Postagens relacionadas com Atas e Documentos

Sanhaço Frade

Minha experiência

O Sanhaço-Frade ou Frade, também é conhecido popularmente como cabeça-de-velha e azulão-da-serra. Apesar de ser chamado de sanhaço, em pouco se parece com os demais. Seja pelo canto, morfologia, porte, comportamento, o único traço em comum, é o hábito frugívoro. Dentre o grupo dos pássaros que tem a dieta baseada em frutas, podemos destacar o Sanhaço-Frade com uma ave de fácil adaptação. O sanhaços no geral, aí incluo o frade, são bastante resistentes, diferentemente de outros frugívoros, como os gaturamos e saíras.

Os outros sanhaços(azul,cinza,encontro-azul,coqueiro,papa-laranja), não são raros de serem encontrados em centros urbanos, geralmente nas praças e jardins. O mesmo não procede com o Frade. Prefere a mata mais fechada, intocada. Habita principalmente serras e beira de rios. Tenho observado as maiores populações nesse último ambiente. Não é fácil velo. Na maioria das vezes é identificado pelo canto. Canto este que lembra a surdina do azulão. Sendo que, com voz mais maviosa, tem aquela ´´coisa´´ de mato. Ao ouvir cantando, nos remete uma imagem de uma paisagem exuberante. O canto é extraordinário. Ambos os sexos cantam. Claro, a fêmea sem a mesma desenvoltura do macho.

Macho e fêmea são parecidos. Ele é azul escuro, dependendo da região, poderá ser mais claro. Nas asas há listras pretas. A coroa da cabeça é branca, e no centro, uma pequena crista de cor vermelha. Possui uma máscara de cor preta. Os olhos são castanhos. Já a fêmea apresenta uma cor um pouco mais pálida, especialmente no branco da cabeça e vermelho da crista, a qual é menor. Os filhotes são totalmente azuis, de tom esmaecido, isso nos primeiros meses. Depois começam a surgir penas brancas na cabeça, e lá pelo um ano de idade, tem a plumagem definitiva. O tamanho é de 18cm, contudo, já vi exemplares com quase 20cm. Esses graúdos, são os mais admirados e o que mais desperta interesse na criação.

Como já foi dito, é frugívoro, portanto a dieta é baseada em frutas, e complementada com insetos. Nos meses frios, torna-se mais fácil de contempla-lo, porque nessa época, ocorre a frutificação da aroeira-vermelha, planta esta, que adora o fruto.

Quanto ao comportamento, é pacífico com outras aves, até mesmo os de sua espécie. Como acontece com maioria das aves brasileiras, no período reprodutivo, torna-se territorialista, não permitindo a entrada de outros frades em seu território. As brigas são emocionantes e espetaculares. Tudo feito em pleno vôo. Ao mesmo tempo ainda cantam. Esse canto de guerra, é diferente do normal, mais metalizado, sendo a entrada dele parecida com a risada do bicudo, executada de modo menos formal, com a voz ´´rasgada´´.

 

Criação em Cativeiro

Gaiola: Opto pelo mesmo modelo das gaiolas usadas para picharros. Mesmo frades mansos, tem o hábito de pular contra as grades da gaiola, assim danificando as penas da cauda. Nesse tipo de gaiola, o impacto é amenizado devido ao formato. Para ajudar, ainda coloco dois poleiros de diâmetro um pouco maior, encostados, em cada uma das laterais. Os acessórios são os seguintes: um bebedouro de 100ml, banheira, porta-frutas, um comedouro(de madeira) suspenso, evitando a queda de fezes, outro comedouro de plástico, para farinhada e um do tipo unha.

Saúde: Resistente, não há doença específica. Somente preocupar-se com o aspecto dos alimentos. Cuidar com a ração e farinhada, mesmo seca, para não serem atacadas por fungos, acondicionando-as em lugar seco e arejado sempre preocupando-se com o prazo de validade. Nunca servir alimentos gelados. Higiene é um ponto fundamental. O pássaro defeca muito. Troco o papel da bandeja a cada dois dias. Com o tempo, a gaiola fica suja, portanto sugiro que a cada dois meses, seja feita uma limpeza geral na mesma.

