Postagens relacionadas com Atas e Documentos

SOS Fauna Brasileira

O uso sustentado

S.O.S. Fauna Brasileira Ter em casa um pássaro na gaiola, aos olhos de algumas pessoas, é um ato de crueldade. Dizem até: “solte esse pássaro”, “não o deixe preso”, “deixe-o voar livremente”!

-Quando escuto essas palavras sempre respondo: “sou também um grande defensor do pássaro voando livre pelos campos e florestas, que são seu hábitat natural”. Porém, ao conversar por 15 minutos com essas pessoas, 9 em 10 mudam de idéia, pois as levo a refletir sobre a necessidade que existe de reproduzi-los também em gaiolas.

-Sabemos que, diariamente, nossas florestas estão sendo reduzidas, pois quando as autoridades descobrem que estão devastando uma área, derrubando árvores centenárias, outras 10 já foram destruídas, sem que ninguém veja. -Outros inimigos mortais dos pássaros soltos, que ninguém fala, são as áreas agrícolas que, com seus pesticidas, além das pragas, matam os pássaros que, bem cedinho, se aproximam em busca de saciar sua sede e bebem as gotículas de orvalho, que durante a noite se formam sobre as folhas e outras superfícies, infelizmente cheias de veneno. Tragédia presenciada por mim em Minas Gerais, quando visitei um cafezal e vi, antes do meio-dia, 2 funcionários, cada um com um carrinho de mão e uma pá, colhendo pássaros mortos e enterrando-os para que não provocassem mau cheiro na região. E o mais triste ainda foi ouvir que isso é trabalho diário. Entre os pássaros mortos, muitos canários-da-terra, coleiros, tizis, tico-ticos, rolinhas, bem-te-vis, bicos-de-lacre, melros e etc. Além disso, temos na natureza, a lei da sobrevivência chamada “cadeia alimentar.” A qual afirma que: para cada 10 pássaros que nascem, somente 1 chega a idade adulta. Em contra partida, em nosso criadouro, de cada 20 que nascem perdemos de 1 a 2 filhotes no máximo.

-Isso tudo nos faz ver a necessidade que existe de reproduzirmos, ao máximo, os que já existem nas residências anilhados e documentados pelo IBAMA. -E com muito orgulho afirmo que nosso criadouro já possui pássaros que estão na 5ª e 6ª geração, sempre lapidando e melhorando a genética de cada espécie, procurando reproduzir as melhores matrizes em canto, fibra e instinto materno. E, devido à evolução da medicina veterinária, somada ao avanço dos centros de pesquisa de rações e sementes e medicamentos, já foi provado que um pássaro bem alimentado na gaiola tem mais saúde, fato confirmado por viverem mais do que o dobro da idade dos que vivem soltos na natureza.

-Há alguns meses atrás estava numa reunião de ambientalistas na cidade de Niterói, onde resido, participando como presidente de uma associação de moradores, quando fui abordado por um repórter. Ele disse ser contra pássaro em gaiola, e perguntou: “como pode o senhor, um ambientalista, um professor universitário, cirurgião-dentista de respeito, ser dono de um criadouro comercial de pássaros da fauna silvestre brasileira”? Expliquei que tudo é devido à grande paixão que tenho pelos pássaros brasileiros. Depois de ver, na prática, que a não extinção de uma espécie só está assegurada quando reproduzida em gaiolas, comecei a colecionar espécies diferentes, todas, é claro, com origem comprovada, independente de cor e valor. Meu pai um dia chegou a dizer que minha casa parecia até a Arca de Noé. E hoje o Criadouro Ninho dos Colibris é uma pequena empresa com a maior variedade de espécies de passeriformes já autorizada no Brasil pelo IBAMA. Empregando 6 funcionários com carteira assinada, gerando renda para os cofres do Estado, através dos impostos recolhidos pelas notas fiscais emitidas, ajudando a preservar o emprego de funcionários das fábricas de anilhas, rações, sementes, gaiolas e medicamentos, consumindo bastante seus produtos. -Depois dessas explicações perguntei ao repórter: “por que você diz que é cruel reproduzir pássaros em gaiolas, mas não fala nada contra a criação de galinhas, faisões, perus, avestruzes, codornas, jacarés, tartarugas, coelhos, rãs, peixes, carneiros, cabritos, porcos, bois e etc? A maioria está sendo criada para o triste fim que é o ABATE. Já reparou o espaço onde moram as galinhas nas granjas que produzem ovos? Não conseguem dar uma volta, sequer, no espaço em que vivem”.

-Pare para pensar, nós não reproduzimos pássaros para serem assassinados. E um fato muito importante é que um casal de pássaros só reproduz na gaiola se está bem de saúde, não estressado, bem protegido, bem alimentado e feliz. -E falando de felicidade, vamos jogar por terra uma lenda que diz: “na gaiola o pássaro canta de tristeza”. Isso não é verdade, pois em toda minha vida nunca vi um pássaro triste cantando. Em nosso criadouro quando a fêmea está chocando, o macho canta muito, porém quando nascem os filhotes ele voa de um lado para outro cantando mais ainda, chamando a atenção dos tratadores e dos outros pássaros, para que saibamos que aquele dia é o dia mais feliz para eles, pois acabou de nascer sua prole.

