Vitaminas Hidro e Lipossolúveis

Quantidades suportáveis

BOLETIM DO CRIADOURO CAMPO DAS CAVIÚNAS

Nº 17 JULHO DE 2005

REDATOR: Dr. JOSÉ CARLOS PEREIRA

RUA JOAQUIM DO PRADO, 49. CRUZEIRO/SP. TELEFAX 0xx12 31443590

drjosecarlos2000@uol.com.br

 

NUTRIÇÃO E ALIMENTAÇÃO

1- PARTE GERAL.

2- PARTE ESPECÍFICA:

21- LIPÍDIOS, PROTÍDIOS E GLICÍDIOS;

22- ÁGUA;

23- VITAMINAS HIDRO E LIPOSSOLÚVEIS;

24- SAIS MINERAIS (MACRO E MICROELEMENTOS).

3- COMENTÁRIOS FINAIS.

2- PARTE ESPECÍFICA

 

23- VITAMINAS HIDRO E LIPOSSOLÚVEIS.

Entre os 40 nutrientes que a dieta deve fornecer ao organismo animal estão as vitaminas.

Embora pertençam a diversos agrupamentos químicos elas possuem propriedades comuns:

1- São substâncias orgânicas.; 2- Devem ser fornecidas em quantidades mínimas na dieta porque não podem se sintetizadas pelo organismo ou a velocidade de síntese é insuficiente para prover as suas necessidades. Os aminoácidos essenciais também devem ser fornecidos pela dieta e são substâncias orgânicas, mas devem ser fornecidos em grandes quantidades Os minerais traços embora também devam ser fornecidos em quantidades mínimas, mas são nutrientes inorgânicos.

O termo vitamina somente deve ser usado para as substâncias orgânicas requeridas para a nutrição dos mamíferos; as substâncias usadas somente pelos microorganismos e células em culturas, embora preencham algumas das propriedades das vitaminas, devem ser chamadas fatores de crescimento. Existem autores que chamam de vitamers os componentes vitamínicos que aparecem com mais de uma forma química, como a piridoxina, a piridoxamina e o piridoxal ou como um precursor da vitamina, como o caroteno e a vitamina A, o que, acho que somente tem valor acadêmico.

Classicamente as vitaminas são divididas em solúveis na água (as 11 vitaminas do complexo B e a vitamina C), com capacidade mínima de ser estocadas e, portanto, necessitando do consumo constante para manter a saturação dos tecidos e solúveis na gordura (vitaminas A, D, E e K), estocadas maciçamente, o que, confere a elas o poder de provocar sérias intoxicações se consumidas em grandes quantidades. Prestem atenção, amigos criadores de pássaros: poder de provocar sérias intoxicações se consumidas em grandes quantidades. Trecho auto-explicativo que serve para aqueles que usam complexos vitamínicos fabricados para o uso humano nos pobres e indefesos pássaros.

Interessante é que há vitaminas que não são ativas na maneira em que são consumidas, necessitando ser processadas em vivo, como acontece com a tiamina, a riboflavina e a piridoxina que devem ser fosforiladas, e com a ligação do ácido nicotínico e da riboflavina aos nucleotídeos purina ou piridina.

Praticamente todas as vitaminas agem como co-fatores para enzimas específicas, a não ser as vitaminas A e D que são consideradas verdadeiros hormônios que possuem receptores intracelulares nos seus tecidos alvos.

O uso das vitaminas implica três questões básicas e que envolvem milhões e milhões de dólares em gastos desnecessários, em gastos necessários, estudos e regulamentações: 1- Afinal, quais são as reais necessidades que os organismos animais, principalmente os pássaros, têm das vitaminas? Há justificativas para o uso das vitaminas sem prescrições feitas por profissionais habilitados? Todos os profissionais qualificados têm conhecimentos para indicar as vitaminas quando elas são realmente necessárias? Mistérios, mistérios, mistérios…

Nos países mais interessados com a saúde das suas populações e com o seu rico dinheirinho há comissões científicas dedicadas ao estudo e à preconização das necessidades de nutrientes dos seus habitantes. Nos Estados Unidos o Food and Nutrition Board, parte do Institute of Medicine da National Academy of Sciences, tem entre as suas atribuições “encorajar padrões de consumo de alimentos capazes de manter e promover a saúde”. Desde 1941 o FNB publica recomendações, contidas no famoso Recommended Dietary Allowance (RDA), que é periodicamente revisado para conter novos conhecimentos. Dentro do RDA encontram-se as recomendações para as necessidades vitamínicas diárias. As recomendações do RDA são constantemente revisadas e atualizadas. Na última foram incluídas recomendações para duas vitaminas hidrossolúveis, a biotina e o ácido pantotênico e para alguns elementos-traços (cobre, cromo, fluoreto, manganês e molibdênio). Existem alguns nutrientes ainda em estudo, como o ácido paraminobenzóico, o ácido pimélico e a carnitina, que atuam como fatores de crescimento para as formas inferiores de vida; a apregoada vitamina rutina, com possíveis ações antihemorrágicas, mas ainda carecendo de estudos mais conclusivos; o ácido pangâmico (erradamente chamado vitamina B15) e a laetrile (precipitadamente chamada vitamina b17) que são comercializados sem comprovações científicas finais. E há algumas substâncias que têm ação no crescimento de muitos animais, mas ainda carecendo de mais provas de ação no homem, como o vanádio, o silício e o níquel.

Ainda nos States, o United States Food and Drug Administration, calcado no Federal Food, Drug, and Cosmetic Act exerce algum controle sobre o uso de vitaminas em crianças abaixo dos 12 anos de idade, gestantes e lactantes. O controle para outras situações foi vetado pelo Congresso, com toda certeza defendendo a liberdade do indivíduo até para se danar. Democracia é isso, obrigações e direitos exercidos responsavelmente na busca da cidadania. No Brasil carecemos ainda de um órgão regulador, isento de dependências políticas e econômicas, e do reconhecimento dos direitos e deveres, principalmente direitos, do cidadão. E, se assim não for, continuaremos a ter a urina mais vitaminada do mundo. Isso para não falar dos animais ditos de estimação, inclusive os pássaros, sujeitos, sem direito a defesa, das agressões das gotas vitamínicas ditas miraculosas e apregoadas por virtudes que elas próprias não sabem que têm.

 

De acordo com a sua solubilidade as vitaminas são divididas em: 1- Hidrossolúveis, compreendendo todo o chamado complexo B e a vitamina C e 2- Lipossolúveis, compreendendo as vitaminas A, D, E e K.

 

1- Vitaminas hidrossolúveis:

11- Complexo B. Embora sejam catalogadas sob um mesmo complexo porque foram isoladas originariamente das mesmas fontes, notadamente do fígado e das leveduras, compreendem um grande número de compostos bastante diferentes nas ações biológicas e nas estruturas químicas. Basicamente os autores determinam 11 componentes do grupo: tiamina, riboflavina, ácido nicotínico, piridoxina, ácido pantotênico, biotina, ácido fólico, cianocobalamina, colina, inositol e ácido paraminobenzóico. O ácido paraminobenzóico, na realidade, não é uma vitamina para qualquer espécie de mamíferos e sim um fator de crescimento para organismos inferiores, como certas bactérias, atuando como precursor da síntese do ácido fólico. A carnitina, embora seja considerada uma estranha no ninho, faz parte do grupo, tanto por sua afinidade biossintética com a colina como pela publicação mais recente de trabalhos mostrando quadros clínicos determinados pela sua deficiência. Portanto, para alguns, sai o ácido paraminobenzóico e entra a carnitina, permanecendo o total de 11.

