Nicho de Liberdade
O melhor manejo
Texto retirado do livro Criação de Curiós e Bicudos de Aloísio Pacini Tostes
É certo que o pássaro totalmente adaptado, que não conhece outra vida em termos de felicidade, está plenamente realizado. Os pré-requisitos obrigatórios para isso são os seguintes: estar acasalado, bem alimentado, procriando, passeando, participando de torneios de canto.
Não necessita e nem deseja outra forma de vida e adota um comportamento muito semelhante ao do seu irmão de vida selvagem. Esse fato é fácil de ser constatado, porque o pássaro manifesta sua alegria com a detonação total da cantoria. Isto é, canta o dia inteiro, a intervalos de poucos segundos. Demonstra sua completa satisfação em suas manifestações de amor e carinho com seu par sexual e fica aninhando ou procurando um lugar para fazer o ninho e procriar, que é o objetivo maior de sua existência. Aninhar é procedimento que adota só quando está em plenitude de satisfação.
O bicudo e o curió descontentes ou estressados quase não cantam e, se o fazem, é depois de intervalos bem longos. Essas aves estão, na maioria das vezes, na mão de pessoas que não sabem como resolver o problema. Vale lembrar que é normal que o pássaro pare de cantar na fase de muda de penas.
Na natureza, o território em que vivem na fase da procriação é bem restrito, sendo o ninho o centro. Cantam quase sempre no mesmo local. Ficam por ali. Vão procurar comida, nem sempre farta. Bebem água, tomam banho e alimentam sua prole.
Nos períodos da muda de penas, época da seca, as coisas são bem mais difíceis. Como é no outono ou no inverno, períodos de alimentos mais escassos, e tendo maior dificuldade para voar, preferem ficar mais recolhidos entre as folhagens. Mesmo assim, na falta de alimentos, eles são obrigados a se deslocar às vezes a grandes distâncias, até encontrá-los. Certa vez, no Mato Grosso, foi visto um bando de bicudos com os bicos cheios de terra e carvão, porque estavam famintos na difícil tarefa de desenterrar semente de capim navalha em brejos que haviam sido queimados e estavam secos.
A luta pela vida para eles é assim, tentam se defender dos inimigos, das intempéries, das depredações e acabam vivendo pouco. Na gaiola e nos viveiros a situação é mais cômoda. Podem realizar todas as necessidades básicas, só que não há a parte mais perigosa e arriscada de sua vida. Logicamente, não estamos levando em consideração os maus tratos a que poderão ser submetidos por desinformação de quem os detêm.
Por causa dessas ocorrências é que não se aceita que mantenham pássaros pessoas não registradas, que não sabem manejar, proteger e alimentar adequadamente as aves. Isso não quer dizer que sócios de clubes com registro obrigatoriamente irão cuidar corretamente. Quando um criador pertence a uma sociedade pode ter mais noção de todas as necessidades das aves. Se o animal está impossibilitado de se defender, temos a obrigação de lhe oferecer um tratamento digno.
Qualquer ser vivente deve ser respeitado. Não é justo que se obrigue qualquer indivíduo a sofrer. O mau detentor de aves não traz qualquer contribuição à causa da preservação das espécies, pelo contrário, prejudica muito, principalmente quando estimula a comercialização ilegal e a conseqüente dizimação do que ainda existe em liberdade. A respeito, não há mais espaço para que se repitam acontecimentos do passado.
Escrito por Aloísio Pacini Tostes, em 2/9/2003