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Salvem o do Nordeste

Preservação

Este singelo passarinho é conhecido por vários nomes: Coroinha, Baianinho, Pintassilgo da Bahia, Yarrell’s Siskin, Yellow-Faced Siskin, entre outros. É um pássaro do gênero Carduelis e espécie yarrellii da família Fringillidae e sub-família Carduelinae. É um cantor incansável, seu canto é repleto de variações melódicas, em andamento rápido e pode durar até cinco minutos sem pausas. Mede, dependendo da área de ocorrência, entre 10 e 11 centímetros. Esta espécie de Carduelis ocorre no Nordeste do Brasil, do Rio Grande do Norte ao norte e nordeste da Bahia e também, na Venezuela. Os machos têm o abdômem, o peito, a garganta, os lados da cabeça, a nuca e o baixo dorso de cor amarelo-vivo; o alto dorso é amarelo-esverdeado; o bico é cinzento escuro, assim como as pernas; o alto da cabeça (coroa), as asas e a cauda são negras, estes últimos com marcações amarelas e cinzentas que são características de identificação de espécies americanas do gênero Carduelis. As fêmeas, semelhantes aos machos, não possuem a coroa negra e as cores são esmaecidas. Os filhotes, antes da plumagem adulta, são semelhantes às fêmeas, porém, o bico é negro. Existe ainda, uma variação que ocorre apenas no Brasil que é considerada por alguns como uma raça à parte, são os conhecidos “Zorros”, devido ao negro da cabeça se estender muito abaixo do olhos. Outros estudiosos e interessados sugerem que esta variação seja produto de uma mestiçagem entre Carduelis yarrellii e os Carduelis magellanica que se encontram e cruzam no estado da Bahia. Por enquanto, não há nada comprovado. Habitam geralmente campos e pastagens, no Brasil vivem também na Caatinga.

Este passarinho deveria ser considerado, por nós brasileiros, uma jóia rara. Infelizmente, não é o que vem acontecendo. É comum aqui no sudeste do Brasil assistirmos na TV e internet, fiscais do IBAMA apreendendo carregamentos ilegais de pássaros de origem nordestina, tráfico, no qual se vê gaiolões com centenas de Pintassilgos do Nordeste em situação desesperadora. Mais triste ainda é saber que cerca de 90% destes pássaros apreendidos morrem, pois o Pintassilgo do Nordeste é um pássaro extremamente frágil quando pêgo na natureza e quando sob stress, tende a elevar a taxa de Coccidiose, uma bactéria que vive no organismo do pássaro, levando-o a morte em poucos dias quando não são tratados corretamente e em tempo.

Que a experiência venezuelana venha a abrir nossos olhos, na Venezuela havia duas populações distintas e que viviam separadas por cerca de 400 quilômetros. Segundo o Dr. Carlos Ortega, principal defensor da espécie na Venezuela, a população que vivia nos estados de Carabobo, Cojedes e Portuguesa teve como possível causa de extinção o controle do transmissor do mal de chagas, o Barbeiro, as autoridades venezuelanas usaram pesticidas nos campos. Também as queimadas, o desmatamento e a caça ilegal colaboraram tragicamente para a extinção de, talvez uma raça diferente, pois os Carduelis yarrellii que lá viviam eram os menores representantes da espécie. Hoje, os que vivem nos estados de Anzoátegui e Monáguas são extremamente raros. Como disse nosso amigo venezuelano, em seu artigo “Algo mas sobre el Carduelis yarrellii”, se as autoridades não tomarem controle da situação, o destino destes passarinhos provavelmente é a extinção.

Atualmente o Pintassilgo do Nordeste está na lista do CITES, no apêndice II, esta lista inclui espécies que não se encontram necessariamente em perigo de extinção, mas cujo comércio deve ser controlado a fim de evitar esta possibilidade. O Brasil, com suas leis governamentais, através do IBAMA vem coibindo o tráfico interno multando os infratores, tantos os traficantes como os receptores. A questão, infelizmente, é mais ampla, os caçadores ilegais que vendem os pássaros em feiras ou em beiras de estradas no nordeste do Brasil geralmente são pessoas que não tem outro meio de sobrevivência e são incentivados pelos atravessadores que pagam quantias insignificantes por estes pássaros.

Para adquirir um Pintassilgo do Nordeste, só mesmo se você for registrado no IBAMA ou adquirir os pássaros com nota fiscal de criadouros comerciais legalizados. O pássaro tem de estar anilhado, anilha fechada, diâmetro de 2,4 milímetros e não violada, ou seja, não amassada, não cortada ou alargada.

Espero que em breve tenhamos muitos criadores de Pintassilgo do Nordeste, pois atualmente dá para contar nos dedos os que criam este magnífico passarinho com afinco. Espero também que, nós brasileiros, não venhamos dar a este passarinho o mesmo destino da Ararinha Azul – Cyanopsitta spixii. Mas como diz o ditado: “A esperança é a última que morre”.

