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Seleção Genética na Fibra ou Canto do Canário da Terra

Taddei – consultor técnico e estudioso de seleção genética animal

Luiz Antônio Taddeil

A criação e a seleção genética devem caminhar necessariamente juntos. É importante que desde logo saibamos distinguir um selecionador de um mero multiplicador. A princípio e grosseiramente, a seleção pode parecer ser a simples reserva para a reprodução de um bom exemplar, mas terá esse exemplar a capacidade de transmitir suas qualidades ??? Alguns de nós (raros) possui o famoso “Olho Clínico” que o faz capaz de reconhecer com acerto as qualidades de um filhote, quem não tem esse “dom”, tem que trabalhar a seleção.

TRÊS BREVES HISTÓRIAS ILUSTRATIVAS

Vou começar breves histórias, que balizarão nossa conversa sobre a importância da seleção.

1- Vamos citar inicialmente o Sr. José Oswaldo Junqueira que desenvolveu a raça mangalarga. Tudo foi baseado na sua percepção de que uma determinada égua (que nem sua não era) tinha alguns predicados que considerava importantes para formar um novo padrão naquela raça de cavalos. Idealizava uma linhagem de boa conformação mas que mantivesse o andamento cômodo, famoso dos cavalos Mangalargas. Na época, uma só raça, hoje subdividida em Mangalarga (Paulista) e Mangalarga Marchador. O filho desta égua chamou-se “Turbante JO” [i]e praticamente dividiu a história da raça:[/b] Antes e Depois de Turbante JO.

2 – Vale lembrar também do Dr. José Vieira Pereira, que apesar de advogado, desenvolveu mais do que um plantel. Vacas de excelente aspecto morfológico mas e principalmente excepcionais produtoras de leite. Através da técnica de transplante de embriões, pioneiro na época, formou um plantel de altíssima capacidade leiteira, batendo em expoentes de mais de 90 Kg de leite diários. Mas o principal não era esse indivíduo expoente; era o plantel homogêneo. Tanto em produtividade, como em características fenopticas.

Numa visita, uma comitiva do Japão, fez a avaliação destas vacas. Para tanto, foram colhidas fezes de cada uma delas e este material foi analisado em laboratório visando identificar a existência de proteínas e matérias nobres no bolo fecal. Constatou-se que todas a proteínas ingeridas, eram 100% processadas e transformadas em leite. Mais de uma vez, fez e refez seu plantel que foi vendido a valores históricos para o gado leiteiro brasileiro.

3 – Por anos, dedicava-me à caça de perdizes, e buscava criar cães para esta finalidade. Neste meu envolvimento com a cinofilia, tive a oportunidade de conhecer um criador e selecionador de cães na Alemanha (berço da seleção genética de animais) e deparei-me com a seguinte situação. Numa ninhada de 9 filhotes, baseado nos padrões da raça, com a pura observação acurada, pediu para separar 3 filhotes e o restante determinou que seriam sacrificados. Neste caso em particular, onde os critérios da seleção estavam muito bem estabelecidos, este senhor não via nenhuma justificativa para assegurar a sobrevivência de exemplares que estavam fora do padrão, representando descarte no processo de seleção.

PRINCIPIOS QUE NORTEIAM A SELEÇÃO

Lembrando que criar um pássaro bom e criar um pássaro ruim o manejo será o mesmo, o prejuízo será maior criando-se pássaros ruins, pois, basta computarmos a perda de tempo fazendo algo que não leva a lugar nenhum. Assim não basta criar, devemos buscar criar o melhor.

Infelizmente, no caso de nossos canários, e seja qual for esse canário, sempre teremos um pássaro heterozigoto. Assim, mesmo que já tenha exteriorizado seus excelentes predicados, não podemos ter certeza de qual o percentual de aproveitamento de sua prole. Pássaros heterozigotos, passam tanto suas boas qualidades bem como qualidades ruins.

O Dr. Álvaro Blasina, um lendário selecionador de Serinus Canária, afirmou-me que “o ideal seria que apenas um filhote herdasse todas as qualidades ruins ficando as qualidades boas para os outros filhotes da ninhada”, no entanto bem sabemos que esta possibilidade está diametralmente oposta à realidade dos fatos.

