Salve Uberaba – 45 anos ACPU

Aniversário

45 ANOS DA ASSOCIAÇÃO DOS CRIADORES DE PÁSSAROS DE UBERABA

Um breve relato de sua história, em homenagem aos primeiros passarinheiros de Uberaba.

Desde muito tempo, era comum ver na zona rural de Uberaba, numa casinha rústica, uma gaiola de bambu, pendurada na parede, na frente da casa. Geralmente com um canário da terra, muito farto na roça.

Este hábito passou para a cidade. Pessoas que admiravam o cantar dos pássaros, passaram a procurar outras espécies de canto agradável. Foi aí que se descobriu o bicudo e o curió. Eram pássaros de canto mavioso. O do curió assemelha-se a um violino e o do bicudo a uma flauta.

É de se destacar que o canto “Uberaba”, de bicudo, ficou famoso em todo o país. Só em nossa região se via esta espécie. Nos imensos brejos da época, coalhados de capim navalha, os bicudos e curiós eram vistos aos bandos.

Surgiram assim, os passarinheiros em Uberaba. Não se sabe em que data. O certo é que nos anos 50 já havia muitos aficionados. Estes reuniam-se na Rua Artur Machado, prédio do bilhar de Ovídio Miranda, onde hoje é a Drogasil.

Assim, cada um que tinha um belo pássaro de sua casa, saia para mostrar a outro passarinheiro. Vieram as reuniões dominicais nas casas dos passarinheiros. Pelo que se consta, foi pelos idos de 1954 que estas reuniões ficaram concorridas. As gaiolas eram penduradas no muro, distantes uma das outras e a cantoria deliciava os ouvidos sensíveis dos passarinheiros. Cada domingo era uma festa matinal. Enquanto os bicudos e curiós cantarolavam , tomava-se uma cerveja com tira-gosto. Tal prática tornou-se um esporte salutar e uma terapia para os passarinheiros. Enquanto outros preferiam uma boa pescaria, um futebol pela manhã, um carteado, jogo de damas, nadar nos rios ou um churrasco nas belas fazendas da região, os passarinheiros ficavam torcendo para chegar o domingo, a fim de reunirem-se animadamente. Cada um tinha um novo bicudo ou curió para exibir aos companheiros. Os plantéis dos passarinheiros foram aumentando.

Na época, predominava mais os bicudos, pois eram fáceis de trocar e os passarinheiros davam mais valor a esse pássaro. Além do mais eram os mais difíceis de se capturar.

As reuniões nas casas dos passarinheiros eram freqüentadas por pessoas das mais variadas categorias sociais. Era um médico, um advogado, um funcionário público, um bancário, um pedreiro, um carroceiro, etc.

O canto de bicudo “Uberaba” cujas notas predominava o “cócótil” e “sui-suim”, era sem dúvida o melhor canto de bicudo desta região que compreendia também parte de São Paulo, como Ribeirão Preto, Barretos e Franca. Existiam outros cantos famosos como o “Araguari” (canto tipo sabiá), o “Francano” (perim,perim), o “Ribeirão” (Alta Mogiana) e o “Patrocínio” (quase igual ao de Franca).

