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Muda de Penas Anual

Chegou agora, no início do outono, o momento anual de muda de penas de nossos pássaros canoros, época em que eles se despojam das respectivas penas com o renascimento delas, novamente. Todos os anos as aves de qualquer espécie, mudam de penas, isto é, “trocam” aquelas que já estão desgastadas, para surgirem novas que irão durar por mais este período de ciclo sazonal de suas vidas.

A duração da muda completa é de mais ou menos seis meses. Nessa fase, os pássaros machos quase não cantam, ficam debilitados e recolhidos. Por isso necessitam de cuidado redobrado, proteção contra o frio, correntes de ventos, tem que haver comida variada e muita observação.

Muda de Penas

Na muda não se deve manusear os pássaros, quanto mais quietos ficarem, melhor. A única exceção é a exposição ao sol, na parte da manhã, por cerca de dez minutos diários, se possível devem tomar banho na oportunidade.

A maioria dos criadores adota a salutar rotina de encapar os pássaros na muda para que fiquem mais calmos, colabo¬rando para a necessária tranquilidade exigida nessa fase. Todavia, tem-se que ter o cuidado de lavar a capa para que não acumule mau cheiro e fique contaminada com fungos e bactérias, em especial em locais úmidos e de pouca ventilação, isso é fatal para a saúde dos pupilos.

Muda de Penas

Para aqueles que são acasalados, os de torneios, recomenda-se que sejam afastados das fêmeas para entrarem em muda, até que estejam em fase de arremate da muda, em geral quando o rabo está crescendo novamente. No caso de plantel de reprodução o melhor é colocar, se houver jeito, todos juntos se vendo, em viveiros comunitários ou gaiolões. Tem-se que ter o cuidado com a higiene e biossegurança desse ambiente.

A propósito, pode ocorrer casos que alguns espécimes atrasem a entrada na muda, ou o que é pior entrem num estágio de “muda encruada”. Muito ruim, porque ficam impossibilitados de reproduzir ou de participar de torneios, quer dizer a respectiva saúde fica abalada e a performance prejudicada.

Pode-se tomar algumas providências para estimular a entrada na muda: trocar o bicho de lugar, tirar ele de eventual situação de disputa de canto, pois alguns não querem perder o “prego” e não param de cantar. Escolher um local mas escuro onde interrompa sua rotina muitas vezes dá certo. Há casos que se precisa dar mais ênfase e assim se pode escolher um lugar apropriado e abrigado onde pássaro possa sentir o frio da noite, diferente daquele que está acostumado.

Quando a ave sai da muda está fria e sem fogo, é preciso toda uma rotina para abri-la, para que ela retome o fogo, se apronte e esteja apta a participar de torneios, com sucesso. Ela tem que secar muda e isso leva um tempo, o sol é fundamental instrumento para ajudar nesse processo. Nessa fase de “seca” da muda, não se pode mexer demais com o pássaro sob pena de ele requeimar e fazer outra muda. Galar de forma alguma porque pode até esterilizar o bicho, há relatos nesse sentido. Só pode galar depois que derrubar “espigão’ e estiver terminado a muda há mais de 2 meses.

Todo o processo será repetido anualmente. Os melhores meses para o início da muda no sul e sudeste são fevereiro ou março. Lógico que há diferenças de época na predisposição para variadas espécies de entrarem no processo de muda. Alguns indivíduos tem mais dificuldade, em especial aqueles de “fogo crônico”, às vezes demoram um pouco mais. No entanto, quando chega aquela mudança de clima para mais frio, comum mês de maio em diante há mais chances de que eles entrem na muda.

Assim, quando chega o mês de agosto, se bem trabalhados, já po¬derão estar prontos, abertos, embalados e de espigão arreado, prontos para outra temporada.
Aloísio Pacini Tostes
Bonfim Paulista – Ribeirão Preto SP
www.lagopas.com.br – multiplicar para conservar

Preservação, não sai da nossa cabeça

Criar pássaros ajuda na conservação deles???

Sim, estamos repetindo e escrevendo sobre este tema inúmeras vezes, porque ele não sai de nossa cabeça. O problema é que tudo que utilizamos, vem da mesma natureza que abriga os animais e as plantas. Ordenar bem a retirada dos recursos naturais é onde está o “x” da questão.

Depois, a utilização sustentada seria a solução recomendada, mas por causa da ganância de muitos, da miséria da população, da desinformação e da falta de comprometimento com o coletivo, não conseguimos fazer o que seria preciso no sentido de resguardar a biodiversidade necessária e o cuidado permanente com o equilíbrio ambiental.

