MACRO E MICROELEMENTOS
BOLETIM DO CRIADOURO CAMPO DAS CAVIÚNAS
Nº 18 OUTUBRO DE 2005
REDATOR: Dr. JOSÉ CARLOS PEREIRA
RUA JOAQUIM DO PRADO, 49. CRUZEIRO/SP. TELEFAX 0xx12 31443590
drjosecarlos2000@uol.com.br
NUTRIÇÃO E ALIMENTAÇÃO
1- PARTE GERAL.
2- PARTE ESPECÍFICA:
21- LIPÍDIOS, PROTÍDIOS E GLICÍDIOS;
22- ÁGUA;
23- VITAMINAS HIDRO E LIPOSSOLÚVEIS;
24- SAIS MINERAIS (MACRO E MICROELEMENTOS).
1- COMENTÁRIOS FINAIS.
2- PARTE ESPECÍFICA
24- SAIS MINERAIS (MACRO E MICROELEMENTOS).
Como as vitaminas, os minerais devem ser oferecidos pelo meio ambiente em pequenas quantidades, mas essencialmente diferem delas por serem substâncias inorgânicas, isso é, são compostos de qualquer elemento químico, exceto o carbono. Entrou carbono é orgânico.
E, como acontece com as vitaminas, nesse momento milhões e milhões de pessoas em todo o mundo fazem uso deles na procura, muitas vezes, de propriedades que eles não têm ou somente têm se o organismo estiver deficiente.
A descoberta, lá pelos idos de 1960, da espectrofotometria de absorção atômica, permitindo a dosagem rápida e precisa no organismo, trouxe uma enorme avanço nos estudos sobre os minerais. Essas investigações também foram favoravelmente afetadas pelas conquistas da bioquímica, da imunologia, dos métodos analíticos e da biologia molecular.
Perto de 96% do peso corporal humano é constituído por somente cinco elementos químicos: carbono, hidrogênio, oxigênio, nitrogênio e enxofre; os outros 4% são constituídos pelos minerais.
De maneira didática os minerais essenciais para os animais podem ser classificados em:
1- Macrominerais. Necessidade individual acima de 100 mg/dia na alimentação: cálcio, fósforo, sódio, potássio, magnésio, cloro e enxôfre;
2- Microminerais. Necessidade individual entre 1 a 50 mg/dia na alimentação: ferro, zinco, cobre , manganês;
3- Elementos traços. Necessidade individual inferior a 1 mg/dia na alimentação: iodo, cromo, antimônio, cobalto, selênio, alumínio, estrôncio, silício e estanho.
4- Elementos ultratraços. Necessidades individuais minúsculas: flúor, molibdênio, vanádio, níquel, arsênico, cádmio, chumbo, lítio, boro e bromo.
Alguns autores definem os elementos traços e ultratraços como aqueles com concentrações nos fluidos biológicos menores do que 1 microgramo/g de peso úmido (wet weight).
A concentração dos minerais nas fontes alimentares, principalmente os dos grupos microminerais-+ e elementos traços, depende muito da fonte original do mineral; as suas concentrações nas fontes alimentares vegetais dependem das suas concentrações no solo em que foram plantadas e, nas fontes alimentares animais, da dieta a que eles foram submetidos.
1- Macrominerais:
11- Cálcio.
É o mineral predominante do organismo, aproximadamente 1.5% do peso corporal, e o principal cátion divalente do compartimento extracelular. Um humano adulto possui entre 1000 e 1300 g de cálcio, 99% contido nos ossos, como hidroxiapatita, sendo encontradas pequenas quantidades nos fluidos extracelulares e, em quantidades menores ainda, dentro das células, onde a sua forma ionizada atinge apenas 0.1 microgramo. Circula pelo plasma humano numa concentração entre 8.5 a 10.5 mg/dl, quase a metade ligada a proteínas plasmáticas, principalmente a albumina, e 10% forma complexos com elementos tampões, como o fosfato e o citrato. Um terço do cálcio encontrado nos ossos é mobilizável para as constantes trocas com o plasma conforme as necessidades.
No organismo o cálcio tem uma série de funções: a- Formação da estrutura dos ossos e dos dentes; b- Contração muscular e irritabilidade dos nervos; c- Coagulação do sangue; d- Produção do leite, e- Ação cardíaca e f- Ativação de várias enzimas. Nos pássaros o cálcio ainda tem outra função: composição da casca do ovo sob a forma de carbonato de cálcio.
A sua deficiência pode provocar mineralização deficiente dos ossos e dos dentes, osteomalácia, osteoporose, tetania, raquitismo e parada do crescimento; já o excesso pode levar a quadros graves como o bloqueio cardíaco e cálculos renais.
As principais fontes são o leite e os queijos, os vegetais folhosos verdes, as ostras e o salmão enlatado.
O cálcio sérico, talvez o mais importante e mais sujeito às alterações, é mantido, nos humanos, na média de 10 mg/dl, suportando muito pequenas variações para mais ou para menos; 40% do cálcio plasmático está ligado a proteínas, principalmente albumina e globulina, sendo os 60% restantes ultrafitrados (14% forma complexos como aqueles com o fosfato e o citrato e os 46% restante encontra-se livre na forma ionizada. A manutenção dos níveis adequados de cálcio no organismo é determinada por alguns fatores que podem ser assim sumarizados: 1- Regulação da absorção intestinal. Chegando o alimento ao estômago, o ácido clorídrico ataca uma grande quantidade dos sais que são solubilizados e ionizados sendo liberado o Ca++. No intestino o cálcio deve ser absorvido em meio ácido, pois, em meio alcalino, entra na composição de compostos insolúveis, como os sabões de cálcio, que são eliminados. A absorção do cálcio é estimulada pela vitamina D, pela lactose, por dieta rica em proteínas e por alguns aminoácidos e dificultada pelos ácidos fítico (os grãos de cereais são ricos em fitatos), oxálico (o espinafre e a acelga são ricos em oxalatos) e benzóico. O cálcio é absorvido no intestino delgado, principalmente no duodeno e nas primeiras porções do jejuno (um pouco de cultura inútil: duodeno porque os primeiros anatomistas o mediram em doze dedos de comprimento e jejuno porque era sempre encontrado vazio) por mecanismo ativo que usa transportadores estimulados pela vitamina D; a absorção aumenta quando os níveis de cálcio baixam provocando o aumento da secreção do hormônio da paratireóide (PTH), o qual, aumenta a conversão da 25-hidroxivitamina D3 na sua forma ativa, o calcitriol. Inicialmente há a difusão do cálcio pelas microvilosidades da membrana e, logo a seguir, o transporte ativo através da membrana basolateral. A primeira ação da vitamina D na absorção do cálcio é a alteração dos ácidos graxos das membranas, tornando-as mais permeáveis; em seguida a vitamina D liga-se a uma proteína do citoplasma celular formando um complexo que inicia a transcrição de genes específicos que codificam a síntese da proteína transportadora do cálcio. Do intestino o cálcio vai para o sangue onde pode ser encontrado em três formas: ionizado ( o íon é um átomo ou um grupo deles com excesso ou falta de carga elétrica negativa. Cátion é um íon com carga positiva e o ânion é um íon com carga negativa), perfazendo até a metade do total e a única metabolicamente ativa, portanto, ao contrário do cálcio encontrado formando complexos, representa uma reserva rápida que pode ser usada para a manutenção dos níveis de cálcio sérico ; ligado a proteínas, sendo 80% ligado à albumina e 20% às globulinas e sob a forma de complexos, como os quelatos formados com os citratos e os fosfatos; 2- Regulação da excreção renal. O cálcio não ligado a proteínas do plasma é filtrado pelos glomérulos renais (o rim fica o tempo todo filtrando, depurando, absorvendo, secretando e eliminando substâncias, trabalhinho cansativo, mas extremamente importante para a vida. Se falha, pede a ajuda das diálises e/ou dos transplantes), sendo 99% dele reabsorvido, processo estimulado pela vitamina D. O PTH também estimula a reabsorção do cálcio; a queda do PTH diminui a reabsorção, num mecanismo muito interessante regulado pela concentração cálcica do plasma. Há outros fatores que atuam na reabsorção renal do cálcio, mas seria prolongar muito esse papo e 3- Balanceamento entre ente deposição e mobilização do cálcio ósseo. Assim: cai o cálcio ou aumenta o fosfato plasmático, o PTH aumenta a absorção renal, aumenta a liberação do cálcio do osso por ação direta ou estimulando a produção da vitamina D que, por sua vez, aumenta a absorção do cálcio pelo intestino e também estimula a liberação do cálcio pelo osso. No osso há duas células básicas: o osteoblasto, que forma osso, e o osteoclasto, que reabsorve osso, num processo contínuo que faz do osso uma unidade de enorme força metabólica. Olhem o que dissemos num trabalho sobre o osso: “Pegue um osso, esse fêmur que você dá para o seu cão limpar os dentes, e olhe atentamente. A primeira impressão é a de uma estrutura estática e grosseira, não é? Engano. Na realidade o osso é um complexo histológico e funcional ao mesmo tempo sensacional e intrigante”. O PTH estimula os osteoclastos a absorver osso, mas não de maneira direta, pois, são os osteoblastos e não os osteoclastos que possuem receptores para o PTH. Fixando-se aos receptores específicos dos osteoblastos, o PTH estimula a liberação de citoquinas, as quais, agem sobre os osteoclastos estimulando-os à absorção de osso. Aí está uma prova concreta de que, na medicina, nem sempre dois mais dois são quatro. E tudo isso, amigos, funciona seguindo um determinismo genético que nós e os nossos pássaros herdamos fify/fifty dos nossos genitores. No organismo tudo funciona como na vida: se falta dinheiro, temos que aumentar a produtividade, tirar de um lugar para por em outro, diminuir os gastos ou buscar os investimentos, venda de bens ou empréstimos; se sobra, podemos gastar ou estocar nos investimentos para o futuro. Se isso não funcionar bem, a UTI fica logo ali na esquina… Por sua vez, aumentado o cálcio do plasma, a tireóide aumenta a produção e a liberação do hormônio tireocalcitonina, inibidor da reabsorção óssea, atuando diretamente através de receptores situados nos osteoclastos, e da absorção intestinal do cálcio e estimulador da sua excreção renal; a tireocalcitonina age mesmo na ausência do PTH ou da vitamina D.