 

111- Tiamina. Foi a primeira do grupo a ser identificada. Lá pelo ano de 1911, Casimir Funk, bioquímico norte-americano nascido em 1886, acho que um dos mais injustiçados pela história da medicina, com toda a certeza encucado pelas observações do almirante japonês Takaki que, em 1880, notou que adição de peixe, carne, cevada e vegetais à dieta dos marinheiros da armada japonesa acabou com o beriberi (no cingalês beri quer dizer fraco, dada a fraqueza muscular ocasionada pelo polineurite. Os japoneses o designavam de kakke) entre eles, isolou de alimentos um fator anti-beriberi que chamou de vitamina B1. Pois é, amigos, erro histórico perfeitamente compreensível porque nem toda amina da vida é na realidade uma amina. Diz-se que o erro realmente partiu de outro pesquisador, Drummond, responsável pela divulgação do termo.

Em 1897, o holandês Eijkman, médico que trabalhava em Java, correlacionou o beriberi com o consumo de arroz polido e mostrou que a adição de extrato da casca do arroz à dieta curava o problema. O fator ativo, posteriormente chamado vitamina B1, foi isolado, em 1936, por Jansen e Donath e, dez anos depois, Williams determinou a sua fórmula. Não me pegaram, não: Funk isolou um fator, mas Jansen determinou qual era esse fator anti-beriberi

Nada mais é do que moléculas de pirimidina e tiazol ligadas por uma ponte metileno. É sintetizada por muitass plantas e microorganismos, como alguns da flora intestinal, mas não comumente pelos animais. A ação da tiamina no organismo é determinada pela forma de coenzima tiamina pirofosfatase (TPP), convertida da tiamina pela enzima tiamina difosfoquinase usando o adenosina trifosfato (ATP) como doador do pirofosfato. Alguns fatores inibem a ação da tiamina difosfoquinase, principalmente o neopiritiamina e o oxithiamine, levando à deficiência da tiamina.

A tiaminase, enzima capaz de desintegrar a tiamina, pode ser encontrada em peixes crus e algumas bactérias. Os ácidos cafeico, tânico e clorogênico, encontrados nas fruas muito pigmentadas, no blueberry, na beterraba, no café e no chá, também são antagonistas da tiamina, combinando-se com ela e impedindo a sua absorção. A tiamina também pode ser destruída pelos sulfitos usados como preservativos de alimentos.

No barato, a tiamina funciona como uma coenzima, isso é, uma enzima auxiliar ou ativadora de enzima, fermento que altera a velocidade de uma reação química mas não faz parte do produto final. Sabe aquele indivíduo que faz uma arte e se afasta com a maior cara de pau como se nada tivesse com o acontecido? Pois é, não passa de um enzimão… Interessante que a tiamina é destituída de ações farmacodinâmicas quando usada em doses terapêuticas e mesmo em grandes doses. A forma ativa da tiamina atua em diversas etapas do metabolismo dos carboidratos, principalmente na decarboxilação, partindo as ligações carbono-carbono dos alfa cetoácidos como o piruvato e o alfa cetoglutarato, além dos ceto análogos da valina, da isoleucina e da leucina; tem ação também na utilização da pentose no shunt do hexose monofosfato. Parece também ter ação sobre os neurônios, pois, a estimulação elétrica do nervo afeta a hidrólise e liberação do tri e do difosfato de tiamina.

Os primeiros sintomas da sua deficiência são a falta de apetite, náuseas, desconforto abdominal, depressão, sonolência, apatia, fadiga, diminuição da concentração mental que evoluem progressivamente para os quadros mais graves. As duas formas clássicas do beriberi são o beriberi seco, com as manifestações nervosas da neurite periférica, com distúrbios sensoriais (hiperestesia, anestesia, formigamentos, queimações), perda progressiva da força muscular, depressão, distúrbios da personalidade, falta de iniciativa, perda da memória que, nos graus extremos, caracteizam os síndromes da encefalopatia de Wernicke e da psicose de Korsakoff; e o beriberi úmido no qual predominam os sinais da insuficiência cardíaca com as inchações generalizadas. A rouquidão e a afonia, pela lesão do nervo laríngeo, são chamativas. A lesão do nervo óptico provoca ptose (queda) palpebral. Há grupos especiais mais sujeitos à falta da tiamina como os alcoólatras, nos quais, o consumo de tiamina é baixo pela pouca ingestão alimentar, pela queda da capacidade de absorção, pela a acelerada destruição do difosfato de tiamina e pela grande quantidade calórica fornecida pelo álcool. Como nem todo alcoólatra é atingido, acha-se que haja um fator genético de suscetibilidade; as crianças submetidas a dietas predominantemente de arroz e amamentadas ao seio por mães com baixo consumo da tiamina, com começo de falta de apetite, vômitos, fezes esverdeadas evoluindo com rapidez para os sinais neurológicos e cardíacos que podem levar à morte e as gestantes que, desnutridas, não conseguem suprir as necessidades aumentadas da vitamina e apresentam a clássica neurite gestacional.

Numa extrapolação bem lógica, todo cuidado devemos ter com as fêmeas durante todo o período de reprodução. As aves jovens e insetívoras, como o sabiá e o corrupião, são mais sensíveis à falta da tiamina, sendo os sinas principais a perda de apetite e de peso,dificuldade de portar o rabo elevado também pela fraqueza dos seus músculos, dificuldade para se locomoverem por paralisia da musculatura das pernas, pescoço e asas e penas arrepiadas.

A absorção intestinal da tiamina é dependente de transporte ativo do sódio; a difusão passiva somente acontece quando há alta concentração da tiamina no intestino. Como os tecidos degradam 1 mg de tiamina por dia, considera-se essa a dose mínima diária necessária no humano. As necessidades aumentam durante os períodos febris, no pós-operatório, na gravidez, na lactação, nas tireotoxicoses, nos quadros diarreicos e nos estresses. Há uma associação direta entre a falta de folato na dieta e a desnutrição com a queda na absorção da tiamina. Não adianta ficar fornecendo altíssimas doses de tiamina, como acontece com muitos alquimistas passarinheiros, porque a capacidade de absorção intestinal é limitada (5 mg/dia no humano); no máximo terão os passarinhos com as fezes mais vitaminadas do planeta. Os humanos têm estocados em torno de 25 mg, 80% como difosfato de tiamina, 10% como trifosfato de tiamina e o restante como monofosfato de tiamina. Os estudos mostraram grandes quantidades no coração, no fígado, no cérebro, nos rins e nos músculos esqueléticos. Nas dietas contendo doses de tiamina próximas de 1 mg/dia ela não é encontrada na urina; altas doses propiciam o aparecimento da tiamina ou do seu produto de degradação, a pirimidina, na urina. Portanto, conseguir esse mínimo não é tão difícil numa dieta que contenha leite, vegetais, cereais, frutas e ovos. Na realidade, a tiamina está distribuída por um grande número de alimentos, somente estando ausente nos óleos, gorduras e no açúcar refinado. Está presente em quantidade suficiente na casca dos cereais. Enquanto nos vegetais a vitamina é predominantemente encontrada na forma de tiamina, nos tecidos animais a forma mais encontrada é a de éster fosfatado.

A tiamina é destruída pelo calor em meio alcalino ou neutro e fica na água do cozimento quando feito a mais de 100ºC. Portanto, é esperado que seja destruída em processos industriais como a extrusão e deve ser acrescentada ao produto final. É inativada por enzima (tiaminase) existente em alguns peixes, no camarão, ostras, mexilhões e algumas carnes cruas de animais.

É encontrada na urina como tiamina e outros metabólitos acetilados, além de derivados do acetato de tiazol e do carboxilato de pirimidina. A tiamina, o piruvato, alfacetoglutarato, o glicoxilato e o lactato podem ser mensurados no sangue dando idéia se há falta da vitamina, o que, também pode ser detectado pela dosagem da tiamina e seus metabolitos na urina. Mas, a prova definitiva da carência da tiamina é a pesquisa da atividade da enzima transcetolase no sangue total ou nos eritrócitos. O diagnóstico pode ser feito pela resposta clínica, muitas vezes dramática, à administração da tiamina. Existem, como devem existir nos pássaros, erros congênitos do metabolismo que respondem ao tratamento com tiamina, como é o caso da anemia megaloblástica sensível à tiamina.

 

112- Riboflavina.