O extraordinário crescimento populacional, as novas tecnologias aplicadas na exploração das atividades rurais fazem com que a degradação ambiental cada vez mais se torne um forte instrumento em ações que podem levar às extinções da fauna e da flora. Em suma, a retirada indiscriminada de recursos naturais renováveis e a relação homem/natureza, tem sido atividades extremamente predatórias ao meio ambiente.

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É bom citar alguns exemplos gritantes que muito nos incomoda e que não existem providências sendo tomadas para adequá-los à sustentabilidade, pelo contrário, em nome do desenvolvimento e do atendimento ao consumismo exagerado, está tudo justificado.

1) A indústria carvoeira está consumindo o cerrado brasileiro. Hoje caminhões carregam carvão originário de matas nativas desde Mato Grosso do Sul, até Minas Gerais para abastecer os altos fornos das siderúrgicas, além de servir de combustível para realizar churrascos nas residências;

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2) A lavoura de soja outros cereais e seus agrotóxicos, depois do estrago que já fez, vem recentemente arrasando o Mato Grosso, chegando à Amazônia; não sabemos de nenhum respeito ao meio ambiente e cuidado com o solo, e pior o produto final é levado até os portos do oceano atlântico no lombo de caminhões que arrasam permanentemente as estradas ao invés de ferrovias muito mais econômicas;

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3) A cana-de-açúcar e álcool, degradaram inúmeras regiões no estado de São Paulo e no Nordeste e cada vez se estendendo com mais usinas sendo implantadas em outros estados e depois, em alguns casos, ainda queimar a cana, cercando-se os quatro cantos, depois vem fogo, a fumaça e a morte de todos os seres vivos que ali estão, tudo para facilitar a coleta;

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4) Na questão ligada à pecuária, basta dizer que há hoje no Brasil mais gado do que gente, é o maior rebanho do mundo à custa de alimentação com gramíneas que precisam de vastas extensões territoriais para vicejarem;

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5) A desenfreada poluição das águas doce e potável dos rios, são dejetos industriais, esgotos domésticos e metais pesados lançados diariamente nos cursos d’água que se tornam colossais veículos de um caldo imundo, o famoso “joga para o vizinho de baixo”;

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6) Milhões de toneladas de lixo e materiais descartáveis que se produzem e não são recicladas, ou reutilizados e sim atiradas a céu aberto nos lixões; plásticos, pneus e baterias usadas, talvez, são dos maiores problemas ambientais que temos.

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7) Incêndios e inundações naturais ou provocados que tanto prejuízo trazem a flora e dizimam a fauna muito comuns em nosso País.

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Poderíamos, aqui, citar outras inúmeras agressões ao meio natural, relacionamos, apenas, as ocorrências acima descritas que e algumas são praticadas com a conivência ou omissão total da sociedade. Lógico, precisam-se gerar riquezas para manter boa convivência entre as pessoas e o poder econômico usa de sua “persuasão” para agir e conseguir os seus objetivos: o lucro, custe o que custar.

Para nós, a questão maior é a desigualdade social, os pobres e os miseráveis continuam cada vez mais oprimidos e impossibilitados de terem uma perspectiva de melhoria de qualidade de vida, porque o bolo é um só e os mais abastados se recusam mais em repartir as fatias, procedem como se fossem eternos ou imortais. Quem fiscaliza e quem é multado ou responsabilizado por esses absurdos? Fica a pergunta.

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Não sabemos direito o que fazer, mas a sensação é de que está tudo errado, ecologicamente incorreto. Quando iremos parar e pensar no futuro da humanidade ou da vida na Terra, seremos quantos bilhões de pessoas daqui uns 20 ou 50 anos??? Será que poderemos conviver em harmonia?

Até agora falamos sobre as questões centrais ligadas ao meio ambiente, mas, o que nos interessa mais de perto, é a conservação das aves que estão fortemente envolvidas. É a parte que nos toca nesse imbróglio.

Onde sobrará espaço para elas viverem livres? Algumas não sobreviverão porque não há mais as mínimas condições ambientais exigidas por determinadas espécies, há inúmeros exemplos. Isto já está acontecendo em muitas regiões do Brasil com algumas aves mais exigentes, outras nem tanto porque se adaptam e conseguem até superar as dificuldades aparentes e aceitar a novo contexto de seu habitat.

