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Conservação do Mutum-do-Sudeste

Relátório de Reunião

RELATÓRIO DE PARTICIPAÇÃO NA REUNIÃO DO PLANO DE AÇÃO PARA A CONSERVAÇÃO DO MUTUM-DO-SUDESTE (Crax blumenbachii) E ESTRATÉGIAS DE CONSERVAÇÃO PARA OS CRACÍDEOS BRASILEIROS

Local – Centro de Treinamento do IBAMA – DF.

Data – de 16 a 18 de fevereiro de 2004

O encontro de profissionais convocados pelo IBAMA para criar uma estratégia e normas de trabalho, e possivelmente um plano de manejo para Cracídeos ameaçados, em especial o Crax blumenbachii, contou com a participação de técnicos de vários segmentos de pesquisa, como pesquisadores de vida livre e pesquisadores da área da genética, bem como representantes dos zoológicos brasileiros (SZB), e do exterior, de criadores que possuem os animais em suas coleções, e também de técnicos de empresas que se interessam por possuir estas aves em suas reservas florestais.

É importante observar, que apesar de existir uma população numericamente razoável de mutums-do-sudeste em alguns criadores particulares, sua situação na natureza é bastante crítica, possivelmente não existindo mais de que 250 aves em liberdade. A população destas em zoológicos também é baixa.

Várias foram a opiniões sobre o procedimento a ser adotado para recuperar esta ave e os demais cracídeos ameaçados, dentre todos podemos citar alguns:

· Aumento da vigilância nas áreas onde o Mutum-do-sudeste ainda ocorre em vida livre;

· Tentar localizar novas populações na natureza e conhece-las melhor;

· Aumento da população em cativeiro, em especial em zoológicos brasileiros, que ainda possuem grande potencial por utilizar;

· Controle da reprodução em cativeiro;

· Reforçar a educação ambiental nas áreas próximas aos locais de ocorrência natural da espécie, principalmente focando populações ribeirinhas e indígenas;

· Reintrodução controlada após estudos mais específicos.

Efetivamente foram defendidas as seguintes posições dos Zoológicos brasileiros :

· Os Zoológicos brasileiros tem potencial estrutural e técnico para manter/reproduzir estas aves, observa-se que este potencial era desconhecido de vários participantes;

· Existe interesse dos Zoológicos membros da SZB, em receber novas espécies e novos espécimes para colaborar com os programas de conservação, embora fique claro que a decisão é inerente de cada Instituição;

· Foi aceita a sugestão de que os Zoológicos participantes dos programas recebam incentivos técnicos e financeiros dos órgãos competentes;

· Posicionou-se os Zoológicos com fortes pontos de educação ambiental, assim poderiam colaborar na formação de uma consciência de preservação destas aves.

Concluindo, pode-se afirmar que todos os participantes reconheceram nos Zoológicos brasileiros fortes aliados na luta para a conservação do Mutum-do-Sudeste e de outras espécies de Cracídeos ameaçados. Assim como fica assegurada a participação da SZB num eventual comitê, como representante geral de todos os Zoológicos.

Fernando S. Magnani

Diretor do Parque Ecológico de São Carlos

Representante da SZB na reunião sobre plano de ação para a conservação de Cracídeos ameaçados.