Desta forma, como ponto de partida, devemos utilizar na reprodução, pássaros sem defeitos aparentes e portador dos predicados desejados que buscamos desenvolver nos seus filhos. Como contrapartida a esta afirmação, pássaros que não atendam plenamente aos predicados desejados, devem simplesmente ser descartados de uma possível reprodução, para evitar um grandioso desperdício de tempo. Ilusão não combina com seleção.

Podemos estabelecer como regra número 1 da seleção: “Faça amigos”. Desta forma aumentaremos as chances de termos acesso a pássaros dotados dos predicados que almejamos. Se por qualquer situação adversa, não pudermos adquirir este pássaro, poderemos ao menos empresta-lo para galar fêmeas.

No entanto vale ressaltar que a regra básica para iniciar verdadeiramente o processo de seleção estabelece que “o macho tem que ter relação de parentesco com as fêmeas”.

Desta forma, uma vez eleito o Fundador do programa de seleção a ser desenvolvido (que deve ser o melhor pássaro que pudermos adquirir ou emprestar), o trabalho será pautado em cruzamentos fechados. Desta forma é que conseguiremos o ½ sangue, o ¾, o 7/8, o 15/16, etc ….

Cabe no entanto lembrar que um bom padreador você deve cria-lo, não iludindo-se que irá encontrá-lo por aí, ainda que seja o campeão de um torneio.

O modelo ideal de iniciarmos este processo de reprodução seletiva, é a prática da consangüinidade fechada (inbreeding), cruzando: PAI com a FILHA; com a NETA; com a BISNETA; etc… até conseguirmos um produto que seja portador de 31/32 (ou 96,86%) de sangue do Fundador Inicial quando então teremos o nosso “REPRODUTOR”. Esse Reprodutor será Homozigoto. Ou seja, com certeza passará suas qualidades a sua prole. Ver o quadro de cruzamentos apresentado a seguir.

CANÁRIO INICIAL X FÊMEA INICIAL = FILHO (a) F 1 = ½ sangue

CANÁRIO INICIAL X FÊMEA F 1 = FILHO (a) F 2 = ¾ de sangue

CANÁRIO INICIAL X FÊMEA F 2 = FILHO (a) F 3 = 7/8 de sangue

CANÁRIO INICIAL X FÊMEA F 3 = FILHO (a) F 4 = 15/16 de sangue

CANÁRIO INICIAL X FÊMEA F 4 = FILHO (a) F 5 = 31/32 de sangue

(Esse produto que apresenta 31/32 de sangue do Canário Inicial já pode ser considerado puro – porém já é homozigótico ou seja, sangue fechado no Canário Inicial)

O PREDICADO QUE PROCURAMOS

Um trabalho de Seleção e Aprimoramento Genético pode ser feito objetivando melhores predicados para o Canto ou para a Fibra. Seja para uma ou outra modalidade, devemos ter em mente, que exigirá dedicação e perspicácia e principalmente manter a firmeza dos objetivos traçados.

Ainda não sabemos se a Fibra é transmitida por um gen ou por uma combinação de gens. No entanto vale lembrar que ninguém tem o que não herdou. O piado por exemplo, é herdado geneticamente, já o Dialeto de Canto, é aprendido.

Mas, precisamos desmistificar folclores presentes no dia a dia da transação passarinheira. Afirmações do tipo: “esse pássaro é ruim, mas dá cada filho bom”; é mentira, é pura balela, representando o tipo de afirmação que deve ser necessariamente desconsiderada, por uma pessoa seriamente comprometida com um trabalho de seleção. Perder tempo com um pássaro ruim, na remota esperança que seus filhos herdem, por atavismo qualidades de ascendentes mais remotos é pura perda de tempo. Um risco que nenhum criador sério poderá correr.

A seleção deve ser rígida no limite, e tem que se ter à endogamia. A seleção também pode ser feita com o uso de parentes mais distantes, tipo Tio com Sobrinha, meio Irmãos, Primos com Primas, etc. porém é um caminho mais comprido e deve ser previamente traçado.

Pássaros que não exteriorizaram os predicados não devem ser utilizados na reprodução. O chamado olho clínico, é uma qualidade que deve ser desenvolvida e permanentemente aprimorada pelo selecionador.

Deve-se educar o olho para identificar predicados nos pássaros. Neste aspecto, é primordial, educar os olhos para os seus próprios pássaros, sabendo enxergar os defeitos e eliminar os indesejáveis.