Lá por 1879, vários pesquisadores isolaram pigmentos amarelos e fluorescentes, denominados flavinas, de várias fontes: leite (lactoflavina), do tecido hepático (hepatoflavina) e do ovo (ovoflavina). Xeretando descobriram que todos eles tinham a mesma composição química. E o pessoal que continuava fissurado nos estudos das vitaminas, observou que havia um fator com labilidade ao calor e anti-beriberi, o fator B1, e outro fator, amarelo, com estabilidade ao calor e aos ácidos, mas destruído pelos álcalis e pela luz, que denominaram de vitamina B2. Durante a primeira grande guerra mundial (com minúsculas mesmo) isolaram, do levedo, uma enzima respiratória amarela e notaram que a porção amarela da enzima nada mais era do que a vitamina B2. Como havia o carboidrato na fórmula, a vitamina foi chamada riboflavina. Sua ação orgânica se dá como duas coenzimas: o fosfato de riboflavina, o popular mononucleotídeo de flavina (FMN) e o adenina nucleotídeo de flavina (FAD), as quais, participam de muitas reações de oxi-redução. As flavinas, ligadas por covalência, são essenciais para a estrutura de enzimas como a monoamino oxidade (a famosa MAO) e a desidrogenase succinato.

A MAO é uma das três catecolaminas secretadas pela medula da glândula adrenal, a partir do aminoácido tirosina, com atividade de neurotransmissores; os neurotransmissores estão na gênese de importanetes patologias cardiovasculares, de patologias do movimento, como o mal de Parkinson e da esquizofrenia.

As duas, FMN e FAD, têm papel vital no metabolismo orgânico atuando como coenzimas para uma grande variedade de flavoproteínas respiratórias, inclusive algumas contendo metais.

A riboflavina é essencial para o crescimento e a respiração dos tecidos, além de ter importância na adaptação à luz e na conversão da piridoxina em fosfato de piridoxal. Os primeiros sinais da falta de riboflavina sãos as ulcerações na mucosa da garganta e a estomatite das comissuras labiais, prosseguindo com a vermelhidão e descamação da língua (glossite) que fica lisa por perda das papilas, secura, vermelhidão e descamação esbranquiçada dos lábios com maceração do epitélio e fissuras (queilose ou perlèche), dermatite seborreica (escamas gordurosas associadas a áreas de vermelhidão, algumas vezes com fissuras e umidade) facial, dermatites das extremidades e do tronco, seguindo-se a neuropatia e a anemia por queda dos reticulocitos ou por distúrbio no metabolismo do ácido fólico; em alguns casos há conjuntivite, fotofobia (aversão à luz), a córnea inflama-se (ceratite), vascularização da córnea e catarata (opacificação do cristalino). Nos pássaros também podem ser encontrados o atraso no crescimento dos filhotes recém-nascidos, embriões muito pesados e inchados, aumento da mortalidade no meio do período de incubação e a paralisia dos dedos curvados. Os sinais clínicos da falta da riboflavina, principalmente os dermatológicos, confundem-se com os encontrados nas deficiências de outras vitaminas, o que, torna o diagnóstico específico mais difícil e amplia a necessidade do esquema de tratamento. As necessidades diárias de uma pessoa adulta gira entre 1.2 a 1.6 mg. A deficiência da riboflavina se dá geralmente pela ingestão deficiente, embora possa ser encontrada, mesmo com ingestão suficiente, nos portadores de hepatites, de atresia das vias biliares, nos hemodialisados ou sob diálise peritonial, nas pessoas em uso de certos medicamentos como a fenotiazina, o probenecid e o anticoncepcionais orais, além daqueles bebês submetidos à fototerapia. A deficiência também pode ser o resultado da administração de antagonistas da riboflavina, como a galactoflavina.

A riboflavina é encontrada em grande quantidade no leite, nos queijos, nos miúdos, nos ovos, no fígado e nos rins, no levedo de cerveja, nos vegetais de folhas verdes e nos grãos integrais. O leite de vaca contém mais de 5 vezes a vitamina B2 do que o leite humano. A riboflavina encontrada nos vegetais, pelos complexos que forma, tem menor digestibilidade do que a encontrada nos produtos de origem animal. As sementes usadas na nutrição dos pássaros geralmente têm a riboflavina, principalmente se germinadas.

A absorção se dá nas porções intestinais mais altas por processo que envolve a fosforilização da vitamina em FMN, sob a ação da flavoquinase, reação que é sensível ao hormônio da tireóide (o hormônio da tireóide e os esteróis adrenais aumentam a síntese da FAD e do FMN) e inibida por medicamentos como os antidepressivos tricíclicos, a clorpromazina e pela quinacrina usada como antimalárico. Muito pouca riboflavina é estocada nos tecidos, principalmente no coração, no fígado e rins, o que, exige o consumo diário. Um dado interessante: o ovo, diferentemente de outros tecidos, contém riboflavina predominantemente na forma livre e as aves, durante o período de postura, possuem proteínas específicas, produzidas no fígado sob o efeito do estrogênios, e capazes de ligação com a riboflavina no plasma, acreditando-se que sejam as responsáveis pela passagem da riboflavina livre para o ovo.

É excretada pela urina. Nos humanos, a excreção urinária abaixo de 30 microgramas de roboflavina/24 horas pode ser sinal de deficiência. A dosagem da enzima redutase glutionina eritrocitária, uma flavoproteína, pode refletir o estoque de riboflavina. A riboflavina encontrada nas fezes provavelmente seja sintetizada pela flora bacteriana intestinal do cólon. É bom saber que ainda não existem provas conclusivas de que a riboflavina sintetizada no cólon por ação bacteriana seja absorvida.

 

113- Ácido nicotínico (niacina).

Do italiano pelle agra, pele áspera, veio o termo pelagra para designar uma patologia caracterizada por dermatose que acometia povos assumidamente grandes consumidores de milho, como os italianos e os norte-americanos. Mais uma vez foi Funk que ligou o problema a uma deficiência alimentar que poderia ser evitado com o consumo de leite, ovos e carne. Goldberger, outro grande estudioso das vitaminas conseguiu, usando dietas deficientes, provocar a chamada língua negra em cães, somente pecando por achar que a deficiência seria de aminoácidos. Mais tarde foi sabido que a pelagra poderia ser prevenida com o uso de preparações de vitamina B solúvel na água contendo um fator resistente ao calor. Lá por 1935 foi que Warburg isolou a amida do ácido nicotínico (nicotinamida) de coenzimas das hemácias do cavalo. Dois anos após, Elvehjem mostrou que a nicotinamida contida no fígado era eficaz no tratamento da pelagra e da língua negra. Goldberger, com grande perspicácia, mostrou que o triptofano podia curar a pelagra humana por ser convertido pelo organismo em ácido nicotínico. A pá de cal no assunto foi colocada por Goldshmidt, já em 1958, quando provocou pelagra experimentalmente em humanos alimentados com dieta pobre em ácido nicotínico e triptofano. Como pode ser sintetizada a partir do aminoácido essencial triptofano (cada 60 mg de triptofano fornecido pela dieta dá origem a 1 mg de niacina), alguns autores não consideram a niacina uma verdadeira vitamina. A pelagra já foi endêmica na América do Sul e outras partes do mundo, o que, era determinado pelo alto consumo do milho. Mas, nem tudo está bem explicado porque há povos que consomem muito milho como principal fonte proteica e não têm pelagra. E, embora o milho tenha pouca niacina, há outros cereais com conteúdo semelhante que não são associados à pelagra. A doença seria mais por um balanceamento inadequado de aminoácidos na dieta ou um problema de complexidade muito maior? Mistério, diria o nosso pároco numa introspectiva homilia. A moagem do milho prejudica a bioavaliabilidade da niacina. Pergunto, e os canários-da-terra mantidos com dieta predominante de fubá? Respondo: como esses criadores usam dar ovo, verduras e misturas de semente, a deficiência vitamínica não aparece ou o faz de maneira não muito florida. Os bandos soltos que tenho visto no sul de Minas Gerais, são mantidos perto das residências com fubá grosso colocado em garrafas plásticas, presas de cabeça para baixo sobre um prato; alguns furos na garrafa permite a saída progressiva do fubá num autêntico comedouro automático caipira. Algumas pessoas, cujas casas somente servem para finais de semana ou de mês, colocam vários comedouros para manter os pássaros alimentados durante as ausências. Observando, vi que os canários somente se alimentam nos comedouros de manhãzinha e ao entardecer, mantendo o seu ciclo alimentar natural. No restante do dia, passam voando de lá para cá na cata de outros alimentos nas árvores (vi vários se deliciando nas laranjeiras), nas hortas e pastando pelo chão, o que, torna a alimentação variada e evita as deficiências vitamínicas.

