SME – Sistema de Marcação Eletrônica
Já era hora
Publicado do Atualidades Ornitológicas n.120
SISTEMA DE MARCAÇÃO ELETRÔNICA EM TORNEIOS
Torneio de canto de pássaros nativos brasileiros existem há muito tempo, desde a década de 50, quando na região de Ribeirão Preto SP, iniciou-se a prática. São mais de cinqüenta anos de disputas e de muitas histórias dos campeonatos em que os pássaros cantam perto e à vista um do outro, o que se convencionou chamar de modalidade fibra que é vontade e disposição para cantar; hoje há dezenas de milhares a admiradores em todo o Brasil e as disputas só podem ocorrer com pássaros nascidos domésticos, conforme exigência do IBAMA a partir da década de 90. Por isso mesmo, tem estimulado muito a produção deles em ambientes domésticos, podemos dizer com segurança que, anualmente, são muitos milhares criados nesta condição. No caso específico do bicudo (Oryzoborus c. maximiliani) e do curió (Oryzoborus a angolensis) sempre houve, desde o começo, muitas discussões de como julgar e apurar com fidelidade os cantos emitidos. O fato é que essas espécies tem a capacidade de repetir o canto, isto é, podem cantar continuadamente sem parar, remontando a frase musical, ficando, então, para o juiz a interpretação com essa dificuldade adicional. E como é difícil, de forma concomitante marcar os cantos emitidos com a rapidez necessária. É preciso, primeiro conhecer muito bem onde começa e termina cada unidade, ser um experto; em seguida, ter destreza suficiente, ouvir bem e saber traduzir as individualidades de cada pássaro para postar em uma cartela. Isto tudo, sem falar das mazelas, das iniqüidades e das interpretações incorretas comuns a todo tipo competições que envolvem manipulação e sentimentos humanos. Esses aspectos, até hoje tem gerado muitas polêmicas, desavenças e entreveros entre os expositores e por isso mesmo tem afastado muita gente das lides porque nem todos conseguem suportar ou assimilar as inerentes pressões que surgem nessas ocasiões. Em alguns casos, tem prejudicado a qualidade e a quantidade de pássaros em disputa, por exemplo: no Estado de São Paulo, onde os criadores produzem um extraordinário número de curiós deveria ter aumentado a quantidade de participantes na “Fibra”, mas o que vemos é cada vez mais ir diminuindo a proporção, o que é até certo ponto incompreensível. Nos outros estados o volume de indivíduos tem se mantido estável, mas com muita renovação de participantes. No caso dos Coleiro (Sporophila cearulenses) , Trinca Ferro – (Saltator similis) e Canário da Terra (Sicalis flaveola) , optou-se para se computar um ponto toda a vez que a ave cantar, dessa forma, cessam as interpretações subjetivas, já que assim, fica fácil avaliar e fiscalizar, não há o embrólio das repetições. Embora tenham começado depois, nesses respectivos campeonatos há menos discussões ou descontentamentos; é uma situação mais cômoda anotar um canto de cada vez, sem outras explicações. No entanto, nos canários da terra, muitos estão sendo prejudicados porque cantam repetindo ou longo o que não é considerado e acaba por prejudicar aquele que mais tempo canta, supomos que esse sacrifício é aceito tacitamente em favor de se poder ter uma apuração tranqüila, mais fácil de ser controlada e ajustada. O que não é o caso nos bicudos e curiós, daí a enorme necessidade de se encontrar uma solução. Tentaram de tudo quanto aos fiscais, juízes e marcadores, ou seja, não mudar marcador, rodízio para esquerda , para direita, o próprio dono marcar e assim por diante. Nada deu certo, e cada vez mais problemas. Quando se pensou, de novo, em realizar-se torneios a nível nacional com participação de criadores/mantenedores de vários estados, a coisa de agravou; passamos a correr risco de impasses muito mais sérios. São regiões diversas, pessoas diferentes e estranhas, costumes arraigados; como administrar toda essa celeuma? Pensamos, estudamos e afinal testamos em fevereiro deste ano em Ribeirão Preto, com o maior sucesso, a adoção de um processo eletrônico de marcação. Seria a utilização das facilidades da informática na apuração do volume de canto de cada pássaro, que funciona da seguinte forma: quando a ave canta até terminar a frase, cada juiz aciona um sinal eletrônico acendendo uma luz vermelha que é imediatamente transmitido através de uma interface até um computador, onde através de um programa específico trata os informes separando os dados de cada competidores. Daí, seguem até um projetor onde todos os presentes poderão acompanhar o desenrolar da disputa, da forma a mais transparente possível. No telão, aparecerão os vinte pássaros que estão em julgamento em cada bateria e os dez que mais cantaram até ali. No momento da disputa o “led” de cada concorrente fica piscando provocando uma intensa emoção nos presentes. O modelo que escolhemos considera, então, o tempo cantado, cada canal funciona como um cronômetro individual no sistema que ao final computa e soma os tempos dos participantes levando em conta pela ordem os que mais foram acionados. Resta agora, implantar-se um esquema de procedimento que evite qualquer disfunção na aplicação do sistema. Por exemplo, é preciso que todos os pássaros sejam cadastrados antecipadamente e bem antes de se iniciar as disputas e que haja um controle rígido na hora de distribuição dos canais para se referirem realmente aos respectivas estacas ; em suma, os cuidados que ser redobrados quando são usados processos eletrônicos, os sistemas são travados e em cima da hora não dá para improvisar. É nisto que consiste o nosso SME – Sistema Eletrônico de Marcação.
Aloísio Pacini Tostes
Escrito por lagopas@terra.com.br, em 8/9/2004