Os bicudos mais famosos daquela época foram: ‘Tesourinha”,de Geraldo Fidelis, “Fantasma”,de David, Barretos-SP, “Marotinho”, de Franca-SP, “Lamparina”, de Jefinho , “Gerente” e “Sargento” de Messias Ramos,da Farmácia Brasil, “Apoio 11”, de José Maria Reis Campos, “Campo Florido”, de Toninho Santos Anjo, “Juca Pato”, de Geraldo tintureiro, “Rancho” e “Granfino”, de Edefon Prata, “Flautinha” de Araldo Segundo, Franca-SP, “Marechal”, de Waldemar Franquin, Franca-SP, “Francano”, de Tomaz, Franca­SP,um bicudo de Guido Mendes, comerciante de Franca-SP, um bicudo de Carlos Paiva, representante comercial, de Ribeirão Preto-SP, “Risadinha”e “Baianinho, de Geraldo Fidelis, “Martelo” e “Bico Branco”, de João Salles, “Caipira”,de Ernani Rosa,”Pirulito”,de Euclides de Paiva, “Leiteiro”, de Américo Ribeiro (Merquinho), “Azinha”, de Miguel Ferreira, “Flamengo”, de José Tiradentes, “Negrão” e “Tesouro”, do Déco, “Perneta”, do Tino alfaiate. “Frangão”, de Sebastião Silveira. Os bicudos “Risadinha” e “Baianinho”, de Geraldo Fidelis, foram vendidos a peso de ouro, na época, para os banqueiros , Eduardo Borges de Araujo e Oswaldo Araujo, donos do Banco Mercantil de Minas Gerais, em Belo Horizonte.

Os melhores bicudos da época, eram encontrados em Uberaba, Rio do Peixe, Patrocínio e Araguari.

O bicudo “Tesourinha” foi o pássaro mais famoso daquela época. Tomou-se uma lenda, pois alem do inigualável canto “Uberaba”, era de uma fibra invejável. Todo torneio que participava ficava quase sempre com o primeiro lugar. Este pássaro foi capturado na região de Uberaba, pelo passarinheiro “João Botica”, na Fazenda Emendada, de Joel Mendes. Foi cedido para Paulo Borges e finalmente nas mãos de Geraldo Fidelis, onde conquistou os passarinheiros da época. Foi o primeiro bicudo a ter seu canto gravado numa fita e posteriormente regravado em cd pelo zeloso Aloisio Pacini Tostes.

Os primeiros passarinheiros que ficaram conhecidos pelas reuniões em suas casas foram: Dr. Odon Tormim, médico, que foi um dos primeiros a chocar bicudos em sua casa na Rua Capitão Domingos. Seu zelo e cuidado era tanto que tinha o capricho de colocar uma arvorezinha e água corrida dentro dos imensos viveiros; Sr. Edefon Ramos Prata, contador, que realizava concorridas reuniões em sua casa na Rua do Carmo, n° 53, Sr. José Fazolino, o famoso “Déco”, em sua casa na rua Minas Gerais, no bairro Santa Maria. Também eram promovidas reuniões na maquina de arroz do passarinheiro José Cardoso, sogro de Emani Rosa, á Av. Elias Cruvinel,302, onde inclusive ficavam as estacas de torneios e na casa de Dirceu Fernandes, na Rua Professor Chaves. Estes foram, sem dúvida, os primeiros preservadores da espécie e que serviram de exemplo para os demais passarinheiros.

Existiam também curiós famosos por sua fibra, como: “Chavante”, de Hilo Pereira Dias, “Caruso”,de Vicente Paulo Almeida , “Patinho” de Mantovani,Ribeirão Preto-SP, “Zito” de Vitor Mazon,de Araras-SP, primeiro campeão brasileiro, que foi capturado na região do Rio do Peixe, Zeferino, de Garibalde Juliano – “Bá”, “Peitudo”, de José Matias, “Pagé”, de Euclides de Paiva, um curió do Dr. Fuad Bichuete, um curió do Sergio Pereira Dias. Posteriormente, em 1971, surgiu o fenômeno “Morumbi”, de João Wanir Salles, tri-campeão brasileiro, 52 primeiros lugares e 537 troféus.