O ácido nicotínico somente exerce as suas funções orgânicas ao ser convertido em nicotinamida adenina dinucleotídeo (NAD) ou nicotinamida adenina dinucleotídeo fosfato (NADP), que servem como coenzima para uma série de proteínas que catalizam uma série de reações de oxi-redução essenciais para a respiração dos tecidos. O termo niacina engloba o ácido nicotínico, a NAD e a NADP.

Os sinais de intoxicação pelo ácido nicotínico (ácido piridino 3 carboxílico) são o prurido (coceira), o rubor da pele, intoxicação hepática (pelo amor de Deus não venham me falar dos tais hepatoprotetores), ativação de úlcera péptica e alterações gastrintestinais.

O sinais da dermatose simétrica provocada pela pelagra lembram os da queimadura solar e surgem no dorso da mão (pode evoluir como lesão em luva, a luva pelagrosa), testa, pescoço (colar de Casal)e pés, muitas vezes como uma bota (bota pelagrosa); como vê-se, aparece nas regiões expostas aos raios solares e parece ser devida a fotossensibilização (para outros autores, os raios solares seriam apenas fatores irritantes que piorariam a dermatose) e termina em descamação e formação de cicatrizes (algumas vezes predominam as bolhas e as vesículas, o tipo úmido). Apresenta a pelagra também sinais digestivos, como estomatite, glossite (primeiramente aparecem as lesões vermelhas e inchadas na ponta e nas margens laterais, evoluindo para atingir toda a língua. Podem haver ulcerações), muitas vezes associadas a vaginite, enterite e diarréia, náuseas e vômitos, e sinais neurológicos como insônia, depressão, fadiga, apatia, perda da memória, desorientação, halucinações, demência, além de distúrbios sensoriais e motores dos nervos periféricos (acha-se que a polineurite periférica seja devida à ausência de outras vitaminas). É a síndrome dos três D (diarréia, demência, dermatite). Medicina tem desses macetes mnemônicos para se guardar as coisas; são clássicos os Ps do diabetes mellitus (polidipsia, perda de peso, poliúria, prurido…). Os sinais mentais talvez surjam pela queda na conversão do triptofano em serotonina, o chamado hormônio do prazer. Nos pássaros a deficiência da niacina provoca inflamações a língua, no papo e no esôfago, empenamento inadequado com penas quebradiças e diarréia. Agora, pássaro demente ainda não vi.

As fontes principais do ácido nicotínico são as carnes de gado, a carne magra de porco, o fígado, o frango, o peixe (o salmão é muito rico), os grãos integrais, os cereais enriquecidos, os legumes e as nozes. O triptofano, aminoácido essencial (vejam o capítulo das proteínas), é fornecido principalmente pelas proteínas animais. O leite e o ovo contêm pouca niacina, mas são ricos em triptofano, o que, lhes confere papel importante na profilaxia da pelagra. Nunca é demais lembrar que as proteínas do leite e do ovo são as únicas da dieta comum que são completas, isso é, possuem todos os aminoácidos essenciais. Parte da niacina contida em alguns alimentos, como certos cereais, está na forma conjugada e não pode ser disponibilizada do ponto de vista nutricional. Por ser estável, os níveis de niacina pouco são afetados pelo cozimento ou a fervura dos alimentos.

Tanto o ácido nicotínico como a nicotinamida são absorvidos por todo o trato intestinal, por vias passiva e ativa, numa média entre 3 a 4g/dia num adulto humano, e distribuem-se por todos os tecidos. Um quinto é transformado em ácido nicotinúrico e o restante é eliminado na urina principalmente como carboxamida metil piridona e metilnicotinamida.

As necessidades humanas diárias variam de 5 mg/dia na infância até 20 mg/dia nas mulheres em lactação. Ao contrário de outras vitaminas, as necessidades parecem não aumentar durante a gravidez. As necessidades aumentam em quadros em que o triptofano é altamente catabolizado, como a síndrome carcinóide, ou pobremente absorvido como na doença de Hartnup (herdada, autossômica recessiva, com deficiência do transporte de aminoácidos e que, entre os sinais clínicos, apresenta dermatose semelhante à pelagra). Lembrar que altas doses de niacina (10 vezes maior do que as doses recomendadas nos pássaros) podem provocar flushing, sensação de calor e de queimação e, nos casos mais graves, evoluir para hepatoxiidade, colestase (retenção biliar) e icterícia (amarelão da pele e mucosas determinado pela bilirrubina).

Um dado terapêutico interessante: embora a pelagra responda bem ao ácido nicotínico ou seus congêneres, a neurite periférica não responde a eles e sim à tiamina. Alguns autores aconselham acrescentar a riboflavina e a piridoxina nos casos de pelagra mais resistente. A evolução da pelagra é longa e progressiva, às vezes durante anos, e a morte acontece normalmente por complicações secundárias. Volto a lembrar que a deficiência geralmente não se restringe a uma só vitamina do complexo B, o que, determina que um grupo delas deve sempre entrar no raciocínio de quem traça um esquema profilático e terapêutico.

 

114- Piridoxina.

No primeiro quarto dos anos 1900, notaram o aparecimento de dermatite em ratos alimentados com dieta deficiente em vitamina B2. Sempre os ratos dando a vida pela humanidade e sendo execrados por ela. Alguns anos depois P. György descobriu que a dermatite era determinada por um fator hidrossolúvel isolado da preparação da vitamina B2 ao qual deu o nome de vitamina B6. Na realidade a vitamina B6 é representada por três substâncias com estruturas diferentes: a piridoxina, um álcool primário, o seu correspondente aldeído, o piridoxal e a piridoxamina, do grupo aminoetil. No organismo dos animais, pare serem aproveitados, todos os tês devem ser convertidos, no fígado, à forma ativa da vitamina, o fosfato de piridoxal.

A deoxipiridoxina é um inibidor competitivo de várias enzimas dependentes do fosfato de piridoxal e pode ocasionar a sua deficiência. A isoniazida, medicamento usado no tratamento da tuberculose, inibe a formação da forma de coenzima da vitamina e também tem efeito anti-vitamina B6. A gravidez e outros medicamentos como a penicilamina, a cicloserina, os anticoncepcionais hormonais e a hidralazida também aumentam as necessidades da B6. Apesar de ter baixa toxicidade aguda, a vitamina B6 usada por tempo prolongado, mesmo em doses não muito altas, pode provocar neurotoxicidade e sinais de dependência.

Dietas ricas em proteínas devem ser enriquecidas com vitamina B6. Então, amigos passarinheiros, muito cuidado com farinhadas muito ricas em nutrientes proteicos.

Antes que me esqueça: não é raro vermos passarinheiros usando nas suas pobres aves produtos vitamínicos apresentados para humanos. Geralmente a crença geral é que as vitaminas “se não fizerem bem, mal também não farão”. Vejam que até as aparentemente inofensivas vitaminas do complexo B podem ter alta toxicidade. Imaginem vitaminas de depósito como a A e a D… E como dosar para pássaros substâncias cujas doses diárias são variáveis, num produto formulado para animais com peso médio de 70 kg, portanto, 3500 vezes maior do que o peso médio de um canário-da-terra adulto? Verdadeiro medicamentocídio, ou seria terapeutocídio? A sorte de muitos bichinhos é que, espertamente, somente dão algumas bitocadas na água esverdeada ou amarelada de cheiro intenso. E os efeitos apregoados, verdadeiros milagres do século 21 conseguidos em poucos dias, quando não algumas horas?

