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Flertes

Eu vi, ele me viu

FLERTES

Eu vi o pardal no quintal, sobre o alambrado,

trazia no bico, assanhado, um raminho

para, dentro do forro da casa, construir o seu ninho.

Ele me viu, disfarçou, olhou para os lados, desconfiado,

mas não voou, plantado continuou,

até que, achando-me discreto, o beiral adentrou.

Eu vi o beija-flor pequenino, multicor, ágil,

brilhoso ao sol, tatalando as asas, parado no ar,

sugando as flores, que amor, para se alimentar.

Ele me viu, ameaçou fugir, interrompendo a refeição,

deu um currupiu, estancou, recomeçou

a beijar a planta e só depois, saciado, para longe voou.

Eu vi o casal de maritacas, no alto da árvore,

no final da tarde, barulhento, fazendo arruaça,

parecendo crianças felizes num banco de praça.

Ele me viu, o macho creio eu, pois logo foi o primeiro

 a levantar vôo, rodopiando no ar, hostil,

depois a dupla, seguindo o instinto, bateu asas e fugiu.

Eu vi o sabiá do campo, o João de barro, o sanhaço,

 o pombo da mata, o tico-tico, o papa-capim,

pousados, piosos, na primavera do nosso jardim.

Eles me viram, tenho certeza, pois cada um, desconfiado,

pelo movimento, pude notar, ameaçava partir,

mas não o fazia, o sol se escondia, era hora de dormir.

Eu vi na sombra da noite, assim que cessou a chuva,

 um sapo, nem grande nem pequeno, de porte médio

muito à vontade, parecendo se achar livre de assédio.

Ele me viu, mas permaneceu no lugar, quieto, imóvel,

nem os latidos da cachorrinha Dolly pareciam incomodar,

talvez resistisse por não ter como os pássaros asas para voar.

Eu vejo a toda hora, por singular e divino privilégio,

os habitantes da fauna e da flora, que por sua rara beleza

me atraem para os abraços e afagos da mãe natureza.

Eles me vêem, alguns ainda fogem, obedecendo o instinto natural,

não sabem o apreço, o carinho e os desejos meus

de vê-los libertos e amá-los como obras de Deus.

Alceu Sebastião Costa

 Escrito por Alceu Sebastião Costa, em 1/8/2007

Biocombustíveis grande ameaça

Exagero no consumo

Folha de São Paulo – Reportagem Claudia Trevisan 02.07.07

Trecho de Reportagem:

Biocombustíveis são maior ameaça à diversidade da Terra

A ambição brasileira de criar um mercado mundial para o alcool em parceria com os EUA encontrou um opositor de peso em um dos pioneiros do movimento ambientalista: o americano Lester Brown, 72, com influência, no Forum Economico Mundial ou na Academia de Ciencias da China. Ele diz que o uso do milho por usinas de alcool desencadeou uma disputa de proporções épicas entre os 800 milhões de donos de carros e os 2 bilhões de pessoas mais pobres do planeta.

O aumento da demanda por milho para fabricação de alcool tem levado à inflação de alimentos em todo o mundo, diz Brown, com efeitos pervesos para a população mais pobre. A posição é semelhante à do ditador cubano Fidel Castro e do presidente venezuelano, Hugo Chavez, que vêem nos biocombustíveis uma ameaça à oferta de alimentos no mundo. A tecnologia brasileira de fabricação de de álcool a partir da cana de açúcar não escapa das críticas do ambientalista. “Se eu tivesse que identificar a mais importante ameaça à diversidade biológica da Terra, ela seria a demanda crescente por biocombustíveis” disse Brown em entrevista por telefone. O ambientalista afirma que a Terra não terá como acomodar milhões de chineses com o mesmo padrão de consumo dos norte-americanos . Se crescer a 8% ao ano,afirma, a China terá em 2031 renda per capita igual a dos Estados Unidos hoje. Caso os chineses do futuro consumam como os americanos de hoje, o país asiático terá 1,1 bilhão de carros em 2031,mais que os 800 milhões existente no mundo. Para alimentar sua frota e seu crescimento, precisará de 99 milhoes de barris de petroleo/dia mais que a produção mundial atual, de 85 milhoes de barris/dia.

Escrito por Cláudia Trevisan, em 27/7/2007