Que devemos fazer, então?

Não ao sensacionalismo

Que conjuntura estranha e esquisita. Somos um País maravilhoso, com muita gente. E gente criativa de um lado, de outro, muita gente que fala, fala, se reúne; faz reuniões e reuniões e nada realiza. Infelizmente, o mundo é assim mesmo. Uns trabalham e efetivamente produzem. Outros vivem da critica. E outros, que se julgam superiores em seus gostos, acham que têm o direito de dizer o que muitos devem fazer. No caso da nossa avifauna, precisamos todos combater o tráfico ilegal e responsabilizar os culpados, os verdadeiros culpados. Temos comentado muito sobre isso, mas nunca é demais. Tudo porque, a todo o momento, surgem novas versões sobre o tema “combate ao tráfico de animais”. Um combate que tem que ser feito. E muito bem feito. O grupo mais agredido – e que tem sua imagem prejudicada pela existência do tráfico – é o dos criadores, os que realmente amam as aves, aqueles que vivem dia e noite pensando nelas, aqueles que levantam 5 horas de manhã e ficam até as 8 da noite labutando em sua tarefa de reprodução. E depois sofrem a concorrência desleal dos que capturam na natureza e oferecem ao mercado – a preços vis – o resultado de seu odioso crime ambiental.

A maioria das pessoas são respeitadoras. São sérias ou, pelo menos, procuram ser. Trabalham nessa direção. Por que então generalizar? O que se precisa é de transparência – Canaves está aí – e de regulamentações adequadas à realidade. Nada obstante, alguns continuam a acusar os criadores como sendo os responsáveis pelo tráfico. É engraçado. De onde tiraram isso? Pode ser que haja alguém que queira se aproveitar de alguma situação para se dar bem, levar vantagem. São facetas dos ser humano. Há juízes, militares, presidentes da república, jornalistas, profissionais de todos os naipes e, lógico, criadores corruptos. Em qualquer comunidade existem os sacripantas, aqueles que não respeitam o interesse público, desprezam o interesse de todos, o interesse maior da sociedade. Ainda bem que eles são sempre uma minoria. Afirmar que toda uma classe é culpada disso ou daquilo é injusto. Por isso a generalização é uma grande crueldade que se faz. Está provado que os criadouros domésticos – comerciais, conservacionistas, zoológicos -, as reservas ecológicas oficiais e o crescente respeito ao que existe na natureza, são as formas eficazes de preservação. Essas atividades se completam e nenhuma delas deve ser desprezada ou combatida. Organizar – sim, exigir seriedade – sim, fiscalizar – sim, fazer críticas infundadas – não. É isso que incomoda, desestimula e que não colabora em nada.

Então, se tem gente que se dispõe a trabalhar e realizar na área, ótimo! Mãos à obra. A sociedade agradece e aplaude. Ainda mais se levarmos em conta os números que estão sendo divulgados: que apenas uma em cada dez aves oriundas do tráfico ilegal chega à mão do interessado final. Se for assim, o Marcílio Piccinini,que produz cerca de 1.000 pássaros por ano, corresponderia a 10.000! Já que cada uma delas estaria em plenas condições de ser adquirida em total condição de saúde. É sabido que na natureza os bicudos/curiós só chocam uma vez por ano e no ambiente doméstico chega até a 4 vezes. Daí então, se dividiria também por quatro a quantidade de matrizes utilizadas, sem considerar o processo da poligamia que possibilita um macho para cinco fêmeas. Dito isso, no ritmo que vai a degradação da natureza, quem garante que haverá mínimas condições ambientais para sobreviverem, notadamente aqueles que são mais exigentes com o hábitat natural. Agora, fazer julgamento e chamar de desalmados ou atrasados aqueles que mantém aves – mesmo com o objetivo de reproduzir – é outro absurdo. Na América do Norte e na Europa – primeiro mundo – os negócios abrangendo Pets – animais como bicho de estimação, muitos deles de origem brasileira – assumem enormes cifras. As indústrias de rações e apetrechos estão cada vez mais exportando para o Brasil seus produtos. Dizer, daí, que os números do comércio de aves no mundo assume o montante de bilhões de dólares… Gostaríamos de saber de onde vêm esses valores. Mesmo se forem verdadeiros, o que os criadores têm a ver com isso? O comércio legal de um animal produzido – recurso natural sustentável – Eco 92 – deve até ser estimulado – a lei diz isso – , gera empregos, divisas, movimenta a economia e. principalmente. ajuda sobremaneira na conservação porque cada um produzido corresponde a uma dezena de silvestres. É bom lembrar que, mesmo na Europa de hoje grande parte dos interessados só pretende adquirir aves que tenham origem comprovada. Há uma quarentena que tem que ser cumprida e o tráfico está cada vez mais dificultado.

