Gênero Carduelis
Gene por gene
Para os estudos mencionados a seguir foram usados registros fósseis da galinha e do faisão para calibrar o “Relógio Molecular”, isto porque, já é conhecido que estas aves se separaram em espécies individuais há dezenove milhões de anos atrás. Os dados desses fósseis, que foram encontrados em idades geológicas distintas, foram comparados com os genes atuais da galinha e do faisão, através de comparações matemáticas muito complicadas. Esses dados analisados, determinam o tempo no qual cada espécie ou grupo de espécie apareceu em nosso planeta. Das espécies de Carduélis existentes e reconhecidas por Sibley e Monroe, vinte e cinco foram estudadas. A distribuição mundial dos Carduélis se limita a Europa, Ásia, Zona Africana Mediterrânea, América do Norte e América do Sul. Nos últimos cinco anos foram fotografados e extraídas amostras de sangue de várias espécies de Carduélis para se estudar a seqüência de DNA. Uma vez seqüenciados os genes no laboratório, um super computador calcula qual a probabilidade de proximidade genética entre as espécies analisadas e as agrupa em uma árvore genealógica.
O grupo de Carduélis mais antigo é grupo de pássaros que antes eram pertencidos ao gênero Chloris, os Verdilhões, que existem há dez milhões de anos. Os mais recentes são os pássaros que eram pertencidos ao grupo dos Spinus na América Central e do Sul, com três milhões de anos de existência e que se originaram de uma única espécie: o Carduelis notata – Pintassilgo de Peito Negro – ou o seu ancestral, um parente muito próximo que não existe mais. Quando o Istmo do Panamá foi estabelecido, há três ou cinco milhões de anos atrás, unindo a América do Norte com a América do Sul, uma enorme variedade de plantas com sementes das montanhas do México passaram a se disseminar pela América do Sul, nos Andes. Estes Carduélis pré-históricos por possuírem o alimento adequado passaram a colonizar a América do Sul dando origem as espécies que conhecemos hoje. Gráficos gerados por computador indicam que a disseminação dos Pintassilgos na América do Sul começou do norte para o sul, ou seja, do Carduelis notata para o Carduelis barbata – Black-Chinned Siskin – através da espinha Andina. Uma segunda divisão pode ter acontecido nas montanhas Andinas Peruanas, correspondendo a distribuição de Carduelis olivacea – Olivaceous Siskin. Os mais recentes eventos de divisão parecem ter ocorrido com três pares de espécies irmãs: Primeiro: Carduelis xanthogastra – Caraquita / Carduelis atrata – Negrito da Bolívia; Segundo: Carduelis magellanica – Pintassilgo Comum / Carduelis yarrellii – Pintassilgo do Nordeste e Terceiro: Carduelis cucullata – Tarin / Carduelis crassirostris – Pintassilgo de Bico Grosso. A acumulação de características consistentes em ambas as bases, morfológica e molecular, nos gráficos gerados por computador indicam que esses eventos de divisão aconteceram dentro de um curto período de tempo. Os dados também sugerem que essa divisão aconteceu através de seleção sexual.
Os parentes mais próximos dos Verdilhões são os pássaros que eram pertencidos ao gênero Acanthis, os Redpolls ou Pintassilgos Roselins, com aproximadamente nove milhões de anos de idade. Ficou provado geneticamente que os Redpolls – Carduelis flammea, Carduelis hornemanni e Carduelis cabaret – não são aparentados em absoluto aos Pintarroxos – Carduelis cannabina. Assim podemos dizer que o gênero Acanthis que agrupava os Pintarroxos e Redpolls nunca existiu.