Aqui vale lembrar o selecionador alemão de cães, que sem contemporizar, não se furta dos seus objetivos, quando precisa eleger os melhores da prole que justificam permanecer no plantel.

Vale lembrar que:

1 – Nunca teremos dois irmãos iguais na mesma ninhada;

2 – Não se deve utilizar na reprodução Machos com menos de 3 anos de idade, pois antes desta idade, não foram devidamente avaliados em todos os seus predicados ou defeitos;

3 – Se existir dúvidas das qualidades de um pássaro, não se deve leva-los para a reprodução;

4 – Imediatismo não se aplica nem para a seleção de baratas.

Sabemos que os alemães tem linhagens definidas para distintas raças, porque foram rígidos nos procedimentos de seleção e aprimoramento genético. Desta forma destacaram-se com Cães e Canários (serinus canária).

[i]O pior erro que se pode cometer, é partir dos princípios errados[i]. Para isto devemos ser frios no raciocínio.

Mesmo quando se deparar com um pássaro, que apresenta as qualidades desejadas, observe durante algum tempo, analisando a regularidade com que este pássaro manifesta as suas qualidades.

Concluindo, neste processo de seleção, encontramos três caminhos a serem seguidos, na obtenção do Canário da Terra com os predicados desejados:

Sorte – Tal qual ganhar na Megasena, estatisticamente as chances são pequenas;

Dinheiro – Com quantias adequadas, poderá até encontrar o pássaro com os predicados desejados, e comprá-lo;

Anos de Trabalho – Esta é a forma mais lenta, mas, segura. O investimento em trabalho e esforço será recompensado e chegará um momento que terá conseguido o Canário da Terra que tanto almejou.

Texto extraído do Relatório do Encontro de Sicalienses em Florianópolis.

Autor: Luiz Antonio Taddei

Redação: Ivan de Sousa Neto

Escrito por Luiz Antonio Taddei, em 13/1/2004

 

Preparando e Reproduzindo no Ambiente Doméstico

Todo o manejo deve permanecer centrado nas fêmeas.

Reprodução do Canário da Terra

No decorrer destas notas, tudo que estarei abordando será voltado para o sistema de reprodução em poligamia, onde com um único macho, podemos utilizá-lo para cobrir várias fêmeas. Este processo, está centrado no manejo e nas estratégias voltadas, para que a fêmea desenvolva todo o trabalho, desde a preparação do ninho até a alimentação dos filhotes. Assim, em nenhum momento falaremos da preparação dos padreadores, mas apenas das rainhas do processo reprodutivo.

I – Preparando os pássaros para a reprodução

A muda de penas

Pôr estranho que possa parecer, o momento mais apropriado para iniciar a preparação de um plantel para o processo de reprodução é na muda.

Sabemos (ou deveríamos) que na temporada de agosto até abril, para termos um pássaro fogoso, vivaz, no melhor do seu desempenho, é importante que ele faça uma muda completa (sem interrupções), e, não termine este processo com o seu organismo debilitado.

Uma grande falha, que constamos neste período, é o descaso, justo quando o pássaro precisa de atenção redobrada. Embora a muda de penas, não deva ser caracterizada como uma doença, ela representa um esforço muito grande para o organismo do pássaro.

Assim:

1. Devemos assegurar tranqüilidade total para o pássaro, evitando sustos ou excitações desnecessárias (como encostar gaiolas de machos para verificar se continua valente);

2. Evitar que ele sofra variações bruscas de temperatura, devido a correntes de vento;

3. Uma alimentação com variedades de sementes;

4. Colocar água para banho diariamente, deixando ele decidir quando quer tomar banho;

5. Nesta época, aumenta o risco de ocorrerem epidemias de piolhos e ácaros, colocando em risco a saúde dos nossos pássaros. Uma medida providencial é utilizar vinagre semanalmente na água de banho (10 gotas por litro de água) para combater (repelir) piolhos e ácaros das penas;

6. Outro transtorno, são os ácaros das vias respiratórias, que no pássaro, obstrui as narinas, fazendo que respire somente pelo bico, e, não consiga cantar. Podemos eliminar este transtorno com a utilização do Ivomec Pour On, como trataremos adiante.