Fazer conservação da biodiversidade in situ tem se tornado muito complicado e difícil pois parte do princípio da preservação da natureza. Aumentar e monitorar parques e reservas ecológicas, conter desmatamentos, criar áreas verdes onde haja espaços e proteger os cursos d’água para que tudo isso junto, possa oferecer condições mínimas aos animais silvestres a conservar suas populações em ambiente natural. Infelizmente, aquelas espécies mais ameaçadas para as quais não haja interesse ou atenção maior estão fadadas a extinção, não se enxerga outras perspectivas para elas.

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Em contra ponto, porém, há algumas que estão procriando e aumentando sua população em ambientes urbanos, a saber: sanhaços, sabiás, cebinho, tucano, joão de barro, godero, periquitos bandeira, maracanãs, caturritas, pombas silvestres, bem-te-vi, favorecidos pela arborização em pomares, parques e bosques fragmentados que vão se formando nas cidades. Há ainda um enorme crescimento da reprodução nesses ambientes antropotizados do canário de terra, do tiziu, bigodinho e do tico-tico, aproveitando as plantações do capim braquiária (africano) que se alastram por todos os lados. Por conseguinte são aves que até apreciam a urbanização, por incrível que pareça.

Aí, vem a caça predatória e o tráfico, fatores que mais nos incomodam porque escondidos, furtivos e de difícil mensuração e todos, obviamente, queremos acabar com suas nefastas ações, ainda mais, nós criadores, que temos a nossa imagem prejudicada. Sabemos que o tráfico existe de forma arraigada que muitos lucram com a questão, mas em virtude da desinformação e dos exageros que é divulgado o assunto, talvez, como estratégia para motivar a opinião pública, até hoje não sentimos nenhum efeito positivo provocado por essas inverdades.

Falar das ações do tráfico incomoda muito, queremos acabar com ele porque promove a dizimação da fauna e não traz nada de favorável, só atende a interesses escusos e estão na contramão da conservação. Ele ocorre por vários outros motivos, por desinformação, ignorância, falta de educação e por miséria mesmo. De há muito as feiras ilegais continuam funcionando. Todos estão a favor de medidas que extirpem esse mal. Será possível fazê-lo??? A verdade é que, ele tem conseguido burlar e ludibriar os mecanismos de proteção e a confusão gerada nos deixa desolados.

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São tantos os exageros e desinformação que o efeito gerado provoca indignação em muitos e revolta em outros. Vejam alguns absurdos, dizer que: de dez animais silvestres capturados vivos, apenas um chega ao seu destino final – Ora, se o traficante tem o bicho como produto, não há atividade que se torne lucrativa com essa desproporção absurda; O cruzamento de informações perfaz um número de 600 milhões de animais, – Esse montante, por si só já soa como outro absurdo Se isto fosse verdade estaríamos perdidos, em breve, não existiria mais fauna (silvestre/selvagem) no planeta. É até risível falar que o tráfico no Brasil apresenta bilhões de dólares, de onde se tirou isso concretamente? Pode ser idealizado naquela teoria que uma mentira dita muitas vezes fica parecendo ser verdade. Deve ser por aí.

Ora, IBAMA quando divulga listas anuais de apreensões que não passam de alguns milhares, até chegar a casa dos milhões levaria centenas de anos; alguns têm os ossos do peito quebrados para serem transportados em canos de pvc – Dá mesmo para rir ou chorar, já que quebrar os ossos mataria imediatamente a ave, ou alguém tem dúvida disso, ou então, é piada e das mais infames; outros têm os olhos perfurados para, cegos, não verem a luz do sol e assim não denunciarem o crime com seu canto – pura brincadeira, ou alguém tem dúvida que além da crueldade, a ave, não teria mais como se alimentar e morreria de fome.

Esse é um clima de faz de conta, que alguns setores radicais tentam criar e que ao invés de atingir apenas o foco da questão que são os traficantes, coloca os criadores e os amantes de pássaros misturados e inseridos nessa nuvem de mentiras. E ainda mais passar para a sociedade que a criação legal é instrumento do tráfico, isso é demais.

Gostando da idéia, por causa do impacto da informação, a mídia, em alguns casos veiculando de forma sensacionalista e negativa com o objetivo de motivar a opinião pública dramatizar e obter um clima de horror e com isso ganhar audiência e fazer gancho para continuar falando do tema sem buscar ouvir todas as partes envolvidas em especial a dos criadores ou seus representantes. Aí ficamos no meio desse turbilhão onde o emocional e a insensatez são valorizados.