Os Carduélis Norte Americanos apareceram há sete milhões de anos atrás, possivelmente estes tem como ancestral o Pintarroxo – Carduelis cannabina. O Carduelis pinus – Pine Siskin – é primo irmão do Carduelis spinus – Lúgano – da Eurásia, ambos apareceram há aproximadamente seis milhões de anos atrás. O grupo do Pintassilgo Português, Carduélis Euroasiáticos – Carduelis carduelis – e suas sub-espécies, incluindo o Carduelis carduelis caniceps – Pintassilgo do Himalaia – tem como possível ancestral o Citril Finch – Carduelis citrinella – que apareceu há seis milhões de anos atrás e se exilou nas montanhas da Europa. Os Carduélis Euroasiáticos, morfologicamente, se distanciaram muito do Citril Finch que sem dúvida é o parente mais próximo, o aumento no tamanho dos bicos se deve a adaptação e a sua necessidade de comer sementes de Cardo. Os pássaros do gênero Loxia – Bicos Cruzados – também devem ser integrados ao gênero Carduelis junto ao grupo dos Redpolls. Todas as análises e gráficos gerados por computador, mostram que os Bicos Cruzados são muito próximos aos Redpolls. Os Bicos Cruzados são do hemisfério norte e a característica do gênero é a mandíbula cruzada, pois estes pássaros são especialistas em extrair sementes de coníferas. Estes pássaros provavelmente tiveram o mesmo ancestral que os Carduélis quando as coníferas foram muito comuns na terra, há nove milhões de anos atrás. Houve, claramente um declínio no número de coníferas depois do período de glaciação do pleistoceno, quando os Redpolls apareceram. O Artic Redpoll – Carduelis hornemanni – é muito similar a Loxia curvirostra japonica, uma espécie pequena de Lóxia.
O estudo da biologia molecular evolucionária e da génetica tem evoluído constantemente, esclarecendo e corrigindo informações, que pela tradição morfológica não se poderia chegar a tão detalhadas conclusões.
Agradeço ao amigo, Professor Antonio Arnaiz-Villena, que cedeu artigos para a elaboração deste texto.
Referências Bibliográficas:
• Both morphological and molecular characters support speciation of South American siskins by sexual selection R. van den Elzen, J. Guillén, V. Ruiz-del-Valle, L. M. Allende, E.Lowy, J. Zamora e A. Arnaiz-Villena Cell. Moll. Life Sci. 58 (2001): 2117-2128
• Phylogeny and Rapid Northern and Southern Hemisphere speciation of Goldfinches during the Miocene and Pliocene Epochs Arnaiz-Villena, A. M. Alvarez-Tejado, V. Ruiz-del-Valle, C. García de la Torre, P. Varela, M. J. Recio, S. Ferre e J. Martinez-Laso – Cell. Mol. Life Sci. 54 (1998): 1031-1041
• Rapid Radiation of Canaries (Genus Serinus) Arnaiz-Villena, A. M. Alvarez-Tejado, V. Ruiz-del-Valle, C. García de la Torre, P. Varela, M. J. Recio, S. Ferre e J. Martinez-Laso – Mol. Biol. Evol. 16 (1999): 2-11
• Phylogeography of crossbills, bullfinches, grosbeaks and rosefinches Arnaiz-Villena, J. Guillén, V. Ruiz-del-Valle, E. Lowy, J. Zamora, P. Varela, D. Stefani e L. M. Allende Cell. Moll. Life Sci. 58 (2001): 001-08
• Birds of the World Colin Harrison e Alan Greensmith – Dorling Kindersley – 1993
• The Birds of South America – Volume I, The Oscine Passerines Robert S. Ridigely e Guy Tudor – University of Texas Press – 1989
Carlos Henrique Luz Nunes de Almeida
Consultor da COBRAP – Confederação Brasileira de Criadores de Pássaros
Criador Amador registrado no IBAMA sob Nº 23.604
www.cobrap.org.br
WebMaster do site “Sítio dos Carduelis”
www.carduelis.bio.br
carduelis@carduelis.bio.br
Escrito por Carlos Henrique Luz Nunes de Almeida, em 2/9/2003