Ao longo de todo este período, estando atento, poderemos notar o momento em que o pássaro estará trocando de bico (a superfície fica com escamas), e, se constatamos alguma dificuldade para quebrar, ou, descascar as sementes, é apropriado dar uma leve umedecida na semente colocada no coxinho, ou, mesclar com alimentos macios, jogando fora o que sobrar de um dia para outro, evitando que a semente desenvolva fungos que certamente intoxicarão o pássaro.

Mesmo com a plumagem nova e completa, ainda pode ocorrer algum sintoma de febre, e, isto podemos notar pela demora de duas a três semanas para o pássaro voltar a ficar mais esperto na gaiola.

Exercícios após a muda

Superada esta fase, é chegada a hora de iniciar o preparo para a reprodução. O ócio de quase dois meses, uma alimentação mais rica em nutrientes, terá deixado o pássaro levemente obeso, e fisicamente fora de forma. Assim, para os felizardos que tiverem um espaço maior (gaiolas voadeiras ou viveiros), é adequado deixá-los voando pôr três a quatro semanas, para finalmente termos, na próxima temporada, um pássaro na sua condição ótima de fogosidade e vivacidade.

Este recondicionamento físico, é importante, para que o macho resgate a capacidade plena de seus sacos aéreos tanto para cantar, bem como para sobrevoar e galar as fêmeas. Já para as fêmeas, revigorando o tônus muscular (com este período de exercícios), dificilmente ocorrerá a inabilidade dos músculos compressores do oviduto, ocorrendo aquilo que costumam chamar de ovo atravessado.

Combatendo os piolhos, ácaros e vermes

Visando eliminar possíveis Ectoparasitas (piolhos e ácaros) e Endoparasitas (vermes), recorremos ao Ivomec Pour On (conhecido como Ivomec azul, não confundir com outros Ivomec que encontramos nas Agropecuárias). Usando uma seringa de insulina (seringa de 1 ml), seguramos a ave e pingamos 2 gotas sobre cada uma das coxas (na parte externa e mais carnuda) do pássaro, sem a necessidade de arrancar penas. Após a aplicação, o pássaro deverá permanecer 2 dias sem tomar banho, enquanto o produto penetra através dos poros. O produto penetrará através do tecido da pele indo parar na corrente sanguínea e permanecendo por 35 dias. Devido à presença da ivermectina (principio ativo presente no Ivomec Pour On) na corrente sanguínea, quando os parasitas sugarem o pássaro, terão seu sistema neurológico paralisado, morrendo por não conseguirem mais se alimentar do sangue do pássaro.

Encerrada esta fase, todos estarão gozando de plena saúde, e, em condições físicas adequadas para iniciar a procriação.

II – Preparação das Gaiolas Criadeiras

Gaiolas

Considero como gaiola ideal para acomodar a fêmea durante a reprodução, aquelas feitas de arame puro, com no mínimo sessenta centímetros de comprimento (conhecidas como gaiolas argentinas).

Algumas características devem ser observadas no momento em que for adquiri-las:

· seis comedouros externos

· grade separadora no meio

· piso em dois níveis com grade e bandeja

· pelo menos uma porta na frente e em cima para colocarmos a caixa ninho

· porta em baixo para introduzirmos a banheira

· porta de passagem lateral para introduzirmos e retirarmos o macho

Enfatizo todos estes detalhes, pois, os danados dos fabricantes, estão sempre alterando os modelos, disponíveis nas lojas.

Se já possuir este tipo de gaiola, faça uma limpeza removendo totalmente crostas de fezes e lavando com água e sabão. Após isto, prepare uma solução de desinfetante (encontramos excelentes bactericidas e fungicidas no mercado para este fim), e deixe a gaiola e poleiros de molho pôr alguns minutos, eliminando o risco da presença indesejável de bactérias e outros agentes infectantes. Se você não conhecer a origem, jogue fora os poleiros velhos e substitua pôr novos.

Caixa Ninho

Utilizo aquelas de dois compartimentos, com dimensões aproximadas de: 25 cm de comprimento, 14 cm de largura e 12 cm de altura.

Esta caixa deve ser colocada do lado de fora da gaiola, pois deixará mais espaço interno na gaiola, e facilitará as verificações necessárias no dia a dia. A má notícia é que precisamos mandar fazer estas caixas, pois não estão disponíveis nas lojas com estas dimensões. Normalmente as que encontramos, ou são muito maiores, ou bem menores.