Duas correlações importantes do cálcio úteis na prática do manejo da alimentação dos pássaros: 1- Relação cálcio:fósforo. O metabolismo do cálcio é indissociável daquele do fósforo. O ideal é a relação próxima de 2:1, isso é, para cada parte de cálcio a dieta deve também conter uma parte de fósforo. Alguns autores citam uma tolerância entre 0.5:1 até 2.5:1 sem grandes prejuízos para as aves; esses mesmo autores mostram que, em algumas espécies relação de 1:1 é necessária para o crescimento adequado dos filhotes, 1.5:1 para manter o cálcio e o fósforo séricos dentro dos valores normais e 2:1 para manter no ponto máximo a densidade dos ossos. As galinhas e as codornas poedeiras, por serem exigidas para posturas diárias, exigem relações cálcio:fósforo tão altas como 5 ou 10:1. Portanto, aqueles criadores que usam rações de codornas como parte da dieta dos seus pássaros devem dar uma quebradinha, através de misturas adequadas, nessa relação para evitar que as bichinhas botem ovos de pedra… A sorte delas é que a ração de codorna é usada numa pequena proporção e a média final da relação Ca:P torna-se aceitável. Nesse quesito, a ração de cães, que começa a ser usada na dieta dos pássaros por alguns criadores, é mais adequada. Volto afirmar: não estou indicando o uso de rações de cães para pássaros simplesmente porque não tenho qualificação para isso por não ser veterinário. Somente faço uma constatação do que acontece no fascinante meio passarinheiro. Uma história posso contar: quando tinha canil, uma família de pardais tratava os seus filhotes com ração surrupiada dos filhotes de cães quando eles dormiam; como a ração era super premium, criavam uns bitelos de filhotes que só vendo… O Taddei, encarapitado no morro e perto do prédio azul, já gozou: – Se os canários não encartarem o canto latido, o negócio deve funcionar… e 2- Muito cuidado ao usar para os seus pássaros medicamentos para uso em humanos, ou mesmo alguns específicos para aves contendo sais de cálcio. Se o cálcio ultrapassar 1% da dieta haverá queda na utilização de outros nutrientes como as proteínas, gorduras, vitaminas, fósforo, ferro, manganês, iodo, e zinco; portanto, além de provocar hipercalcemia, com todos os seus efeitos deletérios, esse abuso terapêutico ocasionará uma poli-esculhambose danada.
Sem dúvidas, o leite e os seus derivados são as melhores fontes de cálcio (uma xícara de leite contém quase 250 mg de cálcio); algumas hortaliças/frutas como a couve (100 mg cálcio/porção de 75 g), o brócolis e a laranja (41 mg cálcio/unidade) também são fontes razoáveis; as carnes são fontes razoáveis (exceção do salmão enlatado com espinhas que chega aos 120 mg cálcio/60 g), o mesmo acontecendo com os cereais, a não ser que sejam enriquecidos.
12- Fósforo.
É o mais abundante ânion intracelular, tendo função essencial na estocagem de energia, no transporte e na estrutura das membranas celulares, além de participar da estrutura dos ossos e dos dentes, da estrutura do núcleo e do citoplasma celulares, do equilíbrio ácido-base, da transformação de energia, da transmissão dos impulsos nervosos e de participar no metabolismo de carboidratos, gorduras e proteínas.
Dos 700 g de fósforo existente no organismo humano, 85% está no esqueleto, 15% nos outros tecidos e somente 0.1% está no líquido extracelular. Esse fósforo extracelular difunde-se livremente, o que, permite a excreção urinária de hidrogênio como tampão de fosfato (solução tampão é aquela capaz de manter inalterado o pH, resistindo à adição, dentro de limites, de reagentes ácidos ou alcalinos. Essencial para a manutenção do pH dos líquidos orgânicos) e a manutenção do equilíbrio da difusão com o fosfato inorgânico existente no citosol celular. No plasma, dois terços do fósforo encontra-se como fosfolipídios. O restante se apresenta como fósforo inorgânico, principalmente ortofosfato, 10% do qual está ligado a proteínas; os restantes 90% encontra-se sob a forma ultrafiltrável, sendo 5% formando complexos com o cálcio, o magnésio e fosfato de sódio e 85% está sob a forma livre. Da forma livre, 80% é ânion divalente e 20% ânion monovalente (H2PO4-). Nas células o fósforo é encontrado nas membranas e nas organelas subcelulares nas formas orgânicas de fosfoglicerídios e esfingolipídios. O fósforo intracelular faz parte de compostos como a adenosina trifosfato (ATP) e outros nucleotídeos, vários compostos glicose-fosfatados, do fosfato de creatinina e fosfato inorgânico do citosol, todos atuando na produção e liberação de energia. O fósforo inorgânico é o principal tampão urinário e tem função crítica no tamponamento dos íons hidrogênio livre.
Um adulto humano normal deve consumir 1 g por dia de fósforo (lembro que a minha avó, achando que o fósforo era bom para a cuca, o que não deixa de ter alguma razão, nos enchia de carne de peixe e miolo de boi). O fósforo das carnes e dos produtos lácteo é facilmente absorvido, havendo alguns senões na absorção do fósforo contido nos vegetais. Por exemplo, na aveia e no milho encontra-se em parte sob a forma de ácido fítico (hexafosfato de inositol), mas, como contêm muito pouco da enzima fitase, que quebra o ácido fítico em fosfato e inositol, o fósforo é pobremente absorvido; já o fósforo do farelo do centeio, que contém mais fitase, é melhor absorvido.
