Giárdia
Cuidados e prevençã0
A giárdia é um microrganismo unicelular, um protozoário, do mesmo grupo dos coccídeos, tricomonas e toxoplasmas. Possui flagelos que o auxilia na locomoção.
A espécie que comumente afeta as aves é a Giardia psittaci, que é de uma espécie diversa da que parasita o homem, a Giardia lamblia. De um modo geral a psittaci não acomete o ser humano, nem a lamblia parasita as aves.
A contaminação se dá pela forma direta, ou seja, através da ingestão dos cistos de giárdia encontrados na água e nos alimentos. Os cistos são uma forma de resistência do protozoário, que permite sua subsistência por um tempo prolongado na matéria orgânica ou na água.
A disseminação desse microrganismo se dá pela eliminação dos cistos através das fezes das aves contaminadas. No organismo da ave o parasita habita o intestino delgado, principalmente o duodeno, onde se reproduz por divisão binária.
No intestino da ave a giárdia pode permanecer um longo tempo sem causar sintomatologia, nesse caso o animal parasitado é denominado de portador assintomático, quando apesar de estar sadio pode disseminar para o meio a forma contaminante da giárdia (o cisto).
O grupo de aves mais comumente afetado é o dos psitacídeos, porém os passeriformes também podem ser contaminados. Na literatura norte-americana não encontramos relatos de giárdia em canários (serinus) e fringilídeos. Em nosso meio não foram encontradas informações estatísticas a esse respeito.
Como esses parasitas mantém-se albergados no intestino o sinal clínico mais comum é a diarréia.
Alterações cutâneas também podem surgir, como pele seca, prurido e arrancamento de penas. Pode ainda afetar os filhotes recém-nascidos, causando debilidade e morte.
As fezes podem ter aspecto mucóide e apresentar mau odor. Nas infestações maciças até um quadro de má absorção intestinal dos alimentos pode ocorrer, com perda de gordura e nutrientes pelas fezes, ocasionando um quadro de letargia e desnutrição.
O diagnóstico de certeza é feito com o encontro doas cistos e trofozoítos (forma adulta habitante do intestino). Contudo algumas dificuldades surgem, pois a eliminação dessas formas pelas fezes é inconstante. O ideal é a realização de exames de fezes seriados a fresco (com menos de 10 minutos após a evacuação).
Um único exame negativo não afasta a possibilidade de contaminação.
Na impossibilidade do exame a fresco a conservação das fezes em formalina 10% (5% segundo alguns autores) é recomendada, pois a giárdia na forma trofozoítica é frágil e desintegra-se facilmente. Preservar os trofozoítos é importante, pois aumenta a chance de diagnóstico, que estariam reduzidas se a procura for feita apenas pelos cistos. A ave contaminada não elimina o protozoário em todas as evacuações.
Um método utilizado pelos laboratórios com o intuito de facilitar a identificação dos cistos é o uso da solução de sulfato de zinco, que é facilmente preparada e faz com que os cistos flutuem, se separem das fezes e possam ser mais facilmente identificados com o uso do microscópio.
O tratamento mais é feito com metronidazol por um período de 5 a 10 dias. No entanto há muitos relatos de resistência a esse medicamento. O mais indicado seria a administração da dose diária diretamente no bico, pois a dissolução na água de beber pode reduzir a sua eficácia. Outra opção terapêutica é o febendazol, que tem o inconveniente de ser mais tóxico, podendo ocasionar alterações na plumagem e até a morte da ave. Temos ainda o relato do uso da paromomicina, um antibiótico aminoglicosídeo com ação antiprotozoário e o dimetridazol, que apesar de eficaz tem vários efeitos tóxicos.
Geralmente está indicado o tratamento para todas as outras aves que estiveram em contato com o indivíduo infestado.
A reinfestação, muitas vezes confundida com resistência do parasita à medicação, pode se tornar comum se o ambiente que a ave vive não tiver um bom controle sanitário. Muitas vezes é necessário que seja repetido o tratamento periodicamente. Em algumas aves nunca estarão completamente curadas da giardíase.
Como a forma de propagação é pela ingestão de água e alimentos contaminados por fezes, todo esforço para se prevenir que isso ocorra será de grande valia.
O fundo da gaiola deve ser protegido por grade removível e os alimentos e a água devem estar fora do alcance dos dejetos, preferencialmente em recipientes externos à gaiola. Devemos impedir que aves silvestres adentrem no criatório, pois podem ser reservatórios da giárdia. Outro cuidado é a quarentena e exame de fezes das novas aves adquiridas pelo aviário.
Desinfetante a base de amônia quaternária e cloro a 10 % são efetivos na inativação dos cistos.
A grande verdade é que aves que são mantidas em ambientes saudáveis, com alimentação e água adequadas estão sendo submetidas à melhor profilaxia de doenças infecciosas e parasitárias que existe.
Concluindo: Ave que não come fezes não terá parasitose intestinal.
Anderson Moreira de Almeida
Consultor da COBRAP (www.cobrap.org.br)
Escrito por Anderson Almeida, em 18/5/2004