Quarentena e Prevenção de Doenças

Animais de companhia em crescimento

Amigos vejam a matéria escrita por veterinários, sendo além de formados estudantes de Med. Vet e Professores de Med. Vet. Matéria interessante que muito pode ajudar os amigos passarinheiros.

Quarentena e prevenção de doenças.

Atualmente a procura de animais de companhia é cada vez maior. O Homem, enquanto espécie, se afastou tanto do seu estado natural que, à semelhança de um náufrago, não consegue se manter por si e necessita urgentemente de uma bóia salva vidas. Esta bóia é representada pelos animais de companhia, chamados genericamente de “Pets”, um termo em inglês.

Um outro problema das grandes concentrações de humanos é a falta de espaço.

Unindo os dois lados da questão, poderemos entender o incremento do volume das aves de gaiola produzidas hoje em dia, infelizmente, muitas vezes sem o menor padrão tecnológico.

Criadores se comunicam intensamente, transmitem receitas de casos isolados que deram certos, e muitas vezes assumem caminhos que não correspondem ao melhor padrão tecnológico, aplicam tratamentos empíricos, oferecem drogas desnecessárias em doses erradas, mesmo que com algum sucesso relativo.

O motivo deste trabalho é procurar oferecer, aos colegas Médicos Veterinários, da Avicultura de Gaiola, um padrão de manejo ligando as necessidades do criador com a tecnologia do doutor.

O local de criatório, lembramos sempre, deve ser um quarto isolado, livre de correntes de vento, mas bem ventilado, limpo, e onde ao mínimo possível haverão visitas tanto humanas como de outras aves como pombos e pardais, assim como dos roedores.

O cronograma exposto se aplica para as criações do hemisfério Sul, que encontra seu inverno entre junho e agosto e verão entre dezembro e fevereiro. Evidentemente, no hemisfério norte haverá um atraso de 6 meses no cronograma.

Iniciaremos o ano por Junho, momento em que acontecem as exposições. É durante estes eventos que se adquirem muitas aves, ou que elas estão voltando para casa após sua turnê de exposições.

Naquelas exposições pelas quais passaram, as aves certamente terão contato com outros animais, oriundos de diversas regiões, de diversos manejos, ocasião em que podem ser infestados e infectados por diferentes tipos de parasitos uni e multicelulares. Existem os helmintos, vermes redondos (Filo Aschelminthes) e chatos (Filo Platyhelmintos), as sarnas e piolhos, protozoários, bactérias e vírus, sem comentarmos da queda de resistência orgânica devido ao estresse de viagem.

Existem produtos que combatem diretamente alguns destes parasitos, como os antibióticos e vermífugos, mas outras doenças simplesmente não apresentam tratamento, exceto os profiláticos, de higiene pelo manejo.

Em hipótese alguma ao retornarem, ou serem adquiridos, animais podem ser reintegrados em um criatório preexistente, sem prévia quarentena. Observamos que quarentena é de quarenta dias, recebendo tratamentos para os mais diversos tipos de problemas.

O criatório, composto por todas as aves que não foram expostas, estará em uma etapa de entressafra, e, neste momento, podemos aproveitar para realizarmos um bom diagnóstico da higidez dos animais com exames clínicos e laboratoriais.

O Clínico Veterinário deve ir visitar o criatório, examinar os animais na gaiola, principalmente verificar a condição das fezes, a higiene dos poleiros, e prestar muita atenção nas narinas, na forma de respiração. Esta etapa também é propícia para a manicure, com corte das unhas.

Nesta ocasião o médico veterinário fará uma seleção dos piores grupos para os exames rebanho. Idealmente, para coprológicos, deve-se utilizar fezes recentes, de menos de 60 minutos, mesmo com o atraso de desenvolvimento dos ovos dos parasitos pelo frio ambiental, com atenção aos helmintos e protozoários.

