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Minhocas de Paraopeba

Minhocuçu e os Avá Canoeiro

Por aqui, no Norte de Minas, a saúde não tem me permitido dar a assistência devida aos amigos. Mas queria botar? Lenha? Na fogueira. De eucalipto, para que não haja qualquer dano ambiental. E com a devida autorização do órgão ambiental, porque fogueira é uma queimada em escala intermediária. Em escala mínima, a queimada é um fósforo. Nas minhas andanças pelo Brasil, acabei conhecendo dois paradoxos. A minhocuçu de Paraopeba e os Avá Canoeiro. A minhocuçu gera dois filhotes por ano, necessitando de fecundação cruzada. Na beira da BR 040, na altura de Paraopeba, são vendidas livremente. Não sei se a minhocuçu é coletada com ou sem autorização do IBAMA. Mas são vendidas livremente. Assim como o sarapó e a isquinha. Os Avá Canoeiro são um povo indígena que marcha para o desaparecimento.

Há aparentemente dois pequenos grupos só. Foram vítimas de um massacre e as poucas mulheres que sobraram passaram a praticar o aborto. Assim como os Guarani acreditam que haverá uma ?Terra sem Males? Onde eles poderão viver, penso que os Avá só conheçam uma ? Terra com males?. Os Avá foram caçados, como se caça um animal, com cães farejadores. Nossos dirigentes são capazes de se indignarem por uma minhoca. Mas não por seres humanos. A extinção de espécies foi, é e será uma ferramenta da Natureza. Os mais aptos sobrevivem. Alguma razão cósmica há para a sobrevivência da barata, do escorpião e daquele grilo gigante esquisito da Nova Zelândia. Ou da Indonésia. Passamos por uma grande extinção por meteoros. Outra por glaciação. Outra por mudança dos pólos magnéticos da terra. E o planeta se adaptou para uma vida sem brontossauros, sem Smilodons e sem o Homo Neanderthalensis. Sem falar no Dilúvio.

Na Austrália houve uma extinção causada por seca e incêndio de um periquito lindíssimo. Penso que o Poder Público está indo para uma outra esfera: ocupar o lugar de Deus. Seja qual for o nome Dele. Decidiremos em breve quais as espécies ? Podem? E quais ? Não podem? Procriar em cativeiro. Isto nada mais é que eugenia. Na acepção de extrema direita que o termo possa ter. A mesma base moral que autoriza uma espécie a ser preservada e outra a não ser preservada foi a base do Lebensborn. Estupro alemão de mulheres nórdicas para geração de arianos. Segundo o Direito vigente à época, a evolução da humanidade passava por uma purificação. Isto era crença, era consenso e era lei. E para os não-alinhados, Pogrom, Shoah, Holocausto. E o que a minhocuçu e os Avá Canoeiro têm com isto? Atraindo o foco das atenções para um ?Dano ambiental? Tira-se o foco dos reais problemas humanos e das soluções ? Finais? Ideológicas. Nesse processo as minorias têm de ser silenciadas. Um soldado mata um soldado, um general mata os pensadores inimigos. Hoje, portanto, o Poder Público não tem um programa de estudos sobre a minhocuçu ou sobre as minhocas raras do Brasil.

Não sei o que valeria a sua reprodução, talvez uma fortuna do ponto de vista bioquímico. Elas são coletadas e morrem na boca de um surubim no São Francisco, que por sua vez morre com o anzol. E nós morremos quando comemos a deliciosa moqueca de metais pesados. Mas como já quase não há surubins no São Francisco, talvez haja um ?excesso? de minhocuçus. Em Paraopeba se faz vista grossa. Na beira do Velho Chico, a Polícia Militar de Meio Ambiente aplica a lei. O que ocorre no meio do caminho? E os Avá? São poucos e não têm voz. Sua aniquilação completa será uma lástima para a humanidade, mas talvez um grande favor para o Poder Público. São um caso de extinção incentivada. E porque não se levantam ONGs e bandeiras a favor do Avá Canoeiro (justiça seja feita à grande alma do Bituca, Milton Nascimento). Porque os avá não têm nióbio, nem tório, nem ósmio, nem tântalo debaixo de suas terras, porque têm só um refugo para viverem. E porque se levantam bandeiras em favor de algumas espécies, a LISTA PET? Porque o interesse em questão não é preservação de espécies, é lucrar com o teatro da extinção das espécies. E muitos de nós acharão isto normal e justo: o direito de preservar o que está preservado, Bicudo, Curió e tudo o que se puder botar em estaca.