Utilizando talco para repelir piolhos, polvilhe dentro da caixa ninho, em toda a área onde a fêmea irá fazer a cama. Coloque alguns fios no local onde espera que a cama seja construída. Este procedimento visa induzir a fêmea, em aceitar o local onde se espera que ela construa a cama.

Se a fêmea iniciar a construção da cama, no compartimento de entrada, procure mudar os fios que ela colocou para a posição correta, que ela acabará aceitando o local sugerido. Durante a fase inicial de construção da cama, não se preocupe em desmancha-la caso ocorra da fêmea inicia-lo em local impróprio.

Poleiros

Quando for definir as posições dos poleiros, considere que:

1. Será adequado deixar um poleiro posicionado de modo a facilitar a entrada e saída do ninho;

2. Procure espaçá-los de tal forma que não ocorra da banheira ser alvo de fezes;

3. Assegure-se que o espaço vertical e acima do poleiro seja adequado, para que no momento em que o macho for efetuar a cobertura na fêmea, consiga realiza-lo com sucesso.

4. Tenha poleiros em duplicata, para que a cada quinze dias você possa removê-los e limpá-los (após lavados e secos, coloque-os pôr uns 10 minutos num forno já quente à temperatura máxima), lembrando que os Coccidas só se conseguimos elimina-los com o uso do calor acima de 120ºC. Desta forma, optar por água fervente não é uma boa solução, pois a temperatura não ultrapassaria 90 ºC.

Material ou substratos para a cama

Para iniciar a construção da cama, fêmea fará uso de qualquer material disponível: pedaços de jornal, fios de estopa, barbante, raízes e folhas de capims, etc……

No entanto, até que surjam novos produtos, o mais prático, barato e seguro são os fios de saco de estopa (utilizados para ensacar legumes e algumas frutas). Na escolha do saco de estopa, certifique-se que não seja daqueles que mesclam com fios de nylon.

Fios finos e resistentes como: nylon, crina de cavalo, sisal, .. tendem a gerar acidentes quando se enroscam na pata das matrizes ou filhotes, levando-os a perderem estes membros.

Procure adquirir (no caso de sacos usados) sacos que não foram utilizados em produtos com agrotóxicos (caso dos sacos para acondicionar amendoins).

Lave-o para remover a poeira e sujeiras presentes. Após isto, ferva-o pôr pelo menos meia hora, ou, coloque por algum tempo numa solução desinfetante e coloque para secar. Uma vez seco, corte quadrados de 10 a 15 centímetros, desfie e armazene num recipiente com tampa. Com este procedimento, terá providenciado o estoque de material necessário para toda a temporada reprodutiva.

Quando disponibilizar este material na gaiola, coloque em abundancia em uma única vez. Desta forma, poderá ficar seguro que não ocorrerá falta de material no momento da construção da cama.

Algumas fêmeas costumam consumir de 3 a 4 dias na confecção do ninho. No entanto, outras podem ficar ensaiando por dias, movimentando os fios de um lado para o outro, e, repentinamente constroem toda a cama num único dia.

Vale aqui lembrar alguns pontos de extrema importância:

· O fato de termos criado um ambiente apropriado para a reprodução, não implica que a fêmea iniciará imediatamente a construção da cama. Algumas vezes poderão demorar até 2 meses;

· Afora as condições da gaiola (caixa ninho e material de cama), outros fatores também influenciam nas condições metabólicas das fêmeas: boa luminosidade, dias mais longos, canto do macho, umidade do ar, etc…

· Procure enriquecer a dieta, fornecendo uma farinhada de boa qualidade todos os dias, pois verificado que o incremento de proteínas na alimentação tem contribuído favoravelmente para o início da reprodução.

· Esqueça as propaladas vitaminas E, pois não encontramos comprovação da sua eficácia na fertilidade dos pássaros. Na prática, a utilização desta vitamina só apresentou contribuição efetiva para o faturamento do fabricante.

· Não é adequado, mesmo nestas condições, que a fêmea permaneça vendo o macho;

· As gaiolas das fêmeas, poderão estar lado a lado, mas, sem que uma fique vendo a outra.

