Reciclando produtos descartáveis
Isolação Térmica em Telhados com o uso de Caixas de Leite Longa Vida
Quando estamos projetando um ambiente para acomodar os nossos pássaros, sempre deparamos-nos com dúvidas sobre as melhores estratégias que contribuirão para atenuar o calor que propaga-se no ambiente a partir do superaquecimento das telhas.
Tivemos a oportunidade de depararmos-nos com duas reportagens e decidimos compartilhar com os amigos, deixando-as postadas neste site, com a suas respectivas autorias.
Estamos certos que muitos se aproveitarão destas informações, uma vez que representa uma alternativa barata, eficiente e benéfica ao meio ambiente a a partir da reciclagem de produtos que usamos em nosso dia a dia.
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Leiam texto extraído do “Jornal da Unicamp” Clique aqui para ver reportagem original
Na caixinha de leite, o refresco da população
Embalagem ‘longa vida’ funciona como isolante térmico em moradias de baixa renda
MARIA DO CARMO PAGANI (carmopagani@aol.com)
A embalagem “longa vida”, utilizada para garantir a durabilidade e a qualidade dos produtos nela acondicionados – e que depois vira lixo de difícil decomposição e abarrota os aterros sanitários – pode ser aproveitada para outra finalidade: como material de construção. Aplicadas para isolamento térmico de telhados, em especial telhas de cimento-amianto, essas embalagens são capazes de refletir até 95% da irradiação infra-vermelha do sol e, com isso, reduzir em perto de 9o C a temperatura no interior do ambiente. Esta propriedade vem sendo constatada nas experiências do engenheiro civil industrial Luis Otto Faber Schmutzler, pesquisador-colaborador do Laboratório de Engenharia Biomecânica (Labiomec), da Faculdade de Engenharia Mecânica (FEM) da Unicamp.
As embalagens longa vida usadas como isolante térmico podem minimizar o problema de superaquecimento de moradias, particularmente as da população de baixa renda. Coberturas de cimento-amianto são comuns também em escolas, submetendo crianças e professores a um calor insuportável, a alterações de humor e a problemas no rendimento escolar e de saúde. O aproveitamento do material também assegura, nas noites de inverno, o fim do gotejamento nas telhas, causado pela condensação da umidade relativa do ar (respiração e vapor desprendido das panelas no fogão).
CURIOSIDADE LEVOU A DESCOBERTA
A mera curiosidade de Schmutzler em abrir uma embalagem de leite resultou no “Projeto Forro Vida Longa”, que passa a integrar as atividades de pesquisa da FEM, com o objetivo não apenas de aprimorar as técnicas de utilização alternativa do material como a divulgação dos benefícios deste reaproveitamento ao meio ambiente. Para cumprir esta meta será construído na Unicamp um protótipo de residência onde diversos testes serão realizados.
A proposta, esclarece o pesquisador, é levar algum conforto a baixíssimo custo para a população menos favorecida economicamente, obrigada a conviver com o superaquecimento de suas casas, principalmente naquelas cobertas com telhas de espessura reduzida, onde a temperatura interior, no alto verão, pode chegar a 45o C (sobre a cobertura, ela fica próxima dos 70o C). “Não podemos esquecer que mulheres e crianças – e pessoas que por trabalharem à noite têm de dormir durante o dia – enfrentam esse desconforto a maior parte do tempo”, ressalta.
Schmutzler percebeu o uso alternativo das embalagens longa vida há cerca de três meses, logo que abriu a caixa de leite. Achou interessante o visual interior delas e começou a guardá-las pensando, inicialmente, que poderiam ser úteis na confecção de peças de artesanato. “Notei a existência de uma camada de alumínio, material semelhante ao de um revestimento próprio para isolamento térmico de telhados, importado e de custo elevado”, explica.
Resolveu então avaliar esta propriedade nas embalagens, colocando-as por horas embaixo de telhas de cimento-amianto, sob sol forte, observando a eficiência das caixinhas para refletir os raios infra-vermelhos.
