Pássaros… Estranha Paixão

Uma doidura total

Dizem que paixão é uma fase que pode ou não anteceder o amor. Conseguir manter o estado de paixão é uma arte, os filmes sempre acabam antes que se transformem em algo maior, os livros tem seus epílogos sempre em um desfecho da paixão, os versos sempre são inspiração de algum apaixonado.

Mas e o que tem a ver isso com as aves? Podem dizer que uns se encantam com elas, outros com outros, os mal amados dizem que as aves foram feitas para voar… Livremente…Com o que concordo…Parcialmente…

Cuidar das aves é cuidar dos nossos vôos, tal Ícaro em seu ideal…São nossos sonhos, que acalentamos quando cuidamos de nossos alados. É vê-los dependente de nós, alimentando os, tratando, medicando, auxiliando as fêmeas a alimentar seus filhotes, é ver a vida: Nascendo! Crescendo! Amadurecendo! Reproduzindo! Morrendo! Não, não se choquem, é o ciclo da vida que conseguimos acompanhar!

É o nosso lado lúdico: comprar, trocar…Em linguagem passarinheira, um rolinho…

É o nosso lado polivalente, meio biólogos, meio veterinários, meio nutricionistas, outros tantos \”meio\”, enfim, uns auto didatas metidos a besta…….Que às vezes quase sempre mais atrapalham do que ajudam.

Ah, se nos cuidássemos como cuidamos dos nossos alados! É aqui que a hipocondria que todos temos se manifesta. É medicamento aqui, outro acolá, um amigo me disse que saiu uma novidade! Ei, traz um pra mim também. Sim, é pra mim mesmo, vou dar aos pássaros, mas por transferência é de mim que estou cuidando.

A paixão nos cega. Quantas vezes nos sentimos arrependidos por uma aquisição? Ela nos torna ainda mais compulsivos. Que bom!

O passarinheiro deveria ser tema de uma monografia. Mas não uma qualquer. Com acompanhamento de uma bancada composta por psiquiatra, neurologista, psicólogo e de um bom advogado, que me parece que hoje é o que mais precisa. Ou um contador, aquele dos bons, pois dá mais trabalho cuidar da papelada do que dos bichos. Meu tratador, ops, o tratador dos pássaros, está forrando os fundos das gaiolas com as relações de passeriformes: Cada atualização, mais papel. Estou guardando as licenças de transporte, escondidas, pois senão tem o mesmo destino. O bom é que em cada uma delas eu rascunho uma breve história: se foi para um passeio, como foi; se foi para padreador, quem galou; se foi para algum torneio, que último lugar ele tirou. Se foi para transação, ou um rolin, aí jogo fora mesmo…Quero esquecer mais uma fubecada que tomei.

Passarinheiro que se preza faz visita rápida. No mínimo fica para o almoço e vai embora depois da janta.

Tem aquele que é juiz também. Ou jurado. Não sabe ver um passarinho no prego do visitado que começa a julgar. Acho que está mais para promotor: Sempre acusando algum defeito. E o pobre do anfitrião tem que se arvorar de advogado.

Tem o filão: Fila uma farinhada, um pedaço de jiló, e ainda mastiga da maçã que é pro passarinho!

Tem o passarinheiro cantor: Canta mais que o pássaro que está ofertando.

Tem o exagerado: Passarinheiro não mente, ou omite ou aumenta.

Tem o palpiteiro (esse sou eu), não consegue ficar quieto sem dar uma opinião, mesmo naquele criame que está tudo correndo bem.

Tem diversos tipos. Merece realmente um estudo. Mas qualquer que seja o resultado, já está perdoado. Afinal, é um apaixonado!

Rogério Fujiura

Escrito por Rogério Fujiura, em 21/10/2004