Noções básicas na criação do canário-da-terra

Paulo Rui de Camargo agosto de 1993

 

DESCRIÇÃO: O canário-da-terra está classificado cientificamente como Sicalis flaveola. A subspécie brasiliensis é popularmente conhecida como canário-da-terra verdadeiro, chapinha, canário-da-telha, canário-de-briga, cabecinha-de-fogo, canário-de-bulha e outras denominações vulgares regionais.

 

DISTRIBUIÇÃO GEOGRÁFICA: Esta subespécie tem dilargada área de distribuição e habitat no território brasileiro. Abrange os estados do Norte-Nordeste, iniciando no Maranhão até a região sudeste, atingindo Minas Gerais até o sul do Estado de São Paulo e algumas localidades do norte do Estado do Paraná. Daí para baixo, até o Rio Grande do Sul, incluindo o Estado do Mato Grosso do sul, existe a subespécie pelzelni, conhecida pelos nomes populares de canário-da-terra do Sul, canário-do-Oeste, canário-do-Mato Grosso, canário-da-horta, canário-da-terra cinzento, canário do campo, e outros nomes regionais. Ele tem coloração cinza-amarelada, não tão intensa como a primeira subespécie aqui citada.

 

GENERALIDADES: As duas subspécies, segundo consta de dados oficiais (extraídos de relações de aves registradas em associações e clubes ornitológicos, bem como no IBAMA), o de canário-da-terra é a ave canora que possui, em nosso País, o maior número de exemplares cadastrados e mantidos em cativeiro. O canário-da-terra (CT) é muito conhecido e estimado pela maioria dos passarinheiros de quase todo o Brasil. A sua popularidade advém não só pelo seu canto, sua agilidade, elegância, fogosidade, índole belicosa, vivacidade, boa saúde, mas também por outros predicados, como, por exemplo, a facilidade de criação em gaiolas-criadeiras.

 

CRIAR PARA NÃO EXTINGUIR: Nestes últimos dez anos, houve enorme incremento de sua criação em domesticidade, com muito sucesso, já que ornitófilos conscientes verificaram que, este pássaro tão espetacular, já estava extinto em várias localidades, onde, outrora, era abundante e encontradiço em bandos numerosos. Assim, o lema que adotei há vários anos atrás é criar para não extinguir. Devemos, pois, criá-lo em nossas casas para que as gerações futuras tenham ainda o privilégio de tê-lo como animal de estimação, usufruindo suas cantorias, tão apreciadas.

 

AQUISIÇÃO DOS REPRODUTORES: A compra das matrizes para iniciar uma criação doméstica deve ser vetoriada na qualidade do plantel e não na quantidade dos exemplares, visando sempre a estirpe dos reprodutores. Não há necessidade de um número elevado de casais. Se o objetivo for criação voltada para uma futura comercialização e pássaros para participação em torneios e exposições, o ornitófilo deve dar preferência a aves cuja origem genética seja de boa procedência, adquiridas de criadores credenciados e de prestígio, com aves registradas no IBAMA. A compra há que ser feita mediante Certificado de Transação de Passerifiormes CTP, ou nota fiscal, se o pássaro vier de um aviário/criadouro comercial. De outro lado, o futuro criador deve se filiar a um Clube ou Associação Ornitológica e cadastrar seus pássaros no IBAMA.

 

CRIAÇÃO DOMÉSTICA: O canário-da-terra. pode ser criado facilmente em pequenos viveiros gaiolões ou gaiolas-criadeiras. Mas para facilidade de manejo, a melhor maneira é a criação em gaiolas, que podem ser totalmente aramadas (arame galvanizado), como de armação de madeira e fios de arame. Eu comecei criando em gaiolas de armação de madeira e fios de arames liso, com 1,00 m.(comprimento) X 0,50 cm.(altura) e 0,50 cm.(largura). Depois, passei para outras com 0,80X0.45X0,30 cm e, mais recentemente, as totalmente construídas de arame, com 0,60X0,40X0,30, que me parecem ser as mais higiênicas e ergonômicas, inclusive aquelas providas de grades no piso, separando o assoalho, para que as aves não tenham contato com as fezes e grade central removível. O tamanho ideal de uma gaiola, para acomodar individualmente um canário-da-terra adulto, pode ter: 0,50 cm. (comprimento), 0,20 de largura e 0,50 de altura. Poleiros lisos e roliços, todos do mesmo diâmetro, que vêm juntos com as gaiolas, devem ser trocados por outros, de galhos ou ramos de árvores, de diferentes diâmetros, por exemplo, um fino, um médio e outro grosso. Eles são mais naturais, como acontece na vida silvestre. Poleiros lisos, industrializados, iguais em espessura, acabam acarretando crescimento exagerado das unhas, deformações nos nervos, músculos e articulações dos dedos e pés dos pássaros. Além disso, o CT gosta de dormir em mini-poleiros, denominados maritacas ou dorminhocos, por isso é interessante instala-los na parte superior das gaiolas.