Uma vez os exames resultando positivos todo o lote deve ser tratado, e novos exames refeitos após 15 dias de finda a terapia de cura das nosologias diagnosticadas.

O número ideal de exames coprológicos é de pelo menos 10 exames para as criações pequenas, ou de no mínimo 10% do lote para os criames com mais de 100 animais.

A medicação das aves, preferencialmente, é fornecida na água de bebida, o que facilita o manejo e guarda um fornecimento mais homogêneo durante o dia, embora com a desvantagem da interrupção do fornecimento no horário noturno.

Em regra geral, a recomendação é de se renovar as diluições ao dia, mas existem medicamentos que resistem bem em até uma semana mesmo já diluídos. A recomendação da renovação diária deve sempre prevalecer, pois auxilia inclusive na limpeza dos bebedouros.

Iniciaremos os tratamentos com uma tentativa de reduzir o estresse, aumentar o metabolismo histiocitário, com conseqüente aumento das defesas orgânicas.

Aplicaremos um complemento vitamínico mineral com aminoácidos. São princípios importantes: Vitaminas lipossolúveis: A, D, E, complexo B: B1, B2, B6, B12, além de Nicotinamida, Acetilmetionina, Colina, Inositol, Pantotenato de Cálcio. São suplementos importantes: os demais aminoácidos.

Existem formulações somente com aminoácidos, outras somente com as vitaminas e há ainda aquelas com ambos associados. Ao se utilizar as medicações não associadas, vitaminas mais aminoácidos, devemos acrescentar suplementos destes na dieta, em pó, na alimentação, ou líquido na água de bebida.

Um importante produto a ser utilizado é um imunomodulador. Nossa preconização é o Levamisol, nas doses de 10 a 35 mg/kg, o que representa um volume de 3 a 7 ml de Levamisol oral a 5% por litro da água de bebida. Como imunomodulador recomendamos aplicar três dias consecutivos por semana durante a fase de restabelecimento.

Na prática encontramos recuperação expressiva de aves debilitadas com problemas nada relacionados a helmintoses, tão somente com um inicial deste tratamento com Levamisol devido ao seu efeito na modulação das defesas orgânicas.

Como vermífugo, o Levamisol tem efeito indicado em 15 mg/kg para Ascaridíase, Syngamus e Heterakis, e 30 mg/kg para Capillaria. Recomendamos o artigo LEVAMISOL – Vermífugo e imuno modulador: antigo e eficaz do mesmo autor, publicado em julho de 2004 na Red Vet ISSN nº 1695-7504, disponível em Http://www.veterinaria.org.

Quanto aos agentes antimicrobianos mais utilizados “profilaticamente” geralmente são Tetraciclina ou Cloranfenicol, e Sulfaquinoxalina. Devem ser evitados em uso concomitante, pois afetam vários sistemas orgânicos, renal, digestório e reprodutivo, de absorção de sais de cálcio, etc. Em tratamentos emergenciais, em que as associações são necessárias, acrescentar os vitamínicos e aminoácidos reduzindo as agravações.

As doses usuais são de Cloranfenicol 80 mg/kg q8hs, ou 100 a 200 mg/litro na água de bebida; Tetraciclina 20 mg/kg q8hs, o que representa 55 mg/litro de água de bebida e Sulfaquinoxalina 500 mg/litro na água de bebida.

Prescrevemos rotineiramente, inicialmente a sulfa, por 5 dias, seguida por um descanso de 3 dias e mais 5 dias, enquanto devem receber o complexo vitamínico mineral com aminoácidos, comentado acima, e na seqüência antibiótico, ou tetraciclina ou cloranfernicol, por mais 10 dias, e novamente o complexo vitamínico por mais 5 dias de recuperação.

A esta altura, tanto nossos animais adquiridos, como os que estavam em exposições receberam sulfa, antibiótico, vitaminas, aminoácidos, Levamisol.