· Quando a fêmea entrar no cio, ela começará a carregar os fios, desencadeando o processo de reprodução, e, a partir daí, permanecerá reproduzindo até o fim da temporada.

III – Postura e Incubação

O Macho cobrindo (galando) a Fêmea

Após ter percebido, que a fêmea concluiu (ou, está próximo da conclusão) da cama, sempre que mostrarmos um macho, certamente ela abaixará pedindo cobertura (gala).

No momento em que for colocar o macho para efetuar a cobertura, procure apoiar a gaiola da fêmea num local plano (uma mesa pôr exemplo). Aproxime a gaiola do macho na lateral da gaiola que já se encontra no local, abra os passadores e afaste-se um pouco, para que os pássaros sintam-se à vontade e um vá ao encontro do outro.

Quando o pássaro já está acostumado com este procedimento, às vezes, nem dá tempo de afastar-nos e o macho já está cobrindo (galando) a fêmea.

É importante que o local onde vão ser posicionadas as gaiolas, esteja preparado para não ocorrer eventos que possam dispersar a atenção dos pássaros:

· Pessoas ou animais transitando;

· Outro pássaro ao alcance da vista;

· Superfícies espelhadas próximas da gaiola. Isto poderá induzi-los em querer brigar com a imagem dos mesmos;

· Ruídos que os pássaros não estejam acostumados;

· Transito de outras pessoas, neste momento de aproximação;

· Cachorros ou crianças próximas do local.

Após as primeiras vezes, você já estará familiarizado em preparar este altar de sedução, tornando-se um procedimento rotineiro.

De um modo geral, nas primeiras vezes, este procedimento não tomará mais do que 10 minutos, com tendência a reduzir este tempo. Exigirá calma, movimentos lentos, precisos e seguros.

Concluído a cobertura, não considero adequado, deixar o macho mais tempo visitando a gaiola da fêmea. Vejo muitos amigos insistindo em aguardar que o macho efetue inúmeras coberturas (galas) antes de separar os pássaros. Este procedimento contribui para o desgaste desnecessário do macho. A permanência do macho, uma vez concluída a cobertura (gala) implica em outros riscos. O macho terá uma tendência de visitar a caixa ninho, tentando interferir no que a fêmea já concluiu. Isto certamente promoverá a agressão da fêmea a este macho, podendo leva-lo à morte. Lembre-se, uma única galada é suficiente para definir toda a postura, pois os espermatozóides introduzidos no oviduto da fêmea são milhares que sobreviverão por aproximadamente 10 dias.

Para o macho, não é adequado, que ele faça mais do que três coberturas (galas) pôr dia. Se vai ser, uma em seguida de outras, dependerá das condições físicas, que ele se encontra naquele dia, associado ao fato, de ser um pássaro mais novo (maior vigor físico) ou mais velho.

A Postura (Botar)

Um dia após a cobertura (gala), a fêmea inicia a postura. A quantidade de ovos poderá variar de quatro a seis ovos (pôr isto enfatizei antes, os cuidados desde a muda, pois, as condições físicas da fêmea, serão determinantes na quantidade de ovos que serão postos). Poderá ocorrer de uma fêmea botar um número menor ou maior que esta média.

Nesta fase é importante que não falte farinha de ostra (poderá ser notado que ela ingere em quantidade muito maior neste período de postura), fonte importante de cálcio, e que contribuirá para a reposição do cálcio consumido durante a formação da casca dos ovos.

Para assegurar tranqüilidade a partir desta fase, você já deve ter definido a posição em que a gaiola permanecerá residente, considerando que:

1. Será evitado que ela não tenha contado visual com outros canários (sejam fêmeas ou machos);

2. A gaiola estará posicionada num local que facilite a manutenção diária (troca de água, comida, limpeza da bandeja, verificação de ninhos, etc…);

3. Movimentará a gaiola apenas uma vez ao dia, para sua manutenção.

A Incubação (Choca)

Durante esta fase, a fêmea permanecerá todo o tempo, deitada sobre os ovos, procurando mantê-los aquecidos. Sairá duas ou três vezes para alimentar-se ou tomar banho. Durante o período de choca, deixamos apenas sementes para a alimentação da fêmea. Este é um período em que ela reduz a quantidade diária de alimento ingerido.

