao pássaro mais do que o necessário.

Mas também se alega que se der mais do que o necessário a saúde da ave será prejudicada. Disso também não tenho dúvidas.

Cabem, porém, algumas perguntas:

1. Por que o fabricante recomenda que se misture o extrusado nas sementes para que o pássaro se habitue a consumi-lo?

2. Se o período de completa adaptação for longo, não haverá da mesma forma prejuízo ‘a saúde do pássaro?

3. E quando tiver filhotes? Deve-se dar somente o extrusado? Ou o extrusado umidecido com água? Mais nada?

4. E se a fêmea não pegar? Vai deixando os filhotes e até o plantel todo de fêmeas morrerem até que se acostumem? Absurdo? Claro que é, mas se não pode dar mais nada, fazer o que? Isso, para um iniciante, é uma dúvida terrível.

5. Dizem, fazendo uma comparação, que os sabiás passaram de frutas, na natureza, para rações industrializadas, nas criações, com vantagens. No entanto, não é comum mas também não é muito raro a ocorrência de cegueira em sabiás e há criadores que afirmam que essa deficiência visual ocorre por falta de frutas, insetos, minhocas e outros alimentos naturais. Mesmo que não seja: em primeiro lugar, o sabiá é considerado frugívero – eu diria unívoro – e são, portanto, diferente dos granívoros. Em segundo lugar, a ração que era considerada completa, prática, econômica, com todas as vanatgens do extrusado, deixaram-se de sê-lo com a introdução do extrusado e este passou assumir agora todas as qualidades que antes eram da ração. Contraditório, não?

6. “O extrusado é completo e atende todas as exigências nutricionais, e nada mais pode ser acrescentado”. Sabemos, no entanto, que os organismos não são idênticos, nunca. Com gente ou com bicho. Todos os dias tem alguma pergunta: “meu pássaro come penas”… “minha fêmea bota ovo mole”… “os filhotes não empenam”… “meu pássaro não pára de mudar penas”… No mais das vezes, entre as possíveis causas, está sempre a carência de algum elemento, alguma vitamina etc. Posso confiar que o extrusado resolverá todos esses problemas? Fará com que todos os organismos se assemelhem em tudo? Pense novamente no iniciante…

Durante muito tempo a alimentação dos filhotes foi o maior problema da criação, até chegarmos no estágio atual, que já dura um bom tempo e está dando ótimos resultados.

A higiene, uma boa mistura de sementes, grit mineral e uma boa farinhada com ovo cozido acabaram com o segredo da criação. Há anos essa base alimentar vem sendo utilizada com sucesso sem apresentar efeitos colaterais ou maléficos, pelo menos visíveis ou evidentes. Os filhotes crescem bem e os pássaros vivem mais. Estão menos expostos e mais resistentes ‘as doenças. Costuma-se acrescentar polivitamínicos, aminoácidos, microelementos vários, frutas, verduras, larvas…, mas tudo isso é dispensável e até prejudicam, com exceção de frutas e verduras, quando em excesso e sem necessidade. O simples e básico não somente são suficientes, como são ideais para a criação, usando-se complementos somente quando necessário e aplicado caso-a-caso.

Sendo assim, aventurar-se ao extremo numa novidade, quando se tem facilmente alternativas já utilizadas com sucesso há muito tempo, não é muito prudente. Corre-se o risco de eliminar o tradicional do mercado e experimentar maus resultados futuros com a novidade, colocando-nos numa situação irreversível.

Por outro lado, estaremos criando o monopólio do extrusado e futuramente poderemos ficar ‘a mercê de uma possibilidade única, sujeitos aos interesses dos fabricantes, sem alternativas.

Por isso, acho ótimo e salutar que as opiniões divirjam e as preferências sejam múltiplas. Com isso sempre teremos muitas opções, inclusive de preços para as pessoas de menor poder aquisitivo.

