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Sobe e Desce

O Indefectível

nome : Sobe e Desce

. espécie : bicudo

. subespecie : crassirostris maximiliani

. canto : Goiano puro

. mateiro , Sobe e Desce usava anilha aberta do IBDF , pois naquela época a legislação permitia.Existem duas versões sobre o local onde teria sido capturado : uns dizem que foi em Catalão-GO , outros dizem que teria sido em Vazante-MG , sendo que esta última parece ser a mais correta. Apareceu na roda pelas mãos do Sr. Romeu Ambrósio , de Brasília. Estima-se que já tinha uns 10 anos de idade quando se destacou . Enquanto pertencia ao Sr. Romeu , não ganhou nenhum título.

Adqurirido pelo Sr. Namyr Jafet , do Rio , em 1988 , com quem ficou até morrer.

.Quando adquirido pelo Sr. Namyr , dava 3 cantos. Depois passou a dar de 13 , 15 até 20 cantos.

. Seu canto no início era mais alto , depois com mais idade seu canto ficou macio e mais suave.

.Sobe e desce se destacou pela extraordinária fibra que possuia , sendo um dos pássaros que apresentou o maior número de cantos até hoje em torneios ( conta-se que chegou a dar 235 cantos em um torneiro de Barbacena , marcado por 5 marcadores , que ficavam maravilhados de ver a quantidade de cantos que ele apresentava) . Em média dava 170 a 180 cantos nos torneios que disputava.

.Caracterizava-se pela regularidade que apresentava. Em todos os torneios que ia , sempre apresentava-se dentro da média.Sempre conquistava os primeiros lugares. Foi campeão seguido de 1989 até 1995.

. Em um dos anos que foi campeão , deixou de participar de 3 torneios , ficando com 60 pontos atráz do primeiro lugar durante a competição . Porém no final do campeonato , recuperou o atraso e ganhou com 60 pontos na frente.

. Sobe e desce era um extraordinário galador e galava em qualquer posição , sendo que não falhava uma galada.

. Deixou inúmeros descendentes , sendo que o próprio Sr. Namyr possui um filho ( Peão ) que já ganhou 4 Campeonatos.

. Nos torneios regionais do Rio de hoje ,a maioria dos ganhadores são da raça dele.

. Recebeu a homenagem como pássaro do século , dado pela Febrascri do Rio.

. Uma passagem de sua carreira , como já mencionado na história do Batuque , em 1987 em torneio de Brasilia , Batuque e Sobe e Desce ficaram em primeiro e segundo , porém a marcação foi anulada e na recontagem ficaram em 16 e 17 lugares , quando então seu proprietário ( Sr. Romeu ) quebrou o trouféu em protesto.

. Sobe e Desce faleceu em 1996 , de morte natural , depois de ficar cego.

. durante sua carreira , o Sr. Namyr recebeu propostas elevadas de valores por ele , sendo que um banqueiro chegou a oferecer um cheque em branco , tendo sido recusado.

Colaboraram na elaboração desta história :

. Aloisio Pacini Tostes – Rib. Preto

. Namyr Jafet – Rio

Escrito por Paulo Schiavon – colaboraram – veja acima, em 11/1/2004

Crônica de um Crônico

Eu moro em São Paulo

Voltando de uma visita a um amigo hospitalizado, resolvo parar no caminho para um lanche em um bar que freqüento há mais de quarenta anos. Localizado no Largo de Pinheiros, atrás da Igreja Matriz da Paróquia , enfrenta as mudanças juntamente com toda a região.

O Largo era como as praças ainda existentes no interior, com direito a coreto, aquele ir e vir das moçoilas e dos não tão moçoilos. Todas a s missas eram disputadas, cada uma com as suas características: as matinais naturalmente freqüentadas pelos mais idosos. Os de antes do almoço por aqueles que aproveitavam o domingo para descansar um pouco mais. Os da tarde, ah, esses em sua maioria eram dos jovens que nas saídas ou mesmo durante os longos sermões aproveitavam para piscadelas e olhares sugestivos.

As vestes, com forte cheiro de naftalina, misturado aos odores dos laquês e gumex, e os sapatos, engraxados até que espelhassem.

Época em que criar pássaros ainda não chamava tanta atenção. Curiós, bicudos,coleiras e canários podiam cantar a vontade…sem tantos documentos que os tornam mais legais do que nós.

O Bar do Sócio: assim era chamado pela forma carinhosa com que os três proprietários e irmãos se dirigiam a todos os seus fregueses.Chamado hoje de Cú do padre, pela localização……ao fundo da Igreja Matriz. As batidas, em todos os seus sabores, atraiam visitantes de toda São Paulo, principalmente os estudantes…. esses eram um caso à parte, pela proximidade com a USP e um pouco menos com o Mackenzie , disputavam o pequeno espaço que o bar ocupava na esquina, e que mesmo com todo sucesso nunca despertou o interesse em seus sócios em ampliar seu negócio. Era um território de paz, as flâmulas (quem se lembra delas?) pregadas nas janelas dos armários até hoje evidenciam isso. Um belo dia, Moreno, único remanescente nos dias atuais dos antigos sócios, fez uma promessa que as garrafas de pinga de várias procedências que estavam nos balcões e os queijos parmezões (daqueles enormes) dependurados pelo bar, só seriam abertos se o Corinthians fosse campeão. Começava ali uma espera de 21 anos, com a promessa sendo religiosamente cumprida.

Pensava nisto tudo quando saboreava um lanche de lingüiça calabresa ( do mesmo fornecedor há quarenta e cinco anos), incrementado com lascas de parmesão, pickles e molho inglês. Lembrei que sempre levei amigos passarinheiros lá, estava voltando da visita justamente de um deles, o Albertino, grande figura….Já foi palco de embates do Magelão, Aloísio, Hans, dentre tantos. O Roberto de São Manuel fiz questão que lá também conhecesse.

Logo meus pensamentos voltam para o presente. Olhando para a rua, vejo uma Kombi encostando e uma longa fila se formando. Pessoas apareciam de todas as ruas próximas quando percebi que o motorista abriu a porta traseira e começou a servir marmitex, me lembrando muito a cerimônia da comunhão. Todos silenciosamente recebiam seus pratos, para muitos a única refeição do dia, agradeciam com um sorriso, um aceno de cabeça, ou quando muito, com um balbuciar de muito obrigado. Comecei a observar mais atentamente. Dois sentimentos me invadiam ao mesmo tempo: a felicidade de testemunhar a solidariedade e a terrível sensação de que o sistema em que vivemos realmente está falido.

As faces, disfarçadas pela luz de mercúrio da noite, não são enrugadas como os dos homens do campo, fustigados pelo sol. Pelo contrario, são lisos e sem rugas, conseqüência do inchaço provocado pela bebida. Nas mãos, em lugar dos calos dos que lidam com a enxada, cicatrizes e ferimentos ainda abertos, em acidentes sofridos quando á cata de refugos.

Ainda assim admirava a altivez e o empertigar dos corpos na hora de receber as refeições. A disciplina tão rígida quanto o mais austero dos mosteiros, era natural

Terminava meu lanche. Quase 10,00 reais. Lembrei do meu amigo na UTI de um dos melhores hospitais de São Paulo.

Lembrei que moro em São Paulo.

Escrito por Rogério Fujiura, em 30/10/2004