Postagens relacionadas com Doenças e Prevenções

Controle de Salmonelas em Avicultura

USO DE VACINAS

CONTROLE DE SALMONELAS EM AVICULTURA

ATRAVÉS DO USO DE VACINAS

Beatriz Cardoso DVM MSc, ACPV e Lindolfo C. Rocha MV

Lohmann Saúde Animal

Entre as doenças bacterianas que ocorrem na avicultura, as salmonelas estão entre as mais importantes e difíceis de controlar. Sua importância é grande devido às perdas econômicas na atividade industrial (Salmonella Pullorum e Salmonella Gallinarum) ou problemas relacionados à saúde pública (salmonelas paratíficas).

Várias são as medidas preventivas adotadas para evitar a contaminação de lotes por salmonelas, como: biossegurança, manejo, monitoria, desinfecção / higiene e o uso de vacinas. Estas medidas são consideradas como a principal forma de controlar salmonelas, pois muitas das drogas indicadas nos tratamentos de lotes contaminados têm atualmente restrição de uso. Entre os motivos para restrição podemos citar o crescente e rápido aparecimento de resistência aos antimicrobianos e o rígido controle por parte de países importadores com relação aos resíduos de drogas de uso comum em saúde veterinária e humana.

As vacinas contra salmonelas foram inicialmente utilizadas para controle dos quadros de pulorose (S. pullorum) e tifo aviário (S. gallinarum), com vacinas vivas feitas a partir de uma cepa rugosa de Salmonella Gallinarum, de baixa patogenicidade. Somente o uso desta ferramenta não foi suficiente para controlar os quadros clínicos. A eliminação de lotes positivos e adoção de medidas de vazio sanitário adequado e desinfecção também foram necessárias.

Com o controle destas salmonelas começaram a ter importância outras, as chamadas salmonelas paratíficas. Os sorovares enteritidis e tiphymurium, que estão entre os mais frequentemente isolados, têm grande impacto em

saúde pública e por isso merecem atenção especial. Em virtude do fato de que o uso de medidas de biossegurança e tratamentos com antibióticos não foram suficientes para controlar estes dois sorovares, houve a necessidade de medidas de controle mais eficazes. O desenvolvimento de vacinas foi a solução encontrada para isso.

No Brasil a regulamentação do uso de vacinas contra salmonelas em reprodutoras leves e pesadas é feita através do Programa Nacional de Sanidade Avícola (PNSA), elaborado pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Atualmente existem no mercado vacinas inativadas e vacinas vivas, simples – um único sorovar – ou associadas – mais de um sorovar ou combinadas com outros agentes. De acordo com o PNSA, somente estão liberadas para uso em lotes de reprodutoras as vacinas inativadas contra S.

Enteritidis.

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Vacinas Inativadas

O veículo utilizado pode ser oleoso ou hidróxido de alumínio.

Apresentam características de forte reação local (menor na vacina à base de hidróxido de alumínio), necessidade de equipe de vacinação bem treinada, risco de acidentes vacinais tanto nos vacinadores como nas próprias aves, desuniformidade do lote, diminuição de produtividade, entre outros.

Lotes onde estas vacinas são utilizadas podem ser monitorados através de provas sorológicas laboratoriais, como ELISA (Enzyme-Linked Immunosorbent Assay) ou SAR (soro aglutinação rápida em placas). Estas provas não permitem uma diferenciação dos desafios de campo das respostas vacinais através da sorologia.

O uso destas vacinas é exclusivamente por via parenteral – intramuscular ou subcutâneo – permitindo estímulo de imunidade humoral, IgG e IgM, que protegem a ave inibindo a colonização de órgãos internos (fígado, baço, sistema reprodutivo). Estas duas imunoglobulinas, por terem ação sistêmica, não eliminam a condição de ave portadora. Dependendo do grau de desafio, o agente pode se manter no trato digestivo e recontaminar o ambiente constantemente. Em muitos casos observa-se contaminação de ovos, durante a passagem pela cloaca ou através do contato destes com cama de aviário ou ninhos contaminados. Pintos nascidos destes ovos positivos para salmonelas tornam-se portadores e podem contaminar o ambiente aonde serão alojados.

