Alimentação de Pássaros Granivoros
Considerações sobre o manejo alimentar em Passeriformes Granívoros
Boa alimentação reduz custo final de manejo
A alimentação é um dos fatores de maior peso no sucesso da manutenção e reprodução de espécies animais em ambientes domésticos, fato que também é válido para a criação de aves ornamentais.
Através do controle da alimentação dos animais é possível prevenir patologias, aumentar-se o número e melhorar a qualidade de filhotes viáveis, prolongar as vidas úteis dos reprodutores e matrizes, reduzir custos da criação e simplificar o manejo diário, entre outros fatores.
Uma alimentação errada pode interferir de modo significativo na criação, afetando a saúde dos animais e gerando problemas na reprodução (infertilidade, filhotes excessivamente frágeis, etc), o que leva a uma maior necessidade de cuidados, sejam eles o aumento do tempo gasto para se cuidar dos animais ou maior uso de medicamentos e suplementos, além da queda dos níveis de produção que os animais poderiam apresentar em condições ideais.
Vale ressaltar que estamos tratando de aves do ambiente doméstico, e que, portanto, têm necessidades nutricionais bem diferentes de animais de vida livre.
Sabendo disso, este texto tenta abordar de uma forma consciente as vantagens e desvantagens dos principais alimentos utilizados na nutrição de aves ornamentais, principalmente nos pássaros granívoros, e abordar algumas questões que muitas vezes não são consideradas, mas que apresentam relevância.
MISTURA DE SEMENTES
É o tipo de alimento mais comumente fornecido às aves, e geralmente a base da alimentação destes animais.
Com uma mistura bem equilibrada e de boa qualidade, pode-se ter bons níveis nutricionais, obtendo-se níveis significativos na produção e qualidade de filhotes e de saúde dos animais, e o custo não é elevado.
Porém, quando se utilizam sementes, geralmente há uma necessidade de complementação da dieta na época de reprodução (utilização de farinhadas, por exemplo).
A mistura de sementes permite também que o pássaro escolha e coma entre os diversos tipos, a sua semente preferida (e cada animal terá uma preferência), e isto representa um problema considerável, pois dessa forma não se consegue ter um controle preciso da dieta que está sendo ingerida nem dos nutrientes que estão sendo consumidos em excesso ou em quantidades pequenas por cada animal.
Sem este controle, a mistura de sementes, mesmo bem equilibrada, pode fazer com que o pássaro não tenha uma alimentação adequada.
FARINHADAS
Também muito utilizadas, com diferentes formulações (algumas delas sem muita lógica, baseadas em empirismos).
Quando preparadas de uma forma adequada e com níveis nutricionais corretos de acordo com a época em que o pássaro está (crescimento, reprodução, muda de penas), são muito vantajosas quando utilizadas de forma correta.
Porém, geralmente são fornecidas com misturas de sementes e sem o controle dos níveis nutricionais adequados de acordo com a fase de vida do pássaro (por exemplo: geralmente uma farinhada de reprodução, com um nível de proteínas adequado para a reprodução, é fornecida durante o ano todo).
Isto pode trazer problemas, não tão perceptíveis, mas quando analisados mais a fundo, tem correlação com este fato; por exemplo: fêmeas que não entram em postura na época adequada – geralmente um pequeno aumento na quantidade de proteínas da dieta fazem com que elas se preparem para a reprodução, porém, quando se utiliza uma quantidade constante e elevada de proteínas o ano todo, pode-se alterar este padrão, fazendo com que algumas fêmeas não botem de forma eficiente, fora da época ideal, além de poder trazer problemas de saúde aos pássaros (devido à alta quantidade de proteínas por um período muito prolongado).
OVO, LARVAS ou INSETOS e outras FONTES de PROTEÍNAS
Podem ser utilizados como complementação de dieta desde que na época adequada, porém podem ser substituídos de forma mais eficiente por outras fontes melhores e mais adequadas (farinhadas e rações extrusadas).
No caso das larvas e dos insetos, podem ocorrer contaminações dos pássaros por larvas e insetos contaminados com algum tipo de patógeno (quando se utiliza ovo, isso é menos comum).
Geralmente, estes alimentos apresentam uma boa quantidade de proteínas que será acrescentado à dieta do animal, tornando os níveis de proteínas da dieta adequados, mas também apresentam altos ou baixos índices de outros componentes, e geralmente são extremamente calóricos, e desequilibrando de forma significativa a dieta do animal e trazendo mais problemas do que soluções.
VERDURAS
A composição das folhas das verduras é em sua grande maioria água, e mais uma pequena quantidade de outros nutrientes.
Podem ser utilizadas, porém geralmente pouco acrescentam na dieta do animal, e atualmente, corre-se ainda um grande risco de intoxicações (produtos químicos nas folhas de verduras) e contaminações de plantel por patógenos.
Se analisarmos o risco oferecido e os benefícios trazidos pelas folhas, geralmente suspendemos seu uso.
FRUTAS
Também geralmente têm uma grande composição de água, porém apresentam quantidades maiores de nutrientes que podem ser interessantes quando acrescentados a dieta.
Devem utilizadas de forma adequada e em quantidades adequadas, como uma complementação da dieta dos animais – não devem ser oferecidas em grandes quantidades já que podem trazer problemas (algumas frutas têm grande quantidade de açúcar, por exemplo).
AREIA, FARINHA de OSTRA, CASCA de OVO MOÍDA, GRIT, etc…
Têm um papel importante na digestão das aves, auxiliando a digestão de partículas grandes e duras que ocorre no pró-ventrículo (moela), o estômago mecânico das aves.
Algumas podem ser utilizadas como fontes de cálcio e outros nutrientes. Porém deve-se utilizar produtos de boa qualidade e que não estejam contaminados com patógenos.
RAÇÕES EXTRUSADAS
Apresentam fácil digestibilidade, níveis nutricionais adequados à cada fase de vida do pássaro (crescimento, manutenção, reprodução, muda) e geralmente não necessitam que outras fontes de nutrientes sejam acrescentadas à dieta, facilitando de forma muito significativa no cuidado diário das aves.
Porém, ainda não são tão fáceis de se encontrar e o custo ainda é um pouco elevado.
Em síntese, deve-se ter cuidado e consciência quando opta por um tipo de alimentação, sabendo-se as vantagens e desvantagens da opção escolhida.
Vale também ressaltar que não existe uma única dieta ideal, universal para todos os pássaros de uma determinada espécie mantida no ambiente doméstico, já que as condições que cada animal é mantido são diferentes.
Temos criadores e mantenedores de pássaros por todo o país, nas mais variadas condições.
Não é coerente pensarmos que um pássaro localizado no Rio Grande do Sul tenha as mesmas necessidades que um pássaro localizado no Piauí.
Cabe a cada criador encontrar a dieta mais eficiente e melhor para as condições dos pássaros mantidos por ele, e isto pode ser conseguido de diversas formas.
César Garcia Capel Wenceslau
Aluno da graduação da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia Da Universidade de São Paulo
Escrito por César Garcia Capel Wenceslau, em 20/4/2005