RISCO DE INCENDIO
Experiências complementares foram feitas em casas na praia de Itamambuca, em Ubatuba (SP). Ali já existem pessoas envolvidas na execução do projeto, que trataram de eliminar dúvidas sobre a capacidade isolante das embalagens.[color=””RED” size=”2″”]Os testes demonstraram, também, que mesmo sendo compostas por várias camadas de polietileno e papelão, elas não são auto-combustíveis e, portanto, não aumentam o risco de incêndio[/color]“Em um curto-circuito provocado, a corrente-elétrica foi cortada pela própria embalagem, comprovando que não é iniciadora de fogo e que, como outros materiais usados na construção civil, só queima se a chama for mantida sobre ela”
Motivado pelo resultado de suas pesquisas, Schmutzler desenvolveu técnicas para a limpeza em larga escala dos resíduos de leite nas embalagens, o corte adequado e a colagem para produção das mantas, que devem ser colocadas sob as telhas e ainda em paredes mais expostas ao sol. São procedimentos simples, mas que garantem a perfeita higienização das embalagens tanto para o manuseio quanto para a aplicação.
Um próximo passo, comenta o pesquisador, é divulgar a característica desse material junto às prefeituras. Esta iniciativa pode incentivar a criação de coleta seletiva para o aproveitamento na construção de moradias populares, escolas, postos de saúde e outros prédios públicos cuja cobertura, em função do custo, é na maioria das vezes feita com telhas de cimento-amianto. Para isso, o pesquisador planeja criar um site no qual o interessado poderá obter todas as informações necessárias para a correta confecção e aplicação das mantas em paredes ou telhados.
Importante benefício ambiental
Além da finalidade social, o aproveitamento das embalagens “longa vida” para isolamento térmico em moradias traz importante benefício ambiental. Compostas por seis camadas de materiais – quatro de polietileno, uma de alumínio e uma de papelão – as caixinhas vazias acabam se constituindo em sério problema ecológico.
Dados da Companhia de Tecnologia e Saneamento Ambiental de São Paulo (Cetesb) revelam que elas levam cerca de cem anos para se decompor. O crescente uso dessas embalagens faz com que elas passem a ocupar espaço considerável nos aterros sanitários. “A previsão da multinacional sueca Tetra Pak, único fabricante mundial das embalagens longa vida, era de produzir seis bilhões de unidades no Brasil somente em 2000”, conta o pesquisador Luis Otto Schmutzler.
A difusão de sua utilidade como material de construção, acredita, contribuirá para aliviar o acúmulo de lixo urbano. “É nosso objetivo que as caixinhas sequer cheguem ao lixo”, diz. Schmutzler defende a criação de sistemas específicos de coleta pelas prefeituras ou por organizações ligadas às comunidades carentes, e o incentivo para que o trabalho de limpeza e colagem das embalagens seja feito em centros comunitários. Isso pode garantir, ainda, ganho econômico para catadores ou desempregados que se dedicarem à tarefa.
Atualmente, segundo o pesquisador, a Tetra Pak reprocessa 15% das embalagens, destruindo-as e vendendo os resíduos para fábricas de plástico e de papelão. Essas seis bilhões de unidades poderiam, se reaproveitadas, garantir 400 mil metros quadrados de isolante térmico, o suficiente para 40 mil pequenas moradias. Para cada metro quadrado de manta são necessárias 16 caixinhas de leite.
“O país não pode se dar ao luxo de descartar esta preciosidade, em prejuízo não só do bem-estar da população como do meio ambiente”, ressalta Schmutzler.
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Abaixo texto extraído do Jornal O Estado de São Paulo – Edição de 22/02/2004
Caixinhas de longa vida deixam a casa mais fresca
Uso da embalagem como isolante térmico ajuda a reduzir a temperatura nos ambientes em até 8º C.
Caixinhas de leite que sempre vão parar no lixo podem ser reaproveitadas e transformadas em isolante térmico alternativo para residências e galpões, reduzindo a temperatura no interior dos imóveis em até 8º C.
A utilização das embalagens Tetra Pak pode ser feita de forma artesanal, pelo próprio morador, diminuindo os custos. Outra opção são as telhas feitas de caixas de Tetra Pak recicladas, vendidas com preços até 25% menores do que os materiais concorrentes.
