Postagens relacionadas com Higiêne e Biossegurança

Os fungos e o tempo de vida dos pássaros

Atenção aos fungos

Os anos de experiência na criação de pássaros em domesticidade vêm nos revelando uma característica bastante interessante, que é um período de vida das aves bastante prolongado, muito superior ao descrito por ornitólogos para indivíduos em estado selvagem. Lembrando que não é somente o tempo de vida que é prolongado, mas também o período reprodutivo, com exemplares reproduzindo por cerca de trinta anos.

O presente material não tem por interesse debater os motivos que levaram a esse substancial aumento no tempo de vida dos pássaros – motivos estes ligados ao manejo, sanidade, nutrição e bem-estar – mas tem por objetivo estudar o porquê da perda de alguns indivíduos precocemente.

Apesar dos modernos criadouros possuírem tecnologia e conhecimento voltados à proporcionar as melhores condições para o desenvolvimento e à reprodução, um sistema de produção intensificado precisa estar constantemente atento à alguns inimigos “invisíveis”, mas que são uma ameaça substancial e constante, como as micotoxinas, que são as toxinas produzidas pelos fungos.

Vejamos abaixo, trechos sobre o assunto publicado por uma empresa que atua na área de nutrição animal:

“As micotoxinas são conjuntos de substâncias tóxicas ao homem e aos animais domésticos. São quimicamente complexas, sintetizadas como metabólitos secundários por certos fungos. Sua função biológica é atuar como fator de competição com bactérias pelo substrato, ou, que seja produzida como um erro ou desvio do metabolismo fúngico durante estresse ambiental, ou ainda como simples acaso da programação genética de fungos.

Segundo a FAO, 25% dos alimentos do mundo estão contaminados por micotoxinas e, o Banco Mundial, 40% do tempo de vida de indivíduos de países em desenvolvimento é perdido função de doenças moduladas por toxinas fúngicas.

Os principais fungos produtores de micotoxinas pertencem aos gêneros Aspergillus (produtoresde aflatoxinas), Penicillium (produtores de ocratoxinas) e Fusarium (produtores de deoxinivalenol (DON), toxina T-2, zearalenona, ergotoxinas e fumonisinas), os quais podem atacar os diversos tipos de grãos utilizados na fabricação de ração animal em qualquer fase da produção, processo, transporte e estocagem, podendo ocorrer, no entanto, em outros produtos e co-produtos de origem animal ou vegetal para mesma finalidade.

Fatores ambientais como umidade, temperatura, pH e principalmente o substrato nutritivo disponível favorecem a produção de micotoxinas, principalmente as aflatoxinas (B1, B2, G1, G2 e M1), responsáveis por consideráveis perdas econômicas decorrentes, de doenças e da redução da eficiência alimentar nos animais. Os efeitos tóxicos produzidos pela ingestão de alimentos contaminados pela maioria das espécies animais representam um grande risco para saúde do homem pela contaminação da carne, do leite e dos ovos. As aflatoxinas, em geral, foram classificadas na classe 1 dos carcinógenos humanos.

(…) Fatores que favorecem a produção de aflatoxinas

O crescimento fúngico e formação de micotoxinas são dependentes de uma série de fatores, como a umidade, a temperatura, a presença de oxigênio, o tempo para o crescimento fúngico, a constituição do substrato, as lesões nos grãos causados por insetos ou os danos mecânico/térmico, a quantidade de inóculo fúngico, bem como a interação/competição entre as linhagens fúngicas.

Esta gama de fatores demonstra que o controle desses fatores, no sentido de prevenção, muitas vezes se torna muito difícil em nossas condições tropicais. Por exemplo, as condições brasileiras, no período de colheita dos cereais, em função do regime pluviométrico, não favorecem a secagem dos grãos, especialmente do milho.

Os sistemas de secagem e armazenagem instalados também contribuem para a evolução do problema em nossas condições. As temperaturas da massa de grãos no interior dos silos, em muitas situações, ultrapassam os 18°C recomendados, permitindo um crescimento fúngico intenso, especialmente pela deficiente aeração forçada da maioria das unidades armazenadoras que, mesmo existindo, pelo excesso e má distribuição das impurezas, não são efetivas no controle dos pontos de calor dentro do silo. Esta e muitas outras razões proporcionam alta prevalência de aflatoxinas como contaminantes rotineiros dos cereais no Brasil e em países de clima semelhante.”