Vamos em frente que atrás vem gente. Como outras vitaminas do complexo B, a atuação da B6 é como coenzima numa grande série de reações metabólicas, como transformações de aminoácidos, sendo muito importante no metabolismo do triptofano. O fosfato de piridoxal atua como co-fator, no caso uma coenzima essencial para a ação de enzimas envolvidas no metabolismo dos aminoácidos, como as transaminases, as sintetazes e as hidroxilases; a vitamina tem importância especial no metabolismo da glicina, da serina, do triptofano, do glutamato e dos aminoácidos sulfurados (contendo enxofre na fórmula). Atua na descarboxilação do 5-hidroxitiptofano, portanto, na síntese do neurotransmissor serotonina que entre outras ações, está associada com a atenção, com a energia e com a motivação. Não poderia deixar de citar o outro neurotransmissor, a noradrenalidana, que influencia a impulsividade, a libido e o apetite. Olha aí, amigo Taddei, libido e comportamentos impulsivos, energia e motivação interligados. Poderíamos falar em canários-da-terra serotonínicos e/ou noradrenalínicos numa abstração chutométrica? Não à-toa, sabendo-se que nas depressões os níveis de serotonina estão diminuídos, assim como o de outro neurotransmissor, a noradrenalina, os medicamentos usados para a correção são popularmente conhecidos como “pílulas da felicidade”. Será? A vitamina B6 ainda atua no metabolismo dos ácidos graxos e do glicogênio. O fosfato de piridoxal é coenzima para duas enzimas importantes para o metabolismo cerebral, a transaminase ácida gama-aminobutírica e a adecarboxilase glutâmica. O fosfato de piridoxal também atua como quelato de metais, participa da síntese do ácido aracdônico (a partir do ácido linoleico) que, entre outras ações, atua decisivamente nos processos inflamatórios e participa no transporte ativo de aminoácidos através das membranas celulares. O fosfato de piridoxal é essencial para a síntese do ácido gama-aminolevulínico, precursor do heme (o heme é uma porfirina que contém ferro e que, unido à globina, forma a hemoglobina; o heme também faz parte de vários pigmentos respiratórios de muita células, tanto vegetais como animais); embora ainda seja nebuloso, o fosfato de piridoxal parece ter parte na excitabilidade dos neurônios, possivelmente por sua ação no metabolismo do ácido gama-aminobutírico (GABA).

Os sinais da deficiência são: A- Pele: lesões seborreicas acima dos olhos, boca e nariz, inflamação da língua (glossite) e estomatite; b- Sistema nervoso: convulsão (como aquelas em bebês desde o nascimento até os seis meses por dependência da B6, geralmente pelas mães terem ingeridos grandes quantidades da vitamina durante a gestação), neurite periférica, irritabilidade e c- Sangue: anemia microcítica (com hemácias pequenas). Há outros sinais atribuídos à falta da vitamina B6, como os cálculos urinários de oxalatos, a hiperglicemia e a diminuição da síntese de anticorpos.

Há uma séie de doenças genéticas devidas a anormalidades no metabolismo da vitamina B6; algumas crianças desenvolvem convulsões e apresentam danos cerebrais pela incapacidade genética de sintetizar quantidades suficientes de GABA, inibidor fisiológico da neurotransmissão, e, outras, apresentam anemia por mutação numa sintetase especial. Os pássaros também podem apresentar retardo do crescimento e perda rápida de peso.

Os homens adultos necessitam 2 mg de piridoxina por dia e as mulheres 1.6 mg. As crianças necessitam de 0.5 a 1.5 mg/dia. Há aumento das necessidades durante a gravidez e naquelas pessoas em uso de hormônios estrogênicos, os quais, parecem inibir a ação da vitamina no metabolismo do triptofano. Dietas ricas em proteínas e os hemodialisados crônicos exigem maiores quantidades de piridoxal. O acetoaldeído, metabolito do etanol, libera o fosfato de piridoxal das proteínas aumentando a sua degradação.

As principais fontes da B6 são as carnes, o fígado, a soja, os vegetais e os grãos integrais.

A piridoxina, o piridoxal e a piridoxamina são prontamente absorvidos após a hidrólise do seus derivados fosforilados. Uma grande parte do estoque corporal está na enzima fosforilase muscular, onde exerce mais ação de estabilizador da enzima do que qualquer papel catalítico (modificação na velocidade de uma reação química). Mais da metade da vitamina B6 circulante está sob a forma de piridoxal.

 

115- Ácido pantotênico.

Corria o ano de 1933 quando Williams conseguiu identificar uma substância importante para o crescimento das leveduras. Como essa substância existia em muitos alimentos e tinha características ácidas, recebeu, em 1939, o nome de ácido pantotênico (pan ou panto é um prefixo grego que significa tudo ou todos. Assim, Panacea, filha de Asclepios, era a deusa que curava todos os males. Dizem as más línguas que, inclusive, os dos amores. E panaca é o indivíduo idiota, em todos os sentidos, no linguajar adolescente. Tipo assim, sabem tudo esses adolescentes); também era conhecido como fator anti-dermatite dos pintos devido as lesões da pele, com sinais neurológicos e acometimento das fibras dos nervos espinhais, que aparecia nesses filhotes da galinha quando a dieta era pobre nessa substância e que era curada com o uso de extratos hepáticos. Uma pelagra dos pintos, mas não curada pelo ácido nicotínico. Mas, somente mais de dez anos após caiu a ficha quando Lippmann mostrou que a acetilação da sulfanilamida necessitava de um co-fator que continha o ácido pantotênico. Alguns trabalhos mostraram que, ratos recebendo dieta deficiente de ácido pantotênico, apresentavam pelagem branca; a ligação veio rápida, mas não foi provado que o encanecimento humano tenha alguma coisa a ver com o ácido pantotênico e, os mais vaidosos ou vaidosas, devem continuar com as suas tinturas capilares ou aceitar o peso da idade. O pantotenato vem da união do ácido pantóico com a beta alanina; é transformado no organismo em 4-fosfopanteteina pela fosforização e união com acisteamina, a qual, faz parte tanto da fórmula da coenzima A como das proteínas acil transportadoras que são as formas funcionais da vitamina.

A coenzima A atua como co-fator para muitas reações catalizadas por enzimas envolvendo as transferências de grupos acetil (dois carbonos), importantes no metabolismo oxidativo dos carboidratos, na gliconeogênese, na degradação dos ácidos graxos e na síntese da porfirinas, dos esteróides e dos hormônios esteróides, como os hormônios sexuais. A coenzima A também atua em modificações das proteínas que atuam tanto na sua estabilidade como nas suas atividades. Como componente das proteínas acil transportadoras, o pantotenato tem ação mais limitada na síntese de ácidos graxos.

Os sinais clínicos da deficiência do ácido pantotênico são devidos ao acometimeno do sistema nervoso e muscular e da cortical da glândula supra-renal: dor de cabeça, distúrbios do sono, cólicas abdominais, fadiga, flatulência, náuseas, vômitos, cãibras musculares, incoordenação motora e parestesias (sensações diferentes como formigamento, picadas ou queimaduras).

Nas aves são descritas lesões palpebrais, no bico e nos pés.

Embora não seja preciso, admite-se que os humanos adultos necessitem 4 a 7 mg de ácido pantotênico por dia.

O ácido pantotênico tem como fontes principais a carne muscular, os miúdos e a gema do ovo. Ele é destruído rapidamente pelo calor e pelos álcalis. É absorvido rapidamente pelo intestino e encontra-se nos tecidos em concentrações variando de 2 até 45 microgramas/g. Mais de 70% da vitamina absorvida é eliminada pelos rins. Embora não haja usos definidos para o ácido pantotênico isoladamente, ele é incluído nos complexos vitamínicos e nos produtos para alimentação enteral e parenteral.

 

116- Biotina.