No dia 14 de março de 1958, os passarinheiros de Uberaba resolveram promover uma reunião, que se deu na Associação Esportiva e Cultural, situada naquela época na Rua Artur Machado, 17. Foi fundada assim, a CLUBE DOS CRIADORES DE PASSAROS DE UBERABA. São portanto, considerados fundadores da associação todos os passarinheiros daquela época, onde se destacam: Dr. Pelegrini Asselim ( dentista) , Sérgio Pereira Dias (funcionário do aeroporto), Hilo Pereira Dias ( da ótica Triângulo), José Fazolino ( eletricitário), Tino alfaiate, José Costa (comerciante), José Tiradentes de Lima (Correio), Osório (do Correio, um dos primeiros fabricantes de gaiolas), Sinésio Santino ( ourives ), Dr. Ribas ( dentista ), Dr. Pedro Conti ( advogado ), Dr. Anésio Santos ( advogado e funcionário do Correio ), Raimundo Magela ( ourives ), Euclides de Paiva, (bancário) , Jeferson Felicíssimo ( Jefinho, agricultor ), Dr. Paulo Borges Rodrigues da Cunha ( engenheiro) , Dr. Fuad Bichuete ( médico) , Geraldo Fidelis (comerciante ), Severino Ferreira Gomes, “Cherim” ( marceneiro, que fez as primeiras estacas para torneios) Onofre (funcionário da Fazendo Modelo ), Reinaldo Boareto( bancário ), Nostradamos Amaral ( Correio) , Domingos Copola ( representante comercial) , Messias Ramos ( da Farmácia Brasil ),José Maria Reis Campos ( dentista ),Geraldo tintureiro, José Cardoso ( agricultor ), João Gomide (bancário ),Aristides ( da Casa Pernambucana ), João Butica ( carroceiro ) Dirceu Fernandes ( eletricista ), Emani Rosa (pedreiro), Toninho Mizíara , (fazendeiro) , Sebastião Mendes (pedreiro ), Garilbade Juliano ( relojoeiro ),José Matias (marceneiro), Sebastião Silveira (farmácia), Odair Gomes (construtor), Américo Ribeiro ( comerciante). Miguel Ferreira ( Correio ) e muitos outros agora não lembrados.

Era comum os passarinheiros, já enturmados, treinar seus pássaros, não mais nas casas, mas nos brejos, reuniões estas que eram denominadas “concentrações”.

O primeiro torneio oficial que se tem notícia, foi realizado em Ribeirão Preto, na Casa do Bosque, isto por volta de 1956. Os passarinheiros sairam de Uberaba numa “jardineira” e levaram um dia inteiro para chegar ao destino. Fizeram parte desta primeira caravana: Edefon Ramos Prata, José Matias, José Fazolino, Geraldo Fidelis e outros aficionados. O segundo torneio oficial foi realizado em Uberaba, no Parque Fernando Costa. O terceiro foi realizado em Franca, no Colégio Champagnat, e o quarto em Barretos, na Exposição Agropecuária. São estas portanto as cidades pioneiras em torneios em todo o Brasil.

Com o correr dos tempos, os passarinheiros de Uberaba se viram na contingência de ter uma sede própria, para as reuniões dominicais. A primeira sede da ACPU foi na Rua Goiás, n° 1016, na Vila Santa Maria, isto, por volta de 1968, num imóvel adaptado pelo passarinheiro, Sr. João Wanir Salles. A primeira ata lavrada nesta sede, foi em 30 de agosto de 1977. Este local serviu como ponto de encontro dos passarinheiros até 21 de abril de 2001, quando foi inaugurado a magnífica sede, na Rua Lambari, 156, Parque Bom Retiro, na gestão do presidente, Sr. Wellington Luiz Fontes, sendo seu tesoureiro o Sr. José Coelho Leal Souza e secretário, Sr. José Mozart Borges. Foi servido um almoço festivo no qual compareceram os associados, o Sr. Prefeito Municipal, Dr. Marcos Montes Cordeiro e secretários, bem como o Sr. Efren Eladiê Duarte Lacerda, presidente da Federação Ornitológica de Minas Gerais.

É justo ressaltar que os primeiros passos para início da construção da nova sede, se deu na gestão do coronel José Maria Gotelip, auxiliado por seu competente tesoureiro, Sr. João Wanir Salles, vice-presidente, Sr. Paulo Silva e secretário, Geraldo de Melo Júnior, isto na gestão 1998/1999.