 

CAIXAS-NINHOS: Como o canário-da-terra utiliza, na natureza, como local de nidificação, buracos, ocos ou cavidades, é importante colocar, nas gaiola-de-criação, caixas-ninho de madeira, com tamanho variando entre 0,25/0,20 cm. (comprimento), 0,12/0,10 (altura) e 0,14/0,12 cm. (largura), medidas interiores. A caixa-ninho deve ter um buraco de entrada, uma tampa móvel para observação na parte superior, uma grade protetora (para evitar fugas) e duas dependências internas, tipo sala/quarto, isto é, dois compartimentos interligados e separados por um pequeno tabique de madeira, colado no piso da caixa. Na parte reservada ao quarto (parte do fundo) é o local onde a tijela do ninho será construída.

 

MATERIAL PARA NINHO: o ninho poderá ser composto dos seguintes materiais: fios de saco de aniagem (juta ou estopa) com 8/10 cm. de comprimento, fios de crina e/ou rabo de cavalo, raízes de capim amargoso, erva cidreira, etc, radículas, talos e folhas secas de gramíneas ou capim, fibras de sisal, fiapos e tiras finas e macias que revestem troncos de coqueiro, palha de milho, gavinhas e gravetinhos bem finos e flexíveis, lascas de folhas secas de bananeira, lã desfiada entre outros materiais. Estes materiais devem ser fornecidos em quantidade suficiente para que a tijela do ninho possa ser construído dentro das caixas-ninho.

As gaiolas não devem ser posicionadas uma em frente das outras, mas uma ao lado da outra, com vedação entre elas, para que os reprodutores de uma gaiola não possam ver os seus vizinhos. Se os casais tiverem acesso visual ocorrem brigas e a criação se inviabiliza.

 

CRIAÇÃO DOMÉSTICA: Para a criação em nossas casas, precisamos escolher um local adequado. A dependência onde as gaiolas criadeiras irão ficar deve, preferencialmente, ser um local que tenha claridade, onde alguns raios de sol possam entrar na parte da manhã. Todavia, isto não é fundamental. O local, porém, deve ser arejado, com boa ventilação, mas livre de correntes de ar e vento encanado. Não pode ser abafado, muito quente, úmido ou frio em demasia. Em geral, o período criatório, no Estado de São Paulo, inicia-se nos meses de setembro/outubro, terminando em março/abril, podendo prolongar-se até maio, dependendo das condições climáticas, da muda de penas e do comportamento dos reprodutores.

 

Um canário-da-terra (CT), desde que bem tratado, pode viver em cativeiro por cerca de 12 anos ou um pouco mais. Na natureza eles têm vida mais curta, talvez em torno de 5/6 anos, em função de maior desgaste de energia na procura, obtenção e disputa por alimento, ataque de predadores, competição para acasalamento, brigas entre indivíduos da mesma espécie e/ou com aves de outros gêneros, doenças sem tratamento, inclemência das condições atmosféricas, caça, intoxicações por agrotóxicos, alimentação deficiente e outros.

A chave no sucesso da criação doméstica baseia-se na higiene e na profilaxia de enfermidades, parasitas e/ou microrganismos nocivos. Por isso a limpeza deve ser realizada com regularidade, com faxinas rotineiras de todos os componentes do criadouro para eliminação de focos de matéria orgânica, bactérias, germes e insetos. Toda sujeira precisa ser eliminada, combatendo-se, também, piolhos, ratos, formigas, baratas e lagartixas, que podem invadir os ninhos e gaiolas.