A idéia de reaproveitar as embalagens de forma artesanal virou tema de estudo na Unicamp e resultou no Projeto Forro Vida Longa – uma alusão ao leite Longa Vida. O professor da Faculdade de Engenharia Mecânica da Unicamp e coordenador do projeto, Celso Arruda, explica que a proposta partiu do engenheiro Luís Otto Schmutzler, que juntamente com professores da faculdade desenvolveu todo o processo de aproveitamento das caixinhas de Tetra Pak para uso em habitações populares. Arruda afirma que a transformação das embalagens em isolante é simples e pode ser feita por qualquer pessoa.
[b}Como fazer ??[/b]
O primeiro passo é abrir totalmente as caixinhas, descolando as emendas e fazendo um corte vertical para que a embalagem fique completamente plana. Em seguida, é feita a limpeza com água, sabão em pó e um pouco de desinfetante. Depois de secas, as embalagens devem ser coladas lado a lado, com cola branca ou de sapateiro, formando uma manta sobre a laje superior da casa, abaixo do telhado. Para o perfeito funcionamento do isolamento térmico, é muito importante que a manta não encoste nas telhas, deixando um espaço mínimo de dois centímetros para a circulação do ar.
O professor da Unicamp diz que a manta de Tetra Pak bem aplicada tem o mesmo desempenho dos placas de alumínio (foils) vendidos no mercado, ajudando inclusive na proteção contra goteiras provocadas por falhas no telhado. A explicação está na composição das caixinhas, formadas por 5% de alumínio, 20% de plástico e 75% de papelão. O alumínio reflete mais de 95% do calor, ajudando a diminuir a temperatura interna dos ambientes em até 8º C.
Baixo custo
Para Arruda, as mantas de Tetra Pak são uma boa solução para favelas, habitações populares e galpões, já que a instalação tem custo muito baixo, não exige mão-de-obra qualificada e também não há compromisso com a estética. A idéia, no entanto, tem conquistado um público maior.
Recentemente, a solução foi adotada pela arquiteta Consuelo Carleto na construção da nova unidade da fábrica de calçados Pé de Ferro, em Franca (SP). No projeto, as caixinhas foram coladas no seu formato original, sem serem desmontadas antes, para redobrar a proteção térmica nos 200 m² que cobrem a área administrativa da empresa. “As pessoas trabalham melhor com a temperatura agradável e os gastos com ar-condicionado diminuem bastante.”
Sem ir para o lixo
Ainda há o lado ecológico, já que as embalagens que vão para o lixo levam dezenas de anos para se decompor nos aterros. Para incentivar a reciclagem das caixinhas, a Tetra Pak desenvolveu uma tecnologia para que fabricantes pudessem transformar o alumínio e plástico presente nas embalagens em telhas e chapas planas.
A Ibaplac, localizada em Ibaté (SP), produz mensalmente 7 mil peças, entre telhas e placas, utilizando cerca de 100 toneladas de matéria-prima. “São telhas mais leves do que as de fibrocimento, mais duráveis e mais baratas”, afirma o diretor industrial da empresa. Eduardo Gomes. Outras oito fábricas espalhadas pelo País fabricam esse tipo de produto.
Segundo o diretor de Meio Ambiente da Tetra Pak, Fernando Von Zuben, mais de 60 mil telhas são fabricadas mensalmente. “Além de garantirem conforto térmico, as telhas custam até 25% menos do que as de amianto ou fibrocimento.” A partir das embalagens, também são fabricados móveis, vassouras e uma série de produtos para casa.
De acordo com Zuben, 30 mil toneladas de Tetra Pak são reciclados por ano, mas o volume corresponde somente a 20% do total produzido pela empresa. “Todas as embalagens separadas na coleta seletiva são recicladas e ainda existe uma capacidade ociosa de 40% para aumentar a reciclagem”, avisa.
Unicamp: 19-3788-5125 – Ibaplac: 16-243-1747 – Tetra Pak: 19-3879-8187O
Escrito por Ivan de Sousa Neto/Campinas-SP, em 8/3/2004