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Desmantelamento da Economia Paraense

Por que o ódio contra quem produz

Desmantelamento da Economia Paraense

Armando Soares (*)

Preservação do meio ambiente, da floresta, das nascentes, dos animais deveria ser uma coisa normal, pacífica, sem resistência, harmônica e embutida pacificamente num programa de desenvolvimento. Infelizmente, no Brasil e mais especificamente na Amazônia a questão meio ambiente foi levada para o campo político ideológico e se transformou num instrumento de destruição da economia paraense.

Se os governos, estaduais e federais, tivessem bons propósitos e quisessem o apoio dos produtores paraenses para embutir no processo produtivo a variável ambiental, deveria ter, por uma questão de inteligência e bom senso, os produtores ao seu lado de quando da criação da política ambiental, ao invés de ONGs, igrejas e políticos ideólogos, governos estrangeiros e mercantilistas.

Dessa união nasceu uma aberração, um Frankenstein, uma política policialesca, construída com ódio, com espírito de vingança mesquinha, a título de evitar a derrubada da floresta, mas que acaba por se transformar numa política assassina, que mata a célula produtiva que produz alimentos para o povo e matéria-prima para a indústria.

Por que aconteceu esse desvio, essa anomalia grotesca, essa política de meio ambiente inimiga de quem produz? A onde se quer chegar? O que é que o governo objetiva? Por que o ódio contra quem produz e contribui para o desenvolvimento econômico? Se o governo quer o Pará transformado numa grande tribo indígena, com o povo contemplando a floresta, os animais e os insetos, porque não fala a verdade, ao invés de ir buscar pretextos e criar obstáculos e exigências burocráticas insensatas e despropositadas, sabidamente se não impossíveis, mas quase impossíveis de serem cumpridas?

Mesmo sabendo que atrás da política ambiental brasileira se esconde o econômico e o ideológico, os interesses dos países ricos e o sonho socialista, é incompreensível que paraenses, amazônidas e brasileiros se prestem para esse tipo de desserviço, contribuindo para a perda da soberania amazônica e a destruição do núcleo produtivo da base primária que produz alimentos, gera emprego, renda e sustenta economicamente o Estado.

Bem, pode argumentar o governo, nos estamos propondo um modelo de desenvolvimento sustentável, com base em premissas ecológicas, onde se insere uma visão holística, mística, do todo, orgânica, que substitui o modelo cartesiano capitalista, que sujou e poluiu a Terra com sua dinâmica e criatividade. Não, nós ambientalistas queremos, mesmo que permaneçamos pobres, um modelo com base na sabedoria do silvícola e, no máximo uma célula nanica, tipo agricultura familiar, necessária, mas sabidamente incapaz de ser o motor do desenvolvimento.

A quem interessa essa destruição e o engessamento territorial e econômico em curso no Pará e na Amazônia? Aos brasileiros? Aos amazônidas? É obvio que brasileiros e amazônidas querem o desenvolvimento econômico da Amazônia porque o desenvolvimento econômico que consiste no “bom” uso da riqueza material, dos recursos naturais e capital humano de países ou regiões, favorecendo o bem-estar geral de seus habitantes. Por sua vez o processo de desenvolvimento econômico supõe que ajustes institucionais, fiscais e jurídicos são necessários, incentivos para inovações e investimentos, assim como fornecer condições para um sistema eficiente de produção e distribuição de bens e serviços à população. Tais medidas se encaixam no pensamento ocidental em suas expressões econômicas, culturais e políticas. A Amazônia desenvolvida, dada a sua riqueza, seu capital maior, pode, em pouco tempo conduzir o Brasil para dentro do Grupo dos Oitos (G8)países mais ricos do mundo, o que significa dividir o mercado, o que não é bem olhado pelos EUA, União Européia e outros componentes do G-8, o que nos leva a conluir que a questão maior que está por trás das ações ambientalista é econômica e não ambiental como tenta induzir a mídia comprometida.

O padrão de desenvolvimento, o modelo cartesiano corresponde às economias capitalistas avançadas. Metas capitalistas, fundada na economia de mercado, que geram crescimento econômico contundente como acontece hoje com a China, e no Brasil no Sul e Sudeste, promovendo o aumento do PIB nacional e per capita. Esse padrão é buscado pelos países ou regiões “em desenvolvimento” para tornarem-se países e regiões desenvolvidas. Por que essa busca está sendo obstaculizada pelo governo brasileiro quando se trata do Pará e da Amazônia? Preservação ambiental? Conservação da floresta? Ambas poderiam ser feitas, caso necessário, sem fragilizar as células produtivas responsáveis pela geração de renda, emprego e do desenvolvimento. Por que atingi-las mortalmente?