Devido ao fato de que existe a necessidade de tempo hábil para estimular a formação de anticorpos, as aves somente estarão efetivamente protegidas aproximadamente 3 a 4 semanas após a vacinação.

A imunidade conferida é específica, ou seja, os anticorpos formados conferem proteção somente contra o sorovar que a vacina contém. A progênie de aves imunizadas com estas vacinas estará protegida nos primeiros dias contra infecções sistêmicas, desde que tenha quantidade suficiente de anticorpos para bloquear a passagem das salmonelas para os órgãos. Estes anticorpos não impedem a colonização de trato digestivo.

A proteção obtida através das vacinas inativadas normalmente é mantida até a metade do período de produção (há variação entre os produtos).

Por isso, dependendo das condições sanitárias, pode ocorrer recontaminação do lote e detecção de salmonelas no final do período de produção.

Vacinas Vivas

Atualmente podemos encontrar no mercado vacinas vivas contra S.

Gallinarum (cepa 9R), S. Enteritidis e S. Tiphymurium. As vacinas vivas contra salmonelas enteritidis e tiphymurium podem ser consideradas um grande avanço no controle destes agentes. Estas já são usadas há muito tempo em vários países europeus e América do Norte, com resultados muito satisfatórios.

Por motivo de diferenças nas características entre as vacinas vivas é necessário que os comentários sejam feitos separadamente.

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Vacinas contra S. Gallinarum

A cepa utilizada apresenta menor patogenicidade que as cepas de campo, com características de colônias rugosas quando cultivada em meios de cultura. Seu uso é mais recomendado para controle de desafios por S.

Gallinarum. Permite uma proteção cruzada contra S. Enteritidis por pertencer ao mesmo sorogrupo. Deve ser administrada via parenteral (intramuscular), nunca antes da sexta semana de vida da ave (a ave fica desprotegida do primeiro dia até a sexta semana de idade), com recomendação de duas aplicações durante a fase de recria. Por não conferir uma proteção muito duradoura, é necessário que sejam feitos reforços vacinais durante a fase de produção a cada 12 semanas. A revacinação também é necessária após o tratamento com antibióticos.

Assim como as demais vacinas administradas via parenteral, estimula a produção de IgG e IgM, o que dificulta a diferenciação de aves vacinadas de aves com desafio de campo.

Por ser uma vacina viva e aplicada via intramuscular pode ocorrer a persistência em sistema reprodutivo e a transmissão através do ovo.

Vacinas Vivas contra S. Enteritidis e S. Tiphymurium

Existem duas metodologias aplicadas no desenvolvimento de vacinas vivas contra S. Enteritidis e S. Tiphymurium: organismos geneticamente modificados (GMO) e os mutantes metabólicos. Os comentários a seguir estão relacionados com as vacinas que utilizam a tecnologia de mutantes metabólicos (Lohmann Animal Health).

As vacinas vivas elaboradas a partir de mutantes metabólicos estão baseadas nos seguintes pontos:

– Imunidade rápida e duradoura;

– Facilidade de aplicação;

– Sem interferência com monitoria ou manejo;

– Alta eficácia;

– Que cumpram os postulados de Selbitz:

– replicar-se por um tempo muito curto no hospedeiro

– induzir imunidade

– desaparecer rapidamente

– excretar-se por pouco tempo

– Processo de infecção limitado, virulência e imunogenicidade equilibradas

– Sobrevivência pobre no meio ambiente;

– Estável geneticamente;

– Segura em aves estressadas ou imunodeprimidas;

– Segura para outras espécies;

– Permitir caracterização molecular e biológica;

– Efetiva na presença de anticorpos maternais;

– Não ser transmitida pelo ovo.

