Preservação, Não Sai de Nossa Cabeça
Vamos realmente agir
Artigo Publicado na Revista Atualidades Ornitológicas 134 – Jan/Fev-2007 – acesse www.ao.com.br
Aloísio Pacini Tostes – Ribeirão Preto SP
Sim, estamos repetindo e escrevendo sobre este tema inúmeras vezes, porque ele não sai de nossa cabeça. O problema é que tudo que utilizamos, vem da mesma natureza que abriga os animais e as plantas. Ordenar bem a retirada dos recursos naturais é onde está o “x” da questão. Depois, a utilização sustentada seria a solução recomendada, mas por causa da ganância de muitos, da miséria da população, da desinformação e da falta de comprometimento com o coletivo, não conseguimos fazer o que seria preciso no sentido de resguardar a biodiversidade necessária e o cuidado permanente com o equilíbrio ambiental. O extraordinário crescimento populacional, as novas tecnologias aplicadas na exploração das atividades rurais fazem com que a degradação ambiental cada vez mais se torne um forte instrumento em ações que podem levar às extinções da fauna e da flora. Em suma, a retirada indiscriminada de recursos naturais renováveis ou não, e a relação homem/natureza, tem sido atividades extremamente predatórias ao meio ambiente. É bom citar alguns exemplos gritantes que muito nos incomoda e que não existem providências sendo tomadas para adequá-los à sustentabilidade, pelo contrário, em nome do desenvolvimento e do atendimento ao consumismo exagerado, está tudo justificado.
1) a indústria carvoeira está consumindo o cerrado brasileiro. Hoje caminhões carregam carvão originário de matas nativas desde Mato Grosso do Sul, até Minas Gerais para abastecer os altos fornos das siderúrgicas, além de servir de combustível para realizar churrascos nas residências;
2) a lavoura de soja, depois do estrago que já fez, vem recentemente arrasando o Mato Grosso, chegando à Amazônia; não sabemos de nenhum respeito ao meio ambiente e cuidado com o solo, e pior o produto final é levado até os portos do oceano atlântico no lombo de caminhões que arrasam permanentemente as estradas;
3) a cana-de-açúcar e álcool, degradaram inúmeras regiões no estado de São Paulo e no Nordeste e cada vez se estendendo com mais usinas sendo implantadas em outros estados e depois ainda queimar a cana, cercando-se os quatro cantos, depois vem fogo, a fumaça e a morte de todos os seres vivos que ali estão, tudo para facilitar a colheita;
4) na questão ligada à pecuária, basta dizer que há hoje no Brasil mais gado do que gente, é o maior rebanho do mundo à custa de alimentação com gramíneas que precisam de vastas extensões territoriais para vicejarem;
5) a desenfreada poluição das águas doce e potável dos rios, são dejetos industriais, esgotos domésticos e metais pesados lançados diariamente nos cursos d’água que se tornam colossais veículos de um caldo imundo;
6) milhões de toneladas de lixo e materiais descartáveis que se produzem e não são recicladas, ou aproveitadas e sim atiradas a céu aberto nos lixões; plásticos, pneus e baterias usadas, talvez, são dos maiores problemas ambientais que temos.
Poderíamos, aqui, citar outras inúmeras agressões ao meio natural, relacionamos, apenas, as ocorrências acima descritas que são praticadas com a conivência total da sociedade. Lógico, precisam-se gerar riquezas para manter boa convivência entre as pessoas e o poder econômico usa de sua “persuasão” para agir e conseguir os seus objetivos: o lucro, custe o que custar. A questão maior é a desigualdade social, os pobres e os miseráveis continuam cada vez mais oprimidos e impossibilitados de ter uma perspectiva de melhoria de qualidade de vida, porque o bolo é um só e os mais abastados se recusam cada vez mais em repartir as fatias, procedem como se fossem eternos ou imortais. Não sabemos direito o que fazer, mas a sensação é de que está tudo errado, ecologicamente incorreto. Quando iremos parar e pensar no futuro da humanidade ou da vida na Terra, seremos quantos bilhões de pessoas daqui uns 20 ou 50 anos???
Até agora falamos sobre as questões centrais ligadas ao meio ambiente, mas, o que nos interessa mais de perto, é a preservação das aves que estão fortemente envolvidas nesse imbróglio. Onde sobrará espaço para elas viverem livres, algumas não sobreviverão porque não há mais as mínimas condições ambientais exigidas por determinadas espécies. Isto já está acontecendo em muitas regiões do Brasil com algumas aves, outras nem tanto porque se adaptam e conseguem até superar as dificuldades aparentes e aceitar a novo contexto de seu habitat. Como exemplo, os que mais estão procriando e aumentando sua população nos novos ambientes, são: sanhaços, sabiás, cebinho, bem-te-vi, favorecidos pela arborização em pomares e parques urbanos que vão se formando nas cidades; o canário de terra, tiziu e tico-tico, aproveitando as plantações do capim braquiária (africano) que se alastram por todos os lados.
Aí vem a caça predatória e o tráfico, fatores que mais nos incomodam porque escondidos, furtivos e de difícil mensuração e todos, obviamente, queremos acabar com suas nefastas ações, ainda mais, nós criadores, que temos a nossa imagem prejudicada. Sabemos que o tráfico existe de forma arraigada que muitos lucram com a questão, mas em virtude da desinformação e dos exageros que é divulgado o assunto, talvez, como estratégia para motivar a opinião pública, até hoje não sentimos nenhum efeito positivo provocado por essas inverdades.