Enquanto se valoriza o macaco, a preguiça e a “santidade” da floresta e sua intocabilidade, Belém, cantada como portal de entrada da Amazônia, tem 15 mil seres humanos vivendo em favelas, em condições piores que bichos, demonstração inequívoca de que o governo não considera o homem como sua maior prioridade. Os problemas de Belém vão mais além. Estudos mostram que mais de 35% da população, vive em favelas e apenas 5% da cidade possui rede de esgoto, cenários que se repete com maior intensidade por todo o interior do Pará. Se somam a esses problemas a falta de investimentos em habitação, a migração desordenada, desemprego, empobrecimento da classe média, ou seja, uma tendência para o caos social e estagnação econômica, salvo se houver uma mudança de mentalidade e de políticos defasados.

O que vem promovendo esse cenário triste, caótico e de difícil entendimento? O freio, os obstáculos impostos pelo MMA à região e a fragilidade, ou a quase inexistência, dos órgãos responsáveis pelo desenvolvimento, esvaziados em favor de uma política ambiental que não leva a nenhum lugar e que foi criada não para preservar o que se torna necessário na Amazônia, mas para atender aos interesses de estrangeiros que cobiçam a região, destruir o que já foi construído por bravos e valorosos brasileiros e, pior, contaminar as mentes de brasileiros de outras regiões através de uma propaganda subliminar de que o melhor para a Amazônia é a sua estagnação econômica e não o seu desenvolvimento.

Por que o Sul, Sudeste e o Centro-Oeste brasileiro, os EUA, a Europa, a China, a Rússia, o Japão e outras países e regiões podem se desenvolver e a Amazônia não? Que respondam os brasileiros de bom senso que ainda não estão contaminados com o vírus do ambientalismo, os patriotas, se é que ainda existem.

(*) Economista e Diretor da Federação da Agricultura e Pecuária do Pará

asoares37@yahoo.com.br

Escrito por Armando Soares , em 21/5/2008

Aves Soltas – Liberdade

Humanização das aves

A população associa aves soltas ao sentimento humano de liberdade. Humaniza as aves e animaliza a si mesma.

Somos livres, nós mesmos?

Vivemos em estruturas de concreto que, em proporção, são menores que as gaiolas. São caixas. Empilhadas lado a lado ou umas sobre as outras. E passamos boa parte do tempo, em uma lata que anda, como salsichas pensantes no engarrafamento entre o Aeroporto de Congonhas e o Itaim ou até o Guarujá. E viajamos em latas que voam, como sardinhas suicidas. E, pior, prendemos nossos semelhantes em cubículos imundos e tristes, que faria a pior das gaiolas parecer um palácio. Somos a única espécie que prende semelhantes nessas condições.

Prendemos homens, prendemos mulheres e prendemos crianças, mas não podemos “prender” pássaros.

Podemos prender um peixe como o neon em um aquário, onde ele não se reproduzirá, retirando-os aos milhares das águas do Rio Negro. Ou um japonês em um aquário redondo, forçando-o a nadar em círculos. Mas não podemos “prender” pássaros.

Podemos prender “peixes marinhos”, belíssimos, tirando-os de seus habitats. E os corais. E as anêmonas. E os crustáceos. Do mar podemos tirar tudo. Para comermos um peixe “saudável”, lançam-se redes, que afogam os golfinhos. E os peixes, “saudáveis”, passam por uma cruel morte por asfixia. Mas não podemos “prender” pássaros.

Podemos comer Baby Beef no Rubayat, bezerro preso para ficar com a carne macia. Mas não podemos “prender” pássaros.

Podemos comer foie-gras, fígado de pato, ganso ou marreco, engordado ao ponto da morbidez, em qualquer restaurante francês que se preze, de um animal alimentado a força, com funil, para que um “gourmet”, leia-se, glutão, o devore. Pato, ganso ou marreco este, que pode ser criado em caixas para não se movimentar e, assim, engordar mais rapidamente. Mas não podemos “prender” pássaros.

Podemos comer frango, confinado e alimentado à força, estressado, normalmente com ascite e entupido de hormônios. Mas não podemos “prender” pássaros.

Enquanto isto os guaranis migram, nômades, em busca até hoje da terra sem males.

