Treinamento para Torneio
Práticas de Manejo
Texto retirado do livro Criação de Curiós e Bicudos de Aloísio Pacini Tostes
O treinamento para torneio tem que ser gradativo. Depois que o pássaro estiver bem acasalado, acostumado com os passeios de carro, estarão aptos a iniciar o treinamento.
Começa-se levando o bicho para duetar de longe com pássaros de algum amigo. É preciso chegar devagar a uma distância onde seu pupilo ouça o canto do outro, bem de longe. Vá então se aproximando aos poucos, observando o comportamento do aluno. Se ele começar a cantar ou estiver dando quem-quem, pode-se chegar mais perto, até à distância mínima de uns dez metros. Pendure-o nesse local e deixe-o cantar à vontade, no máximo por uma hora.
Em outros dias repita esse procedimento algumas vezes e vá diminuindo a distância para até uns cinco metros no mínimo. Varie de parceiro. Visite outros passarinheiros que estejam dispostos a colocar seus pássaros para fazer dueto.
Daí em diante, vá observando a evolução e o desenvolvimento da ave. É interessante o dueto escondido, onde os pássaros são colocados bem próximos um do outro, com uma tábua como separador para que não se vejam. Esse treinamento não pode exceder nunca o tempo de uma hora. Não o repita muito, exerça-o, no máximo, umas cinco vezes em dias diferentes e cuidado para não viciar a ave a cantar somente escondida da outra.
O bicudo e o curió apreciam muito dar um passeio com o tratador segurando a gaiola na palma da mão. Esse passeio deve ser dado a pé por perto de casa, principalmente na parte da manhã. Excetuados os dias de muito vento, o passeio pode ser por três vezes na semana, com a duração de meia hora cada. É um tipo de exercício que ajuda muito no entrosamento entre o pássaro e o passarinheiro, os resultados sempre são os mais positivos. Após o passeio, colocar o pássaro para tomar banho e pendurá-lo na sua morada após a secagem.
Os bicudos e curiós têm, também, verdadeira adoração por avistar os brejos, por isso, é sempre salutar dar um passeio com eles até esses locais. Mormente no início do treinamento, logo após a fase da lustração, é que se encontra o melhor momento para esse tipo de preparação.
De preferência, deve-se começar levando o pássaro ao brejo duas vezes por semana, apenas em companhia de sua respectiva fêmea. Faça uma estaca e coloque-o em um local limpo e alto, onde aviste toda a cercania. Pendure-o sempre no mesmo lugar. Esconda a fêmea numa moita de capim, onde o macho escute o piado e não a veja.
Importante lembrar que a melhor hora de ir ao brejo é na parte da manhã, às primeiras horas. Contudo, na parte da tarde, depois das dezessete horas, também traz bons resultados.
Depois de estar respondendo bem ao canto de outro macho, já se poderá levá-lo ao brejo em companhia de outros, esclarecendo que, nesses casos, não se deve colocá-los muito próximos e nem durante muito tempo. Uma hora é o espaço ideal de tempo.
Outra recomendação a ser observada é o cuidado com cobras e micos que costumam viver em abundância nos brejos, porque, ao menor descuido, poderão atacar os pássaros e matá-los.
Assim que se notar que a ave está totalmente aberta, os passeios aos brejos devem diminuir para não desgastá-la.
O treino de roda consiste em acostumar, gradativamente, a cada semana, o pássaro a cantar perto de outro, visando adaptá-lo para facilitar o desempenho dele nos torneios. Nas primeiras vezes deve-se colocá-lo mais afastado, para que vá conhecendo o ambiente, a estaca e sinta-se seguro e confiante. No treino, não o mude de lugar. Quando for necessário, faça-o com estaca e tudo, sem pegar na gaiola. No início o treinamento não deve passar de uma hora.
Se o desempenho dele estiver satisfatório, podemos ir aproximando-o dos outros um pouco de cada vez. Assim sendo, escolhido o dia, como teste final, logo na chegada, a ave poderá ser colocada no meio de dois pássaros, à distância de 20 cm de cada, como se fosse em um torneio.
É normal que um pássaro inexperiente queira ficar procurando briga com o vizinho, mas se ele estiver de vez em quando dando um canto é um bom sinal. Naturalmente, aos poucos ele vai se desinibindo e começa a cantar a intervalos mais curtos. Não se deve esquecer que o pássaro, para enfrentar um treino de roda, tem que estar bem acasalado, totalmente aberto e muito embalado.
Os passarinheiros novatos precisam estar preparados para o pior, isto é, muitas vezes o cuidado dedicado não resulta em sucesso. Apesar do esforço, o pássaro não corresponde e não apresentará jamais o desempenho que se esperava dele. Às vezes as coisas não se acertam. Fazemos tudo o que é melhor e mais lógico e nada dá certo.
No treinamento da ave tudo é difícil e tudo pode acontecer. Por isso, a grande satisfação quando obtemos sucesso. Os ornitófilos mais experientes sabem perfeitamente que não é fácil encontrar um craque. O jeito é não desistir e procurar analisar se houve algum tipo de erro na preparação ou se o pupilo é que não prestou.
Daí a importância da escolha de aves de boa linhagem genética para que o erro, por causa da qualidade do pássaro, seja menor. Outro aspecto importante é saber que não existe perfeição. Por melhor que seja nossa ave, sempre deverá apresentar uma deficiência. Precisamos descobrir com o tempo qual é o problema e procurar contorná-lo.
Escrito por Aloísio Pacini Tostes, em 2/9/2003