O que estou vendo, não de todos, mas de alguns adeptos do extrusado, é uma tentativa de imposição. Enquanto aqueles que preferem só as sementes, farinhadas, complementos, enfim, critérios de cada um, dizem “eu prefiro isso”, sem veemência. Já os outros dizem que “os extrusados são infinitamente melhores, ideais, únicos em qualidade”, como imperativo da boa alimentação e boa criação. Não é bem assim. Não é assim que se muda décadas de experiência com nativos, séculos com exóticos. É preciso muita pesquisa e muitos experimentos, até a comprovação e o convencimento dos criadores. As pesquisas devem ser feitas pela fábricas, por seus laboratórios, mas a experiência e a comprovação hão de ser feitas pelos criadores. Se quisermos produtos confiáveis, sejam rações, medicamentos ou suplementos, temos que mostrar aos fabricantes que não aceitamos facilmente tudo o que eles colocam no mercado, apenas porque não devemos resistir ‘as novidades, a uma pretensa evolução ou progresso, ou porque eles dizem que é bom. A ciência leva séculos para descobrir um remédio, décadas para confirmar sua eficácia e anos para colocar no mercado, depois de muitos experimentos, primeiro em cobaias, depois a um número restrito de pacientes, mesmo em caso de urgência, de doenças fatais. Aí você vai num torneio e lá tem uma banquinha qualquer, com alimentos bom pra tudo e medicamentos milagrosos para qualquer coisa. Isso já basta.

Claro que não estou pondo em dúvida a idoneidade da indústria de extrusados. Eu mesmo faço uso deles, embora não como alimentação única. A fábrica de extrusados que conheço é uma grande empresa, tem um nome, uma marca a zelar, de reconhecidas capacidade e competência na produção de rações para diversas espécies de animais. Mas quem tem os pássaros sou eu, que convivo com eles dia-a-dia, que observo, que cuido, que experimento e concluo o qué é melhor e como fazê-lo. É uma criação adaptada para o lugar e com finalidade de produzir pássaros cada vez melhores em matéria de canto; não uma produção industrial que visa pouco trabalho, poucas despesas e muito lucro. Também não são lotes de aves usados como cobaia em laboratórios. Sem contar que as criações variam muito de uma pra outra, dependendo também das espécies e quantidade.

Cada pássaro tem sua particularidade e é preciso ainda muita pesquisa e muitos experimentos para se chegar a uma afirmação de que o extrusado é realmente melhor do que a alimentação tradicional para todas as espécies de aves. E isso leva anos, décadas até. Sabemos quantos anos um pássaro pode viver só comendo alpiste. Sabemos quanto uma ave pode viver comendo o alimento tradiconal. Como você bem colocou, as pesquisas para cães e gatos estão muito ‘a frente. Sabemos o tempo de vida e as condições de saúde de um cão ou um gato, antes e depois da ração industrializada. Agora tomemos por exemplo um papagaio, que segundo dizem, com a alimentação tradicional chega a durar 70 anos. Somente pela observação, necessitaríamos de 70 anos para comprovar os benefícios do extrusado para papagaios, se eles não morressem antes.

Evidente que isso seria inviável e a indústria tem meios de suprir parte desse tempo por meios científicos, mas isso não deve ser abreviado a um ou dois anos de experiência pelo criador. E todos sabem dos problemas que traz uma mudança brusca na dieta dos pássaros, mesmo que semelhantes. Isso é visível nos pássaros tranferidos a outros criadores. Mesmo trocando sementes por sementes, a composição de um criador é muitas vezes diferente do criadouro de origem, o pássaro sente a mudança e é necessário um tempo para adaptação. Se descuidar, o pássaro pode até adoecer e morrer pela mudança repentina da sua dieta alimentar.

Concluindo, eu reconheço, acho ótimo e sou favorável ‘a evolução, também com os extrusados, que inclusive uso, como eu já disse, mas eu creio que ainda é cedo para a gente se responsabilizar, afirmando categoricamente alguma coisa.

Esclareço apenas que entrei neste assunto porque muitos iniciantes me perguntam sobre isso. Eu não afirmo nada, porque não quero ser responsabilizado pelo insucesso de outrem, mas dou minha opinião dizendo que eu penso que é preciso uma adaptação gradual e lenta, sob monitoramento e muita observação, e ainda somente com alguns exemplares de cada espécie, e no final vai depender do convencimento de cada um.

Aí alguém afirma que o extrusado é melhor em tudo – embora nada pode ser melhor em tudo; a palatabilidade, por exemplo – e a pessoa volta a me questionar.

Podem questionar, que tenho o maior prazer em discutir qualquer assunto do qual eu tenha algum conhecimento, mas fica aqui minha opinião posta para todos, até hoje. Amanhã poderá ser outra. É a evolução.

Escrito por Valdemir Roberto Barros, em 2/9/2003