O metabolismo do fósforo na luz intestinal e a sua absorção intestinal são muito semelhantes às do cálcio. A absorção, processo ativo e dependente de energia, acontece principalmente no duodeno e é afetada pela relação cálcio:fósforo, pelo pH intestinal e pelos níveis na dieta da vitamina D, potássio, manganês, magnésio, ferro e gorduras. A absorção é diminuída pela tireocalcitonina, por ligands como o hidróxido de alumínio e carbonatos encontrados no conteúdo intestinal e, o que pode ser comum em animais, pelo excesso do consumo de cálcio. Volto a afirmar a besteira de ficar enchendo os pobres pássaros com produtos humanos contendo altas concentrações de cálcio e fósforo. O seu metabolismo intermediário é um pouco mais complicado, havendo formação de ésteres, lecitina e outros compostos. O radical inorgânico combina-se com o cálcio para ser depositado nos ossos. Sem dúvida, o mais importante é o fósforo que vai para todos os outros tecidos entrando na síntese do glicogênio do fígado e dos músculos e em reações para a síntese da fosfocreatina, do ATP, das fosfoproteínas e dos nucleotídeos trifosfatos cujas ligações fosfóricas constituem a mais importante forma de energia do organismo. Esses compostos fosfóricos trabalham em ciclos que têm como base o ATP liberando/captando fósforo e liberando energia. Alguns autores afirmam que o fósforo é o mais dinâmico dos elementos constituintes do organismo. É excretado principalmente pelos rins. As crianças, e logicamente os filhotes de pássaros retêm avidamente o fósforo; uma criança chega a reter quase 50% do fósforo ingerido, o que, pelo menos em parte, é explicado pelas grandes necessidades para o desenvolvimento rápido dos ossos.
Embora a absorção intestinal atue na regulação do fósforo do organismo, é o rim que tem a maior importância. O fosfato ultrafiltrável é livremente filtrado pelos glomérulos), mas 90% é reabsorvido pelos túbulos renais regulado pelo PTH. Amigos, esses glomérulos têm uma fisiologia das mais fascinantes. Perguntem ao Anderson, de Carangola, que tem conhecimento do assunto maior do que o meu.
Por sua ampla distribuição nos alimentos sob as formas de fosfato, sais do ácido ortofosfórico e fosfatos orgânicos, a deficiência de fósforo determinada pela sua falta na dieta é rara. Existem muitas outras causas da deficiência do fósforo, como as doenças que podem diminuir a sua absorção intestinal, a depressão psiquiátrica, o uso de medicamentos como os anticoncepcionais e os corticóides, o excesso de glicose e frutose na dieta, etc. Os principais sinais da deficiência são a cardiomiopatia (doença do músculo cardíaco), as alterações das funções dos eritrócitos, capazes de explicar muitos dos sinais neurológicos, e dos leucócitos, desmineralização do esqueleto, insuficiência respiratória e sinais neurológicos que vão desde as parestesias (sensação de formigamento ou ardência na pele) até a fraqueza muscular intensa, a disartria (articulação imperfeita da palavra), a confusão e obnubilação (entorpecimento mental), convulsões, diplopia (visão dupla), paralisia dos músculos oculares e até a morte. Por sua vez, níveis muito altos de fósforo no sangue podem levar a um quadro de hiperparatireoidismo secundário porque há diminuição do nível do cálcio, o que, determina aumento da função da glândula paratireóide (quatro pequenas glândulas situadas na superfície da tireóide) e o excesso de excreção urinária pode determinar o aparecimento de cálculos. De prático para o criador é que o excesso de fósforo pode determinar aumento da mortalidade no plantel.
As principais fontes são as carnes (boi, aves ou peixes), gema de ovo, os cereais integrais, as hortaliças e o leite e seus derivados. Nas espécies de aves que consomem alimentos ricos em fitina, o intestino é colonizado por microorganismos produtores de fitase (claro, amigos, a boca livre atrai sempre convidados) que promovem a hidrólise dos fitatos e tornam o fósforo mais aproveitável; não é um mecanismo muito eficiente porque os nutrientes passam muito rapidamente pelo intestino das aves e o fósforo somente torna-se aproveitável nas últimas porções intestinais, as quais, são menos eficientes na sua absorção. Isso torna aproveitável somente 30% do fósforo fornecido pelos vegetais da dieta.
13- Sódio.
Em grandeza, é o principal cátion dos fluídos extracelulares. Como as membranas celulares são relativamente permeáveis a ele, o sódio é encontrado principalmente distribuído nos líquidos extracelulares humanos numa concentração de 140 mEq/L, podendo variar de 135 a 145, enquanto no líquido intracelular a concentração é bem mais baixa 10 mEq/L (5 a 8 para alguns autores). A menor concentração intracelular é mantida pelos sistemas das bombas de sódio-potássio e de magnésio-ATPase.
Funções do sódio no organismo: a-Manutenção da pressão osmótica (pressão exercida sobre a solução para impedir a passagem de solvente através de membrana semipermeável. De importância vital para manter o equilíbrio hídroeletrolítico entre os compartimentos extra e intracelular); b-Manutenção do equilíbrio ácido-base, mantendo o organismo dentro da faixa de pH em que as suas funções se exerçam plenamente; c-Equilíbrio hídrico e d-Irritabilidade dos nervos e músculos.
Do total de sódio do organismo, mais de 30% não é intercambiável (ou muito pouco intercambiável) e está em tecidos pobremente mobilizáveis como os ossos e o tecido conjuntivo; os restantes quase 70% do total, 11% está contido no plasma, 29% no líquido intersticial, 2.5% intracelular, 2.5% no fluído transcelular (ver capítulo sobre a água), 14% nos ossos e 8% no tecido conjuntivo. Vê-se que quase a metade (41%) do sódio do organismo está nos ossos, mas somente um terço é mobilizável. Os filhotes possuem quase o dobro de sódio intercambiável do que os adultos porque possuem relativamente maiores quantidades de tecido conjuntivo, cartilagem e líquido extracelular e relativamente menores massas musculares, cujas células possuem pequenas quantidades de sódio; esse é um dos fatores que levam filhotes rapidamente às desidratações durante os quadros diarreicos. Nos pássaros, na dependência da espécie, de 25 a 50% do sódio do organismo encontra-se nos ossos.
A quantidade de sódio ingerida depende muito dos aspectos culturais. Entre as aves mantidas em gaiolas a ingesta dependerá da dieta fornecida pelos criadores. Todo o cuidado é pouco porque os danos poderão se fatais.
A absorção se dá no trato gastrintestinal, sendo mínima no estômago e máxima no jejuno, provavelmente dependendo do sistema sódio-potássio-adenosina trifosfatase ativada (ATPase), portanto, um sistema enzimático dependente de energia; essa absorção é estimulada pela aldosterona, hormônio produzido pelo córtex das glândulas supra-renais. A eliminação do sódio é feita pelo suor, pelas fezes e pela urina; a não ser nos casos de diarréia, a concentração do sódio nas fezes é baixa e não há muitas evidências de que a concentração de sódio no suor seja importante para a manutenção do mesmo no organismo em condições normais.
Diariamente os rins filtram nos seus glomérulos uma centena de vezes o sódio ingerido e umas cinco vezes o total de sódio do organismo. Desse filtrado, somente 1% aparecem na urina, sendo os 99% restantes reabsorvidos pelos túbulos renais num processo ao mesmo tempo intrigante e sensacional (ah, as alças de Henle dos bons tempos de faculdade passados na mui bela e maravilhosa cidade de S. Sebastião do Rio de Janeiro!). Em tempos de normalidade os rins vão filtrando o seu sódiozinho sem alterar as suas concentrações no organismo.