Reprodução: Este sem dúvida é um capítulo que há muito a ser estudado, pensado e observado. A reprodução é em monogamia. Por enquanto estão fora de meus planos a poligamia. As principais dificuldades encontradas foram o temperamento belicoso do macho, a alimentação dos filhotes e a proteção para a fêmea. O ambiente proposto para a temporada era uma gaiola de madeira de 1,20m de comprimento, 60cm de largura e altura. Durante todo o ano, o casal não se via, só se escutava. Isso até meados de outubro. Neste mês, a fêmea começou a pedir gala. Vale ressaltar que não foi tentado nenhum artifício para estimular o casal. Nada de vit. E, etc…mesmo porque esses artefatos não tem comprovação científica. Deixei por conta da natureza. Bem o ninho. O ninho foi confeccionado por mim, com raízes e piaçava, e um pouco de musgo. A base era um ninho de bucha, de 12cm de diâmetro e 5,5cm de profundidade. Coloquei o ninho, na parte mais alta a gaiola no lado esquerdo. Camuflei bastante, com avencas e samambaias artificiais. Me lembro direitinho, dois do começo do horário de verão, ela começou a forrar o ninho. Para forração, somente fibra de palmeira e coqueiro. No começo de novembro, quando o macho estava bem fogoso, coloquei na gaiola da fêmea. A primeira reação foi de frieza por parte de ambos. Sai de perto, e fiquei os observando escondido. No momento achei que tinha sido uma gala falsa. Após, 10 minutos, a fêmea pediu gala, e o macho prontamente atendeu. Comemorei. Depois da euforia, veio a dúvida: separar ou não o macho? Optei pela separação. Deixei a gaiola dele ao lado, com um barreira visual. Três dias depois, é posto o primeiro ovo. Colocou o outro no dia seguinte, e iniciou a choca. Foram 14 dias angustiantes. O bendito dia chegou. Na noite anterior nem dormi direto, tamanha a ansiedade. Enfim, nasceu, infelizmente apenas um. Outro estava gorado, deixei dentro do ninho, servindo de suporte ao filhote. Então comecei a ofertar uma gama de alimentos, fruta todo dia, insetos..etc…..No terceiro dia de vida, o filhote que restou morreu. Estranhei, normalmente, morrem no quarto, porque possuem uma reserva de energia, que dura em média 3 dias. Ao pegar o filhote na mão, observei que estava machucado. Não posso afirmar que foi a fêmea. Porque haveria de ser. Quais circunstâncias levaram a essas atitudes? São incógnitas, até hoje não esclarecidas. A única hipótese seria: Ter alimentando demais o filhote manualmente, assim quando a fêmea o alimenta-se, estaria sem fome, recusando o alimento a fêmea estranharia, e insistiria no trato, e acabando por ferir a sua prole. Pois bem. Após o fracasso, decidi, acho hoje, precipitadamente, coloca-los no viveiro. Viveiro com as seguintes medidas: 1m de largura/2m de comprimento/2m de altura. Muito grande para apenas um casal, dificulta muito o manejo. O ninho era o mesmo, com a mesmas folhagens artificiais. Soltei o casal junto, ao mesmo tempo. Alguns dias depois, o macho estava deitando no ninho. A fêmea o forrou de novo, com o mesmo material. Colocou dois ovos. Com 14 dias de choca, nasceram, agora dois. Esses eu vinguei. Foi árdua a tarefa de nutrir essas pequenas criaturas. Com 17 dias de vida, saíram do ninho, bem dispostos. E aos 40 dias de vida, separei dos pais, sendo colocados dentro de uma gaiola juntos. Assim venci uma parte do desafio de reproduzir esta espécie. Esse ano pretendo retornar as tentativas da reprodução em gaiola.

 

Alimentação em Cativeiro

Diariamente: Ração Extrusada com aroma da banana da Beppler. Essa ração é trocada a cada dois dias. Percebe facilmente quando está com algum tipo de fungo. Se o granulado estiver macio é forte o indício de contaminação.

Frutas: Durante o período de manutenção, excetuando-se a troca de penas, é oferecido um pedaço 3 vezes por semana. O ideal é que a fruta não fique mais de um dia na gaiola. Ou seja, ao final da tarde as sobras são retiradas. As frutas fermentam rapidamente. Já na muda, a freqüência aumenta, são servidas dia sim/dia não. Vale salientar o seguinte, o excesso de frutas ácidas prejudica a função estomacal, e em se tratando de certos tipos de pássaros frugívoros, essa forte alteração no suco gástrico pode levar a morte. Alguns exemplos de frutas: Banana, maçã, laranja, mamão, caqui, melão, pitanga, goiaba, araçá, ameixa-amarela, jabuticaba, aroeira-vermelha, entre outras.

Legumes: Durante o período cerca de uma vez por semana é o suficiente. No período da muda de penas e bico, duas vezes por semana. Exemplos de legumes: Pepino, pimentão e jiló.

Alimento vivo: Os frades adoram insetos, assim como todos os passeriformes brasileiros. São servidos nas seguintes proporções:

 

Manutenção Muda Reprodução

Larvas de Tenébrio 3 unid/ 2 x por semana 3 unid/ 3 x por semana 20 unid. por filhote

Cupins 6 unid/ 2 x por semana 10 unid/ 3 x por semana 40 unid. por filhote

Minhocas 2 unid/ 2 x por semana 4 unid/ 3 x por semana 10 unid/ por filhote

Obs: as minhocas, são lavadas, cortadas e depois servidas. Quanto aos cupins, há restrição somente ao ´´soldado´´. Caso seja opção para o trato da prole, convém arrancar suas mandíbulas.