Ainda bem que outros setores, ao contrário tentam procurar o lado da razão, lembramos bem da CPI do Tráfico na Câmara Federal, nas suas duas versões finalizada em Março/2006, que depois de inúmeras reuniões com envolvidos em todo o Brasil, recomenda em seu relatório final:

– A União, os Estados e os Municípios, preferencialmente de forma articulada, devem conceber e implantar programas de geração de renda alternativa para comunidades carentes hoje envolvidas no comércio ilegal de animais silvestres;
– O Governo Federal deve conceber e implementar uma política nacional direcionada aos animais silvestres, envolvendo os aspectos de proteção ambiental, manejo e comercialização;
– A criação e comércio de animais silvestres como uma atividade regular, que observe todos os requisitos das normas ambientais e a legislação como um todo, deve ser incentivada pelo Poder Público;
– Os órgãos públicos, como a EMBRAPA e outros, devem participar do esforço de criação em cativeiro de espécies ameaçadas de extinção.

Pois bem, quem melhor ou com mais legitimidade do que os representantes do povo para indicar a política pública que poderia contribuir para o efetivo combate ao tráfico. Infelizmente, tudo que foi escrito e documentado em março/06 não foi ainda colocado em prática pelos órgãos públicos, esperamos que surja uma Lei que regulamente a questão.

Está provado que ação dos criadores, que precisa de muito apoio e reconhecimento, tem dado certo, vejam os resultados positivos no manejo na produção do jacaré, dos peixes nativos, dos psitacídeos, da capivara, do mico leão e de passeriformes.

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Importante falar da criação ex situ da Ararinha Azul, da Ararajuba e do Bicudo, que foram vítimas de enorme caça predatória e praticamente dizimados em suas populações silvestres, hoje estão livres da extinção por pura ação dos criadores. E melhor, não existe praticamente, mais tráfico sobre elas.

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Atendendo à demanda, os criadores prestam extraordinária contribuição à conservação e ao combate ao tráfico para mitigar a captura ou abate de animais silvestres (selvagens). Um exemplo para o resto do mundo ainda mais, se levarmos em conta que a atividade começou há pouco tempo, mais intensamente de dez anos para cá, não se pode desprezar essa evidência.

A propósito, acusam os criadores por maus tratos por manter os animais confinados e supostamente tê-los privado da liberdade, desprezando o fato de eles terem nascidos já em ambientes controlados. Isto não importa para eles. Sem hipocrisia, o que dizer então dos ditos “animais de produção”, aqueles que são criados para serem devorados e que nascem e vivem em precárias condições de bem estar. Quem teria efetivamente “peito” para questionar?

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Quando se fala em maus tratos, são inúmeros exemplos que nos causa espécie, á cão amarrado em correntes curtas, burro puxando carroça com carga excessiva, peixe sendo fisgado e retirado a força de seu meio – uma covardia aceita e inquestionada – . Quer dizer, o ser humano executa desde séculos e vai continuar praticando supostas “barbaridades” contra os animais, ou por necessidade, pura crueldade ou por senso comum.

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Ademais, sugerir é um passo, realizar e executar a criação de animais nativos é uma ação de conservação e evitar atitudes de maus tratos. São dezenas de milhares de aves de estimação produzidas e que vem somar ao acervo do estoque e do plantel dos criadores à disposição dos ornitófilos, aficionados e de eventuais reintroduções oficiais na natureza. Conclui-se efetivamente que é uma atividade sustentável e uma forma legítima de geração de empregos, rendas e em tese uma maneira de fixar o homem do campo em sua área rural.

Dito isto, para nós, não fica bem que apareçam justiceiros que se acham juízes, que não olham para dentro de si, estando em suas salas com ar condicionado e saindo para almoçar coraçõezinhos de frango, saborosas picanhas carregando suas bolsas e cintos de couro e roupas de grife de legítimo algodão. É como se fossem imaculados ou santos e que querem impor sua opinião quanto à criação de pássaros nativos em domesticidade, pregando a proibição de uma atividade de criação sustentável, quem sabe propondo tantas exigências descabidas que inviabilizaria a criação, esse é o pensamento. Se isso, fosse possível o que fazer com todo o estoque de animais nativos em poder da sociedade, cremá-los???
Então, o que esperamos doravante é que haja muita inspiração junto aos órgãos que estão envolvidos com as questões do meio ambiente e que eles realmente trabalhem para que haja um Brasil melhor e que todos nós possamos estar juntos para a efetiva conservação da biodiversidade, cada um respeitando o trabalho do outro, isso realmente, não sai de nossa cabeça.

Imagens retiradas da Internet e Texto ora revisto, oriundo do original publicado no Atualidades Ornitológicas 134 de Nov/2006.

Aloísio Pacini Tostes –
Bonfim Paulista – Ribeirão Preto SP
Multiplicar para Conservar
www.lagopas.com.br