Postagens relacionadas com Ambientais

Aprontar

Um diálogo interessante

Caro Salviano,

Ótimo que isto tenha acontecido lá na Europa – primeiro mundo -, até porque a convivência com aves – não para comer – é um costume do ser humano em qualquer parte do planeta. Isto também nos ajuda a provar que é legítimo o esforço que estamos tentando fazer no Brasil para praticar a reprodução dos nativos de forma organizada, dentro da Lei e de acordo com o desejo de sociedade. No entanto, não conheço o que acontece por lá na realidade, mas aqui o que estamos precisando mesmo é ajustar nossa legislação, nossos procedimentos, ter transparência em nossas atitudes e deixar de lado certos sofismas, acobertamentos e obscuridades que só interessam a aproveitadores e traficantes. Só assim poderemos como lá, contar com o apoio que queremos das autoridades públicas, da sociedade e de nós mesmos como um todo. Só assim poderemos, então, encontrar e aglutinar representantes que possam negociar e defender de forma isenta e independente, em qualquer instância, os legítimos interesses de todo tipo de criador e lograr êxito em suas gestões.

Aloísio

Multiplicar para preservar

Prezado Aloisio

A revista ITALIA ORNITOLOGICA de janeiro traz uma matéria da redação intitulada FINALMENTE CLAREZA, abordando um parecer do Conselho de Estado sobre a criação amadora da fauna silvestre com finalidade ornamental e amadorística. Eles comentam alguns pontos do parecer: Criar é legítimo (os exemplares de espécies protegidas podem ser criados com fins amadorísticos, ornamentais e de repovoamento, mas não com fins alimentares), podem ser criadas todas as espécies (podem ser objeto de criação, aquisição e venda – e, assim, de detenção, transporte e mostra para venda). Os sujeitos criados não pertencem ao patrimônio inalienável do Estado…Criar é um direito – os exemplares criados são de propriedade do criador e o direito do criador é pre-existente à sua regulamentação… Criar é proteger: A criação não é contrária aos objetivos de salvaguarda ambiental e de proteção das espécies silvestres interessadas

Pedro Salviano Filho

Escrito por Aloisio Pacini Tostes e Pedro Salviano Filho, em 13/2/2004

Animais Urbanos

Esses desconhecidos vizinhos do homem

Animais urbanos, esses desconhecidos vizinhos do homem

José Roberto Miranda, 43 anos, é doutor em Ecologia e chefe da Embrapa Monitoramento por Satélite.

O crescimento populacional urbano e a expansão das fronteiras agrícolas nas últimas décadas têm sido os principais responsáveis pela erradicação ou transformação dos ambientes disponíveis para a fauna selvagem brasileira. A caça e a pesca predatória também contribuíram para o declínio das populações de animais selvagens em áreas próximas à aquelas onde o homem se encontra.

Existem porém, algumas espécies de vertebrados beneficiadas pelo aumento das aglomerações humanas. Obviamente os animais domésticos foram os primeiros favorecidos, mas outras espécies menos desejáveis, como ratos, camundongos, pardais, pombos, espécies exóticas para o Brasil, encontraram nas cidades excelentes condições de implantação.

Várias espécies de aves – como rolinhas, beija-flores, sanhaços, bem-te-vis, corruíras, quero-queros, periquitos, jandaias, corujas e até algumas espécies de gaviões e falcões – são toleradas pelo homem e encontram na vegetação das áreas verdes e jardins urbanos boas condições de abrigo e alimento. Outras espécies como gambás e morcegos, por exemplo, também acharam uma maneira de conviver com os seres humanos, através do comportamento noturno e discreto. As praças, parques, terrenos baldios e jardins residenciais servem igualmente de habitat de alimentação de várias espécies granívoras, frugívoras e insetívoras.

Em uma cidade como Campinas ou São Paulo existem centenas de espécies de vertebrados selvagens, constituindo enormes populações e mantendo relações entre si e com o homem.

Nos cinturões rurais, que circundam as grandes cidades, onde ainda restam alguns remanescentes de ambientes naturais, a biodiversidade de vertebrados aumenta e muitos predadores como a jaguatirica e até a suçuarana perambulam durante a noite. Circulam em busca de presas – tais como o ouriço cacheiro, gambás, cotias, macacos, micos, tatus e pequenos roedores – utilizando as manchas de matas como abrigo durante o dia. Dezenas de espécies de sapos, rãs e pererecas vivem igualmente nos arredores de áreas inundadas, tais como riachos, lagos, açudes, várzeas e banhados, servindo mesmo como indicadores, que atestam boas condições ambientais necessárias para a manutenção de suas populações.

A construção de barragens ao longo dos eixos hidrográficos, assim como a implantação de pesqueiros, seja para fins produtivos ou de lazer, favoreceu várias espécies aptas a essas condições e de hábitos alimentares piscívoros, como os martins-pescadores, biguás, garças, socós, frangos d´água e até cobras d´água. Mamíferos tais como capivaras e ratões do banhado também estão presentes nesses ambientes e devido à ausência de predadores, a proibição da caça e a disponibilidade de recursos alimentares.

Na última década, a proibição da caça permitiu às capivaras um aumento dos seus efetivos populacionais e provocou uma maior demanda por comida. Em áreas de lavouras, elas começam a causar prejuízos constantes e estão sendo consideradas verdadeiras pragas por alguns agricultores. Na verdade, a agricultura foi o grande responsável pela erradicação dos habitats de alimentação desses animais e a expansão da área cultivada continua propiciando conflitos dessa natureza. Sem opção, os herbívoros selvagens adotam as culturas como parte obrigatória de seu “cardápio” e não há possibilidade de mudanças repentinas nesse cenário.

Nos centros urbanos, alguns desses “hóspedes” tornam-se inconvenientes, aproximando-se das residências e até adentrando por portas e janelas abertas, na busca de restos de comidas e outros alimentos descobertos. No Brasil, os gambás estão entre os animais selvagens mais ousados. Nossos descuidos provocam incursões indesejadas desses visitantes noturnos no interior das casas. Os sótãos mal fechados também facilitam a implantação de colônias de morcegos insetívoros, que podem nos incomodar com ruídos e através do acúmulo de fezes e urina nos forros dos telhados.

Nosso desconhecimento em relação aos hábitos dos animais já gerou muitas crendices e mitos, através dos quais taxamos como perversos as cobras, lagartixas, morcegos, ou mesmo os gambás e outros “vizinhos indesejáveis”. Os conflitos entre a fauna e os humanos advêm desse desconhecimento e do nosso antropocentrismo. Se refletirmos sobre essa histórica relação, porém, veremos que, via de regra, os vilões somos nós, os humanos, e não a fauna selvagem.

Escrito por José Roberto Miranda, em 4/12/2003