Só Avançaremos com a Comunicação
Informação correta é o caminho
Temos dito muitas vezes que a ornitofilia praticada no Brasil precisa de muita divulgação. Temos melhorado, mas ainda falta muito trabalho. Falta muito interesse de muitos segmentos, há muita acomodação. Alguns passarinheiros não se preocupam com isso. Mas é uma questão de suma importância, uma questão de sobrevivência. Temos que ter uma interface virada para a opinião pública e outra voltada para nossa classe. Nossa imagem, em geral, é distorcida pelos veículos de comunicação, somos confundidos com depredadores contumazes. Como é difícil contatar com os principais órgãos da imprensa, especialmente os televisivos e os grandes jornais. A maioria dos jornalistas não podem efetuar uma reportagem à nível de um criador bem sucedido porque a direção dessas empresas não aceitam nem discutir o assunto. Alegam que para o grande público não há como abordar criação doméstica de pássaros. Para eles, além de ser um assunto que gerará muita polêmica, pegaria mal para a imagem da casa. Só interessa o que está na mídia, a voz corrente, isto é, prender pássaros é coisa do passado, quem ama não prende, é crueldade, é sadismo e tudo o mais. Por isso, não adianta querermos falar com essa gente, agora. Quem se atrever vai levar porrada. Quem não se lembra daquela reportagem de uns dez anos atrás que entrevistou todo o tipo de passarinheiro que participava de torneio. Mostrou os eventos e no final passou a falar com pessoas das radicais e que tem o seu modo de pensar , sobre o assunto, muito diferente do nosso e terminou soltando uma pomba toda despenada e dizendo “quem ama não prende”. Muitos de nós ficamos indignados com aquele desrespeito e com tremenda falta de ética da reportagem. Foi doído. Que desfaçatez. A verdade é uma só, a campanha negativa continua. É só acompanhar os jornais. O que lá se vê? Caçadores, traficantes, pássaros mortos, aves maltratadas, marginais e tudo o mais. Isso nos representa , somos nós? Lógico que não. Mas para muita gente sim. Estamos misturados a essa lama toda. É um horror esse equívoco e como nos prejudica. Como somos desrespeitados, às vezes. É uma imagem dolorosa para todos. Alguns acham que não tem problema, vamos levando. Não tem importância, daremos sempre um jeito para mostrar que somos boas pessoas e que não estamos fazendo nada de mal. Será mesmo que conseguiremos? Será que conseguiremos, no futuro, ter uma vida melhor em todos os sentidos, uma sociedade mais esclarecida, sem disk-900, sem telesorteios e outras arrumações do gênero.
Na verdade, estamos, no momento, é correndo grandes riscos. O que então precisamos fazer. E urgente. Primeiro de tudo, nos organizar, sermos transparentes, darmos as mãos. Parar de praticar o “escondido” o “só para mim” e o “clandestino”. Além de não querermos, é nossa obrigação mostrar à sociedade que evoluímos e que não queremos mesmo, especialmente o desrespeito às leis e portarias.
Precisamos, também, parar de sentir medo. Se estamos respaldados pela legislação e agimos de modo a cumpri-la, por que ter medo? Medo de quê? Devemos é Ter orgulho de nosso trabalho. Vamos é abandonar o amadorismo e passarmos a ser profissionais se quisermos sobreviver. Mostre a sua criação a seus vizinhos, mostre às autoridades de sua cidade. Escreve no jornalzinho de seu bairro e assim por diante. Ensine suas técnicas aos iniciantes. Promova divulgação de seu criatório em revistas e jornais especializados . Se puder, divulgue o seu criatório na Internet, faça um Homepage. Devemos também falar de nossos problemas e de nossas dificuldades. Porque não? O mais importante e sair do ostracismo e mostrar a nossa cara.
Não somos mais caçadores, não somos marginais e não maltratamos os animais; pelo contrário , isso é a verdade. Muitas pessoas admiram pássaros: são 15% da população brasileira e são pessoas comuns. Somos um segmento representativo da sociedade. Daí precisamos exigir , através da transparência e do diálogo, o respeito que merecemos. Todavia, a iniciativa tem que ser nossa, de todos nos ornitofilistas. Não é tarefa de uns: e de todos. Nosso Brasil é muito grande, algumas regiões têm muita dificuldade de obter informações. Por isso, precisamos identificarmos e nos localizar para buscar uma eqüalização de capacitação profissional no mister de criar e manter pássaros canoros. E em seguida desenvolver um trabalho de divulgação em que todos participem, de norte a sul de nosso País.
Há hoje cerca de 500 sociedades/clubes/associações de criadores/mantenedores e amantes de pássaros nativos e só umas poucas possuem um jornalzinho para divulgação de suas atividades e de seus associados. Seria um ótimo começo se grande parte delas passassem a editar algum tipo de informativo onde poderíamos iniciar a necessária prática de divulgação. É esse o melhor caminho. Louvo e parabenizo a diretoria das sociedades que já tiveram e que mantém essa iniciativa. Continuem nessa linha pois isso é que vai nos tornar fortes e respeitados. Queremos mais, mais e mais.
Seria importante, também, uma exposição anual onde os criadores pudessem mostrar produtos de sua criação, a exemplo do que fazem, com muito sucesso, os criadores de exóticos. Não entendemos, ainda, por que até agora nunca fomos chamados ou nunca procuramos participar de qualquer tipo de evento, tipo congressos, simpósios sobre ornitologia nacional. Precisamos aprender mais e descobrir o caminho para repassar nossas experiências, nossas pesquisas e nossa opiniões. Com certeza temos muitas informações importantes e inéditas ainda não conhecidas. Somos uma sociedade. Nela cada segmento realiza a sua tarefa para, no final, todos poderem viver dentro de um clima de respeito e interação. É isso que queremos fazer: continuar realizando nosso trabalho de procriação e de preservação dos pássaros canoros brasileiros e contar com o apoio e admiração de toda a sociedade.
Escrito por Aloísio Pacini Tostes, em 2/9/2003