Disponibilize diariamente água para que ela possa banhar-se, mesmo em dias frios. Com o banho ela manterá as penas livres de poeiras e parasitas, contribuindo para a sua saúde, e dos ninhegos que estarão nascendo.

Existem em alguns a crença de que o banho contribuirá para a redução da temperatura dos ovos levando-os a gorar. Esta crença não tem nenhum fundamento.

Principalmente nos períodos mais quentes, a umidade das penas contribui para a manutenção adequada de umidade no ambiente onde se encontra a cama.

Nos períodos em que a umidade relativa do ar está muito baixa, costumo deixar recipientes com água (trocada diariamente), para que com a evaporação da água, atenuemos a baixa umidade. Há locais que alguns amigos costumam manter um espelho de água no piso ao longo do dia com a mesma finalidade.

Se a umidade relativa do ar permanece muito baixa, leva ao ressecamento e morte dos embriões, além da dificuldade respiratória dos ninhegos. Este é um ponto importante para atermos-nos durante todo o período de reprodução.

IV – A Eclosão (Nascimento dos Filhotes)

Alimentação para os filhotes

No período da eclosão, a fêmea procurará posicionar o seu ouvido próximo dos ovos, emitindo pialadas com o intuito de estimular o “embrião” picar o ovo para sair. Assim que saem da casca, a fêmea termina de limpá-lo. Isto poderá ser notado, pois não ficam presentes resíduos de cascas do ovo eclodido.

Precisamos obviamente, mudar a alimentação disponível na gaiola. No primeiro mês o filhote já adquire o tamanho de um adulto. Nesta fase, o consumo de alimento passa a ser maior, e, será importante acrescentar à alimentação normal uma boa fonte de proteínas.

Pôr uma questão de praticidade e segurança, prefira utilizar as farinhadas industrializadas. Acautele-se apenas com a reputação do fabricante e prazo de validade do produto. Jamais adquira embalagens abertas, ou mesmo farinhadas vendidas a granel. Estes produtos certamente estão contaminados, pois estiveram em contato com o ar do ambiente visitado por inúmeras pessoas diariamente.

Portanto é mais seguro comprar farinhadas em embalagens lacradas, mesmo que não faça uso de todo o produto. Mais vale a saúde dos seus filhotes que a aparente economia na alimentação. Com esta farinhada, tenho certeza que estarei administrando uma alimentação com todas as vitaminas e nutrientes necessários aos filhotes, e, livre de microorganismos potencialmente nocivos que podem causar mortalidade nos mesmos.

Anilhando os filhotes

Nunca esqueça da importância de anilhar os filhotes entre o 5º e o 8º dia de nascimento para evitar grandes dificuldades com a anilha de bitola 2,8. Evidentemente que estamos pressupondo que estas anilhas já foram adquiridas antes de iniciar o ciclo reprodutivo.

Com 17 dias os filhotes saem e já não voltam mais para o ninho, o que permite remover a caixa para limpeza e assepsia.

Caso não seja possível a remoção da caixa ninho, coloque alguma obstrução que impeça o acesso da fêmea, pois ela tenderá a iniciar uma nova postura, antes de construir nova cama e receber a cobertura (gala).

Emancipação dos filhotes

Com 30 dias após a primeira eclosão, os filhotes já começaram a comer sozinhos, embora ainda insistam em pedir alimento para a mãe. Assim coloque uma divisória no meio separando-os da mãe, colocando comida e banheira própria para os mesmos. Alguns ainda irão recorrer à mãe para solicitar alimentos, o que ela poderá faze-lo através da grade de separação.

Quando estiverem com mais de 35 dias de vida, poderá remove-los para as suas próprias gaiolas individuais, emancipando-se definitivamente dos pais.

Para evitar que fiquem ressentidos nesta fase de isolamento, mantenho-os tendo contato visual por uma semana, antes de promover o isolamento visual definitivo.

Alguns poderão optar pela acomodação desta produção em voadeiras ou viveiros, mantendo-os reunidos por mais algum tempo. Estas sutilezas de manejo estão diretamente associadas aos objetivos de trabalho reprodutivo de cada criador. Para evitar ambientes estressantes, nos gaiolões de 1m a 1,20m, procure não deixar mais do que 12 filhotes juntos.