Ou seja, somos gado humano, como diria o Zé Ramalho. Gado rebelde ou gado domado. Mas gado tocado.

E por não termos liberdade, gostamos de projetar nossa liberdade em aves, em objetos.

É duro, mas o homem não reconstruirá o Éden. Nunca. Nenhum esforço ambientalista o conseguirá.

Para quem crê, só Deus pode nos dar “novos céus e nova terra”. Para quem não crê, só resta o apego a ídolos, lenitivos, como o pássaro. Asas que nós não temos, liberdade que nós não temos.

Pensemos em uma enquete pela internet: “qual a sua opinião sobre o pardal” ou “o que você acha dos pombos soltos nas cidades” ou “quanto você estaria disposto a pagar mensalmente para a preservação das rolinhas”?

A esmagadora maioria das pessoas diria que “pardal é uma praga, tem de morrer”, “tinha que acabar com o pardal”, “pombo é uma praga”, “pombo transmite doença”, “pombo suja tudo” e “pagar para preservar rolinha quando tem tanta gente passando fome…”.

Então, o povo acha correto “soltar passarinho”, mas o passarinho tem de cantar, ser bonito, ser capaz de viver em gaiola (para dar o glamour da libertação).

Se o passarinho for fosco, pardo, silencioso, não “serviria” para grande coisa.

Ou seja, o “povo” quer um meio-ambiente desequilibrado mesmo. Só que estética ou sonoramente mais vistoso.

Araras vermelhas pousando na Vieira Souto, tucanos na Avenida Paulista, curiós arrumadinhos em fila nos fios elétricos do Pacaembu até a Lapa e todos cantando Praia Grande clássico; cotingas, saíras e gaturamos pousados no gramado da Praça da Liberdade em Belo Horizonte e tudo isto culminando com um casal de ararinha-azul chocando na cabeça do Cristo Redentor.

Mas o povo não se importa se o óleo de soja de cada dia é produzido a partir de soja do cerrado, cujas veredas foram drenadas e buritizais queimados; se há condomínios onde deveria haver Mata Atlântica, se o móvel da sala é de madeira nativa silvestre e não de madeira de reflorestamento reciclada; se a verdura que come é orgânica; se o cafezinho afeta o lar do macuco e da araponga.

Esse fenômeno do “franchising de canário-chapinha” não é novo aqui em Minas Gerais e já em várias cidades está acontecendo. Manhumirim, por exemplo, com incentivo. Em Juiz de Fora, de forma embrionária.

Como se diz por aqui, “minero gosta di canarim”…

Eu gostaria de lançar um desafio ao Jornal Nacional: mostrar uma cidade ambientalmente correta em Minas Gerais com um “bando de bicudos”, um “bando de curiós”, um “bando de azulões”, já que essas três espécies são naturais de Minas Gerais? Quem sabe Formiga, com curiós ou Bom Despacho, com uma revoada de bicudos cantanto grego?

Ou mostrar patativas de Jacuípe, em bando.

Ou papa-capins cantando liu-liu em liberdade, bastava que fosse um só.

Quanto às patativas de Jacuípe, penso que não existam mais. Assim como os bicudos Maquiné, lá do Nordeste. Os gregos de Bom Despacho, só um criador em Minas Gerais os preservou. E os liu-liu vão para o mesmo saco da extinção.

Ou mostrar os dó-ré-mis e irerês mortos em plantações de arroz.

Os atropelamentos de pequenos mamíferos do cerrado: raposas, guarás, furões, tamanduás-bandeira, etc. Seriam mortes inevitáveis por veículos acelerados, já que o progresso clama.

Matar é permitido, preservar é crueldade?

Lembro-me sempre do Marechal Rondon: “morrer se preciso for, matar nunca”. Ele falava isto pensando nos índios. Mas podemos pensar nas aves.

As aves morrem um pouco, todos os dias, no modelo de desenvolvimento do qual usufruimos.

O senso popular é um tanto quanto nazista: o ariano canário tem direito à vida, o pardal mulatinho que se dane. Um tem direito a alpiste e o outro, o direito de, quando muito, ser um pária alado, um sobrevivente.

Da mesma sina dificilmente escapa o tico-tico, que aos olhos do “povo” é pouco mais que um “pardal que canta diferente”.

Minha pergunta final é: quem é o senhor do destino das espécies, quem decide seu direito à vida ou à morte?

Escrito por Fernando Martuschelli , em 20/5/2008