-Proporcionamos momentos de alegria para muita gente e diminuímos a solidão de muitos que moram sozinhos, quando lhes vendemos um pássaro pet. -Colaboramos com o desenvolvimento afetivo de muitas crianças, que por orientação de seus psicólogos, os pais adquirem pássaros domésticos conosco. -Um fato que nos marcou muito foi quando uma senhora comprou 2 pássaros a pedido de seu marido, que, com 50 anos de idade, devido a sérios problemas de saúde, não saía mais de cima de uma cama, num quarto de um apartamento. Depois de alguns dias nos telefonou, agradecendo, em nome de seu esposo, dizendo que, quando eles são colocados em sua janela, começam a cantar, proporcionando-lhe os momentos mais felizes do dia, e que, há muito tempo, desejava possuí-los, mas por ser um homem que sempre teve tudo dentro da lei, nunca permitiu que os comprasse nas feiras livres. Porém, depois que descobriu nosso criadouro pôde realizar seu sonho.

-Provamos para quem quiser conferir que nosso criadouro é um verdadeiro banco genético da fauna brasileira, pois durante os cinco anos que temos licença do IBAMA, reproduzimos mais de mil filhotes, entre mais de 50 espécies diferentes, muitas já na lista de extinção. Quem nos visita no mês de novembro ou dezembro, surpreende-se e diz: “é uma verdadeira fábrica de passarinhos”. -Uma realidade que descobri numa viagem ao exterior foi conhecer um criador nos Estado Unidos, especializado na fauna brasileira, com mais do dobro das espécies que possuo, e que recebe subsídio do governo para manter o criadouro. Ele contou-me que tem um amigo no México que também cria e possui quase todas as espécies brasileiras, e que também recebe ajuda de seu governo. Uma prova disso ocorreu há alguns anos atrás quando nossos biólogos constataram que, em todo o Brasil, só existia um exemplar da ararinha azul e foi preciso buscar no exterior uma fêmea nascida em criadouro para que a espécie não fosse extinta de nossa fauna. Outro caso ocorrido, também há alguns anos, foi com o mico-leão-dourado, que só existe hoje em nossa mata, graças a uma importação feita de alguns exemplares do zoológico de Washington.

-É triste ver que aqui no Brasil além de não termos ajuda do governo, temos grupos desejando acabar com a criação doméstica de pássaros, fato que somente fará crescer mais ainda o tráfico. Prova disso são os inúmeros e-mails ameaçadores que já recebemos de traficantes, vindos de vários lugares do Brasil, que estão se sentindo prejudicados devido o sucesso de nosso criadouro. É importante lembrarmos que o tráfico de animais silvestres é no Brasil a 3ª maior fonte de renda da criminalidade, só perdendo para o tráfico de drogas e armas. O que nos alegra é ouvir de pessoas que compraram conosco: “agora não preciso mais comprar nas feiras livres e viver escondendo da polícia o meu passarinho”.

-Na esperança de que esse e-mail será lido pelas autoridades, seguem 3 sugestões :

1ª)Para acabar com o tráfico nas feiras livres basta colocar 2 policiais permanentemente em cada uma, pois se o traficante não consegue vender, não compra do caçador, que por sua vez não tendo seu comprador, pára de caçar pássaros na natureza.

2ª)Para preservar o hábitat natural de nossos pássaros, vamos realmente usar os poderosos satélites que hoje focam qualquer recanto, em toda parte de nosso país, para localizarmos as clareiras sendo abertas em nossas florestas.

3ª)Vamos ter bastante cuidado, pois existem algumas ONGs (ORGANIZAÇÕES NÃO GOVERNAMENTAIS) por trás dessa idéia de acabar com pássaros nativos vivendo em gaiolas. -Sabemos que existem muitas ONGs bem organizadas, com bons propósitos e criadas por pessoas sérias e de respeito, porém não podemos esquecer que já existiram algumas, principalmente atuando em nossas florestas, que, depois de investigadas, ficaram proibidas de atuarem em nosso território. Pois não eram apenas organizações não governamentais, eram também organizações que trabalhavam contra o nosso governo e contra o nosso povo.

-Para o IBAMA queremos pedir que reabra as inscrições para novos criadouros e estimule a criação do maior número possível de espécies, em todo o território brasileiro. Pois se existisse um criadouro em cada cidade, vendendo com nota fiscal os pássaros nascidos em gaiolas, usando anilhas com diâmetro que só permite ser colocada com 3 dias de vida. Além de gerar empregos e arrecadação para os cofres públicos, ofereceria aos compradores um preço final mais popular. Pois não teria a despesa de envio, que dependendo do estado que reside, na compra de um pássaro de R$140, 00, chega a pagar R$ 160,00 de frete na soma de GTA, atestado de saúde e taxa da transportadora aérea.