Quando os filhotes estão emancipados, prefiro já isola-los, cada um em sua gaiola, para que inicie o treino do canto o mais cedo possível. Não podemos esquecer que o órgão fonador é a seringe, uma estrutura de músculos, que precisará ser desenvolvida. Este exercício começa muito cedo, pois é comum filhotes com 20 dias já estarem fazendo os exercícios iniciais do canto. Sendo assim, prefiro isola-los para que possam promover seus exercícios canoros, sem que os pássaros de temperamento mais forte tentem impedir seus irmãos deste exercício.

V – Iniciando novo ciclo reprodutivo

Com a mãe separada, podemos recolocar a caixa ninho, e substratos para a cama. Novamente, quando a cama estiver construída, coloque o macho para efetuar a nova cobertura (galar), e todo o ciclo de reprodutivo estará reiniciado.

VI – Alimentação

Atenção à qualidade do alimento

A alimentação básica deve consistir de sementes diversas, e, um complemento que tenha proteína animal para substituir os insetos avidamente capturados pelas aves na natureza.

A origem das sementes bem como os prazos de validade devem ser bem vigiados. Durante o armazenamento, fungos presentes na semente produzem toxinas que são nocivas para as aves, possuindo um efeito tóxico cumulativo. Procure estar atento para este aspecto, pois esta preocupação, não é necessariamente a mesma dos lojistas, que podem querer empurrar para a venda, produtos que já deveriam ter sido descartados. Evite adquirir sementes nas lojas que os mantêm armazenados em recepientes abertos, expostos às impurezas presentes no ambiente. Se notar algumas sementes grudadas uma nas outras, descarte este lote, ou compre em outro lugar.

A dieta dos pássaros

Mistura de Sementes: Alpiste (50%); Painço (30%); Senha (10%) e Niger (10%).

Complementos: Fubá Grosso ou Quirela de milho; Farinhada (com nível de proteínas entre 19 a 23 %), Complexos de vitamina e de aminoácidos; Grit (farinha de ostra).

Vale lembrar que a dieta em períodos de manutenção difere daquela fornecida em períodos de reprodução.

MANUTENÇÃO: Para os pássaros adultos, além da mistura de sementes, fornecemos farinhada apenas uma vez pôr semana em pouca quantidade (o equivalente a um comedor de unha). Deixamos permanentemente disponível um recipiente com um Grit (farinha de ostra), que além de fornecer cálcio na alimentação do pássaro, atuam na moela com a importante ação mecânica de trituração dos sólidos ingeridos. Não custa lembrar que o pássaro não tem dentes.

REPRODUÇÃO e MUDA DE PENAS: Além dos alimentos fornecidos no período de manutenção, acrescentamos diariamente uma farinhada como fonte de origem animal.

VII – Comentários adicionais

Muitos amigos costumam incluir na dieta dos pássaros, o fornecimento de verduras e frutas. A adoção ou não destas guloseimas devem ficar a critério de cada um. Para os interessados em fornecer vegetais, sugiro atentar-se para os artigos do Mestre Paulo Rui de Camargo (1º Diretor Técnico de Criação de Canário da Terra), que costuma tratar com muita propriedade este tema.

Outra prática costumeira, diz respeito ao fornecimento de larvas ou cupins para os pássaros, tanto no período de manutenção como no período reprodutivo. Sou particularmente contrário a esta prática, pois estes alimentos vivos são fontes permanentes de contaminação.

Venho adotando nos últimos meses a utilização de ração extrusada na dieta dos pássaros em substituição às sementes. Talvez, oportunamente possa escrever algo, tratando deste tema e relatando a experiência no meu criatório.

Durante os primeiros 3 meses de vida, aconselho manter o fornecimento diário de pequenas quantidades (um comedor de unha) de farinhada para os filhotes, por encontrarem-se ainda em fase de desenvolvimento.

Próximo dos 4 meses, os filhotes farão uma muda de penas, que costumamos chamar de pequena muda, pois nem todas as penas serão renovadas.

Existem outras considerações a serem feitas em função dos objetivos da criação. Em função disto, alguns procedimentos aqui citados de forma generalizada, certamente destoarão quando estamos buscando efetuar no plantel uma seleção para Fibra ou Canto.

Sugiro aos amigos que não deixam de ler outros artigos presentes nesta seção do site, e, que abordam estratégias de manejo considerando estas especificidades.

Escrito por Ivan de Sousa Neto, em 13/1/2004