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A opção pela criação legal de animais silvestres em ambiente doméstico

Hudsom Pinto Sampaio Santos

A opção pela criação legal de animais silvestres em ambiente doméstico

Publicada em 19/03/2008 às 15h57m

Por Hudson Pinto Sampaio Santos

Criar animais silvestres em ambiente doméstico não foi uma invenção de alguns “algozes da natureza” que a partir do ano 2000 montaram um complô para tornar um mundo um lugar inabitável. Criar animais em domesticidade na verdade faz parte da cultura milenar de todos os povos de todos os países do mundo. Desde os seus primórdios os homens e mulheres domesticaram animais, e foi isso que permitiu que alguns deles assumissem funções importantes em nossos dias, seja na composição de nossa alimentação, seja na função de companhia ou estimação.

Alguns argumentam que existem animais que não compõem a fauna silvestre e podem ser utilizados como “pets”, deixando nossos exemplares em ambiente natural. A aceitação desta hipótese é tão descabida como querer que deixemos de falar nossa língua para falarmos o inglês, ou deixar de ouvir nossa música e ler nossa literatura porque já existem música e literatura de qualidade no exterior, ou ainda relegar nosso folclore porque existem outros à disposição. É a verdadeira negação da nossa cultura e raízes.

Por outro lado, todos sabemos que nos outros países, notadamente da Europa e América do Norte, a criação da nossa fauna é legal, o que gera a incongruência de sermos forçados a criar o Periquito Australiano, o Canário Belga e o Ferret deles, enquanto felizardos estrangeiros criam nossas Iguanas, Canários-da-Terra, Azulões etc.

Os incautos ainda dirão que não existe motivação plausível por parte dos criadores. Cheguei a ler a barbaridade de que somente se cria por caridade, vaidade ou lucro. Reduz-se a nossa cultura e paixão a tão baixo nível! Todos nós certamente conhecemos pessoas que se dedicam à criação de animais por puro altruísmo, embora esta não precise ser necessariamente sua única motivação. A felicidade de conviver com um animal estimado se compara, muitas vezes, à felicidade do convívio com um ente querido. Se está havendo exageros de vaidade ou de lucro, que se estudem mecanismos que coíbam estas práticas.

Outros ainda baseiam seus argumentos nas dificuldades de fiscalização, normalmente os responsáveis por esta. A estes eu proponho que parem de se comportar como organizações não-governamentais e tratem de cumprir com suas atribuições que certamente haverá tempo de sobra para tal mister.

Todos nós sabemos que os motivos da diminuição de nossa fauna assumem várias vertentes, inclusive algumas que, apesar não menos graves que o tráfico de animais, são mais significativas do ponto de vista destrutivo como, por exemplo, a destruição do habitat e da alimentação natural, a poluição e a corrupção. Todos nós sabemos também que tudo isso pode ser controlado, bastando haver mais trabalho e menos discurso e desídia por parte de nossas autoridades.

A falta de tato, o preconceito e o ranço dos que se revestem de “ongueiros” fajutos (que nada têm a ver com o trabalho sério desenvolvido por muitas ONGs), inclusive aqueles que deveriam se revestir do princípio administrativo constitucional da impessoalidade, não fazendo a defesa de opiniões pessoais, mas observando a questão de cima e de uma forma holística, certamente se dá ou pela desinformação e falta de formação ou mesmo pela desocupação. E há de se enfatizar que o preconceito com aqueles que criam e amam seus animais de estimação pode ser comparado a qualquer outro preconceito, dada a agressividade de seus arquitetos.

Aqueles que fazem a defesa cega da impossibilidade da criação doméstica, além de terem argumentos frágeis, estão desrespeitando os direitos individuais e coletivos de outras pessoas e em nada estão contribuindo para a preservação da natureza. Muito pelo contrário, estariam condenando para sempre à ilegalidade uma parcela muito significativa da população que certamente não deixará sua cultura e paixão de lado.

Hoje, pode-se dizer que ainda estamos engatinhando no sentido de se obter uma situação favorável no que tange ao quantitativo de animais em regime de domesticidade que atendem aos requisitos legais e aqueles que são retirados arbitrariamente da natureza, porém a negação dos avanços que se tem conseguido é um retrocesso e só contribui para que a ilegalidade prevaleça. Temos sim que educar nossa população a adquirir animais legalizados e estimular a reprodução destes.

Defender a simples proibição da criação de nossa fauna em domesticidade é tão insano quanto defender que ninguém mais se alimente de animais abatidos. Por mais que alguns se sintam afetados com esta condição, o respeito aos direitos de uma parcela muito mais significativa da população e à sua cultura milenar deveria fazer com que estas pessoas, com um mínimo de reflexão, submetessem seus caprichos à razão e procurassem alternativas de realmente se fazer um trabalho adequado de manejo de nossa fauna silvestre. Somente isso poderá salvá-la!

