Produzir ou Não
Precisamos de bom senso
A economia, de forma simplificada, pode se resumir como produção e comércio.
O Brasil, reconhecidamente abençoado por suas riquezas naturais, extensão e localização territorial e clima favorável, vem alcançando seus objetivos , principalmente nos setores agrícolas – plantio de cana de açúcar, soja; Pecuários – gado de corte, leiteiro. Pesca. Extrativistas -seringais, madeireiras, alem de jazidas de minérios e outros mais.
Tem feito uso sustentável de seus recursos naturais com uma crescente preocupação com a manutenção do meio ambiente, procurando o manejo adequado de forma a respeitar e preservar a bio diversidade.
Todos os setores têm ajustes reguladores a serem feitos, de forma a coibir os abusos e de forma que a exploração seja feito de forma racional e preocupado com o futuro.
Assim os investimentos diretos são cada vez maiores, em questões de infra-estrutura, tecnologias de ponta, recursos humanos, e de produtividades próximas à excelência.
Mesmo com todos os cuidados e preocupações, o impacto sobre o meio ambiente é inevitável, com um custo cada vez maior.
Áreas de plantio, de pasto, ocupam áreas cada vez maiores, sacrificando a mata e/ou vegetação nativa e todo o bioma nela existentes, dizimando inúmeras espécies de animais silvestres e impedindo a perpetuação das mesmas.
As indústrias e os centros urbanos seguem o mesmo caminho, a sociedade moderna considera normais os “custos ambientais” que tem de absorver.
O verde passou a ser produto de marketing para vendas de áreas residências em forma de condomínios, edifícios com áreas arborizadas. Combustíveis alternativos, e de fontes renováveis, com emissão de resíduos menos poluentes são enaltecidos e consagrados até no exterior, mesmo porque não é por lá que tais combustíveis são produzidos, não tendo eles que arcar com o prejuízo da fertilidade das terras e a forma extremamente nociva ao meio ambiente até chegarmos ao combustível “limpo”
Todos os contra pontos são exaustivamente negociados, de forma que novos projetos possam ser aprovados procurando minimizar o impacto ambiental, mas em vias de regras, atendendo a interesses econômicos. É preciso gerar renda.
Nosso país é ainda abençoado pela sua rica fauna silvestre. Nossos pássaros são cantados em verso e proza pelos poetas e escritores de todas as vertentes , uns dos mais emblemáticos versos são os da Canção do exílio:”Minha terra tem Palmeiras, onde canta o Sabiá, as aves que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá. (Gonçalves Dias). O nosso cancioneiro popular é repleto de menções às nossas aves, não raro sendo a principal fonte de inspiração.
Nossos escritores fazem os pássaros presentes em suas estórias e histórias. Alçapões e gaiolas, ilustram a cultura popular por estes animais. Herança cultural de nossos ancestrais, que em suas terras de origem já cultivavam esse gosto.
Assim como em todas as atividades, a caça em tempos outros eram considerados normais, e a adaptabilidade desses animais foi formando a seleção dos pássaros mais mantidos em lares. O brasileiro passou a ter nos pássaros canoros sua maior concentração: coleirinhas, canários da terra, bicudos, curiós, trinca ferros, dentre outros.
Os europeus vem se dedicando à reprodução de pássaros a mais de 500 anos, sendo uma das primeiras atividades preservacionistas que temos conhecimento, em tempos que a preocupação com a ecologia e o meio ambiente eram suplantados por imaginários como Julio Verne (1828 – 1905), mais preocupados com as inovações tecnológicas. Percebemos esta realidade e sua conseqüência vendo a atual fauna e a flora do continente europeu .
No Brasil, essa atividade – criação/reprodução de pássaros- tomou gosto há cerca de cinco décadas, inicialmente com os exóticos – pássaros de origem externa- e, até pouco tempo, a caça predatória era de nossos silvestres era considerado “normal” e até mesmo admitido pela legislação.