Entre 1915 e 1916 constatou-se que ratos alimentados tendo como fonte única de proteínas a clara crua de ovo apresentavam perda de pêlo, dermatite grave e sinais de acometimento neuromuscular. Estes sinais não se apresentavam quando se cozinhava a clara ou se acrescentava levedura, fígado ou seu extrato à dieta. Notem que há, nos primeiros trabalhos de pesquisa sobre as vitaminas do complexo B, uma certa uniformidade: sinais dermatológicos, atingindo a pele e seus anexos, e neurológicos que desapareciam com correção alimentar, como a adição de fígado e leveduras às dietas. Vinte anos depois, foi isolado da gema do ovo um fator cristalino essencial para o crescimento do levedo (fungo com propriedades de fermentação usado na fabricação de bebidas não fermentadas -vai uma tenébria aí, xará Zeca- e de produtos de padaria); esse fator foi chamado de biotina. Já por volta de 1940, György, sempre ele, provou que a biotina era o mesmo fator que protegia contra a toxicidade da clara comida crua e, em 1942, ela foi sintetizada por Vigneaud. Paralelamente outros trabalhos mostraram que o antagonista da biotina, encontrado na clara do ovo, era uma glicoproteína, denominada avidina, que se liga fortemente à biotina impedindo a sua absorção. Além da biotina livre, há mais duas formas ativas, o sulfóxido de biotina e a biocitina, as quais, promovem o crescimento de microorganismos, mas há dúvidas sobre as suas validades como substitutos da biotina nos humanos.

A biotina age, como co-fator, na carboxilação (a carboxila, -COOH, é o grupamento funcional dos ácidos carboxílicos) enzimática de quatro substratos: a propionil coenzima A, a betametilcrotonil coenzima A, o piruvato e a acetil coenzima A (a famosa CoA); em outras palavras, a biotina atua como co-fator em todas as carboxilases existentes no organismo: a piruvato carboxilase, a propionl CoA carboxilase, a 3-metilcrotonil CoA e a acetil CoA carboxilase. A metilcrotonil CoA carboxilase e a propionil CoA carboxilase fazem parte do ciclo metabólico da valina, da leucina e da isoleucina.

A biotina da dieta está ligada a proteínas sob a forma de carboxilases; no intestino, por ação da hidrólise proporcionada pela biotinase pancreática, a biotina é liberada e absorvida, talvez por processo de transporte ativo.

A biotina livre forma peptídeos ligando-se a apoproteína das carboxilases citadas para torná-las ativas; esta ligação é catalisada pela enzima holocarboxilase sintetase, enzima cuja falta (assim como a da biotinase) leva ao mau funcionamento das carboxilases e quadros de acidemias orgânicas. Há uma série de enfermidades ocasionadas por erros congênitos na geração deficiente dessa gama de enzimas e nem penso em entrar nesse intrincado e difícil assunto para não ser, eu que também sou JC, crucificado por vocês. Amigos passarinheiros, num grande mamífero, com metabolismo mais baixo, as acidificações constituem problemas graves, imaginem num pequeno pássaro pesando uns 20 a 30 g e cujo metabolismo é altíssimo.

Portanto, a biotina tem importância fundamental em algumas fases do metabolismo das gorduras e dos carboidratos. Embora não haja nada conclusivo, admite-se que, para haver deficiência da biotina, sejam necessários a eliminação das bactérias intestinais responsáveis pela sua síntese, a ingestão predominante da clara de ovo ou a administração de antimetabólitos da biotina; alimentação parenteral sem biotina, os quadros desnutricionais proteico/calóricos graves (seria o caso do peito seco?) e as deficiências genéticas múltiplas das carboxilases são outras causas da manifestação clínica da deficiência da biotina. Raramente os sinais de deficiência da biotina aparecem em bebês cujas mães têm deficiência da mesma.

A deficiência se manifesta por anemia, geralmente leve, glossite atrófica (atrofia das papilas linguais, formações onde terminam filetes dos nervos gustativos. Nos grandes carnívoros, a língua apresenta grandes papilas responsáveis pela retirada de partículas da carne dos ossos), alopécia (ausência de pêlos ou cabelos), dermatite (importante na região perioral), dores musculares, prostração, falta de apetite, conjuntivite, ataxia (ausência de coordenação dos movimentos voluntários), as clássicas hiperestesias (sensibilidade excessiva a vários estímulos), halucinações e, algumas vezes, alterações no eletrocardiograma; portanto, sinais comuns às deficiências de vários componentes do complexo B. Acometendo crianças ou filhotes, pode atrasar o desenvolvimento. Para alguns autores, o quadro clínico da deficiência da biotina pode ser confundido com o quadro clínico determinado pela deficiência de ácidos graxos essenciais. Pode haver queda do estado imunitário, predispondo o organismo a outras doenças. Vejam como os quadros clínicos se confundem, nem sempre são floridos como os expostos nos livros ou revistas. Nos pássaros também descrevem-se dermatite nos pés e bico, deformações ósseas, bicos tortos, problemas na muda, cistos das penas, etc. Medicina, seja humana ou veterinária, é como o amor, nem sempre e nem jamais, cheia de meandros e armadilhas, onde o que parece ser nem sempre é. Assim, fico arrepiado quando algumas pessoas simplificam tudo, apontam resultados sem qualquer comprovação estatística, colocam-se à frente de milagres que até os santos desconfiam, sugerem ações de medicamentos que até o fabricante desconhece e, o pior, causam males a humanos e animais, inclusive às indefesas aves, com as suas indicações dignas de um “besteirol” sem limites.

O CDA estima entre 100 a 200 microgramas as necessidades diárias dos adultos, quantidades que podem ser retiradas facilmente de uma dieta rica em gema de ovo, leite, miúdos, peixes e nozes.

Embora seja estável à cocção, a biotina é sensível aos alcalinos. A eliminação urinária de grandes quantidades de ácidos orgânicos, principalmente do ácido propiônico e dos ácidos hidroxílicos de cadeia curta, pode sugerir a deficiência de biotina.

Não há casos de toxicidade provocados pela biotina em humanos, mesmo quando usada em altas doses e por vários meses.

 

117- Colina.

Na realidade a colina não preenche os critérios estabelecidos para as vitaminas, mas historicamente situa-se no grupo do complexo B. No início dos anos 30 Best observou que, retirando o pâncreas de cães, eles apresentavam fígado gorduroso (esteatose hepática). Esse Frederick G. Banting, um cirurgião canadense muito jovem na época, juntamente com um jovem estudante de medicina, Charles H. Best, provocaram uma das maiores revoluções da medicina em todos os tempos ao publicarem, no Canadian Medicine Association Journal, o trabalho Pancreactic extracts in the treatment of diabetes mellitus lançando luzes sobre a existência da insulina. Como é comum na história, três outros pesquisadores e autores do trabalho, J. B. Collip, W.R. Campbell e A. A. Fletcher caíram no esquecimento. E Collip, amigos, era um das maiores autoridades mundiais na extração da adrenalina. A história da descoberta da insulina gerou vários quiproquós (neologismo que quer dizer confusão). Os suecos entornaram o caldo quando concederam o Nobel de Medicina e Fisiologia a Banting e Macleod, professor da faculdade de medicina de Toronto e envolvido nos trabalhos; o clamor foi geral e Banting e Macleod decidiram dividir os louros (não sei se o dinheiro também) com Best e Collip.