Um trabalho muito sério tem sido feito por pessoas extremamente competentes na reprodução em cativeiro do Curió (Oryzoborus angolensis), do Bicudo (O. crassirostris, O. magnirostris e O. gigantirostris) e outros pássaros da família Emberezidae. Devido ao canto e aos campeonatos de canto por todo o Brasil, existe grande procura por estes pássaros nascidos em cativeiro. Baseado nesta observação surgiu-me a idéia de incentivar as Confederações Ornitológicas à abrir espaço para campeonatos de canto de Pintassilgos, assim como a SERCA de São Paulo já tem feito. Quem sabe assim, incentivar ainda mais a reprodução em cativeiro destes Pintassilgos e tirá-los do status a que por enquanto estão submetidos.

Estes passarinhos criam com facilidade em cativeiro, são mansos e longevos. É importante preservar a espécie na forma mais pura possível, para futuramente, se for o caso, serem reintroduzidos em seu habitat natural. A postura é de três a cinco ovos, se for natural de uma a duas posturas por temporada, a incubação é de aproximadamente doze dias e com trinta e cinco dias os filhotes já podem ser separados dos pais. Podem ser criados em gaiolas de criação de Curiós ou de Bicudos. Quanto a alimentação, pense num Canário do Reino do gênero Serinus, estes são os parentes mais próximos dos Pintassilgos. É tão fácil alimentar os Pintassilgos quanto um Canário. A alimentação consiste principalmente de alpiste, folhas verdes, jiló e ovo. É imprescindível a higiêne e a água sempre limpa.

Pelo mundo afora existem muitos admiradores de Pintassilgos do Nordeste, os italianos são os grandes criadores, eu não ficaria admirado se na Europa a demanda de filhotes nascidos em cativeiro superem a nossa em pelo menos dez vezes mais. Dicas de criação é o que não faltam, vide as revistas especializadas, os sites e grupos de discussão nacionais, espanhóis, franceses e até australianos na internet. Tem também o “Atualidades Ornitológicas” que é um jornal informativo que sempre traz alguma matéria do “Papa na criação de Pintassilgos”, o mestre Giorgio de Baseggio.

Portanto, estamos com a faca e o queijo na mão, é colocar os passarinhos para criar e respeitar a natureza.

Carlos Henrique Luz Nunes de Almeida

Consultor da COBRAP – Confederação Brasileira de Criadores de Pássaros

www.cobrap.org.br

Criador Amador registrado no IBAMA sob Nº 23.604

WebMaster do site “Sítio dos Carduelis”

www.carduelis.bio.br

carduelis@carduelis.bio.br

Escrito por Carlos Henrique Luz Nunes de Almeida, em 2/9/2003

Gênero Carduelis

Gene por gene

Para os estudos mencionados a seguir foram usados registros fósseis da galinha e do faisão para calibrar o “Relógio Molecular”, isto porque, já é conhecido que estas aves se separaram em espécies individuais há dezenove milhões de anos atrás. Os dados desses fósseis, que foram encontrados em idades geológicas distintas, foram comparados com os genes atuais da galinha e do faisão, através de comparações matemáticas muito complicadas. Esses dados analisados, determinam o tempo no qual cada espécie ou grupo de espécie apareceu em nosso planeta. Das espécies de Carduélis existentes e reconhecidas por Sibley e Monroe, vinte e cinco foram estudadas. A distribuição mundial dos Carduélis se limita a Europa, Ásia, Zona Africana Mediterrânea, América do Norte e América do Sul. Nos últimos cinco anos foram fotografados e extraídas amostras de sangue de várias espécies de Carduélis para se estudar a seqüência de DNA. Uma vez seqüenciados os genes no laboratório, um super computador calcula qual a probabilidade de proximidade genética entre as espécies analisadas e as agrupa em uma árvore genealógica.

O grupo de Carduélis mais antigo é grupo de pássaros que antes eram pertencidos ao gênero Chloris, os Verdilhões, que existem há dez milhões de anos. Os mais recentes são os pássaros que eram pertencidos ao grupo dos Spinus na América Central e do Sul, com três milhões de anos de existência e que se originaram de uma única espécie: o Carduelis notata – Pintassilgo de Peito Negro – ou o seu ancestral, um parente muito próximo que não existe mais. Quando o Istmo do Panamá foi estabelecido, há três ou cinco milhões de anos atrás, unindo a América do Norte com a América do Sul, uma enorme variedade de plantas com sementes das montanhas do México passaram a se disseminar pela América do Sul, nos Andes. Estes Carduélis pré-históricos por possuírem o alimento adequado passaram a colonizar a América do Sul dando origem as espécies que conhecemos hoje. Gráficos gerados por computador indicam que a disseminação dos Pintassilgos na América do Sul começou do norte para o sul, ou seja, do Carduelis notata para o Carduelis barbata – Black-Chinned Siskin – através da espinha Andina. Uma segunda divisão pode ter acontecido nas montanhas Andinas Peruanas, correspondendo a distribuição de Carduelis olivacea – Olivaceous Siskin. Os mais recentes eventos de divisão parecem ter ocorrido com três pares de espécies irmãs: Primeiro: Carduelis xanthogastra – Caraquita / Carduelis atrata – Negrito da Bolívia; Segundo: Carduelis magellanica – Pintassilgo Comum / Carduelis yarrellii – Pintassilgo do Nordeste e Terceiro: Carduelis cucullata – Tarin / Carduelis crassirostris – Pintassilgo de Bico Grosso. A acumulação de características consistentes em ambas as bases, morfológica e molecular, nos gráficos gerados por computador indicam que esses eventos de divisão aconteceram dentro de um curto período de tempo. Os dados também sugerem que essa divisão aconteceu através de seleção sexual.