Vamos fazer uma pequena digressão, tipo assim, usando um linguajar dos jovens, uma masturbaçãozinha científica bem simplificada. Não sei a importância que teria para os pássaros, mas sei que tem muita importância na manutenção da saúde dos seus mantenedores. A unidade funcional renal é o nefro, composto basicamente da unidade filtrante, o glomérulo, formado por um enovelamento de capilares originados da arteríola aferente e encapsulados pela chamada cápsula de Bowman, e da unidade reabsorvidora (desculpe, mestre Aurélio, mas não encontrei nada parecido) e um longo túbulo com diversos segmentos com ações específicas; esse túbulo desce, forma um U, torna a subir, forma um U invertido e desce levando o filtrado até os coletores, terminando com a uretra que encaminha a urina para o exterior. Pois é, esses túbulos e o tecido que o circunda formam um sistema que funciona como vasos comunicantes de uma precisão infernal. Nos túbulos mais próximos dos glomérulos, a absorção do sódio (e da água, do cloro e do potássio que fazem parte do mesmo jogo) faz com que o filtrado chegue aos túbulos mais distantes com composição bastante uniforme. E, apesar de bem menor, a absorção nessa parte final dos túbulos é que tem a maior importância na manutenção adequada do sódio no organismo. Tudo começa e segue assim: uma enzima proteolítica (decompõe proteínas), a renina, é produzida no aparato justaglomerular, formado por um grupo de células de determinada região do túbulo distal (mácula densa), por células adjacentes da arteríola aferente (que traz o sangue para os rins), ocasionalmente por células da arteríola eferente e por células extraglomerulares chamadas mesangiais; os estímulos para a produção da renina são a diminuição da chegada (perfusão) de sangue aos rins e a queda na concentração do cloreto de sódio detectada pela mácula densa. A renina converte o angiotensinogênio, normalmente existente na corrente sangüínea, em angiotensina I, um vasoconstritor de média intensidade. Nos capilares dos pulmões, e, em menor intensidade, também dos rins e outros órgãos, uma outra enzima, a convertina (converting enzyme), converte a angiotensina I em angiotensina II, um hormônio com múltiplas funções: vasoconstritor potente, facilita a síntese e a liberação da aldosterona, facilita a liberação do hormônio antidiurético (ADH), facilita a liberação de prostaglandina, aumenta a sede e inibe a liberação da renina (feedback ou retro-alimentação). A aldosterona age nas células dos túbulos distais aumentando a reabsorção do sódio e do cloro. Esse é o famosíssimo sistema renina-angiotensina dos estudos da hipertensão arterial, a assassina silenciosa. A excreção de sódio e água aumenta também por ação do peptídeo natriurético atrial (ANP), hormônio produzido e estocada nos miócitos dos átrios cardíacos que, sob o estímulo do aumento do volume dos líquidos extracelulares e conseqüente distensão dos átrios, é liberado e atua nos rins antagonizando os efeitos retentores de sódio do sistema renina-angiotensina.
Os dois quadros clássicos envolvendo o sódio são: 1- Hipernatremia, aumento do sódio sérico acima de 150 mEq/L (145 para alguns autores), causada por diversas condições que propiciam o ganho excessivo de sódio ou a excessiva perda de água (o que é mais comum) pelo organismo com pequena perda de sódio. Do ponto de vista prático para o passarinheiro algumas causas de hipernatremia devem ser citadas: a-Dieta rica em sódio sob a forma de cloreto de sódio (sal de cozinha). Deve ser sempre evitada o consumo de dieta contendo, ao mesmo tempo, alimentos ricos em sódio. Outro cuidado deve ser com os conteúdos de sódio nas rações de cães ou gatos usadas na dieta dos pássaros. Um aumento moderado de sódio na dieta é compensado pela ave se houver água à sua disposição. Aumentos cinco a dez vezes maiores do que as suas necessidades podem levar à parada do desenvolvimento e perda de apetite nos filhotes; os pássaros adultos poderão apresentar alterações nas penas, consumo exagerado de água, aumento da urina, sinais neurológicos, desidratação e alta mortalidade; b-Uso de soluções hidratantes orais, às vezes, como única fonte hídrica durante períodos de diarréia. Pior, algumas vezes, são usadas soluções hidratantes formuladas para humanos. Há criadores que dão a solução hidratante para as aves que vão viajar ou participar de torneios: com o calor dos ambientes onde são realizados os torneios, a hipernatremia pode se instalar; c-Diarréias nas quais as perdas de água são maiores do que as de solutos, aquelas nas quais as fezes ficam líquidas; d-Acesso inadequado à água fresca. Pássaros colocados em locais quentes, sem ventilação e com vasilhas contendo água morna ou quente poderão desenvolver hipernatremia. Há ainda uma série de doenças, como os diabetes insipidus e mellitus. Como o líquido extracelular torna-se muito concentrado (hipertônico), há a passagem de água de dentro para fora das células para manter o equilíbrio com a perda de volume das células, a qual, gera toda a sintomatologia, geralmente neurológica, da hipernatremia: estado mental alterado, fraqueza, irritabilidade neuromuscular, déficits neurológicos focais e, nos casos mais graves, coma e morte. A sede pode ser um dos primeiros sinais e 2- Hiponatremia, queda do sódio sérico abaixo de 130 mEq/L determinada pelas perdas excessivas de sódio ou a administração excessiva de líquidos com baixas concentrações sódicas. Há muitas causas de hiponatremia, como vômitos e/ou diarréia, queimaduras, insuficiência renal crônica, insuficiência cardíaca, etc. Eu não tenho dados para afirmar, mas suspeito que a grande maioria dos passarinheiros não dá aos seus pássaros acometidos por diarréia água + sais minerais, limitando-se ao fornecimento da água; isso poderá levar a um quadro de hiponatremia ou agravar hiponatremia já existente provocada pelas perdas fecais diarreicas. Os sinais, geralmente neurológicos, são determinados pela inchação das células cerebrais: dor de cabeça, náuseas, diarréia, câimbras musculares, desidratação, hipotensão, letargia, confusão mental, estupor, podendo haver convulsões, coma e morte.
O sódio está amplamente distribuído entre os alimentos, sendo fontes importantes, além daqueles alimentos salgados com cloreto de sódio, o leite e os seus derivados, os ovos, e praticamente todos os alimentos frescos.
14- Potássio.
É o cátion principal do compartimento intracelular, portanto, tem relação muito estreita com a massa magra do organismo. Dos 90% de potássio intercambiável do organismo de uma pessoa adulta, 89.6 está dentro das células e o restante é extracelular (0.4% no plasma e 1% no líquido intersticial); os restantes 10% constitui o potássio não intercambiável que está nas cartilagens e tecido conjuntivo denso (0.4%), nos ossos (7.6%) e 2% dentro das células. Dentro das células o potássio encontra-se na concentração de 150 mEq/L, correlacionando-se com a mesma concentração do sódio extracelular para manter o equilíbrio iônico intra/extracelular e o potencial de repouso da membrana. O desequilíbrio desse potencial, pelo mecanismo despolarização/repolarização da membrana, leva ao potencial de ação que permite a geração e o caminhar dos impulsos nervosos.
Oitenta por cento do potássio é excretado pela urina, sendo também eliminado pelo suor (pássaros não têm glândulas sudoríparas) e pelas fezes; 8% é retido pelas crianças em crescimento. No soro humano a concentração varia entre 4.0 a 5.6 mEq/L.
Ações do potássio no organismo: a-Contração muscular. Reduz a contractilidade muscular e favorece a relaxação, tendo efeitos opostos aos do cálcio; b-Condução dos impulsos nervosos; c-Manutenção da pressão osmótica e do equilíbrio dos líquidos, d-Atuação no ritmo cardíaco e-Biossíntese de proteínas e co-fatores em vários sistemas enzimáticos.
Devido aos efeitos funestos, tanto da hiper como da hipopotassemia, o organismo lança mão de vários mecanismos para manter constante a concentração do potássio.
A absorção se realiza nas primeiras porções do intestino delgado. No cólon, em resposta aos mineralocorticóides, como a aldosterona, e mesmo dos glicocorticóides, de acordo com as necessidades pode haver secreção do potássio e absorção do sódio aumentando, por conseqüência, a quantidade de potássio e diminuindo a de sódio nas fezes.