Fonte: http://www.tortuga.com.br/kelatone.pdf

Os danos causados pelas micotoxinas às aves são enormes, dentre eles podemos citar: Queda da fertilidade; Baixa eficiência alimentar e conseqüente perda de peso; Lesões em órgãos com aumento de tamanho e mudança na coloração (principalmente o fígado); Alta mortalidade; Mau empenamento das aves; Queda da imunidade e menor resistência às doenças.

O texto transcrito acima se refere principalmente aos cereais como soja e milho. Se a situação é bastante crítica em alimentos comuns e muito utilizados na alimentação humana e animal, onde as indústrias têm como procedimento-padrão armazenar adequadamente e monitorar cuidadosamente todo ingrediente que entra na linha de processamento, imaginemos agora o contexto dos alimentos que utilizamos para os pássaros. Não há dúvida de que os fornecedores de rações e farinhadas comerciais têm essa preocupação, mas e os alimentos domésticos? E os alimentos fornecidos úmidos? E aquelas sementes adquiridas em lojas sem os devidos cuidados com o armazenamento? E a validade dessas sementes? E os poleiros? E o estado geral da gaiola?

Desta maneira, acredito que o momento seja de reflexão. Talvez seja hora de revermos alguns conceitos, corrigir certos costumes. É evidente que os fungos se proliferam em condições onde há substrato, umidade, temperatura. E de maneira muito veloz, todos nós já vimos a velocidade com que uma farinhada úmida “azeda”. Se os pássaros têm a capacidade de viver até por algumas décadas, em perfeito estado de saúde e fertilidade, não podemos nos conformar com qualquer outra circunstância.

Autor: Rob de Wit – Zootecnista

Diretor de Criação de Azulão – COBRAP

rdw_usp@yahoo.com.br

09/07/2009

Escrito por Rob de Wit, em 9/7/2009

Fungos e Micotoxinas

Cuidados no armazenamento de grãos

Fungos e Micotoxinas em Grãos Armazenados

Autor: Prof. Luís César Silva

Universidade Estadual do Oeste do Paraná

Introdução

Fungos, também denominados mofos ou bolores, são microrganismos multicelulares e filamentosos, que ao infestarem os grãos e alimentos podem produzir substâncias tóxicas tais como micotoxinas. E estas ao serem ingeridas, inaladas ou absorvidas pela pele podem causar: estado de letargia, perda de peso, intoxicações, câncer e óbito em homens e animais.

No caso de grãos, estes podem ser infestados durante o cultivo ou no período pós-collheita. Desta forma, os fungos são classificados em Fungos do Campo e Fungos do Armazenamento.

Os fungos do campo contaminam os grãos durante o cultivo por estes requererem ambientes com umidade relativa superior a 80%. Enquanto fungos do armazenamento demandam menor quantidade de água, desta forma, estes proliferam em maior intensidade na massa de grãos no período pós-colheita.

Materiais biológicos, como grãos, sementes e alimentos, possuem a característica de serem higroscópios, pois, entre estes e o ar são estabelecidos trocas de água, principalmente na forma de vapor. Deste modo, sobre as superfícies dos produtos são estabelecidos microclimas, que têm suas situações de estado influenciadas principalmente pelo teor de umidade dos produtos.

Neste microclima a quantidade de água disponível é expressa pelo fator atividade aquosa (aa), que varia de 0 a 1. Define-se este fator como sendo a razão entre os valores da pressão de vapor de água atual no microclima e a pressão de vapor na superfície de uma porção de água pura, que representa a pressão de vapor para condição do ar saturado. Deste modo, o teor de umidade define os valores da pressão de vapor e do fator aa sobre a superfície do produto.

Sendo assim, no espaço formado entre os grãos, denominado como espaço intergranular, durante o período de armazenagem é estabelecido um ambiente, que tem suas condições de estado afetadas principalmente pelo teor de umidade da massa grãos. O que pode favorecer ou não o desenvolvimento de microrganismo. Fato que irá depender do fator aa.

As bactérias desenvolvem-se em produtos cuja a atividade aquosa é superior a 0,90, enquanto para fungos os valores variam de 0,65 a 0,90, faixa que os grãos podem possuir teor de umidade de 14 a 22%. Por isto, na conservação de grãos é empregado o processo de secagem. Este visa reduzir o teor de umidade dos produtos a níveis que a atividade aquosa não propicie a proliferação de fungos.