Os parentes mais próximos dos Verdilhões são os pássaros que eram pertencidos ao gênero Acanthis, os Redpolls ou Pintassilgos Roselins, com aproximadamente nove milhões de anos de idade. Ficou provado geneticamente que os Redpolls – Carduelis flammea, Carduelis hornemanni e Carduelis cabaret – não são aparentados em absoluto aos Pintarroxos – Carduelis cannabina. Assim podemos dizer que o gênero Acanthis que agrupava os Pintarroxos e Redpolls nunca existiu.

Os Carduélis Norte Americanos apareceram há sete milhões de anos atrás, possivelmente estes tem como ancestral o Pintarroxo – Carduelis cannabina. O Carduelis pinus – Pine Siskin – é primo irmão do Carduelis spinus – Lúgano – da Eurásia, ambos apareceram há aproximadamente seis milhões de anos atrás. O grupo do Pintassilgo Português, Carduélis Euroasiáticos – Carduelis carduelis – e suas sub-espécies, incluindo o Carduelis carduelis caniceps – Pintassilgo do Himalaia – tem como possível ancestral o Citril Finch – Carduelis citrinella – que apareceu há seis milhões de anos atrás e se exilou nas montanhas da Europa. Os Carduélis Euroasiáticos, morfologicamente, se distanciaram muito do Citril Finch que sem dúvida é o parente mais próximo, o aumento no tamanho dos bicos se deve a adaptação e a sua necessidade de comer sementes de Cardo. Os pássaros do gênero Loxia – Bicos Cruzados – também devem ser integrados ao gênero Carduelis junto ao grupo dos Redpolls. Todas as análises e gráficos gerados por computador, mostram que os Bicos Cruzados são muito próximos aos Redpolls. Os Bicos Cruzados são do hemisfério norte e a característica do gênero é a mandíbula cruzada, pois estes pássaros são especialistas em extrair sementes de coníferas. Estes pássaros provavelmente tiveram o mesmo ancestral que os Carduélis quando as coníferas foram muito comuns na terra, há nove milhões de anos atrás. Houve, claramente um declínio no número de coníferas depois do período de glaciação do pleistoceno, quando os Redpolls apareceram. O Artic Redpoll – Carduelis hornemanni – é muito similar a Loxia curvirostra japonica, uma espécie pequena de Lóxia.

O estudo da biologia molecular evolucionária e da génetica tem evoluído constantemente, esclarecendo e corrigindo informações, que pela tradição morfológica não se poderia chegar a tão detalhadas conclusões.

Agradeço ao amigo, Professor Antonio Arnaiz-Villena, que cedeu artigos para a elaboração deste texto.

Referências Bibliográficas:

• Both morphological and molecular characters support speciation of South American siskins by sexual selection R. van den Elzen, J. Guillén, V. Ruiz-del-Valle, L. M. Allende, E.Lowy, J. Zamora e A. Arnaiz-Villena Cell. Moll. Life Sci. 58 (2001): 2117-2128

• Phylogeny and Rapid Northern and Southern Hemisphere speciation of Goldfinches during the Miocene and Pliocene Epochs Arnaiz-Villena, A. M. Alvarez-Tejado, V. Ruiz-del-Valle, C. García de la Torre, P. Varela, M. J. Recio, S. Ferre e J. Martinez-Laso – Cell. Mol. Life Sci. 54 (1998): 1031-1041

• Rapid Radiation of Canaries (Genus Serinus) Arnaiz-Villena, A. M. Alvarez-Tejado, V. Ruiz-del-Valle, C. García de la Torre, P. Varela, M. J. Recio, S. Ferre e J. Martinez-Laso – Mol. Biol. Evol. 16 (1999): 2-11

• Phylogeography of crossbills, bullfinches, grosbeaks and rosefinches Arnaiz-Villena, J. Guillén, V. Ruiz-del-Valle, E. Lowy, J. Zamora, P. Varela, D. Stefani e L. M. Allende Cell. Moll. Life Sci. 58 (2001): 001-08

• Birds of the World Colin Harrison e Alan Greensmith – Dorling Kindersley – 1993

• The Birds of South America – Volume I, The Oscine Passerines Robert S. Ridigely e Guy Tudor – University of Texas Press – 1989

Carlos Henrique Luz Nunes de Almeida

Consultor da COBRAP – Confederação Brasileira de Criadores de Pássaros

Criador Amador registrado no IBAMA sob Nº 23.604

www.cobrap.org.br

WebMaster do site “Sítio dos Carduelis”

www.carduelis.bio.br

carduelis@carduelis.bio.br

Escrito por Carlos Henrique Luz Nunes de Almeida, em 2/9/2003