 

ALIMENTAÇÃO: Sementes: Como alimento básico pode-se ministrar uma mistura de sementes alpiste (60%) e o restante da mistura composta por grãos de painços, também conhecido por milho-alvo (amarelo, verde, preto e vermelho, branco), milheto, niger, aveia, senha e painço português. O CT não aprecia muito as sementes de linhaça, nabão e colza. Nesta mistura de sementes acrescentamos uma emulsão de óleo de fígado de bacalhau, na proporção de uma colher de sopa para cada quilo de grãos. A emulsão é derramada por cima das sementes. Após isso, revolve-se, com as mãos, as sementes para que este suplemento vitamínico se incorpore aos grãos. Pode-se, ainda, fornecer, supletivamente: fubá-grosso, quirerinha bem fina de milho (milharina ou sêmola de milho), grãos quebrados de arroz integral descascado e de trigo. Farinhada: Deve-se entender como farinhada a mistura de vários tipos de farinhas (aveia, soja. milho, trigo, arroz, rosca, etc), acrescidas de suplementos de proteínas, aminoácidos, ovo em pó liofilizado, vitaminas, sais minerais e outros componentes. As farinhadas são fundamentais para a criação. Muitos criadores preferem, eles próprios, fabricar seus concentrados, com fórmulas caseiras. Mas, o mais prático, é adquirir estas farinhadas já prontas para uso, com fórmulas balanceadas e padrão internacional de qualidade. Existem diversas marcas, tanto importadas, como nacionais. A farinhada deve ser fornecida em pequena quantidade (para evitar fermentação), em potinhos de louça, cerâmica esmaltada, vidro ou plástico. Legumes: pepino, jiló, maxixe, berinjela, e polpa cozida de batata doce. As verduras mais apreciadas são: almeirão, escarola (chicória), catalonia, couve, rúcula, espinafre, agrião, mostarda, acelga, folhas de beterraba, cenoura, caruru (bredo). Frutas: banana, maçã, laranja, goiaba, amora, araçá, pera, melão (parte branca perto da casca), figo e mamão (não muito maduro).

Para finalizar é mencionado, abaixo, os vários prazos na criação do canário-da-terra em cativeiro: construção do ninho de 5/6 dias, dependendo do fornecimento de material. Quando existe fartura de materiais, os ninhos podem ser construídos pelas aves em 2/3 dias; Ovipostura 1/6 ovos, média 4 ovos; Lapso de tempo entre uma postura e outra (quando ocorre choco e nascimento dos filhotes: 35/40 dias; Choco-incubação: 12/13 dias; Anilhamento: 8/10 dias; Empenação dos filhotes: 12/15 dias; Saída do ninho: 13/16 dias (máximo 18 dias); Filhote comendo sozinho: 27/30 dias (mínimo 22 dias máximo 38 dias) ; Separação dos filhotes : média 30/35 dias até 40 dias; Penas completamente crescidas: 50/70 dias (primeira muda) ; Muda de adulto: 12 a 15 meses; Muda de ninho: 4 a 6 meses; Canto: currucheio ou início do chulrriar: 75 dias em diante após o nascimento.

AGOSTO DE 1993

Atualmente o autor é o 1º Diretor de Criação de Canário-da-Terra da COBRAP

Escrito por Paulo Rui de Camargo, em 14/1/2004

Época de Reprodução e Atividades Reprodutivas

Canário da terra – Reprodução

PAULO RUI DE CAMARGO

 Como, agora, aqui na região sudeste de nosso vasto País, estamos em pleno perí­odo reprodutivo do canário-da-terra (Sicalis flaveola), tenho recebido muitas solicitações para tecer algumas considerações sobre o tema deste artigo.

No Brasil, a época de reprodução e acasalamento tem variações de datas e perí­odos, de conformidade com a região.

No Estado de São Paulo, o canário-da-terra, dependendo do ano e das condições climáticas, o ciclo reprodutivo pode iniciar-se a partir da segunda quinzena do mês de agosto (se o tempo estiver quente). Mas, a época tradicional principia em outubro, prolongando-se até os meses de março/abril, eventualmente até maio. O auge da reprodução, no entanto, ocorre nos meses de dezembro até março.

Em cada período de criação, os bons reprodutores chegam a criar, em domesticidade, cerca de 8 filhotes, em média. Alguns casais criam até 10 filhotes, levando-se em consideração o prazo de mais ou menos 45 dias, que representa a somatória do tempo de confecção do ninho (cerca de 5/6 dias), mais o tempo de postura (aproximadamente 5 dias), acrescido do prazo de incubação (12/13 dias) e saí­da dos filhotes do ninho (18/20 dias), além dos dias subsequentes para nova postura.