Escrito por Fernando S. Magnani, em 5/3/2004

Conferência Nacional do Meio Ambiente/2004

Todos tem que dar opinião

Muito importante a preocupação de se discutir questões do meio ambiente, ainda mais se vier da base e se toda a população puder dizer algo que lhe aflige. A idéia da Conferência Nacional do Meio Ambiente criada pelo Ministério do Meio Ambiente, ao que parece trabalha nessa direção; pudemos ver um movimento muito grande em todo o Brasil nesse sentido, muitos segmentos foram ouvidos e muita gente pode dar a sua contribuição. Os debates aconteceram, em especial, por parte daqueles que estão sempre atentos e despertados para a questão; muitos, todavia, não tiveram tempo de levar suas propostas. Tem-se ainda que considerar a incompreensão de que são vítimas alguns segmentos que lidam na área. Os autênticos criadores de pássaros nativos, por exemplo, tem que a todo o momento estar explicando a todos que suas atitudes são de preservação e de utilização de um recurso natural de forma sustentada. A todo momento são confundidos com a nefasta ação dos traficantes que aproveitam o tumulto causado pela mídia e por setores radicais que imputam a eles agressões à natureza. É um diálogo difícil esse de sair-se da realidade e achar que o mundo é um paraíso, uma poesia e que os animais não devem ser de forma alguma explorados ou monitorados. O que fazer com o milhões de animais que estão em poder da população e que não podem ser mais soltos???? O que fazer para parar a inexorável degradação ambiental???? O que fazer para parar o crescente aumento da população humana??????? Como mudar a cabeça de milhões de brasileiros que tem o hábito de possuir uma ave como companhia????? O que é exploração de um recurso natural de forma sustentada, as aves estão fora????? Enfim, são muitas as perguntas e temos que achar explicação para todas elas; é grande a nossa responsabilidade, não se pode desprezar legítimos anseios e que na realidade complementam e consolidam o texto que deverá e poderá ser seguido por todos. Não adianta produzir-se texto, leis e normativos que não serão adotados e que não emplacam. Somos um segmento forte no Brasil e com tradição de uso e costumes, temos que ser respeitados, quando estamos inclusive contribuindo eficazmente para a preservação de espécies. Assim vamos demonstrar algumas de nossas preocupações: Estima-se, que depois de cadastrados, são 8 milhões de criadores e mantenedores de pássaros nativos brasileiros. Há potencialmente uma atividade que poderá contribuir para o desenvolvimento do Brasil, através da geração de vidas, riquezas e empregos preservando o ambiente natural com alternativas sustentáveis de combate ao tráfico, ao oferecer produtos de origem silvestre ecologicamente criados. Na criação para consumo destacam-se: na Amazônia, a criação da tartaruga e do tracajá, no Centro-Oeste, a criação do jacaré, peixes e capivara, no Sul, a criação da ema e da paca, e em todo o País, a criação de aves ornamentais e passeriformes canoros, com exposição e torneios promovidos pelas federações regionais e clubes locais, onde se aglomeram multidões de pessoas que apreciam os cantos dessas aves, para avaliar a qualidade e a intensidade de cantos dos pássaros, reproduzidos nos criadouros num amplo trabalho de preservação e melhoramento genético das espécies legalmente criadas em ambiente doméstico. É grande a contribuição que se dá no desenvolvimento do turismo nas cidades onde se desenrolam os eventos. Sem dizer do volume de recursos financeiros que se movimentam com a alimentação, apetrechos e demais materiais que são utilizados pelos criadores e mantenedores. Os países do primeiro mundo sabem muito bem explorar e lucrar com essa a atividade. A procura por novas fontes de trabalho e lazer faz com que o uso sustentado e a criação da fauna de origem silvestre em criadouros, associada aos manejos em área onde se preserva a natureza, possibilita o desenvolvimento dos pequenos produtores rurais, melhor qualidade de vida às populações locais, com novos nichos para a produção de empregos e de rendas, e o atendimento à demanda da sociedade mais exigente em qualidade ambiental, com o uso de poucos insumos externos. Será cada vez mais utilizada a mão de obra de técnicos (veterinários, zootecnistas e biólogos), nos criadouros para o uso de uma manejo mais adequado e a necessário melhoramento e acompanhamento genético na busca de exemplares de alta linhagem que tanto interessam à demanda. Além disso, o incentivo à criação de animais da fauna de origem silvestre, irá contribuir para preservar a biodiversidade, com emprego de manejo em áreas preservadas, criando rendas para o agricultor e para o homem do campo e opções de trabalho para as comunidades locais, combatendo a miséria e a fome evitando o êxodo rural, a retirada de animais da natureza e conseqüentemente o combate ao tráfico ilegal, abrindo também novas perspectivas de lazer e de incentivo ao turismo, resultados importantes para a preservação do meio ambiente. A criação dos animais necessita também de pesquisa para resgatar e melhorar as técnicas desenvolvidas pelos criadores no Brasil. É preciso também e facilitar o acesso ao material genético silvestre, encontrado em ambientes naturais ou apreendidos do tráfico ilegal (e que não podem ser soltos na natureza) para formação do plantel inicial dos criadouros que necessitam ser incentivados para poder valorizar e preservar o patrimônio natural que representa cada um dos animais envolvidos que devem ter sua saúde e vida preservadas a qualquer custo. Depois de toda essa análise somos levados a pensar que temos que efetivamente criar um Plano de Manejo Sustentado das Aves Nativas Brasileiras. O que nos preocupa muito é que o texto final produzido pelo movimento poderá servir de base para alteração em Lei vigente e inserir aspectos que possam, no futuro, mais prejudicar do que preservar o meio ambiente.

Escrito por Aloísio Pacini Tostes, em 26/2/2004