A sede atual não está totalmente finalizada. Necessita de obras complementares como asfalto na área de estacionamento e levantamento das paredes laterais, com colocação de vitrôs.

O primeiro presidente da associação foi o Sr. Sergio Pereira Dias; o segundo, seu filho, Hilo Pereira Dias; o terceiro, Sr. João Wanir Saltes. Depois vieram: Dr. Israel José da Silva,(1974/1976), João Wanir Sailles (197711986), Agenor Teixeira Vecci / Wilson Vieira de Souza,(1987), Tenente José Ferreira da Silva,(1988/1989),João Wanir Salles,(1990/1993), Luiz Márcio da Silva,(1994), João Fernando da Silva Melo,(1995), Nelson Ferreira Lopes (1996 ), coronel José Maria Gotelip ( 1997/1999 ), Wellington Luiz Fontes ( 2000/2001 ), coronel Maurilio Modesto Cunha/ José Antônio Tomé de Souza ( 2002 ), dr. Oswaldo Teixeira ( 2003/ 2004 ).

O Estatuto da ACPU foi registrado em 16 de julho de 1971, no Cartório de Registro Civil da Pessoas Jurídicas Dr. Jero Oliva, em Belo Horizonte. Está em tramitação no Cartório de Registro de Título e Documentos de Uberaba, o registro do novo Estatuto, já adaptado às novas leis sobre a fauna que surgiram há alguns anos. Com o estatuto, o “Clube” passou a denominar-se “ASSOCIAÇÃO DOS CRIADORES DE PÁSSAROS DE UBERABA”, numa alusão à Associação Brasileira de Criadores de Zebu , por sugestão do Dr. Zito Sabino, que era Secretário de Turismo, do Prefeito Dr. João Guido.

A diretoria da ACPU, quando do registro do estatuto era a seguinte: Presidente: João Wanir Sales, Vice-Presidente: Vicente Paulo de Almeida, 1° Secretário: Reinaldo Boareto, 2° Secretário: Euclides de Paiva, 1° Tesoureiro: Antônio Santos Anjo Filho. Administradores de Torneios: Nostradamus Amaral, Jarbas Ferreira Lopes. Orador: Dr. Munir Miguel Dib, Encarregado de cobrança: Clarindo P. Souza. Comissão de Recepção: Ubiracy Natalino Ferreira, Domingos Côpola, Dr. José Maria Reis Campos, Caricio Otaiano, Wilson Marques Madeira, Geraldo Fidelis, Marcelino Batista Assunção. Conselho Fiscal: Dr. Inimá Barone, Dr. Fuad Bichuete, Sebastião Silveira, Mário

Arruda Mendes, Sinésio Santino, Dr. Paulo Borges Rodrigues da Cunha, Américo Ribeiro, Garibalde de Lima, Guilherme Roberto, Antônio Carlos de Melo, Hylo Pereira Dias, Vital Vicente Ferreira Sobrinho, José Jorge da Silva, José Matias, Willian Fontoura da Cunha, Emane Camanho, Dalton Batista de Paiva,Luiz Augusto de Oliveira Nassif. Encarregados do Patrimônio: Otílio Silva do Carmo, José Fazolino, Minervino Soares de Souza e Severino Ferreira Gomes.

A ACPU foi declarada de utilidade pública pela Lei n° 2.940, de 09 de outubro de 1979, pela Câmara Municipal de Uberaba, na gestão do prefeito, Dr. Silvério Cartafina.

Parabéns, portanto a Associação dos Criadores de Pássaros de Uberaba, pelos seus 45 anos de existência em prol da preservação dos pássaros silvestres canoros.

Uberaba(MG), 14/ 03/ 2003 Oswaldo Teixeira Presidente da ACPU

Escrito por Oswaldo Teixeira, em 2/9/2003