Carece de aplicar-se um produto para os ácaros, ao que recomendamos, extra-bula, as ivermectinas, nas doses de 0,3 mg/kg via oral. Viana (2003) chega a recomendar até 20 mg/kg via oral, repetidos em 15 dias. Na prática é comum a utilização deste produto diluídos na água de bebida nas diluições de 4 ml por litro de Ivermectina oral a 0,08% ou 0,3 ml da formulação injetável a 1%. Comumente encontramos autores utilizando 1 ml/litro da solução injetável a 1% durante 3 dias. A terceira opção é a Ivermectina em pó, encontrada nas formulações de 0,60 g do sal em 100 g de veículo, o que eqüivale a dizer 0,60%, e utilizar-se 0,5 gramas do pó para 1 litro de água de bebida.

Lembramos que as Vermectinas não apresentam eficácia sobre os vermes chatos do Filo Platyhelmintes.

Fipronil – muito pouco tóxico, que a forma em spray pode ser aplicado nas aves a partir do nascimento. É excelente ectoparaziticida, muito eficaz contra os piolhos das aves. Pode ser aplicado em toda a gaiola, principalmente na base do puleiro.

Um outro vermífugo bastante empregado é o Mebendazol na dose de 25 mg/kg durante 5 dias. Para os casos em que e infestação é maciça pode-se utilizar outros Benzimidazóis: Fembendazol na dose de 10 a 50 mg/kg q24hs ou 125 mg em um litro de água de bebida durante 3 a 5 dias; Albendazol na dose de 5 mg/kg q12hs durante 3 dias, Tiabendazol 100 mg q24hs durante sete a 10 dias.

Outros vermífugos de uso são: Pirantel (4,5mg/kg VO repetidos após 14 dias), Piperazina (na dose de 100 a 200 mg/kg VO dose única, ou 33mg/kg q24hs durante 5 dias, ou 1mg/litro na água de bebida) e exclusivamente para os cestódios o Praziquantel (10 a 20 mg/kg VO repetidos após 14 dias).

A esta altura nossos pacientes estarão com quase um mês de tratamento contínuo. Resta-nos mantê-los em repouso por mais 12 dias, e repetir os 3 dias de Levamisol com vitaminas e aminoácidos antes da liberação.

Aos 40 dias, libera-se da quarentena.

Durante todo o mês anterior já iremos planejando os casais que formaremos, em acordo aos padrões genéticos de espécie, raça e colorações.

Estamos em agosto, estação de monta, gala, quando juntamos os casais. A partir deste momento devemos nos empenhar ao máximo em manter exatamente igual a rotina, principalmente alimentar, das aves. Pequenas variações podem induzir a uma fase de muda de penas nas fêmeas, bloqueando os processos reprodutivos.

Ao máximo deve-se evitar, nesta etapa, medicamentos como Cloranfenicol, Tetraciclina e Sulfas. Por outro lado são liberados Fembendazol, Ivermectina, Levamisol, Piperazina, Pirantel e Praziquantel, além de evidentemente, o complemento vitamínico e aminoácidos.

Lembramos que, para alguns grupos, como o dos bicudos: curiós, azulão, bicudo, não se faz casais, mas sim utiliza-se a apresentação momentânea para a gala, caso contrário os machos se tornam monogâmicos reduzindo muito sua produtividade. Para estas espécies se faz uma série de cópulas por ninhada, ao invés de uma cópula por ovo.

Um detalhe importante é que enquanto mais parecidos os gêneros, ou seja, quanto menor o dimorfismo sexual maior a fidelidade entre os casais. Os psitacídeos são um bom exemplo desta regra.

A partir de setembro estarão nascendo os primeiros filhotes. Nesta época deveremos nos atentar ainda mais à alimentação, acrescendo papinhas nutritivas, ovos cozidos, complexos vitamínicos que serão utilizadas pelas mães na alimentação das crias. Existe no mercado, prontas, papinhas denominadas de “farinhadas de desmame” que as mães utilizam para alimentar os filhotes.