Na manutenção do equilíbrio orgânico do potássio (homeostase) participam dois tipos de mecanismos: 1- Extrarrenais. Havendo sobrecarga de potássio, para evitar a temível hipercaliemia o organismo aumenta a sua secreção pelo intestino e translada quase a metade para o interior das células, principalmente as do fígado e dos músculos; esse processo é regulado pela insulina e pela epinefrina/adrenalina (mediado pela estimulação dos receptores beta adrenérgicos)) que favorecem a captação do potássio pelas células. A aldosterona favorece a eliminação do potássio pelo intestino. A entrada do potássio nas células é ativa e depende da bomba Na-K-ATPase. No cólon intestinal há troca do potássio do plasma pelo sódio do conteúdo colônico, o que, tem alguma importância na homeostase do sódio e do potássio. Os mineralocorticóides, como a aldosterona, e os glicocorticóides diminuem o conteúdo de sódio e aumentam o de potássio nas fezes. Embora de maneira insignificante, o suor aumenta o seu conteúdo de potássio por efeito dos mineralocorticóides; como passarinhos não suam, é uma via inexistente para a homeostase do potássio e 2- Renais. Perto de 60% do potássio filtrado pelos glomérulos é absorvido nas primeiras porções dos túbulos renais; mas são as últimas porções dos túbulos (túbulos distal e dutos coletores), capazes de secretar ou absorver o potássio, tal qual acontece com o sódio, as responsáveis pela atuação na homeostase do mesmo. A hipercaliemia estimula a produção da aldosterona que aumenta a secreção. A secreção tubular do potássio é estimulada pela alcalose e inibida pela acidose plasmática. O peptídeo natriurético atrial (ANP) e a queda do potássio plasmático inibem a secreção da aldosterona. Notem que, como quase tudo no controle do equilíbrio do organismo, possibilitando o funcionamento adequado de todos os órgãos, e conseqüentemente a vida, os mecanismos funcionam interligados, uns controlando os outros, estimulando ou inibindo a produção ou a ação deles. Magnífica máquina que teimamos em não respeitar judiando-a freqüentemente.
A hipopotassemia pode se manifestar por falta de apetite, náuseas, fraqueza, distensão abdominal, irritabilidade nervosa, os clássicos soluços, sonolência, taquicardia, confusão mental e o exagero dos efeitos do sódio. A hiperpotassemia pode provocar bloqueio cardíaco com concentrações próximas de 10mEq/L.
Excessos alimentares de até três vezes as necessidades diárias não ocasionaram problemas em espécies de aves. Salve mecanismos compensadores.
15- Magnésio.
É o quarto mais abundante cátion do organismo e o segundo eletrólito mais encontrado no interior das células (o primeiro entre os cátions divalentes), o que, confere a ele grande importância na atividade das enzimas celulares, especialmente as que atuam na glicólise e na estimulação das ATPases. Em 1932, Kruse, Orent e McCollum, publicaram no Journal of Biol. Chem. o trabalho Studies on magnesium deficiency in animals, mostrando ser o magnésio um íon indispensável à vida.
A concentração do magnésio do corpo humano varia entre 22 mEq/L na criança até 28 mEq/L no adulto, sendo as maiores concentrações encontradas nas células ósseas e musculares. Um homem possui, em média, 0.3 g de magnésio por quilo de peso corporal. De todo o magnésio do organismo, mais de metade está localizado nos ossos, dos quais, somente um terço é intercambiável livremente; a outra parte, menos da metade, está dentro das células, principalmente dos músculos e fígado. Somente uns 30% do magnésio intracelular é intercambiável, sendo que o restante está ligado a proteínas, adenosina trifosfato e RNA. Somente 1% do magnésio encontra-se no espaço extracelular, sendo a sua concentração no soro de 2.5 mg/dl, do qual, 1.4 mg/dl na forma livre e difusível. Dentro das células, o magnésio encontra-se em duas formas: a-Em solução que mantém os equilíbrios com a forma difusível do magnésio plasmático e b-A grande parte ligada a compostos orgânicos; uma boa quantidade está ligada ao ATP, formando o ATPMg que se mantém em equilíbrio com o magnésio livre, sendo que, alterações da concentração do magnésio livre podem ajudar a regular o estoque de ATP. Como o ATP(adenosino tri fosfato) é essencial por quase todos processos metabólicos ocorridos no organismo, já viu né…
Somente 1% do magnésio está no espaço extracelular, sendo intercambiável livremente com os depósitos ósseos e celulares, mas sempre mantendo concentrações extracelulares baixas entre 1.5 a 1.8 mEq/L. Desse magnésio extracelular, quase todo (uns 80%) é ultrafiltrável, sendo ionizados 55% e 25% formam complexos; os restantes 20% encontram-se ligados a proteínas.
O magnésio tem uma série de importantes funções: a-Ativação de enzimas que atuam no metabolismo dos carboidratos; b-Participação na estrutura dos ossos e dentes; c-Irritabilidade dos músculos e nervos; d-Cátion intracelular, importante para alguns processos metabólicos.
O magnésio tem a propriedade de formar complexos, tanto com íons quanto com moléculas bipolares, o que, facilita a sua ação como catalizador ou ativador de um grande número de reações enzimáticas: a-Ativa todas as enzimas que transferem o fosfato do ATP ou para o ATP; o ATP tem importância vital nas reações enzimáticas que intervêm no metabolismo dos glicídios, dos lipídeos, das proteínas, dos ácidos nucleicos, na contração muscular e nas transferências intermoleculares dos grupos sulfato, acetato e metila; b-Co-fator na fosforilação oxidativa; c-Necessário à estabilização das grandes cadeias de ácido desoxirribonucleico e ácido ribonucleico, mantendo a integridade estrutural dos ribossomos. Portanto, é fundamental para a bioquímica das células, especialmente as dos sistemas nervoso e muscular.
Ainda não foram descritos quadros devidos ao seu excesso na dieta, resumindo-se os quadros tóxicos no seu uso intravenoso.
As fontes principais são os cereais, os legumes verdes (146.2 mg/100 ml), carne (14.8 mg/100 ml), peixe (36.6 mg/100 ml) leite (15.5 mg/100 ml), frutas (17.4 mg/100 ml) cacau e nozes. Outros autores citam como fontes mais ricas os vegetais verdes (participa da clorofila), as sementes, nozes, feijões e a ervilha; fontes menos importantes são os peixes, a carne fresca, e algumas frutas frescas.
As crianças e., logicamente, os filhotes de pássaros requerem um aporte maior de magnésio do que os adultos para atender os seus rápidos crescimentos.
A absorção do magnésio é feita nas primeiras porções do intestino (jejuno e íleo), por mecanismo ainda não muito conhecido, sendo dois terços do ingerido encontrados nas fezes; é estimulada pela vitamina D, embora não muito intensamente, pelo PTH e pelo aumento da absorção do sódio e diminuída pela queda da motilidade intestinal, pelo cálcio e pelo fósforo. Pessoas normais chegam a absorver 40% do magnésio ingerido, chegando a mais de 70% quando a dieta é pobre em magnésio ou há deficiência orgânica do mesmo. Uma pequena porção de magnésio é secretada pelo intestino e eliminado nas fezes.
O equilíbrio do magnésio no organismo depende principalmente da sua excreção renal. Do magnésio filtrado pelos glomérulos, somente em torno de 5% aparece na urina, sendo uns 30% reabsorvidos nos túbulos proximais e a maioria do restante na chamada alça de Henle (parte dos túbulos excretores renais que forma um U como se fosse uma alça). A reabsorção renal é inibida, com aumento do magnésio urinário, quando há expansão do líquido extracelular e por efeito do glucagon (hormônio sintetizado pelas células alfa das ilhotas de Langerhans do pâncreas que, por sua atividade glicogenolítica, é hiperglicemiante), da carga de cálcio (compete como cálcio no transporte) e queda nos níveis do PTH; ao contrário, a reabsorção renal do magnésio aumenta quando há contração do volume extracelular, nas deficiências de magnésio, por efeito da calcitonina e pela a queda dos níveis de PTH.
A queda do magnésio no sangue, a hipomagnesemia, aparece em várias doenças como o aldosteronismo primário, alcoolismo, hipoparatireoidismo e quadros de má absorção intestinal; há a hipomagnesemia que surge em alguns bebês, ainda no berçário, levando a quadro de tetania. A ingestão continuamente deficiente, a giardíase e diarréia prolongada também podem ocasionar deficiências magnésicas. Amigos passarinheiros, alguns casos de giardíase podem ser confundidos com coccidiose, ambos podendo ocasionar quadros diarreicos agudos ou crônicos. Portanto, alimentos ricos em magnésio devem fazer parte da dieta diária dos pássaros e, se forem usados extrusados, é bom conferir se os níveis de magnésio das formulações são suficientes.