As bactérias mutantes metabólicas podem ser descritas como aquelas

que sofrem alterações naturalmente. As características das amostras contidas

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nas vacinas vivas com esta tecnologia apresentam a falta de enzimas essenciais e caminhos metabólicos deficientes, fazendo com que o crescimento seja mais lento (tempo de geração prolongado). Além disso, possui marcadores antibióticos específicos e redução do número de fímbrias, reduzindo sua viabilidade. Estas três atenuações cromossômicas completamente independentes (marcadores que também reduzem a virulência da cepa) permitem a segurança quanto a sua estabilidade genética. A probabilidade de “mutação reversa” é de 108 por marcador, portanto a garantia de estabilidade genética total é de 1024.

Diferente das vacinas anteriormente citadas, a indicação de uso destas vacinas é via oral (água de bebida) ou spray, já a partir do primeiro dia de idade. Isto faz com que a rota natural de infecção seja respeitada, conferindo imunidade local às aves com grande produção de anticorpos locais (IgA). A proteção local conferida não permite que outras salmonelas penetrem através da mucosa intestinal e se instalem internamente (fígado, baço, sistema reprodutivo). Testes realizados também demonstram que, em condições de desafio, a quantidade e o período de excreção de amostras patogênicas são significativamente menores quando comparados com aves sem vacinação ou vacinadas com vacinas inativadas. A imunidade celular, ao contrário da humoral, permite proteção cruzada contra desafios de salmonelas do mesmo grupo.

O esquema de vacinação recomendado de três doses (primeiro dia, seis a oito semanas, e 14 a 16 semanas de idade) confere imunidade desde o primeiro dia e suficiente para todo o período de vida útil da ave (60 semanas de idade), sem necessidade de revacinar.

A viabilidade das cepas utilizadas nestas vacinas são muito baixas, tanto no hospedeiro quanto no meio ambiente. Após a aplicação da vacina, pode-se isolar a amostra vacinal de material colhido de ceco por um período de aproximadamente duas semanas, mas não em outros órgãos.

Devido ao fato de estimular principalmente a produção de IgA, não é observado interferência com provas sorológicas (SAR) ou, se ocorrer, será por um período muito curto (ELISA), permitindo também uma diferenciação na monitoria de possíveis desafios de campo.

É possível realizar uma diferenciação entre as cepas de campo através de antibiograma, onde as amostras de S. Enteritidis ou S. Tiphymurium mutantes apresentam sensibilidade a eritromicina (15 µg) e resistência a rifampicina (30 µg) e estreptomicina (25 µg). As cepas de campo tem comportamento oposto ao das cepas vacinais, ou seja, sensibilidade a rifampicina (30 µg) e estreptomicina (25 µg) e resistência a eritromicina (15 µg).

Conclusão

O controle de salmonelas em lotes de aves comerciais tem hoje que ser considerado como prioritário. Isto se deve tanto pelo lado econômico da exploração em si, como também pelo aspecto de saúde pública. Barreiras comerciais aparecem no comércio nacional e internacional, levando em considerações aspectos sanitários, rastreabilidade e presença de resíduos de drogas hoje banidos das criações modernas.

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Considerando isto, medidas de biossegurança aliadas a prevenção com o uso de vacinas, sejam elas inativadas ou vivas, atendem perfeitamente às exigências de mercado. Não devemos nos esquecer do bem estar animal, bastante questionado hoje principalmente por países europeus. Neste ponto, as vacinas vivas indicadas para uso via oral apresentam hoje uma larga vantagem quando comparadas com as inativadas.

Referências Bibliográficas

CARDOSO, B. e MORALES, O. Algunos Aspectos Epidemiológicos En El

Control de Salmonella en Avicultura. Informe Técnico Lohmann Animal Health.

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SCHARR, H. Controles de Salmonela na União Européia. ANAIS Conferência

APINCO 2003, p. 357-368.