Em situações de equilíbrio higroscópio a umidade relativa do ar intergranular corresponde a 100 vezes ao valor da atividade aquosa. Para esta situação a umidade relativa do ar é denominada como umidade relativa de equilíbrio e a umidade do grãos umidade de equilíbrio. Veja maiores detalhes deste processo no artigo sobre secagem

Além da produção de toxinas outros danos causados pela ação dos fungos em grãos são a: (a) redução do potencial de geminação, (b) descoloração, (c) geração de focos de aquecimento e de migração de umidade na massa de grãos, (d) aceleração das trocas químicas e (e) redução da quantidade de matéria seca.

Volta ao índice

Espécies de Fungos

Muitas espécies de fungos podem desenvolver utilizando os grãos como substrato, no entanto as espécies Aspergillus spp., Penicillium spp. e Fusarium-spp, Figura 1, são as mais encontradas, em maior destaque as duas primeiras. Sob condições de armazenagem as espécies Aspergillus spp., Penicillium spp. proliferam caso ocorram as condições apresentadas no Quadro 1.

Figura 1 – Espécies Aspergillus spp., Penicillium spp. e Fusarium spp. ( Site Fungusweb)

Quadro 1 – Condições para o crescimento de fungos em grãos para temperaturas de 25 a 27oC

Espécie

Umidade relativa do ar intergranular – %

Teor de umidade dos grãos – %

Aspergillus halophilieus

68

12-14

Aspergillus restrictus

70

13-15

Aspergillus glaucus

73

13-15

A. candidus, A. ochraeus

80

14-16

A. flavus, parasiticus

82

15-18

Penicillium spp.

80-90

15-18

Fonte: BAKKER-ARKEMA (1999)

Volta ao índice

Micotoxinas

Micotoxinas são agentes químicos resultantes da atividade metabólica de fungos, que podem intoxicar seres humanos e animais. A intoxicação pode proceder-se de forma direta ou indireta. A forma direta ocorre quando o produto é diretamente utilizado na alimentação humana ou de animais. Enquanto a forma indireta resulta quanto subprodutos e derivados contaminados são empregados.

Dentre as principais micotoxinas encontradas em produtos alimentícios e grãos têm-se a: aflatoxina, tricotecenos, zearalenona e ocratoxinas. A aflatoxina constitui um grupo de toxinas produzidas pelo fungos Aspergillus flavus e Aspergillus parasiticus e são identificadas como B1, B2, G1 e G2. Sendo que as iniciadas B e G devem-se ao fato destas apresentarem fluorescência azulada e esverdeada, respectivamente, quando observadas sob luz ultravioleta. Duas outras micotoxinas M1 e M2 foram detectadas no leite, urina e fezes de mamíferos, resultantes do metabolismo das toxinas B1 e B2.

Quanto aos efeito, a aflatoxina é extremamente tóxica e cancerígena. A intoxicação é chamada de aflatoxicose. Esta trata-se da falha do fígado devido a destruição das células parenquimatosas, o que pode ser acompanhado de hemorragias e alterações das funções nervosas em combinação com espasmos. Animais jovens apresentam redução de consumo de ração, redução de crescimento bem como perda de peso. Em humanos o processo de intoxicação pode dar-se de forma gradual, desta forma, os efeitos podem levar anos para manifestar.

Animais como cavalo, macaco, peru e pato são extremamente sensíveis. No caso de patos são apresentados no Quadro 2 DL50 quando da ingestão de aflatoxinas.

Quadro 2 – Doses DL50 de aflatoxinas para patos de um dia de idade.

Tipo de Aflatoxina

DL 50 mg/kg

B1

3,6

B2

17,0

G1

8,0

G2

25,0

M1

8,0

M2

31

Fonte: Faculdade de Farmácia – UFRS Micotoxinas: aflatoxinas

Nota – DL50 corresponde a dose letal em mg/kg de peso necessária para causar a morte em 50% de um dado plantel de animais.

Quanto às ocratoxinas, são produzidas pelas espécies Aspergillus alutaceus, A. alliaceus e outras, em cereais e leguminosas. Promovem acumulação de gordura no fígado e sérios danos renais, principalmente em suínos e cães. Normalmente, retardam a maturação sexual em galinhas e diminui a produção de ovos.