Os sinais de hipomagnesemia são especialmente aqueles determinados pelo aumento da irritabilidade neuromuscular: câimbras musculares, tetania, tremores e convulsões severas; pode haver alterações da personalidade, parestesias, decréscimo da atenção, falta de apetite, náuseas, arritmias cardíacas e alterações no eletrocardiograma. Geralmente a hipomagnesemia coexiste com a hipocalcemia. A falta de apetite, os vômitos, as náuseas, a fraqueza e a letargia podem surgir nas primeiras semanas da deficiência, surgindo os sinais mais graves após meses. Mau desenvolvimento das penas. Podem ser encontradas pequenas deficiências de magnésio nos estados que apresentem metabolismo aumentado, como gravidez e aclimatação ao frio, e nos indivíduos em treinamento atlético. Transpondo para os nossos pássaros: os vôos em espaços maiores e a exposição ao frio, principalmente nas regiões mais ao sul, poderiam gerar essas pequenas deficiências? Geralmente, a deficiência em um dos três elementos, magnésio, potássio ou fósforo dentro das células, é acompanhada da deficiência dos outros dois.
Já o excesso do magnésio no sangue, a hipermagnesemia, dificilmente aparece sem haver diminuição da função renal. Surge quando renais crônicos, ou mesmo algumas pessoas saudáveis, utilizam enemas, antiácidos, laxantes, etc. contendo magnésio na fórmula. Os sinais clínicos mais chamativos são a diminuição dos reflexos, a depressão respiratória, a sonolência e o coma. Essas manifestações desaparecem rapidamente com o uso do cálcio.
16- Cloro.
O cloro representa uns 65% dos ânions plasmáticos, variando a concentração no soro entre 99 e 106 mEq/L. O cloro, através do íon cloreto, a sua forma metabolicamente ativa, está intimamente ligado ao sódio na dieta, nos processos metabólicos e são excretados nas mesmas condições.É o maior ânion do fluido extracelular, estando assim distribuído: 37.3% no interstício, 13.6% no plasma, 17% no tecido conjuntivo denso e cartilagens, 15.2% nos ossos e 4.5% nos fluidos transcelulares; somente 12.4% estão dentro das células, regulados por dois mecanismos básicos: a-troca recíproca cloro-bicarbonato dependente da variação intracelular do pH. Aumento do pH intracelular provoca a troca do bicarbonato pelo cloro extracelular restabelecendo o pH normal e b- Transporte passivo do cloro para fora da célula pelo canal de transporte seletivo de ânions ou ativamente pelo co-transporte potássio-cloreto.
Tem importância na manutenção da pressão osmótica e no equilíbrio hídrico, sendo, juntamente com o sódio, importantíssimos na manutenção do espaço extracelular; no balanço ácido-básico e na síntese do ácido clorídrico (HCl) do suco gástrico após unir-se ao hidrogênio liberado na reação clássica dos bancos escolares: CO2 + H2O dando HCO3- + H+. O ácido clorídrico ajusta o pH do suco gástrico para favorecer a ação das enzimas, a melhor absorção do ferro e o ataque a microorganismos presentes nos alimentos. Depois disso tudo, o cloro volta à circulação fechando o chamado ciclo do cloro.
A sua ingestão e eliminação do organismo estão intimamente ligadas às do sódio, mas a ingestão, as perdas extra-renais anormais e a excreção renal podem ocorrer independentemente do mesmo.
Do cloro filtrado pelos glomérulos renais, uns 70 % são absorvidos nas partes proximais dos túbulos ligados à absorção do sódio; nos túbulos distais a absorção do cloro e do sódio é feita por transporte ativo determinado por uma proteína de transporte (antiporter) que facilita a troca cloro-bicarbonato.
Quase toda o cloro ingerido é eliminado (92%), principalmente na urina, e, em menor intensidade, nas fezes e no suor.
Para os passarinheiros é sempre bom avaliar em conjunto o conteúdo de potássio, sódio e cloro da dieta, sendo importante manter o equilíbrio entre o sódio e o potássio de um lado e o cloreto e o sulfato de outro com a finalidade de manter o equilíbrio ácido-básico adequado no sangue. Isso ganha importância maior quando o criador usa, na dieta dos seus pássaros, rações formuladas para outras espécies de aves (codornas, galinhas) ou animais (gatos, cães).
A deficiência de cloro, determinando a chamada alcalose hipoclorêmica, pode ocorrer em alguns casos de vômitos e/ou suores prolongados, durante a hidratação com solução contendo somente glicose (sem os sais), na terapia com doses excessivas de ACTH (hormônio adrenocorticotrópico ou adrenocorticotropina, secretado no lobo anterior da hipófise e que atua na secreção de esteróides, principalmente cortisol, pelo córtex das glândulas supra-renais). Nos pássaros, a intoxicação isolada pelo cloro raramente acontece, mas o excesso dele na dieta pode provocar anomalias cartilaginosas nos pintainhos.
Encontrado principalmente no sal de cozinha (ClNa), na carne, no leite e no ovo.
17- Enxofre.
O enxofre faz parte das moléculas de proteínas em todas as células do organismo. Essa estreita relação com as proteínas confirma que, via de regra, ele é suficiente em toda a dieta rica nas mesmas. Em média os alimentos protéicos contêm 1% de enxofre.
A sua quantidade nos alimentos, sob a forma de sulfato, é extremamente pequena. A entrada no organismo é feita como componente dos aminoácidos que o contêm, como a cisteína, a cistina e a metionina. Há autores que citam que as fontes de enxofre utilizadas são somente a cistina e a metionina, sendo as formas inorgânicas inúteis para o organismo.
Os sulfatos contidos na dieta seriam ionizados no estômago e na parede intestinal e, no fígado, sofrem a mesma trajetória que o radical SH- proveniente dos aminoácidos.
As funções do enxofre no organismo são várias: a-Constituinte das proteínas celulares, da melanina, da cocarboxilase, do humor vítreo, do fluido sinovial, dos tecidos conjuntivos, dos mucopolissacarídeos, da heparina, da insulina, das cartilagens; b-Atuação no metabolismo do tecido nervoso; c-Atividade nos mecanismos de detoxicação; d-Faz parte, como grupo SH, na coenzima A, no glutation e na cistathionina.
É eliminado, como sulfato inorgânico (sulfatos de potássio, de sódio, de cálcio, etc.) ou sulfato etéreo, via urina e bile. A parte do enxofre que não se oxida é eliminada como tiossulfatos, tiocianatos, etc. O sulfato urinário deriva-se, quase exclusivamente, da oxidação da L-cisteína.
A queratina, proteína encontrada no cabelo, nos pêlos, nas unhas, nas penas e nos cascos é muito rica em enxofre; assim, amigo passarinheiro, as exigências dos pássaros de aminoácidos contendo enxofre, principalmente nos períodos de muda, são maiores proporcionalmente do que as dos humanos.
Não há provas a favor de deficiências do enxofre, embora o crescimento insatisfatório nas dietas pobres em proteínas pode ser devido também aos aminoácidos contendo o mesmo.
2- Microminerais.
21- Ferro.
Os gregos, sempre eles, já sabiam da importância do ferro para a saúde. Dizem ser deles a idéia de colocar adagas de ferro em recipientes contendo água, a qual, seria posteriormente bebida enriquecida pelo micromineral em questão. Não duvido porque eles fizeram coisas mais geniais. Na Idade Média e no Renascimento alguns médicos usavam o ferro, mas na orelhada. Somente no século XVI o ferro foi ligado a alguma patologia, feito conseguido por Sydenham, um dos gênios da medicina prática observativa, ligando-o à clorose ou doença verde. Corria o ano de 1832 quando o médico francês Pierre Blaud criou e comercializou as famosas pílulas verdadeiras de Blaud, contendo sulfato ferroso e carbonato de potássio, que encheram os bolsinhos ávidos por dinheiro dos seus netos. Lembro-me que a minha mãe dava para os três filhos umas pílulas vermelhas e redondinhas para evitar anemia; será que ela colaborava com os netos Blaud? Não duvido nada dessa façanha da dona Chiquita.