O Levamisol na qualidade de imunomodulador, 10 mg/kg ou 2ml da solução a 5% por litro de água pode ser utilizada por 3 dias a cada duas semanas nesta etapa.

Com 30 dias as crias estarão sendo removidas da presença dos pais. Na nova gaiola receberão uma primeira dose de sulfa e antibióticos, à semelhança do tratamento já comentado anteriormente. Não recomendamos este tratamento enquanto as aves filhotes estiverem com as mães, por interferência metabólica de crescimento e desenvolvimento, além da interferência com a próxima postura da mãe.

Em dezembro, ou aos 3 a 4 meses de idade, iniciar-se-á a fase de muda de penas dos filhotes, época em que deverão receber novamente os suplementos vitamínicos e aminoácidos para a reposição das penas trocadas.

A muda dos adultos se dá de fevereiro a maio, após a temporada de criação, portanto não se pode negligenciar a alimentação e suplementação nesta época.

Em junho é iniciado o grande momento da avicultura em gaiola. É nas exposições e concursos que se avaliará o trabalho do ano de um criador.

Por comprovação, pegamos os piores exemplares colocados, por terceiros, em uma avícola e submetemos a este tratamento completo, que, ainda está em execução, mas pleno de sucesso e recuperação.

Detalhes importantes:

Devemos ter, no mínimo, três centros em nossa criação, em lugares separados uns dos outros, e, principalmente de formas que saibamos que não receberemos as visitas indesejadas já citadas acima.

· A criação em si, composta basicamente por um quarto servido de um pedilúvio, tapete de espuma o qual será mantido molhado com uma solução de hipoclorito. É o corpo principal de nossa criação. Se possível esta sala deverá ter um sistema de ventilação ativa, ou seja, o ar deve ser sugado de fora, de uma fonte limpa, e soprado para dentro da sala, permanecendo as portas e janelas como saída de ar, não a sua entrada, formando um “fluxo laminar”.

· O segundo lugar é o isolamento, onde impreterivelmente todos os animais ficarão, pelo menos 40 dias em isolamento, recebendo um tratamento adequado para as possíveis pestes e pragas que tenha se contagiado.

· O terceiro lugar, isolado dos dois anteriores, é o hospital, para onde os animais que apresentarem quaisquer indícios de doenças serão levados e tratados. Ao se concluir o tratamento, os animais passarão 40 dias no isolamento e somente ai poderão voltar para a sala da criação.

Manejo

· A higiene das gaiolas variará muito com a espécie a ser tratada. Psitacídeos são muito baderneiros, sabiás e aves maiores juntam muitas fezes e tem de ter suas gaiolas higienizadas ao dia. Quanto aos canários, idealmente, no mínimo a cada dois dias devem ter suas gaiolas limpas, incluindo troca de forro do chão. Curiós e bicudos, que consomem um volume muito menor de alimentos, podem ser tratados até duas vezes na semana.

· Lembramos que os maiores problemas de aves de gaiola estão diretamente relacionados com o ambiente e alimentação, portanto higiene é a melhor vacina.

· Alimentos: Grandes psitacídeos não vivem apenas com sementes de girassol, canários não comem apenas sementes. Hoje, no mercado existem rações granuladas e em pó, chamadas de farinhadas, adequadas a cada espécie animal. Aos papagaios e araras já existem biscoitos duros, próprios aos seus modos e costumes, aos sabiás e semelhantes, rações adequadas, assim como aos canários. Alguns detalhes importantes devem ser observados, como o fato de que os canários devem se abster de painço, por conferirem um caráter de obesidade, mas para o grupo dos Curiós, o consumo destas sementes são recomendados. Além das rações, ovos cozidos, frutas frescas e verduras amargas são, normalmente, bem aceitos.

Evarisvaldo de Souza

Escrito por Erarisvaldo de Souza, em 28/3/2005

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