A colina tem uma série de ações orgânicas: a- Ação lipotrópica, remoção ou mobilização das gorduras do fígado, a qual, é dividida com outros lipotrópicos como o inositol, a vitamina B12, o ácido fólico e a metionina. Um dos mecanismos dessa ação seria a intensificação da formação da parte lipídica dos lipoproteínas, o que, facilitaria o transporte dos gorduras do fígado. Podem tirar o cavalo da chuva porque não foi provada a ação da colina, ou de outros lipotrópicos, no tratamento dos fígados gordos ou cirróticos. Portanto, ficar dando aos pobres pássaros carradas desses produtos com finalidades “desintoxicantes” é jogar dinheiro fora e agredir as pobres aves sem necessidade; b- Doação de radicais metílicos, para a síntese de outos compostos, como acontece com a metilação da homocisteína para origina a metionina; c- Constituinte dos fosfolipídeos, como alguns encontrados nas mitocôndrias, a esfingomielina, importantíssima para o cérebro e a lecitina, a raínha dos fosfolipídeos. Assim, a colina é essencial para a estrutura das membranas celulares e importante para a constituição das lipoproteínas plasmáticas que tanto azucrinam a humanidade; d- Formação do importantíssimo neurotransmissor acetilcolina, sintetizado a partir da colina e da acetil coenzima A (acetil CoA). Falar da acetil colina exigiria muitas páginas e fugiria da intenção do boletim. Outra varada n’água: foi frustrante o uso de altas doses de colina em doenças em que havia queda da produção da acetilcolina, como a coréia de Huntington e a doença de Alzheimer, mostrando que o buraco é mais embaixo infelizmente e e- Síntese do fator ativador das plaquetas (PAF), o 1-O-alquil-2-acetil-sn-glicero-3-fosfocolina, um verdadeiro fosfolipídeo sintetizado pelas plaquetas, neutrófilos mast cells, eosinófilos, monócitos, pelas células da medula renal, pelo endotélio vascular e pelas células renais mesangiais. O PAF é um autacóide (diferentemente dos hormônios e neurotransmissores, têm curto tempo de vida e atuam proximamente dos locais onde são sintetizados. São também autacóides a histamina, a bradicinina, as prostaglandinas) com variadas ações no organismo, desde o envolvimento na ovulação, implantação do ovo e na parturição, passando pela ação nos sistema cardiovascular até ações importantes nos processos alérgicos e inflamatórios. Vários sinais são imputados à deficiência da colina: incoordenação motora, cirrose, acúmulo de gordura no fígado, carcinoma hepatocelular, lesões renais hemorrágicas, mas nenhum foi identificado nos humanos. As necessidades orgânicas de colina são providas pela alimentação e pelas vias metabólicas; a sua biossíntese requer uma série de reação que exigem a presença da metionina e também de co-fatores, como a vitamina B12 e o ácido fólico. A colina pode ser encontrada principalmente no fígado, nozes, gema de ovo, geralmente na forma de lecitina. É absorvida da dieta como colina mesmo ou como lecitina. A lecitina é transformada pelas células da mucosa intestinal em glicerolfosforil de colina, o qual, chegando ao fígado libera colina ou chega aos tecidos pela via linfática. Quando se usa grandes quantidades de colina, ela não é absorvida totalmente e a sobra é transformada pela flora intestinal em trimetilamina, a qual, dá às fezes odor horrível de peixe podre.

 

117- Inositol.

Já conhecido há mais de século, foi somente a partir do meado dos anos 40 que o inositol foi reconhecido como agente lipotrópico nos nossos detestados amiguinhos ratos, os terrores de alguns criadouros de pássaros. Vejam que nem tudo à terra e nem tudo ao céu. Logo descobriu-se que o uso de inositol era capaz de curar algumas alopécias (ausência de cabelos ou pêlos) de camundongos e ratos.

O inositol é quimicamente o hexahidroxiciclohexano, um isômero (molécula que contém os mesmos átomos e o mesmo número deles do que outra, mas com estrutura diferente dela) da glicose. Embora existam sete formas opticamente inativas (moléculas cujo posicionamento estereoisomérico não interfere com os raios luminosos) e duas formas opticamente ativas, somente a forma inativa mio-inositol tem valor nutricional.

As suas ações lembram muito as da colina, sendo encontrado nas membranas celulares e nas lipoproteínas do plasma sob a forma de fosfatidilinositol; há outra forma do inositol que age como segundo mensageiro (vou dar um exemplo aleatório para simplificar: um hormônio chega a uma célula determinada geneticamente para produzir uma substância X. O hormônio fixa-se à parede celular por um receptor apropriado. A mensagem hormonal é transferida para um segundo mensageiro, já situado no interior celular, que a levará ao corpúsculo celular responsável pela síntese da substância X. Determinismo genético puro, caros amigos) estimulando a liberação do cálcio dos estoques intracelulares. Como trifosfato de inositol (o famoso IP3), tem ação essencial no metabolismo das plaquetas.

Até hoje, nos humano, não foi demonstrada cabalmente a necessidade diária do inositol; presume-se que essa necessidade possa perfeitamente ser preenchida pela dieta adequada, pela produção pelas bactérias da flora intestinal e pela síntese ocorrida em vários órgãos. As principais fontes do inositol são as hortaliças e as frutas, embora possa ser encontrado em níveis satisfatórios nos grãos integrais de cereais como ácido fítico, forma que pode ser absorvida em parte após sofrer hidrólise, e até em produtos animais. É absorvido rapidamente pelo trato gastrintestinal e metabolizado até glicose. O inositol pode ser encontrado no plasma e em concentrações altas nos músculos esqueléticos, no músculo cardíaco e no cérebro. Encontrado em pequenas quantidades na urina, aumentando muito nos diabéticos animais e humanos. Como a colina, o seu efeito como mobilizador de gorduras não foi comprovado na prática clínica. Como os nervos periféricos dos diabéticos é pobre em mio-inositol, surgiu a hipótese, infelizmente não comprovada, de que a sua administração poderia ter efeito benéfico na temível neuropatia diabética.

 

118- Carnitina.

A carnitina (sal de amônio quaternário, sendo que a forma levógira é a única capaz de ser sintetizada pelos tecidos e de ter alguma atividade biológica) é uma dessas substâncias que, de vez em quando, cai no gosto do povo, inclusive dos passarinheiros, sendo incriminada muitas vezes por milagres que realmente não faz. Foi descoberta, lá pelo início do século XX, como um constituinte nitrogenado dos músculos. Nos anos 50( lembram-se da final da Copa do Mundo no Maraca contra os uruguaios do Obdúlio? Nem é bom lembrar) trabalhos mostraram que atuava como fator de crescimento para as larvas do Tenebrio molitor e foi chamada vitamina T. Como o mundo é pequeno, né? Na realidade a carnitina não é tradicional participante do grupo do complexo B; somente é estudada no grupo pela estreita relação com a colina e pela descrição de estados clínicos determinados pela sua deficiência. Uns dez anos depois foi descoberta a grande função da carnitina: transporte de ácidos graxos de cadeia longa para o interior das mitocôndrias e importante papel na oxidação dos ácidos graxos.

Age também estimulando a oxidação do cetoácido resultante de aminoácidos de cadeia ramificada para a produção de energia e facilitando o metabolismo aeróbico dos carboidratos aumentando a velocidade da fosforilização oxidativa. Portanto, a carnitina tem papel relevante na cadeia metabólica dos lipídios e o seu uso é mandatário nos indivíduos com sua deficiência genética. Postula-se também que a carnitina tenha ação no controle do amoníaco do sangue e na neurotransmissão, além de outras atividades fisiológicas. Na pediatria é usada por alguns para estimular o apetite e já houve passarinheiro que a usou para emagrecer aves obesas; pô, perguntaria a netona filósofa Marcela, é engordativa ou emagrecedativa? Na realidade, o uso terapêutico da carnitina somente faz sentido nas reposições nas várias deficiências primárias, um grupo raro de doenças hereditárias, e em casos de deficiências secundárias a patologias, como as insuficiências renais, e nos hemodialisados. No mais, amigo passarinheiro, guarde o seu suado dinheirinho para gastos mais compensatórios, pois, afinal, jacaré já está nadando de costas.

 

119- Vitamina B12 e ácido fólico.

