Queimadas, valoração e biodiversidade
Evitar queimadas
ARTIGOS – terça-feira, 27 de maio de 2003 11:50 por Redação
Gazeta/José Manuel – O comportamento econômico do detentor de áreas com florestas, capões de mato, ou restos de florestas, ao não saber ou não reconhecer o uso econômico das espécies, acaba tomando a providência que lhe parece mais razoável e de menor custo: pôr fogo nas derrubadas ou nas áreas onde já houve a extração de espécies comerciais.
Note-se que antes de \’pôr fogo\’ tira as espécies comerciais, portanto que conhece.
Ao \’utilizar\’ a mata, ainda formada, o proprietário reconhece nela algumas espécies madeireiras, cujo uso industrial e comercial apresenta-se ao longo do tempo como matérias-primas para serrarias e industrias da madeira ou como fonte de calor e outras formas de energia e é admitido como importante fonte de emprego e renda em Mato Grosso. Dessa maneira, em diversas operações extrai a madeira e a vende.
Restam na floresta as mudas e árvores de menor porte das espécies extraídas, as espécies de ervas, arbustos, cipós e outras árvores sem uso comercial, por não se saber qual a sua utilidade.
O problema, portanto, é como criar valor às florestas, matas e cerrado remanescente e evitar a queimada de uma maneira conseqüentemente científica e econômica.
Aparentemente é simples, mas as variedades de espécies não reconhecidas e queimadas são centenas, milhares mesmo, e os recursos humanos para o seu processamento são muito escassos.
Essa discussão do ponto de vista econômico-teórico vem sendo discutido por diversos autores como Serôa da Mota e Peter May, entre outros, procurando interpretar as diversas alternativas para a valoração.
Do ponto de vista empírico, parece importante realizar ensaios, permitindo avaliar as diversas espécies remanescentes e ampliando o leque de opções para se considerar a queimada como a alternativa mais \’econômica\’ como \’tecnologia\’ de preparo do campo para agricultura e pecuária.
É relevante mesmo para se comparar técnicas de manejo com o desenvolvimento de agricultura e pecuária extensiva e muitas vezes, predatória em relação a plantios e reformas anuais.
Dessa maneira, uma metodologia geral de trabalho permitiria avaliar algumas espécies de forma a aumentar o valor econômico do ecossistema, não se avaliando, entretanto, o valor do ecossistema na perspectiva biológica.
Essa delimitação é importante por se ter consciência do processo de produção da natureza e suas alterações em função das precações.
Certamente a vocação da agricultura e pecuária poderia ser menos determinista e alterações apareceriam com formas mais ambientadas no cerrado, na mata e nos pantanais como manejos agro-silvo-pastoris.
Com algum grau de certeza teríamos outros produtos na pauta das exportações mato-grossenses, como flores e frutos exóticos, gomas e resinas que hoje são apenas cinzas.
Quem sabe, receberíamos alguns recursos para realizar seqüestro de carbono.
*José Manuel Carvalho Marta é professor Adjunto do Departamento de Economia da Universidade Federal de Mato Grosso [UFMT] e Doutor em Planejamento de Sistemas Energéticos pela Universidade de Campainas [Unicamp].
Escrito por José Manoel Carvalho Marta, em 20/9/2003