O ferro é um componente essencial da mioglobina e da hemoglobina no transporte do oxigênio e do dióxido de carbono; faz parte das heme-enzimas como os citocromos, as catalases e as peroxidases e das enzimas do grupo das metaloflavoproteínas, como a xantina oxidase e a enzima mitocondrial alfa glicerofosfato oxidase.
É encontrado em todas as células dos seres vivos, tanto animais como vegetais. Dos, em média, 3 a 5 g de ferro encontrado no organismo humano, 60 a 70% encontra-se no grupo prostético da hemoglobina. A hemoglobina, pigmento existente nas hemácias cuja principal função é captar o oxigênio atmosférico e transferi-lo às células, é uma cromoproteína (proteínas coradas ligadas ao grupo prostético) cujo grupo prostético (apesar de fortemente ligado à molécula da substância pode ser separado dela) é o radical heme. A hemoglobina é formada por quatro cadeias da proteína chamada globina, com estruturas diferentes conforme a idade, ligadas cada uma a um heme. O heme, também conhecido por ferroproteína IX, resulta da fixação de um átomo de ferro divalente (Fe++) no centro da molécula da protoporfirina IX; 10 a 12% encontra-se na mioglobina, pigmento vermelho do músculo com estrutura semelhante à de uma subunidade da hemoglobina, isso, é um heme e uma globina.
No estômago, os sais de ferro orgânicos e inorgânicos provindos dos alimentos sofrem a ação do ácido clorídrico para facilitar a absorção; uma parte permanece insolúvel e é eliminada pelo intestino e a outra é solubilizada sob as formas férrica e ferrosa.
Nos alimentos o ferro encontra-se sob duas formas: a-Ferro não-heme, vindo das fontes proteicas vegetais; a absorção desse ferro pode ser dificultada por fatores como a ionização, fibras, compostos fenólicos, fitatos e tanino e b- Ferro-heme, contido na hemoglobina e mioglobina, vindo das fontes proteicas animais, muito melhor absorvido pela mucosa intestinal como complexo ferro-porfirina. Representa 40% do ferro do tecido animal.
Existem algumas substâncias que aumentam a absorção do ferro pelo intestino delgado superior: 1- Ácido ascórbico, ou vitamina C, por manter a solubilidade do ferro no meio alcalino do intestino e reduzindo a forma férrica (Fe+++) em ferrosa (Fe++). A adição do ácido ascórbico a dietas infantis aumentou mais de 4 vezes a absorção do ferro. Os ácidos málico e tartárico, encontrados nas frutas, também favorecem a absorção do ferro. Frutas como a maçã, a uva, o morango e o pêssego possuem pouco efeito sobre a biodisponibilidade do ferro não-hêmico. Os efeitos da banana, da pêra e da ameixa são desprezíveis; 2- As carnes, por mecanismo ainda não muito claro, talvez pela presença de proteínas animais, favorecem a absorção do ferro não-hêmico, principalmente de alimentos que contêm fatores inibidores como o milho. Interessante que com o uso de outros alimentos ricos em proteínas de ótimos valores biológicos, como o ovo, os resultados não são os mesmos. Um parênteses: alguns criadores de pássaros estão usando determinadas rações para cães na dieta das aves durante o período de cria e, dizem, os resultados são bons. Talvez, um dos fatores para isso seja a riqueza das rações em proteínas vindas das carnes de frango, vaca e peixe. Já existem no mercado farinhadas e extrusados para pássaros que contêm farinha de carne nas suas composições; 3-Cisteína, que aumenta (praticamente duplica) a absorção do ferro de origem vegetal; 4- Ácido clorídrico (solubiliza o ferro férrico facilitando a sua absorção) e a bile (aumenta a absorção do ferro por ação de substâncias redutoras).
Há fatores que inibem a absorção do ferro: 1-Compostos fenólicos, principalmente contidos nos chás preto e mate e alguns refrigerantes. Os compostos fenólicos mais comuns são os taninos, os polifenóis, os ácidos fenólicos e os flavanóides; 2- Proteína do ovo. Trabalhos mostram que a retirada da clara do ovo de uma refeição aumenta mais de 3 vezes a absorção do ferro em humanos. A proteína conoalbumina, encontrada na clara do ovo, une-se ao ferro e diminui a absorção; 3- Vegetais. A aveia tem fibras que dificultam a absorção do colesterol e é rica em ácidos linoleico e oleico, o que, a torna preciosa no controle das doenças cardiovasculares; mas, talvez pela riqueza em fitatos, é forte redutora da absorção do ferro. O espinafre possui uma das maiores concentrações de ferro entre os vegetais folhosos (3.3 mg/100 g), mas pode ser considerado uma fonte pobre porque também possui grandes quantidades de oxalato, inibidor da absorção e de cálcio, competidor do ferro na absorção. O farelo de trigo tem efeito inibitório na absorção do ferro, talvez por seu alto conteúdo em fitato e fibras. A soja também diminui a biodisponibilidade do ferro não-heme, mas havendo carência orgânica do ferro, há aumento da absorção do ferro nas refeições contendo essa leguminosa, principalmente se ela for fermentada como em certos molhos. Enfim, nem tanto ao céu e nem tanto à terra. Com cuidados especiais e dieta variada, os problemas relacionados à inibição da absorção do ferro podem ser contornados.
Depois de captado pela membrana de bordas em escova do intestino o ferro liga-se, já dentro da célula, a uma proteína transmembrana (integrina) que o entrega a uma proteína tansportadora (mobilferrina) que o levará até o plasma. Além do ferro, a mobilferrina pode se combinar com o cobalto, com o zinco e com o chumbo. O ferro que resta dentro da célula incorpora-se à ferritina e à mitocôndria, o que, previne que ele atinja níveis sangüíneos tóxicos.
O ferro absorvido, sob a forma ferrosa (Fe++), é transportado no plasma por uma glicoproteína, a transferrina, sob a forma férrica (Fe+++), sendo a transformação ferroso-férrico determinada pela ação da ceruloplasmina. Cada molécula de tansferrina liga-se a dois íons de ferro, sendo que apenas um terço dela está saturada com o ferro. Do ferro ingerido, 50% é transformado na forma solúvel; desse, 20% são captados pelas células da mucosa intestinal e somente em torno de 6% chega ao plasma. E assim vai o ferro pelo sangue para ser distribuído para as células, as quais, possuem receptores específicos em grande quantidade, principalmente as células que sintetizam a hemoglobina. O complexo ferritina-ferro-receptor penetra na célula e libera o ferro e a outra parte, chamada de apotransferrina, volta à circulação sangüínea dando continuidade ao ciclo. Nas células o ferro é armazenado sob a forma de ferritina; na ferritina encontra-se a metade de todo o ferro do organismo (principalmente no baço, no fígado e medula óssea). Quando há grande acúmulo de ferro, a ferritina transforma-se num complexo maior chamado hemossiderina.
Após uma sobrevida de uns 120 dias, os eritrócitos são destruídos pelo baço, numa média de 200 bilhões por dia (putz!), liberando 25 mg de ferro para o organismo. A globina é reaproveitada como globina mesmo ou na forma dos seus aminoácidos.
As perdas de ferro são mínimas e ocorrem através da urina, do suor, das fezes, pela pele e pela descamação das células do trato gastrintestinal.
