Temos que chegar lá
Chega de perseguição
Publicado no Atualidades Ornitológicas 125 (papel)
Aloísio Pacini Tostes – Ribeirão Preto SP
Estamos sempre alertando que o segmento de criação de aves nativas tem sofrido muitas perseguições, nós em muitos casos somos acusados de depredadores e que continuamos a capturar bicho “silvestre” na natureza, o que não é verdade. Abominamos, como já dissemos, esse termo “silvestre”, motivo de grande parte da incompreensão dos setores que não sabem direito o que quer dizer, silvestre é sinônimo de selvagem, daí a confusão. Temos nos debatido muito para trazer a informação à sociedade com respeito a realidade e da ação dos criadores que trazem benefícios em termos de preservação e mesmo da necessidade premente do trabalho dos desses abnegados nesse sentido. Infelizmente a nossa mídia quer vender, e falar de tráfico assanha, traz polêmica e para muitas entidades, gera rendas. O problema é que nas reportagens, quase sempre, estão misturados traficantes e criadores. São montagens feitas em intervalos diversos, produzidas por agências e distribuídas às redes de informações como se fossem acontecimentos recentes e reais. Revoltante em todos os sentidos, cenas macabras planejadas e elaboradas com o único objetivo de levar o horror, à opinião pública. É assim que, organismos internacionais arrecadam milhões de dólares espalhando entre os contribuintes a iminência do caos, naquilo que for de boa fé e que for verdade, até apoiaríamos.Todavia, a maioria é fonte pura e simples de mais um meio de vida para alguns, sabemos disso e muito bem. Por incrível que pareça, até entidades coirmãs que lidam com aves exóticas, nos acusam e ajudam a maldizer espalhando suspeitas e dúvidas sobre a realidade de nossas atividades, como se fossem santos e virtuoses. Daí, nós que estamos inseridos no segmento de criadores de aves nativas brasileiras, com obediência às leis e normas, somos atingidos e criticados como se fossemos marginais ou indivíduos perniciosos. A luta é grande, além de trabalharmos como afinco em nossa criação ainda somos obrigados a estar cuidando dessas questões para nos defender das investidas dos aproveitadores. É complicado, mas ainda bem que há pessoas de bom senso e que enxergam os cenários com isenção e com perspicácia e assim, encontramos força para sobreviver enfrentando todos os tipos de percalços. Vejam, como um belo exemplo de sensatez, trecho do discurso proferido recentemente pelo companheiro Valdir Pereira da Silva em Goiânia (GO), por ocasião da Feira SEBRAE sobre criação de animais nativos para companhia e abate, a saber:
“O BRASIL POSSUI ENTRE 15% E 20% DA BIODIVERSIDADE MUNDIAL E O MAIOR NÚMERO DE ESPÉCIES ENDÊMICAS DO GLOBO, SENDO QUE GRANDE PARTE DESSA RIQUEZA BIOLÓGICA É AINDA DESCONHECIDA OU POUCO UTILIZADA.
A CONSERVAÇÃO DESSE PATRIMÔNIO REQUER A ADOÇÃO DE PRÁTICAS DE USO SUSTENTÁVEL DOS RECURSOS NATURAIS. A DIVERSIDADE BIOLÓGICA DESEMPENHA IMPORTANTE PAPEL NA ECONOMIA DO PAÍS. A VALORIZAÇÃO, A PRESERVAÇÃO, A CONSERVAÇÃO, O MANEJO E O USO MÚLTIPLO DA BIODIVERSIDADE SÃO, PORTANTO, DESAFIOS A SEREM ASSUMIDOS, PRINCIPALMENTE PELOS ÓRGÃOS PÚBLICOS COMPETENTES REGULADORES DA POLÍTICA DO USO SUSTENTÁVEL.
COMO DISSE A MINISTRA MARINA SILVA: “NÃO É ORA DE DIZER NÃO, MAS SIM COMO PODE E DEVE SER FEITO”.
ASSIM, ESPERAMOS QUE AS ENTIDADES COMPETENTES COLOQUEM EM PRÁTICA O QUE DETERMINA O ART. 6, LETRA B DA LEI 5.197 DE 1967; QUE O PODER PÚBLICO DEVERÁ ESTIMULAR A CONSTRUÇÃO DE CRIADOUROS COM FINALIDADE ECONÔMICA E INDUSTRIAL. E TAMBÉM O DISPOSTO NO DECRETO FEDERAL 4.339 DE 22 DE AGOSTO DE 2002, QUE DEFINE AS LINHAS MESTRAS DA POLÍTICA NACIONAL DE BIODIVERSIDADE, PRINCIPALMENTE OS COMPONENTES LISTADOS A SEGUIR:
. PROMOVER POLÍTICAS E PROGRAMAS VISANDO À AGREGAÇÃO DE VALOR E . À UTILIZAÇÃO SUSTENTÁVEL DOS RECURSOS BIOLÓGICOS;
. PROMOVER PROGRAMAS DE APOIO A PEQUENAS E MÉDIAS EMPRESAS, QUE UTILIZEM RECURSOS DA BIODIVERSIDADE DE FORMA SUSTENTÁVEL;
· CRIAR E CONSOLIDAR LEGISLAÇÃO ESPECÍFICA, RELATIVA AO USO DE INSTRUMENTOS ECONÔMICOS, QUE VISEM O ESTÍMULO À UTILIZAÇÃO SUSTENTÁVEL DA BIODIVERSIDADE (A LEGISLAÇÃO DE CRIADOUROS É ESPARSA CONFUSA);
· CRIAR E FORTALECER MECANISMOS DE INCENTIVOS FISCAIS E DE CRÉDITO, VISANDO A UTILIZAÇÃO SUSTENTÁVEL DA BIODIVERSIDADE;
· PROMOVER A INSERÇÃO DE ESPÉCIES NATIVAS COM VALOR COMERCIAL NO MERCADO INTERNO E EXTERNO;
· APOIAR, DE FORMA INTEGRADA, A UTILIZAÇÃO SUSTENTÁVEL DE ESPÉCIES NATIVAS COM POTENCIAL ECONÔMICO;
SENHORES ESTA É A REALIDADE”
Dito isto, nossas tarefas agora estão concentradas na obrigação que temos em nos organizar para enfrentar as vicissitudes. Esperamos que os criadores se unam cada vez mais para conquistar o apoio perene das autoridades e sociedade, uma vez que estamos sim, gerando rendas, empregos e vidas, além de manter o banco genético que poderia ser utilizado a qualquer tempo para efetuar-se repovoamentos monitorados em áreas pré-estabelecidas. Com muita transparência e seriedade temos que chegar lá.
lagopas@terra.com.br
Escrito por Aloísio Pacini Tostes, em 7/7/2005