Enquanto isto a massa fica acalmada. Conseguiremos a vitória de preservar o Bicudo! Mas o capacetinho-do-oco-do-pau, o papa-piri, o tangará-dançarino, silenciosamente, serão silenciados. Um a um. Eles são os Avá Canoeiro das aves, minorias sem muito peso e sem voz. O Ruschi reproduzia beija-flores. O Azeredo reproduz harpias, jacutinga e macuco. O Nardeli salvou o mutum do Nordeste. Como será amanhã? Alguns brasileiros se reunirão em Brasília e decidirão, de uma canetada, o futuro da criação de aves no Brasil. Junto estará sendo decidida também a questão fundamental: QUE LIBERDADE NOS RESTA? A de povo ou a de gado? A coisa já não é mais sobre passarinhos. É sobre o que somos, sobre uma noção de Pátria e de liberdade que as minhocas não podem ter. Porque um estrangeiro pode e nós, brasileiros, não podemos? Quem é a mente que controla esses específicos cordões sobre o palco? Talvez a extrema proteção dada às minhocas seja porque elas representam o cidadão ideal em uma ditatura: vivem curvadas, não marcham, comem restos, são cegas, mudas e surdas e têm o ânus e a cabeça extremamente semelhantes.

Fernando Martuscelli

Ameaça de Extinção

Consumo de commodities ameaça animais em países em desenvolvimento Comprar produtos como café, chá e açúcar em países desenvolvidos acelera a degradação do habitat de espécies ameaçadas de extinção em países em desenvolvimento. Esta é a conclusão de um estudo publicado nesta quarta-feira no periódico científico Nature. O trabalho relacionou mais de 25 mil espécies que fazem parte da Lista Vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais (IUCN) com mais de 15 mil mercadorias produzidas em 187 países e mostrou que o impacto individual de cada país sobre a biodiversidade vai muito além do seu território. “Ficamos muito surpresos com o tamanho do efeito.

Muitos de nossos vizinhos (Papua Nova Guiné em relação a Austrália; e Honduras para a América Latina) possuem até 60% de suas espécies ameaçadas devido ao comércio internacional.”, afirmou ao iG Barney Fornan, um dos autores do estudo, da Universidade de Sidney, na Austrália. De modo global, o estudo conclui que esta relação é de 30%, excluídas as espécies invasoras. Para chegar a esta conclusão os pesquisadores analisaram as relações entre fatores como produção, venda e consumo; extração de recursos e uso da terra; e mudança de habitats. Um exemplo encontrado foi o do macaco aranha que está perdendo seu habitat por causa da plantação de café e cacau no México e na América Central. A análise mostrou também que Estados Unidos, União Europeia e Japão são os principais destinos das mercadorias que estão relacionadas à perda de biodiversidade.

No caso do Brasil, os números mostram que há 35 espécies relacionadas à produção que são exportadas, para países como Estados Unidos, Japão, Alemanha, Argentina e China. Já a importação brasileira ameaça 76 espécies de fora do país, vindas de Argentina, Uruguai, Estados Unidos, Bolívia, entre outros. O mapa completo pode ser encontrado em http://worldmrio.com/biodivmap. O resultado mostra ainda a importância de estudar a perda da biodiversidade – que pode estar levando o planeta à sexta grande extinção de forma global.

(Fonte: Portal iG)