 

Complementos: Farinhada CC-2030 Premium, CC-Frutamix e a seguinte mistura: 2 colheres de café de Farinha de Minhoca, 1 colher de café de Spirulina e ½ colher de café de Proteinato de Cálcio.

Misturar bem. Após, para duas colheres dessa mistura acrescentar uma gema de ovo cozida por 20 minutos.

 

Manutenção Muda Reprodução

CC-2030 Premium 2 vezes por semana(seca) 3 vezes por semana(seca) Todos dias(úmida)

CC-Frutamix 3 vezes por semana 3 vezes por semana Todos os dias

Mistura Caseira 2 vezes por semana 2 vezes por semana Todos os dias

Obs: a quantidade da mistura caseira é de uma unha.

Guilherme Ehartd

 

Cardeal do Sul

O pampa gaúcho não seria tão encantador se uma criatura suprema não habitasse tal ambiente. São várias as virtudes deste ser. É aguerrido, belo, valente, encantador, mágico. Um espetáculo de canto, que ecoa de leste a oeste, norte ao sul do Estado, impondo respeito e admiração. Estamos falando do Cardeal(Paroaria coronata). Seu nome deriva do topete de coloração avermelhada semelhante à vestimenta do religioso homônimo. Nomes vulgares: Cardeal, Cardeal-do-Sul, Cardeal-de-Topete-Vermelho, Cardeal-Vermelho, Tiéguaçu, Tinguaçu, Guira e Tiririca, sendo os quatros últimos de origem indígena. Em inglês Red-Crested-Cardinal, no espanhol, Cardenal. Comprimento de 18,5 a 20cm de; asa 9,5cm e cauda de 7 a 8 cm. Cabeça vermelha com topete, dorso cinza e ventre branco. Ou mais minuciosamente: topete, máscara, face e parte do peito de cor vermelho vivo. Em alguns exemplares, mal nutridos, a cor tende a ficar um vermelho pálido, quase um laranja. A parte dorsal, inclusive a cobertura da cauda, é cinzenta e a parte inferior, ventral, é esbranquiçada. Íris escura e tarsos plúmbeos. Os jovens apresentam a cabeça cor de telha com topete e as partes superiores amarronzadas, a plumagem adulta definida, somente se estabelece no segundo ano de vida. Machos e fêmeas são iguais na aparência. Referencias quanto ao tamanho do pássaro, cor do topete, largura do babador carecem de fundamentos e são duvidosas. Os que vale na prática é análise comportamental dos pássaros feita pelo criador. É necessário muito observação. Aqueles pássaros que parecem formar um casal devem ser aproximados e, aos poucos colocados lado a lado. Se houver agressividade de ambos os cardeais, eles devem ser imediatamente isolados. Habita Campo aberto com árvores altas, capões de mato e beira de rios. Possui hábitos alimentares onívoros. Nutre-se de uma grande variedade de sementes, insetos e frutinhas. Em época de reprodução, seu regime alimentar passa a ser exclusivamente insetívoro. Esta azáfama se intensifica com o nascimento dos filhotes e prolonga até os mesmos atingirem vinte dias de vida.

No período reprodutivo, que ocorre do início da primavera, os cardeais vivem estritamente aos casais, sendo fiéis a um território, que o macho defende energicamente contra a aproximação de outros exemplares da mesma espécie e, muita vezes, não tolera a aproximação de qualquer outra ave. Eu mesmo, já presencie um macho atacando um Graxaim, espécie de raposa, muito comum no interior gaúcho, principalmente habitando o campo aberto. Preparam o ninho com raízes, talos, crinas e pêlos de animais, o enfeitando com musgos. Tem forma de tigela ampla, geralmente localizado em árvores altas. O casal divide as tarefas de construção do ninho. Contudo, o macho tem a incumbência de escolher o local. A postura consta de 3 a 4 ovos, excepcionalmente 2 ou 5, de corpo branco com rabiscos verdes. Realizam até 3 postura durante uma estação de cria. É uma espécie produtiva, daí explica-se o fato de existir uma quantidade razoável de espécies em habitat natural. O período de incubação dura de 13 a 15 dias, sendo os ovos chocados somente pela fêmea. Em alguns casos, a macho participa da incubação durante efêmeros turnos. Os filhotes abandonam o ninho com 17 dias de após a eclosão e os pais permanecem alimentando-os por três semanas.

Com relação ao canto, é um cantor de altíssima estirpe. Canto forte e grave com uma cadência de curtos assobios. O mais comum são cardeais de 4 notas. Possui um gorjear dobrado rouco O canto, muitas vezes, é emitido em conjunto pelo casal.

Este foi um breve relato sobre o Cardeal. Agora cabe a nós preservamos a espécie, para que continue encantando as futuras gerações de criadores, observadores, enfim, gente que goste da natureza.