Fontes alimentares de ferro: 1-Vegetais folhosos como a acelga (3.6 mg/100 g), o broto de abóbora (5.8 mg/100g), a couve (1 mg/100g) e a folha de batata doce (6.2 mg/100g). O espinafre apresenta 3.3 mg de ferro por 100 g do vegetal, mas, por conter muito oxalato (depressor da absorção) e cálcio (competidor do ferro), apresenta baixa disponibilidade do mineral; 2- Peixes. A carne dos peixes é pobre em ferro (de 0.5 a 1 mg/100 mg), mas a sua presença na dieta favorece a absorção do ferro de origem vegetal; 3- Carnes. O fígado de galinha é dos mais ricos (8 a 20 mg/100g). As carnes, quanto ao ferro, têm duas vantagens: possuem ferro com alta biodisponibilidade e favorecem a absorção do ferro dos vegetais e 4- Ovos. Possui, em média, 1.1 mg ferro por unidade de ovo de galinha.
E o arroz e feijão nosso de cada dia? O arroz possui 1.3 mg/100 mg, com baixa disponibilidade, e o feijão 5 a 6.5 mg/100g, sendo absorvidos somente 10% do ingerido. Juntos, até que formam um quadro proteico animador.
Sem dúvidas, o quadro clínico/laboratorial mais chamativo da deficiência de ferro é a anemia,a muito freqüente anemia por carência de ferro. O hemograma mostra anemia microcítica e hipocrômica, isso é, as hemácias são pequenas e descoradas, com formas anormais (poiquilocitose), algumas vezes com formas imaturas nucleadas; os reticulócitos (hemátias jovens) podem estar normais ou aumentados. Há exames mais elaborados para o diagnóstico, como a dosagem do ferro sérico, a capacidade de ligação ao ferro da transferrina e o nível da ferritina sérica e, em alguns casos, há a necessidade do estudo do aspirado ou biópsia da medula óssea para pesquisar os estoques de ferro reticuloendotelial e os sideroblastos, além do estudo da protoporfirina das hemátias e os níveis séricos dos receptores para a transferrina. Sem falar na pesquisa de ferro radioativo para verificar o seu turnover e a absorção. No popular: uma história clínica bem circunstanciada, com levantamento da dieta alimentar, e um exame físico cuidadoso seguido por um hemograma simples, ou uma simples dosagem de hemoglobina, “matam” a maioria dos diagnósticos da anemia por carência de ferro.
No quadro clínico, que se desenvolve paulatinamente, a palidez é o sinal mais chamativo. Pode haver tendência a comer substâncias não usuais (pica) como a terra (geofagia). A irritabilidade e a falta do apetite podem estar presentes nos casos avançados. Astenia (fraqueza, debilidade), fadiga fácil, diminuição da capacidade para os exercícios e palidez ficaram famosas no personagem do Jeca Tatu, criação de Monteiro Lobato, gênio aqui do nosso Vale. Pode haver falta de ar (dispnéia), ardor na língua e na boca e a deglutição dolorosa. As unhas podem estar secas, sulcadas, quebradiças (spooning) e côncavas (coilononiquia). Tendo que bombear mais sangue para suprir a deficiência de hemoglobina e, conseqüentemente do oxigênio, o coração torna-se mais rápido (taquicardia), dilata-se e apresenta sopros percebidos na ausculta. Aumento do baço. Pode afetar as funções neurológicas e intelectuais provocando queda nos estados de atenção e vigília e da capacidade de aprendizado. Os sinais neurológicos podem ser sugeridos por fazer o ferro parte da monoamino oxidase, uma enzima com papel essencial nas reações neuroquímicas do sistema nervoso central; além disso, a falta de ferro diminui a atividade de outras enzimas importantes como os citocromos e as catalases.
A falta do ferro pode ser devida à dieta pobre no elemento, perdas sangüíneas, dificuldades na absorção ou no metabolismo.
Amigo passarinheiro, fique de olho naqueles pássaros que vivem ou viveram com dietas muito pobres, que estão apáticos, cantam pouco, movimentam-se pouco e sem vivacidade, com penas em mau estado, com as unhas quebradiças e que ficam cansados facilmente. Alerte o seu veterinário porque a deficiência de ferro deve entrar no diagnóstico diferencial.
22- Cobre.
Em 1816 constatou-se que o cobre era um dos componentes dos tecidos animais e vegetais, sendo um componente funcional de todas as células vivas.
É considerado um elementos essencial pela importância das suas funções : a- Interação com o metabolismo do ferro. A ceruloplasmina ( alfa-2-globulina que contém 0.32% de cobre e apresenta propriedade de uma oxidase, enzima que catalisa a fixação do oxigênio molecular ao hidrogênio do substrato) oxida o ferro orgânico (Fe++ + ceruloplasmina dando Fe+++ ligado a transferrina) facilitando o seu aproveitamento, como já vimos. O cobre também facilita a utilização do ferro nas fases de absorção, na sua liberação no fígado e no sistema retículo-endotelial pela ação da metaloenzima do cobre chamada ferroxidase; b- Síntese da hemoglobina e, logicamente, na produção das hemácias. Em torno de 60% do cobre encontrado nas hemácias encontram-se combinado sob a forma de eritrocuproproteína; c- Papel relevante na formação do tecido elástico ( elastina) da aorta e do tecido conjuntivo em geral por fazer parte da enzima lisil oxidase, a qual, participa da síntese de proteínas do tecido conjuntivo; d- Participa da composição de várias outras enzimas: catalase, uricase, citocromo C oxidase, dehidrase do ácido aminolevulínico. Para não nos alongarmos na importância dessas enzimas, fica o exemplo da citocromo oxidase, uma hemoproteína amplamente distribuída em vários tecidos, com grupo prostético típico da hemoglobina e que é componente terminal de transporte de elétrons da cadeia respiratória na mitocôndria. Sem ela, a célula não respira e babau catiribau, como dizia a minha avó; e- Atua no crescimento celular e tecidual; f- Mielinização (formação da mielina, substância lipídica que forma a capa que envolve as fibras nervosos) dos nervos, talvez por ação na formação dos ácidos fosfatídicos que estão presentes em grande quantidade na mielina; g- Participa no metabolismo de diversos hormônios esteróides; g- Está na composição da tirosinase, enzima encontrada principalmente nos melanocitos cutâneos e oculares catalisando uma série de reações necessárias para a transformação da tirosina em melanina e h- Juntamente com o níquel e o zinco, parece ter importância na função gustativa normal.
No fígado existem três outras cuproproteínas cujas funções ainda carecem de mais estudos: a L-6-D, incolor, a hepatocupreína, verde azulada, e a hepato-mitocondro-cupreína, insolúvel na água.
O cobre é absorvido, por mecanismos ainda desconhecidos, desde o estômago até o cólon, mas principalmente no duodeno. Como acontece com o ferro, várias alimentos podem facilitar ou inibir a absorção. Alimentação rica em zinco prejudica a absorção do cobre; o zinco induz a síntese da metalotioneína, proteína que é encontrada no citosol das células, principalmente dos rins, do intestino e do fígado, a qual, por unir-se fortemente ao cobre impede a sua absorção. Olhem que interessante: a presença de alimentos ricos em fitatos na alimentação afeta negativamente a biodisponibilidade do zinco e, indiretamente, aumenta a absorção e utilização do cobre. Dietas muito ricas em ácido ascórbico (vitamina C) reduz a absorção e o aproveitamento do cobre. Em ratos, pelo menos, a frutose (açúcar das frutas) agrava deficiência do cobre, formando com ele um complexo que não é absorvido; a glicose e a sacarose (açúcar da cana) agem com menor intensidade e o amido parece não dificultar o aproveitamento do cobre. Como o passarinheiro tem mania de encher os pássaros de vitaminas, sais minerais e alimentos variados sem necessidade, corre sempre o risco de mais prejudicar, por todas essas possibilidades de interação positivas ou negativas entre eles, do que ajudar.
Absorvido, o cobre une-se à albumina sérica e vai até o fígado onde é convertido a ceruloplasmina. No sangue, 90% do cobre é transportado pela ceruloplasmina e somente 10% pela albumina; o cobre transportado pela albumina tem grande importância porque é aquele mais rapidamente disponível para as necessidades orgânicas.
Como a ceruloplasmina deixa o cobre nas células ainda não foi totalmente esclarecido. Há várias teorias, entre elas: entrada da ceruloplasmina intacta na célula; a transferência do cobre para uma prot
Escrito por José Carlos Pereira, em 4/10/2005