Rapidamente, principalmente pelas intervenções humanas em seus habitats naturais, os admiradores destes pássaros foram se apercebendo que eles em estado selvagem eram cada vez mais raros. A consciência e a percepção fizeram ver de forma ágil e dinâmica que as atitudes deviam ser revistas. Aliados a isto, perceberam que para se conseguir um pássaro de qualidade era necessário a seleção entre centenas de silvestres. Ora, o aculturamento tomando como com base a criação dos exóticos e mesmo de outros animais, já que seleção genética é universal e aplicado a todos os seres vivos, foi um ponto fundamental de incentivo ã reprodução destes pássaros em domesticidade. Assim, aqueles exemplares que mais se destacavam passaram a ser usados como reprodutores e matrizes e tal atividade logrou tamanho êxito, que hoje, animais praticamente extintos em determinadas regiões, são hoje salvos desta má sorte – o da extinção- pela crença e investimento realizados por pioneiros abnegados, que se dedicaram à tal empreita de forma auto didata e na base das tentativas, erros e acertos. Tinham ainda que combater a crença de que os silvestres não iriam se reproduzir em domesticidade. Assim, o cenário da ornitofilia nacional foi sofrendo mudanças e progressos a olhos vistos. A legislação, até então complacente mas condizente com a realidade da época, foi sofrendo modificações, evoluindo de forma a ir educando os criadores, criando uma consciência da necessidade da preservação. E, de forma intuitiva, os próprios criadores foram formando esta consciência e criando e se adaptando às novas condições.
Hoje, a criação de pássaros é seguramente uma atividade econômica a ser considerada e respeitada. Envolve fabricantes de insumos – gaiolas, comedouros, bebedouros, ninhos e outros acessórios. Fez com que a industria de alimentação animal despertasse interesse nesse segmento, desenvolvendo alimentos específicos e suplementos vitamínicos. As faculdades de Biologia, Veterinária e Zootecnia passaram a formas profissionais com especialidades nesta área. Publicações especializadas surgiram, varias comunidades virtuais foram criadas na Internet, assim como sites específicos sobre assuntos ligados à ornitofilia. Tecnologias de D.N.A. para sexagem de pássaros e comprovação de paternidades. Exames de laboratórios para identificação de doenças. Setores acadêmicos que se dedicam ao estudo do canto de pássaros de forma cientificam e fornecem dados e elementos para que os dialetos originais sejam preservados. Técnicas de ensinamento de canto a filhotes, com seus respectivos aparelhos. Grupos extra curriculares se dedicando a estudos para reintrodução de pássaros na natureza. Lojas especializadas.
Essa atividade, a de criação de passeriformes, sintetizando:
Gera empregos diretos e indiretos;
Não é predatória nem extrativista, mas de reprodução.
É preservacionista.
Inibe o trafico ilegal.
Ocupa pequenas áreas, inclusive em centros urbanos, não havendo necessidade para a construção de criadouros, desmatamentos ou atos afins.
De baixo, ou nenhum impacto ambiental pela pequena quantidade de dejetos que produz.
Temos hoje 180.000 criadores “amadores” inscritos regularmente no IBAMA, com um plantel de 1.885.414 pássaros registrados, afora a categoria dos criadores comerciais.
Esse número hoje só não é maior pelas dificuldades que o IBAMA vem apresentando, com a legislação sendo aplicada através de Instruções Normativas que vão restringindo cada vez mais a atividade, notadamente do ano de 2001 para cá.
Tais Instruções –sem mesmo adentrar no mérito de sua legalidade- vem desestimulando a criação, a reprodução e o desenvolvimento dos criadouros.
Como principal conseqüência deste quadro pode-se citar a falta de reconhecimento da importância econômica, social e ambiental das atividades produtivas e culturais, tão exaltadas pelas autoridades, tão necessárias para o País.
É o desestímulo à produção e geração de riquezas.
Os ornitófilos criadores não querem extrair, subtrair. Pelo contrário, querem produzir, gerando filhotes em consonância ao que apregoa a Ministra Marina e Silva:
“O bom desempenho do CONAMA bem como dos demais conselhos que compartilham a formulação da Política Ambiental Integrada, atende a uma das prioridades do atual Governo que é a participação e o controle social como condição essencial para sustentabilidade sócio-ambiental do desenvolvimento. Desenvolver nosso País de maneira justa, democrática e sustentável é a utopia do nosso tempo.”
Marina Silva
Trecho de discurso à 76a. Reunião Ordinária CONAMA
É o que desejamos.
Rogério Fujiura
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Escrito por Rogério Fujiura, em 8/8/2006