-Isto acontecendo, certamente acabaria com o comércio ilegal de pássaros pelo Brasil. -Para finalizar, peço a você, cidadão brasileiro, que ama e defende nossa fauna e flora, que abrace essa causa e passe esse e-mail para muitos, principalmente para quem tem nas mãos o poder para fazer alguma coisa. Para que no futuro os bancos genéticos de nossa fauna, uma das maiores riquezas que possuímos, não estejam apenas em mãos estrangeiras.

Isaias Costa

Proprietário do Criadouro Ninho dos Colibris.

 

Quando a segregação é melhor que a convivência

Poucos respeitam a exigência

Quando a segregação é melhor que a convivência 06 de outubro de 2011 | 3h 03 Fernando Reinach, biólogo – O Estado de S.Paulo O mundo precisa preservar a biodiversidade e produzir alimentos. Infelizmente, são poucos os estudos que consideram simultaneamente esses dois lados da equação. Enquanto ecologistas estudam a melhor maneira de preservar a biodiversidade, agrônomos tentam maximizar a produção de alimentos. Agora, um grupo de cientistas resolveu estudar qual a melhor maneira de otimizar a produtividade agrícola e, simultaneamente, a preservação da biodiversidade. Grosso modo, existem duas maneiras de introduzir a agricultura em um ecossistema nativo.

O primeiro, chamado de modelo de convivência, consiste em fazer um uso misto do solo, combinando pequenos campos agrícolas dispersos entre a vegetação nativa parcialmente preservada, o que permitiria a manutenção da biodiversidade original.

O segundo, que podemos chamar de modelo de segregação, advoga a separação radical entre as duas atividades: áreas destinadas a agricultura são cultivadas de maneira intensiva, enquanto áreas dedicadas a preservação são mantidas intactas. A pergunta que os cientistas tentaram responder é a seguinte: qual desses modelos (convivência ou segregação) permite uma melhor preservação da biodiversidade para um mesmo nível de produção de alimentos? Para responder a essa pergunta, cientistas determinaram a densidade (número de animais ou plantas por metro quadrado) de cada uma de 167 espécies de pássaros e 220 espécies de árvores em 20 áreas de 1 quilômetro quadrado em Gana. A produção anual de alimentos nessas áreas também foi medida. Enquanto algumas áreas eram totalmente preservadas e não produziam alimentos, outras haviam sido ocupadas parcial ou totalmente por atividades agrícolas.

O estudo também analisou outras 25 áreas na Índia. Para cada uma das 387 espécie analisadas, foi possível construir um gráfico relacionando a densidade da espécie em cada área analisada versus a produtividade agrícola da área. Esses gráficos retratam o comportamento de cada espécie frente ao convívio com a atividade agrícola. Para algumas espécies, bastava introduzir uma quantidade mínima de atividade agrícola para a densidade da espécie cair rapidamente (espécies perdedoras, que dependem totalmente da manutenção do ambiente original). Para outras, a densidade permanecia constante até um nível alto de atividade agrícola – somente então sua densidade diminuía (espécies resistentes).

Um terceiro grupo aumentava lentamente sua densidade, à medida que a atividade agrícola aumentava (espécies vencedoras, que se espalham pela diminuição de predadores).

Um quarto grupo tem sua densidade aumentada rapidamente quando se introduz qualquer atividade agrícola (espécies vencedoras). Com base nos gráficos construídos para cada uma das quase 400 espécies foi possível para os pesquisadores simular que tipo de ocupação agrícola é capaz de manter a densidade de um maior número de espécies maximizando a produção de alimentos.

Estas simulações mostram que, independentemente da quantidade de alimento produzido, o modelo que permite uma maior preservação da biodiversidade é o modelo da segregação. Isso se deve ao fato de existirem muitas espécies que dependem totalmente da manutenção total de áreas intactas para sobreviver.

Este estudo demonstra que é possível ocupar ecossistemas nativos de maneira relativamente inteligente e planejada, minimizando o impacto sobre a biodiversidade e permitindo a produção de alimentos de maneira intensiva. A surpresa é que o modelo de segregação total das atividades parece ser o ideal. É claro que a análise de somente 400 espécies não é suficiente para termos certeza do impacto sobre a biodiversidade, mas estudos como esses poderiam ser realizados no Cerrado e na Amazônia brasileira e deveriam ser usados como base para a elaboração das leis que regulam a ocupação das terras.

A boa notícia é que o Código Florestal brasileiro exige que de 20% a 80% de uma propriedade rural seja mantida com vegetação nativa (as reservas legais), o que permite a implementação de modelos segregacionistas. A má notícia é que poucas pessoas respeitam a exigência de preservar e isolar as reservas legais.

Fernando Reinach