Toda essa discussão precisa também ser transparente. É isso que está faltando. Combater o tráfico é o desejo de todos. Ninguém, em sã consciência, pode ser a favor da utilização de animais silvestres (capturados na natureza). Muito se tem feito, mas a clareza e objetividade devem estar presentes. De confusão e tumulto já estamos fartos. A opinião pública merece ser bem esclarecida Essa, de sensacionalismo e da propaganda do negativo – eu não faço porque não sei fazer e tenho inveja ou ciúme de quem faz e por isso sou contra – não comunica e gera a desinformação tão prejudicial ao entendimento das questões. Sentar numa mesa e criticar é fácil e às vezes se ganha muito dinheiro com isso. A mídia quer notícias e notícias que dêem boa audiência, sensacionalismo, muito bonito e que bela imagem abrir gaiolas e soltar pássaros indefesos. Só que a questão não é assim na realidade. Soltar galo-de-campina Paroaria dominicana no Paraná, e um sabiá sem penas que voa um pouquinho de cai no chão, é brincadeira (perversa).. O que dizer ainda de grandes empresas que causaram – e causam – enormes prejuízos ao meio ambiente. Estão aí a contratar projetos de preservação como se só isso corrigiria o dano irreversível que provocaram. Por que também não financiar efetivos criadouros e bancos genéticos que fazem algo de real. Discussões e reuniões não trazem nada de positivo e proveitoso. É só falatório.

Com respeito às Leis brasileiras para o meio ambiente, muitos reconhecem que – no papel – elas são das mais avançadas do mundo. Achamos que sim. Mas precisam ser praticadas – e muito bem entendidas – por todos que lidam com as questões. As Portarias do IBAMA – que são interpretação das Leis – estão sendo ajustadas em seus procedimentos, para uma melhor adequação à realidade. Cada tipo de animal tem peculiaridades em sua criação, que precisam ser contempladas e previstas nas instruções. Estamos esperançosos, esperando firmemente e acreditando que, em breve, todo tipo de dificuldades esteja sanado. O Poder Público precisa ser ágil o bastante para efetivamente atuar no sentido de que haja unidade de procedimentos e um entendimento entre seus técnicos e os criadores. Tem havido inexplicáveis demoras na solução de projetos de regularização de criadouros. Precisamos sair desse imbróglio e de algumas exigências que não se justificam na prática, especialmente para aqueles criadouros que já existem e que estão se tornando comerciais por força da exigência da Instrução Normativa No 5. Depois de tudo isso, ficam perguntas: a quem pode interessar esse alvoroço? Será que há interesses de fora de nosso País? Criar exótico pode??? Nativo não? Por que será que a Ema brasileira tem vergonha do peru americano e da avestruz africano? Temos queixadas e catetos, pra que javali? Calopsita sim, tiriba não? Agapornis sim, tuim não? E assim por diante. Aí ficam as perguntas para nós mesmos. Como buscar um caminho conjunto onde todas essas forças se unam e busquem um entendimento. Nossos animais nativos precisam disso. O que devemos fazer, então?

Escrito por Aloísio Pacini Tostes, em 2/9/2003