Um casal jovem e saudável pode criar duas a três, até quatro ninhadas, em cada período anual de reprodução. Depois disso, o correto é colocá-lo em repouso. Nesta ocasião, deve-se retirar as caixas-ninho, para que os passarinhos não continuem a criar e possam recompor-se fisicamente.

Sobre a quantidade de filhotes, machos e fêmeas, que nascem em várias ninhadas, de casais diversos, em diferentes temporadas de criação, acho oportuno mencionar o que pude aferir em meu aviário doméstico :

 a) em ninhadas de 5 filhotes, o número de nascimentos de machos e fêmeas, por casal, é aleatório. Pode nascer, numa mesma ninhada, 3 filhotes fêmea e 2 machos; em outra, 1 filhote fêmea e 4 machos ; ou 2 filhotes machos e 3 fêmeas; e, em outra ocasião, 5 filhotes todos machos.

b) Em ninhada de 4 filhotes, também é aleatório o número de nascimentos de filhotes machos e fêmeas. Já observei ninhada onde nasceram 3 machos e 1 fêmea; em outra, 2 machos e 2 fêmeas; em outro caso todos os 4 filhotes machos. Possuo um casal cuja postura consta sempre de 4 ovos. Todos os filhos são do sexo masculino. Isto já se repetiu em 8 ninhadas diferentes, em temporadas distintas de criação.

c) em ninhadas de 3 filhotes, já constatei o nascimento de todos os 3 filhotes do sexo feminino, ou 3 machos; ou 2 fêmeas e 1 macho; ou 2 machos e 1 fêmea.

d) Porém, em ninhadas de 2 filhotes, o normal é nascer 1 filhote macho e outro filhote fêmea. Parece constituir exceção quando nascem 2 pássaros do mesmo sexo.

e) quando se trata de ninhada de apenas 1 filhote, este pode tanto ser macho, quanto fêmea.

Como geralmente (pensam muitos criadores) os machos são mais valiosos, o criador, se quiser, poderá dar preferência a reprodutores (ou casais) cuja porcentagem de filhos do sexo masculino seja mais elevada.

Durante a estação de repouso, os casais podem ser desfeitos, ficando cada exemplar em gaiolas separadas ou, se o criador preferir, reunidos, junto com outros, em bandos e alojados em amplas gaiolas-voadeiras, ou melhor, em viveiros de maior área.

Na natureza, o ciclo reprodutivo tem relação e está adaptado às estações do ano. As aves dependem, para enfrentarem este ciclo, de um fator primordial : o alimento, que será fornecido aos ninhegos. E, na maioria das vezes, o alimento está na dependência do regime pluvial. Destarte, na primavera e no verão, com o aumento das chuvas e do calor, aumenta também o número e quantidade de insetos, de sementes, de vegetais e de frutas. Por isso, neste período, ocorre a reprodução destes pássaros.

Se o ornitófilo iniciar sua criação utilizando o método tradicional (como ocorre na natureza) denominado monogâmico – com macho junto com a fêmea – isto é, um casal por gaiola-de-criação, deve, de preferência, soltar ambos os reprodutores ao mesmo tempo. Ou, então, soltar primeiro o macho e depois a fêmea porque, tal circunstância é, com quase certeza, o que sucede em ambientes naturais, com pássaros nativos. Se acontecer o inverso, a fêmea pode tornar-se agressiva e brigar com o macho. Nestes casos, podem ocorrer lesões ou até a morte de um dos reprodutores.

.Em meu aviário – e quando utilizo o método monogâmico, procedo da seguinte maneira: Os reprodutores de canário-da-terra ficam em gaiolas individuais, separados. Escolhidos os espécimes que irão formar a parelha, penduro a gaiola da fêmea num prego. Depois, levo a gaiola do macho e a posiciono em frente da gaiola da futura consorte. De conformidade com as reações e dos comportamentos dos reprodutores (exibições de galanteio dos machos e solicitação de gala das fêmeas), coloco as duas gaiolas juntas, uma ao lado da outra. Elas ficam juntas durante um dia inteiro, sem nenhum anteparo ou vedação. Os dois reprodutores podem observar-se mutuamente.