Falar do tráfico incomoda muito a todos, queremos acabar com ele porque promove a dizimação da fauna e não traz nada de favorável, só atende a interesses escusos e estão na contramão da preservação. Todos estão a favor de medidas que extirpem esse mal. Será possível faze-lo??? A verdade é que, ele tem conseguido burlar os mecanismos de controle e a confusão gerada nos deixa desolados. São tantos os exageros e desinformação que o efeito gerado provoca indignação em muitos e revolta em outros. Vejam alguns absurdos, dizer que: de dez animais silvestres capturados vivos, apenas um chega ao seu destino final – Ora, se o traficante tem o bicho como produto, não há atividade que se torne lucrativa com essa desproporção absurda; O cruzamento de informações perfaz um número de 600 milhões de animais, – Esse montante, por si só já soa como outro absurdo Se isto fosse verdade estaríamos perdidos, em breve, não existiria mais fauna (silvestre/selvagem) no planeta. O IBAMA quando divulga listas anuais de apreensões que não passam de alguns milhares, até chegar a casa dos milhões levaria centenas de anos;
Alguns têm os ossos do peito quebrados para serem transportados em canos de pvc – Dá para rir ou chorar, já que quebrar os ossos mataria imediatamente a ave, ou alguém tem dúvida disso, ou então, é piada e das mais infames; outros têm os olhos perfurados para, cegos, não verem a luz do sol e assim não denunciarem o crime com seu canto – pura brincadeira, ou alguém tem dúvida que além da crueldade, a ave, não teria mais como se alimentar e morreria de fome.
Esse é um clima de faz de conta, que alguns setores radicais tentam criar e que ao invés de atingir apenas o foco da questão que são os traficantes, coloca os criadores e os amantes de pássaros misturados e inseridos nessa nuvem de mentiras.
Gostando da idéia, por causa do impacto da informação, a mídia sempre veiculando de forma sensacionalista e negativa com o objetivo de motivar a opinião pública dramatizar e obter um clima de horror e com isso ganhar audiência e fazer gancho para continuar falando do tema sem buscar ouvir todas as partes envolvidas em especial a dos criadores ou seus representantes. Aí ficamos no meio desse turbilhão onde o emocional é valorizado.
Ainda bem que alguns outros setores, ao contrário tentam procurar o lado da razão, lembramos bem da CPI do Tráfico na Câmara Federal, nas suas duas versões finalizada em Março/2006, que depois de inúmeras reuniões com envolvidos em todo o Brasil, recomenda em seu relatório final:
– A União, os Estados e os Municípios, preferencialmente de forma articulada, devem conceber e implantar programas de geração de renda alternativa para comunidades carentes hoje envolvidas no comércio ilegal de animais silvestres;
– O Governo Federal deve conceber e implementar uma política nacional direcionada aos animais silvestres, envolvendo os aspectos de proteção ambiental, manejo e comercialização;
– A criação e comércio de animais silvestres como uma atividade regular, que observe todos os requisitos das normas ambientais e a legislação como um todo, deve ser incentivada pelo Poder Público;
– Os órgãos públicos, como a EMBRAPA e outros, devem participar do esforço de criação em cativeiro de espécies ameaçadas de extinção.
Pois bem, quem melhor ou com mais legitimidade do que os representantes do povo para indicar a política pública que poderia contribuir para o efetivo combate ao tráfico. Infelizmente, tudo que foi escrito e documentado em março não foi ainda colocado em prática pelos órgãos públicos, esperamos que surja uma Lei que regulamente a questão.
Está provado que ação dos criadores, que precisa de muito apoio e reconhecimento, tem dado certo, vejam os resultados positivos no manejo na produção do jacaré, dos peixes nativos, do bicudo, do curió, da capivara, do mico leão e assim por diante. Atendendo à demanda, eles prestam uma extraordinária contribuição à preservação e no combate ao tráfico evitando a captura ou abate de animais silvestres (selvagens), um exemplo para o resto do mundo ainda mais, se levarmos em conta que a atividade começou há pouco tempo, mais intensamente de dez anos para cá.
Dito isto, para nós, não fica bem que apareçam justiceiros que se acham juízes, que não olham para dentro de si, como se fossem imaculados e que querem impor sua opinião quanto à criação de pássaros nativos em domesticidade, pregando a proibição da atividade de criação manejada, quem sabe propondo tantas exigências descabidas que inviabilizaria a criação. Se isso, fosse possível o que fazer com todo o estoque de pássaros em poder da sociedade, cremá-los???
Ademais, sugerir é um passo, realizar e executar a criação de animais nativos é uma ação de preservação. São dezenas de milhares de pássaros produzidos e que vem somar ao acervo do estoque e do plantel dos criadores à disposição dos ornitófilos e amantes de pássaros e de eventuais reintroduções na natureza.
Então, o que esperamos neste novo ano é que haja muita inspiração junto os órgãos que estão envolvidos com as questões do meio ambiente e que eles realmente trabalhem para que haja um Brasil melhor e que todos nós possamos trabalhar juntos para a preservação das espécies, cada um respeitando o trabalho do outro, isso realmente, não sai de nossa cabeça.
Escrito por AloísioPaciniTostes – Ribeirão Preto SP, em 24/1/2007