Há a necessidade de um pequeno preâmbulo antes de se falar do ácido fólico e da vitamina B12. Dos bancos escolares sabemos que o sangue é um tecido conjuntivo especializado formado por elementos celulares, os glóbulos vermelhos, hemátias ou eritrócitos, os glóbulos brancos (neutrófilos, eosinófilos, basófilos, monócitos e linfócitos) e pelas plaquetas (fragmentos celulares originadas dos megacariócitos) suspensos num fluido, a matriz extracelular conhecida por plasma. As células sangüíneas possuem vida muito curta e necessitam de renovação contínua; em resposta a agravos, como anemia, hipóxia e infecções, as exigências dessas células crescem enormemente. Nos anos de 1950, Jacobsen e Ford mostraram a importância do baço e da medula óssea (o tutano, amigos) na restauração dos tecidos hematopoiéticos quando estudavam camundongos irradiados. Em 1961, os estudos de Till e McCulloch levaram ao conceito das colônias formadas por células-tronco, as quais, são “pluripotenciais” por serem capazes de produzir tanto glóbulos vermelhos, como glóbulos brancos e megacariócitos. Portanto, amigos, as famosas células-tronco atualmente muito na moda já eram conhecidas há quase meio século!

Em 1966, vários pesquisadores, entre eles Metcalf e Bradley, chegaram aos vários fatores capazes de estimular a hematopoiese (hematopoese), geração e desenvolvimento das células sangüíneas; entre esses fatores podem ser citados a eritropoietina, a trombopoietina, os estimuladores das células pluripotenciais, algumas interleucinas, etc. A hamatopoiese requer ainda minerais (ferro e cobre), e algumas vitaminas (vitamina B12, ácido fólico, vitamina C, piridoxina e riboflavina).

Os autores citam os estudos de quase 180 anos que propiciaram a descoberta do ácido fólico e da vitamina B12 como um dos capítulos mais espetaculares da medicina, dando o Nobel a Dorothy Hodkin, que determinou a estrutura de cristal da vitamina B12 pela difração do raio X e a Murphy e Minot, pelo trabalho que provou a reversão da anemia perniciosa por dieta contendo fígado.

Apesar de tudo esse movimento, somente há poucos anos ficou comprovado que, tanto a vitamina B12 como o ácido fólico purificados de alimentos, não são as formas ativas; durante a extração, essas formas lábeis são convertidas aos seus congêneres estáveis, cianocobalamina e ácido pteroilglutâmico respectivamente. Para tornarem-se verdadeiramente ativos, esses congêneres sofrem modificações no organismo.

Tanto a vitamina B12 como o ácido fólico são essenciais nas dietas. As suas deficiências provocam alterações na síntese do DNA em qualquer célula do organismo que, no momento, esteja sofrendo processo de divisão ou replicação comossômica. Como já foi dito, as células do tecido hemopoiético têm processo de renovação muito rápido e, portanto, as consequências da falta dessas vitaminas são dramáticas.

No interior das células a vitamina B12 encontra-se sob as formas de deoxyadenosylcobalamina e metilcobalamina, duas coenzimas muito ativas. A deoxyadenosylcobalamina é cofator da enzima mutase mitocondrial, muito importante no metabolismo dos carboidratos e dos lipídios. A metilcobalamina é básica para a enzima metionina sintetase, essencial para o metabolismo dos folatos; aí está, essa inter-relação cobalamina-folato é importantíssima para a síntese normal das pirimidinas e purinas e, logicamente, do DNA (ver o boletim sobre genética).

O principal congênere dos folatos é o metiltetraidrofolato. Havendo deficiência da vitamina B12, por mecanismo compensatório, a enzima metileno tetrahidrofolate redutase aumenta a sua atividade direcionando os folatos intracelulares para o depósito de metiltetrahidrofolato; como não há suficiente vitamina B12 para captar o radical metila e dar continuidade ao metabolismo dos folatos, que requer o tetrahidrofolato, a conseqüência é o surgimento da anemia chamada megaloblástica. Essa anemia surge tanto por falta da vitamina B12 como do ácido fólico. Devido à grande inter-relação entre o metabolismo do ácido fólico e da vitamina B12, as anemias megaloblásticas determinadas por um ou pelo outro não podem ser distinguidas. As anemias megaloblásticas são determinadass basicamente pela queda na síntese do DNA. As células mais afetadas são aqueles que possuem alto turnover (no caso, são produzidas e destruídas rapidamente), como as do sistema hemopoiético e as do epitélio gastrintestinal. Como a divisão celular torna-se lenta e o desenvolvimento citoplasmático continua normal, as células tendem a tornar-se grandes. Os eritrócitos megaloblásticos são destruídos dentro da própria medula. As plaquetas também tornam-se grandes.

Há um número enorme de causas da anemia megaloblástica, desde a falta na dieta até um bom número de medicamentos. De prático para o passarinheiro é saber que a trimetoprima, presente num grande número de marcas comerciais associada ao sulfameoxazol, inibe a redutase dihidrofolato e pode provocar a anemia.

O outro quadro clínico-patológico determinado pela deficiência da vitamina B12, o neurológico, tem a sua origem pouco conhecida (talvez seja a falta da enzima metionina sintetase e o conseqüente bloqueio da conversão da metionina em S-adenosilmethionina) e nunca ou muito raramente é determinado pela deficiência do ácido fólico.

1191- Vitamina B12.

As suas formas mais importantes são a cianocobalamina, a hidroxocobalamina e as coenzimas ativas metilcobalamina e a 5-deoxiadenosil cobalamina. Como os animais, inclusive o homem, não são capazes de produzir a vitamina B12, ficam totalmente dependentes das fontes exógenas. Basicamente, na natureza, ela é sintetizada por microorganismos que vivem na água, no solo, nos esgotos e na luz do intestino. Não me venham com o papo que, estando na luz intestinal, está no organismo; se pensarem bem, tudo que está na luz do cano que vai da boca ao ânus situa-se realmente fora do organismo. Ao contrário do que muita gente pensa, os vegetais não possuem vitamina B12, a não ser que estejam contaminados pelos microorganismos citados (como algumas das lavouras de hortaliças usam água contaminada, inclusive por dejetos fecais, é bem possível que sejam ricas em vitamina B12. Favor não achar que estou aconselhando comer hortaliças sujas para combater a anemia megaloblástica… Para o consumo humano, e dos pássaros, as hortaliças devem ser rigorosamente limpas e a vitamina B12 conseguida de outras fontes). Assim, como devemos consumir somente água rigorosamente tratada e hortaliças muito limpas, ficamos restritos à vitamina B12 sintetizada pelos microorganismos do intestino e/ou fornecida pelos produtos animais.

Para o humano, 3 a 5 microgramas de Vitamina B12 por dia são suficientes e podem ser retiradas dos produtos de origem animal. Na saliva a vitamina B12 liga-se a uma proteína, ligação que é quebrada por ação da acidez gástrica e das proteases pancreáticas, liberando novamente a vitamina B12 que, então, ainda no estômago, liga-se a uma glicoproteína chamada fator intrínseco (há autores que citam essa ligação como sendo realizada no duodeno. Na verdade o fator intrínseco, uma glicoproteína, a 50-kDa, é produzida pelas células parietais do estômago e atua como uma proteína transportadora direcionada para determinadas células, como a transferrina para o ferro) e as R proteínas, glicoproteínas ainda sem função definida presentes no leite, na saliva, na bile e no suco gátrico; no duodeno o complexo livra-se das proteínas R e, já no íleo, o complexo formado pela vitamina B12/fator intrínseco é captado por receptor da mucosa e chega à circulação. Esse transporte através da mucosa ileal é dependente do bicarbonato de sódio, da bile e do próprio fator ileal. Quando há disponíveis grandes doses de vitamina B12 pode haver difusão passiva através da mucosa da boca e do intestino. No plasma, mais de 80% da vitamina B12 liga-se à transcobalamina (TCII), o seu transporte fisiológico mais importante, e também à TCI e TCIII. O complexo vitamina B12/TCII entra nas células pela endocitose, mediada por receptor próprio, e transforma-se nas suas formas ativas importantes para a síntese do DNA e como fontes de radicais metila. Notem como a bioquímica é, ao mesmo tempo, fácil e complicada: o radical metila (CH

Escrito por JOSÉ CARLOS PEREIRA, em 7/8/2005