The Use of Vaccines for the Control of Salmonella in Poultry. The EFSA Journal

(2004) 114, 1-74,

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Escrito por Beatriz Cardoso e Lindolfo C Rocha , em 11/12/2007

Escherichia coli

Pesquisa investiva em granjas

Pesquisa investiga

bactéria de granjas

Escherichia coli provoca várias doenças e sua incidência é grande na produção de frangos e galinhas

RAQUEL DO CARMO SANTOS

 

A Escherichia coli é a bactéria responsável pela colibacilose aviária, uma das principais doenças da avicultura industrial moderna e que causa grandes prejuízos econômicos. A incidência estimada desta doença está em torno de 5% a 10% na produção de frangos e galinhas. Como é uma bactéria com diversas linhagens patogênicas e diferentes mecanismos de patogenicidade, podendo inclusive atingir o homem e outros mamíferos, seu estudo torna-se complexo. As pesquisas envolvendo essas linhagens para seres humanos começaram a ser elucidadas na década de 1970. Em aves, no entanto, os estudos são bastante recentes. Uma linha de pesquisa do Instituto de Biologia, coordenada pelo professor Wanderley Dias da Silveira, do Departamento de Microbiologia e Imunologia, tem se dedicado ao estudo desta bactéria com a finalidade de se entender melhor seus mecanismos de ação, com o posterior objetivo de desenvolver uma vacina capaz de controlar sua proliferação nas aves e, assim, diminuir os prejuízos que causam à indústria aviária.

Entre as moléstias mais freqüentes provocadas pelas linhagens de Escherichia Coli, Silveira e um grupo de estudantes de pós-graduação estão pesquisando especificamente aquelas que causam a onfalite, a síndrome da cabeça inchada e a coliseptcemia. A onfalite ataca o embrião e produz uma inflamação no cordão umbilical. As linhagens que causam a síndrome da cabeça inchada produzem em aves adultas uma inflamação nos ossos da face superior, com conseqüentes repercussões no sistema neurológico. Outra enfermidade, desta vez presente em qualquer estágio de crescimento do frango é a colisepticemia, que provoca infecção generalizada. Embora alguns destes tipos de doença muitas vezes não provoquem a morte das aves, elas se tornam inapropriadas para o abate e comercialização.

Por enquanto, o tratamento com antibióticos e quimioterápicos é uma das formas de diminuir o impacto destas doenças. Muitas das linhagens, no entanto, têm se mostrado altamente resistentes às drogas utilizadas, explica Tatiana Amabile de Campos, autora da dissertação de mestrado “Estrutura clonal e fatores de colonização de linhagens de Escherichia coli de origem aviária”, apresentada no IB.

O objetivo de Tatiana em seu estudo foi realizar um estudo comparativo com outras linhagens. Foi realizado um teste de adesão em traquéia. “A bactéria entra pelas vias aéreas superiores e adere ao tecido epitelial da traquéia antes de penetrar na corrente sangüínea”.

A farmacêutica Eliana Guedes Stehling também faz parte do grupo de pesquisa da Escherichia coli. Sua contribuição está em identificar outros fatores de adesão em diferentes tipos de células e as possibilidades de invasão do tecido. Eliana, por enquanto, se dedica à parte experimental de seu trabalho de doutorado que deverá estar pronto em seis meses. Gerson Nakazato é veterinário e pretende analisar os genes plasmidiais relacionados à patogenicidade da bactéria nos casos da síndrome da cabeça inchada. Seus estudos ainda são iniciais. Não se pode comprovar cientificamente ainda, mas a expectativa do veterinário é encontrar fatores de virulência da bactéria.

De acordo com Silveira, orientador de todos os trabalhos citados, pretende-se chegar à caracterização da maioria dos possíveis genes relacionados à patogenicidade destas linhagens bacterianas a partir das pesquisas envolvendo as moléculas de DNA, conhecidas como plasmídios. Para os experimentos financiados pela Fapesp, a equipe está utilizando uma coleção de bactérias, todas originárias de galinhas, isoladas e doadas por várias pessoas.

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Escrito por Raquel do Carmo Santos, em 11/4/2006