Os tricotecenos são toxinas produzidas por fungos do gênero Fusarium, que podem causar aos homens e animais problemas como: (a) vômitos, (b) hemorragias, (c) recusa do alimento, (d) necrose da epiderme, (e) aleucia tóxica alimentar (ATA), (f) redução do ganho de peso, da produção de ovos e leite, (g) interferência com o sistema imunológico e (h) morte. Ocorrem em grãos como o milho, trigo, cevada e outros.

Zearalenonas é uma toxina produzida pela espécie Fusarium graminearum, principalmente em grãos de milho. Em casos de intoxicações podem causar: hiperestrogenismo, aborto, natimortos, falso cio, prolapso retal e da vagina, infertilidade, efeminização dos machos com desenvolvimento de mamas. Esta toxina age como hormônio feminino.

São apresentados no Quadro 3 os níveis de toxinas permitidos em alimentos e grãos, em diferentes países conforme legislações específicas.

Quadro 3 – Níveis de toxinas em alimentos e grãos permitidos em diferentes países

País/Produto

Micotoxina

Limite – ppb

Argentina

Alimentos infantis

B1

0

Amendoim, milho e derivados

B1

B1B2G1G2

5

20

Farelo de soja

B1

30

Leite in natura e em pó

M1

0,05

Produtos lácteos

M1

0,5

Uruguai

Alimentos infantis

B1B2G1G2

3

Leite e derivados

M1

0,5

Amendoim, soja e frutas secas

B1B2G1G2

30

Milho e cevada

zearalenona

200

Arroz, cevada, café e milho

ocratoxina

50

Brasil

Alimentos para consumo humano

B1B2G1G2

20

Matérias primas e rações

B1B2G1G2

50

Estados Unidos

Rações de crescimento – aves e suínos

B1B2G1G2

zearalenona

20

2

Ração final – suínos

B1B2G1G2

200

Produtos lácteos

M1

0,5

MERCOSUL

Milho

B1B2G1G2

20

Farelo de milho

B1B2G1G2

20

Amendoim e subprodutos

B1B2G1G2

20

Fonte: FONSECA ( Micotoxinas), BAKKER-ARKEMA(1999)

Nota – ppb corresponde a partes por bilhão.

Volta ao índice

Cuidados na Armazenagem de Grãos

Como no controle de insetos e roedores, o controle da proliferação de fungos na massa de grãos fundamenta-se em cuidados a serem procedidos durante as operações de colheita, limpeza e secagem dos grãos; e na sanificação dos graneleiros, silos e equipamentos mecânicos. Desta forma, são descritos a seguir alguns recomendações:

Realizar a colheita tão logo seja atingido o teor de umidade que permita proceder a operação;

Ajustar os equipamentos de colheita para proceder a máxima limpeza da massa de grãos e evitar danos mecânicos;

Desinfetar as instalações e os equipamentos de colheita. Limpar os silos e graneleiros removendo pó, lixo e outros materiais;

Proceder de forma correta as operações de pré-limpeza e limpeza; removendo: impurezas, grãos danificados, finos e materiais estranhos. Pois estes podem ser utilizados como substrato no desenvolvimento de fungos;

Proceder a operação de secagem de forma correta garantindo a redução do teor de umidade a níveis que não permitam o desenvolvimento de fungos;

Monitorar a temperatura da massa de grãos e aerar sempre que necessário, para uniformizar a temperatura; e

Adotar técnicas para o controle de insetos e roedores, pois geralmente a proliferação dos fungos esta associada ao ataque destas pragas.

Volta ao índice

Referências

BAKKER-ARKEMA, F. W. CIGR Handbook of Agricultural Engineering Volume IV Agro-Processing Engineering, Published by: American Society of Agricultural Engineers. 1999. 527 p.

FONSECA, H. Micotoxinas. [Site informativo]

SWEETS, L. Stored Grain Fungi Commercial Agriculture Program, Department of Plant Pathology, University of Missouri. [Site informativo]

CAMARGO, R. (et. al.) Tecnologia dos produtos agropecuários. São Paulo: SP, Nobel, 1984.

GAVA, A. J. Princípios de tecnologia de alimentos. 6. ed, SãoPaulo: SP, Nobel, 1984.

University of Texas Medical Branch Fungusweb. [Site informativo]

FACULDADE DE FARMÁCIA Micotoxinas: aflatoxinas Universidade Federal do Rio Grande do Sul. [Site informativo]

Escrito por Luis César Silva, em 8/2/2005