Hudson Pinto Sampaio Santos

Globo Online

Escrito por Hudson Pinto Sampaio Santos , em 23/3/2008

Amazônia cobiçada

Terra brasilis

Carlos Olavo Pacheco de Medeiros

Magistrado

As preocupações ininterruptas de um juiz, que o fazem prisioneiro do estudo das leis e dos processos, não o eximem como cidadão de outras tão importantes quanto as do seu ofício, porque atinentes a interesses vitais dos brasileiros. Reportagem do Jornal do Brasil (28/1/2007) mostra a calva de um dos nossos mais sérios e intrigantes problemas, para os quais ainda não nos despertamos com a atenção devida: a ocupação silenciosa da Amazônia, região brasileira denominada de Hiléia, por Humboldt, tal o potencial de riquezas que ali se encerra, verdadeiro paraíso de águas, plantas, animais, jazidas e outros bens naturais de dimensões incomensuráveis.

Desdobrando-se no eixo do Rio Amazonas, a floresta à direita e à esquerda de suas margens compõe quase a metade do território brasileiro. Parte dela, à direita do grande canal, vem sendo devassada nas suas franjas há alguns séculos, a partir do ímpeto indomável das bandeiras. Mas o seu cerne, o núcleo principal de dimensões incomuns até há pouco intocado, senão ligeiramente arranhado pelos nossos bravos caboclos nordestinos em busca da hevea brasiliensis, está agora exposto à fome das motosserras e de invasores que agem sob o manto de organizações não-governamentais, de entidades religiosas alienígenas e agentes outros a serviço de não se sabe quantos países estrangeiros.

A rodovia Belém-Brasília, idealizada por justo anseio desenvolvimentista, ensejou o assalto predatório fácil àquele mundo verde, sem que tivéssemos o cuidado de preservá-lo, policiando-o e ocupando-o convenientemente. No mundo moderno, não se concebe mais a ocupação manu militari de riquezas entregues às soberanias e defesas de povos imbeles, mas às nações economicamente poderosas não faltarão meios para o exercício de pressões de índole financeira para obterem sua sujeição. Desde épocas remotas, nações ricas têm olhares cobiçosos sobre a nossa Amazônia, não somente por sua opulência vegetal, mas principalmente pela riqueza que guarda em seu subsolo, rico em petróleo e outros minerais.

A internacionalização do grande rio queria-o o presidente Wilson, na Conferência de Paz após a Primeira Guerra Mundial, pretensão vencida pela bravura e o patriotismo do delegado brasileiro Epitácio Pessoa, segundo informa Gondim da Fonseca em O que sabe você sobre o petróleo? Alhures pretendeu-se até a quitação de nossa dívida externa com a internacionalização da Amazônia brasileira, trecho admirável do continente sul-americano, legado do gênio português, que mandou às urtigas o Tratado de Tordesilhas.

Manchetes de grandes jornais estrangeiros, em passado recente, chegaram a apontar a nossa inflação, agora contida, presa fácil para a sua entrega a países do chamado Primeiro Mundo.

Chegou-se a objetar que estamos prejudicando o equilíbrio da massa de oxigênio que o mundo respira e que procuramos exterminar os índios que lá se encontram (ainda numerosos), além de outros males. Ora, a história registra que, no hemisfério norte do Novo Mundo, os índios é que foram praticamente eliminados na avalanche da marcha para o oeste até o encontro com as praias do Pacífico; não tiveram os silvícolas para protegê-los a mão benfazeja do nosso taumaturgo Rondon, cujas lições de humanidade e amor aos nossos semelhantes ainda perduram.

O objetivo dessas manifestações, tal a de que “a Amazônia não é dos brasileiros, mas do mundo inteiro”, ou a de que “o Brasil deve aceitar a soberania relativa sobre a Amazônia” (esta atribuída a François Miterrand, 1985), seria o de criar uma atmosfera mundial contra o Brasil, principalmente a partir do momento em que o nosso país passou a despontar como novo potencial econômico, divisado pelo mundo inteiro e em busca de outros promissores mercados, inclusive o expansionista mercado chinês com o seu número bilionário de consumidores. Isso faz cócegas nas axilas das grandes potências econômicas, detentoras de grande fatia da economia mundial.

As reportagens de agora são preocupantes, ressaltando a questão indígena, a ação das organizações não-governamentais controladas por estrangeiros, a crescente influência de países vizinhos na região e a ação ignota sob o manto da imensidão amazônica, tudo isso a pôr em risco a própria segurança nacional. Temos de estar atentos para impedir as intromissões e levar a efeito na Amazônia um desenvolvimento ordenado, sem a brutalidade das agressões ao meio físico e dela fazermos uma região próspera de causar inveja ao mundo, mas sob o nosso domínio absoluto.

Escrito por Carlos Olavo Pacheco de Medeiros, em 19/3/2008