Se houve reciprocidade dos exemplares, no outro dia, de manhã, introduzo o macho na gaiola-criadeira e em seguida a fêmea. Porém, geralmente, coloco a fêmea no dia seguinte, também na parte da manhã. Eu a levo dentro de sua gaiola e a passo algumas vezes em frente da gaiola do macho, para observar o seu comportamento e se, inclusive, a fêmea “pede gala”. Sempre observo o comportamento de ambos os reprodutores. Se o macho fizer exibições de corte ou galanteio, faço a fêmea passar para a gaiola do macho. A partir daí, fico observando se não ocorrem atos de hostilidade ou beligerâcia entre os parceiros. Se tudo correr a contento, deixo os dois parceiros conviverem juntos.

Dessa maneira, formado o casal e se houver compatibilidade e não acontecerem escaramuças de maior gravidade, e se, outrossim, os reprodutores se adaptaram a nova moradia, sentindo segurança e estando preparados para a reprodução, o ato procriatório surgirá, sem maiores problemas. O macho e a fêmea exploram o lugar onde o ninho foi posicionado, procurando entrar na caixa-ninho, o que fazem várias vezes. O macho geralmente é o primeiro que se introduz no interior da caixa, depois a fêmea. No começo, permanecem no seu interior durante pouco tempo. É interessante observar que o macho começa a cantar forte, vibrante, durante a maior parte do dia. A fêmea torna-se mais ágil, inquieta, procurando material para a cama do ninho, palha, raízes, fiapos de estopa (juta), fios de rabo ou crina de cavalo, rasgando jornal (quando existe) para a confecção do ninho. A partir daí­, é necessário fornecer farto material para o ninho ser construí­do. Primeiro se coloca os mais grosseiros (como raí­zes e gavinhas), para ser construí­da a estrutura externa; depois os mais flexí­veis e macios, os quais devem ser enfiados e entrelaçados, em feixe, por entre os espaçamentos dos fios de arame das gaiolas-criadeiras, perto dos poleiros ou próximo ao piso.

Quando o macho está muito fogoso e a fêmea ainda não estiver pronta para o ato reprodutivo – e não pedir gala, pode acontecer do macho, mesmo assim, voejar por cima de seu dorso, chegando algumas vezes a pousar, por alguns segundos, nas suas costas. Todavia, logo a seguir, ela demonstra rejeição passiva, voando para outro lugar, procurando fugir. Este é um comportamento sexual que presumivelmente parece ser de baixa intensidade, porque a fêmea não chega a agredir o companheiro e, também, não adota postura agressiva de espécie alguma. Este comportamento do macho pode ser realizado diversas vezes durante o dia.

Existe outro método, mais moderno e mais racional, utilizado por muitos criadores experientes, denominado de criação poligâmica. Nesse método são utilizadas várias fêmeas para um único macho. Quando a fêmea pede gala, o macho padreador é introduzido na gaiola-criadeira (onde está a fêmea). Se o macho estiver fogoso, com bom nível hormonal, realiza a cópula em seguida à solicitação da gala. Alguns criadores retiram o exemplar macho em seguida, transferindo-o para sua gaiola individual, pois uma única cópula bem realizada poderá fertilizar todos os ovos a serem botados (4, 5 e até 6 ovos). Outros esperam até o dia seguinte, para que o macho possa galar mais vezes a fêmea. Esta é uma espécie de confirmação de fertilidade. Depois desta confirmação retiram o macho e a fêmea bota, incuba e trata sozinha dos filhotes.

Nesse caso, não há o risco do macho desfazer o ninho, jogar os ovos fora, bicar os ovos, ou mesmo agredir a fêmea e/ou filhotes.

No reino animal, quando um macho de canário-da-terra possui mais de uma fêmea, ele pode ser considerado polí­gamo.

Já foi constatado, em liberdade, que canários-da-terra machos podem, eventualmente, tornar-se bígamos (isto quando existem poucos machos e muitas fêmeas disponíveis). Em regime de criação doméstica, dependendo do tipo de criação, há possibilidade, como acima exposto, de se induzir uma pseudo “poliginia”, com a utilização de um macho para várias fêmeas, como, aliás, acontece com frequência na criação de bicudos, curiás, azulões, pintassilgos, patativas, coleiros e outras espécies de pássaros. Este método é também usado quando se tem um macho de estirpe, de qualidades excepcionais, pretendendo o criador tirar vários filhos deste exemplar, com diferentes fêmeas, num mesmo período de criação.

O autor é 1º Diretor Técnico de Criação de Canário-da-Terra da COBRAP

(este artigo foi publicado na Revista Passarinheiros & Cia. nº 19, pág. 10 – 2003)

Escrito por Paulo Rui de Camargo, em 14/1/2004