Realengo
O Portentoso
O curió Realengo é oriundo da cidade de Mineiros – GO, nascido no ano de 1987. Começou sua trajetória em campeonatos com o Sr. Neusádio. Sua primeira participação em torneio foi na cidade de Itumbiara-GO, no ano de 1989, classificando-se em 3º lugar. Neste mesmo dia, Realengo fora adquirido pelo Dr. Paulo de Ituiutaba – MG, e continuou a levá-lo a torneios. Nesta mesma temporada, em evento realizado na cidade de Araguari – MG, por indicação do Sr. Francisco Rodovalho, conheci e passei a acompanhar os passos deste curió.
Ainda na temporada de torneios de 1989, adquiri o pássaro Realengo, no torneio de Anápolis-Go, quando classificou-se em 8º lugar. Assim, comecei a participar de campeonatos. A nossa primeira participação em torneios se deu na cidade de Brasília – DF, porém não consegui colocá-lo cantando na roda. Retornamos para casa, eu decepcionado e ele calado. Casualmente o coloquei ao lado de outra fêmea, ele gostou e começou a cantar. Com o passar do tempo descobri que Realengo tinha suas particularidades, ao seja, necessidade de trocar de fêmea para cantar melhor.
No ano seguinte em 1990, a abertura do campeonato foi na cidade de Brasília-DF, onde Realengo ficou em primeiro lugar. Nessa temporada, Realengo obteve excelentes colocações, conquistando seu primeiro campeonato. O campeão Realengo além de meu professor, foi também uma “espécie” de cobaia, tudo o que aprendi sobre pássaros teve a sua participação. No início, faltava-me experiência, com isso ele “sofreu” em minhas mãos. Após o término do campeonato de 1990 e no início 1991, ouvi histórias de passarinheiros, também inexperientes, que diziam “para o pássaro fazer uma boa muda de pena, deveria ficar em local quente, escuro e sem limpar a gaiola”. Então, coloquei-o em um porão, coberto com telha de amianto, só limpava a gaiola uma vez por semana e desta forma o Realengo adoeceu. Início de 1992, ele não queria fazer a muda, então, arranquei várias penas com minhas próprias mãos. Percebendo o manejo inadequado, comecei a interessar-me por literatura ornitológica e a consultar especialistas. Assim, consegui reverter suas doenças e a alimentá-lo adequadamente. Passei a interagir com o Realengo, ele foi me ensinando como cuidar de pássaros e como disputar campeonatos.
Em 1993, Realengo tornou-se bicampeão. Em 2001, consagrou-se tri-campeão. Além de sempre estar entre os primeiros do ranking, performance até hoje inigualável, ainda obteve mais de 250 troféus. Certa vez estávamos em um Hotel na cidade de Brasília-DF, num sábado que antecedia ao torneio, numa roda de passarinheiros, eles zombavam: “O Realengo é vovô – bananeira que já deu cacho”. Entretanto, no dia seguinte o portento Realengo cantou divinamente, ganhando o primeiro lugar. Realengo tinha suas singularidades, era um artista, como tal, era um exibicionista – cantava alto, com estilo, saltando de poleiro em poleiro, sem interromper o canto. Numa roda com 100 participantes, seu canto sobressaía dos demais. Percebendo que havia expectadores, pressentia que aquele era o momento, exato, de iniciar seu “show”. Várias vezes, ouvi dos aficionados criadores de pássaros: “ O Realengo merece o título de melhor exibicionista em torneios pela sua performance de cantar”. Prova desta ostentação é a sua imponente foto que o tornou marca registrada do Criadouro Realengo, usada também, por clubes deste Brasil afora, estampada em troféus para premiação em torneios.
Realengo mostrou com brilho e esplendor, ser um verdadeiro curió de roda, chamando a atenção dos passarinheiros que sabiam apreciar um cantador com muita fibra. E mesmo aos leigos, Realengo causava grande admiração. Diante das câmeras se ostentava, sentia-se um verdadeiro “pop-star”. Por algumas vezes participou de programas de televisão, merecendo destaque ao programa Mais Você, apresentado por Ana Maria Braga na Rede Globo, exibido no dia 09 de novembro de 2004.
Dia 02 de junho de 2005, às 20:32hs, Realengo faleceu. Foi taxidermizado, encontra-se nas dependências do Criadouro. Assim, continuamos a contemplar sua beleza e a ouvir seu lindo canto que foi gravado e hoje serve de lição para outros curiós.
Este filho querido morreu em minhas mãos, deixando muitas lembranças e uma história registrada na galeria dos melhores curiós de fibra. Como também, um legado da extraordinária genética chamada “Realengo”, com seus mais de 200 descendentes. Além de consagrar-se campeão em torneios, Realengo foi também um campeão na arte de reproduzir. Que eu tenha conhecimento, foi o único curió que ficou dezesseis anos em evidência, tanto em competição como em reprodução. Agradeço, imensamente, sua continuidade através de sua prole, atenção especial ao “Realengo Filho” que é a sua imagem e semelhança… Realengo rendo-lhe minhas eternas homenagens…
Tributo ao meu fiel amigo Realengo
Quando descobri que existia torneio de pássaro, você, Realengo foi o meu primeiro pássaro. Quem me conhece, sabe que a nossa relação foi e será muito além da amizade de um homem e de um pássaro. Foi você que me fez conhecer boa parte do país. Através dessas andanças, fez-me conhecer algo valioso: a amizade com tantas pessoas formidáveis. Hoje, paro, penso, minha mente faz uma retrospectiva, tantas são as boas lembranças; então, descubro que tenho muito a agradecer a Deus por ter colocado você, que eu sempre considerei como filho, em minhas mãos, por ter permitido nossa convivência há quase 16 anos, por você ter reproduzido mais de 200 filhos. Você Realengo, foi excelência até no último instante. Deixando a certeza da sua propagação, através de seus descendentes. Hoje, no meu plantel tenho 53 filhas e 18 filhos. Acima de tudo, deixou muita saudade em mim… Você foi o amigo das horas de tristeza, de dificuldades… horas de alegrias, de vitórias. Você Realengo nunca será uma lenda, um mito que passou pela vida… pois, você viveu e fez a sua história.
Um campeão por si só se imortaliza.
Para mim, você será imortal.
Obrigado amigo, por ter me dado tanta felicidade.
Do seu fiel amigo,
Waldir Pereira da Silva
Escrito por Waldir Pereira da Silva, em 2/11/2005