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Criação

Iremos falar agora sobre a crição do “Azulão”, compreendendo as três formas diversas ocorrentes no Brasil. Como sempre, vamos adotar a classificação de Sybley, que cita quatro subespécies: Cyanocompsa cyanoides, C. brissonii, C. parellina e C. glaucocaerulea. Eles existem em quase todos os países da América.

Consideramos como o C.brissonii, o existente de Goiás em direção ao Sul do Brasil até a Argentina, 16 a 17 cm – mais longí­neo, o macho adulto possui penas azul escuro e fêmea de penas marrom cor de terra; o C.cyanoides o do Nordeste brasileiro até a América Central, 16,5 a 17,5 cm – mais corpulento, o macho adulto possui penas azul claro e a cabeça bem esbranquiçada; a fêmea de penas marrom claro; o C. glaucocaerulea, é o AZULINHO, menorzinho de 13 a 14 cm, e população bem mais restrita, ocorre no Sul do Brasil de Santa Catarina até a Argentina.

O C. parrellina existe na América Central e não no Brasil. Estão, como não podia deixar de ser, também ameaçados de extinção, especialmente pela caça predatória e pela degradação do meio-ambiente. No Centro Sul do Brasil, procriam na natureza, do iní­cio da primavera até o iní­cio do outono, ou seja; de setembro a março. A partir desta época, param de cantar, fazem a muda anual e juntam-se em bandos, os adultos e os jovens. Este procedimento os ajuda na tarefa de alimentação nos meses de escassez.        Seu ambinte natural preferido são as grotas, os brejo, as bordas de matas e as florestas ralas, sempre por perto de muita água.

A verdade é que eles não são exigentes com o habitat, adaptam-se bem em variados tipos de locais. Quando no processo de reprodução, torna-se um pássaro extremamente territorialista, cada casal demarca a sua área e não permite a presença de outros adultos da mesma espécie; o macho canta intermitentemente a todo volume para delimitar o seu espaço.

O AZULÃO, além de ser um pássaro belíssimo, é também muito apreciado pelo seu canto maravilhoso. De modo recente, tem despertado interesse para a criação doméstica. Daí­, como se faz com os outros passeriformes é preciso a intensificação da reprodução para suprir a demanda.

A Lei 5.197, está em vigor e ela diz que o animal silvestre é propriedade do estado e é proibida a sua captura. Contudo, notadamente com objetivos de preservação, a sociedade permite que se conviva com eles desde que sejam nascidos em criatórios domésticos, e os que estão já cativos são plenamente suficientes para o incremento da reprodução.

As Portarias do IBAMA, a 118 (para profissionais) e a 057 (para hobistas), estabelecem condições para a procriação. Só falta, então, entrarmos em ação e mãos à  obra, para reproduzir o AZULÃO.

Quem sabe, no futuro, poderemos efetuar os necessários repovoamento; com este pássaro é muito fácil fazê-lo. Tem-se tido notícias de vários criadores, embora de criação ainda um tanto esparsada; o certo é que ele procria com muita facilidade, é de fácil manejo, muito dócil e manso; dos passeriformes, é o mais manso de todos, muitas vezes, aceita ser pego pela mão de determinada pessoa e não demonstra nenhum medo. Dificilmente suas unhas crescem. Na natureza, a alimentação é muito variada, consomem semente de capim de preferência, ainda verdes; pequenas frutas silvestres e adoram todo tipo de insetos, o bico é forte mas aprecia muito as comidas macias. Seu canto é muito mavioso e pode ser dividido em dois tipos: a) o canto normal “compõe-se de uma frase de cerca de 10 notas repetindo um som tipo tifliu’’- em variados tons, este é o canto usual e corriqueiro; são inúmeros dialetos, cada região tem um, ou mais longo ou mais melodioso que o outro; b) a surdina, mata-virgem ou alvorada que querem dizer a mesma coisa – neste caso ele chega a cantar certa de 2 minutos sem parar repetindo um módulo de mais ou menos 6 notas “ti-é-té-é-tuééé”, como exemplo.

A surdina é, sem dúvida, um dos sons mais bonitos que se pode ouvir de um pássaro cantando. O AZULÃO, consegue ir alternando o tom e o volume das notas à medida que vai cantando, dando a impressão a quem escuta que está longe e depois mais próximo. Ele não aprende o canto de outro pássaros, pelo contrário, o curiá principalmente é que assimila muito bem o seu canto.

Nos pequenos anúncios deste AO, está lá a gravação de “Carbó”, que apresenta os dois tipos de cantos mencionados acima. Considera-se que o melhor canto é o oriundo do Estado do Paraná. No Rio Grande do Sul, há torneios de qualidade de canto e de fibra, sob os auspácios da FOG. Vive, se bem tratado em ambientes domésticos por volta de 20 anos.

A alimentação básica de grãos deve ser: alpiste 50%, painão 20%, aveia 10%, arroz em casca 10% e niger 10%. Dois dias por semana administrar polivitamí­nico tipo Orosol, Rovisol ou Protovit, este é  base de 2 gotas para 50ml d’àgua. Não recomendamos a utilização de verduras de espécie alguma, provoca diarréia e o AZULÃO é muito susceptí­vel a este mal.

Para suprir suas necessidades nutricionais o mais importante é fazer a farinhada e ali se ministrar grande parte dos ingredientes necessários à  saúde da ave. Pode ser elaborada da seguinte forma: 5 partes de milharina, 1 parte de germe de trigo; 1 parte de farelo de proteína de soja texturizada; 4 colheres de sopa de suplemento F1 da Nutrivet para um quilo; 1 gr de Mold-Zap para um quilo da mistura; 1 gr. de sal por 1 quilo da mistura; 2 gr. de Mycosorb por quilo, e 2 gr de Lactosac (probiótico). Após tudo isso estar bem misturado, coloque na hora de servir, duas colheres de sopa cheias dessa farinhada uma colher de sopa cheia de Aminosol. Importante também, ferver durante 20 minutos os grãos alpiste, painço, arroz em casca, lavar bem e misturar à farinhada.

Quando houver filhotes no ninho adicione o ovo cozido. Outra mistura importante deve ser feita com farinha de ostra 20%, Aminopan 30% e areia 50%. É preciso, também ministrar inseto vivo, tipo larvas de tenébrio, à  base de 5 de manhã e 5 à  tarde, por filhote. Em suma, o AZULÃO consome quase de tudo, é muito fácil alimentá-lo adequadamente. Os grandes problemas deles são: a diarréia inespecí­fica e a muda encruada decorrentes, quase sempre da alimentação inadequada, é só corrigir, conforme discriminado acima. Além disso, são muito propensos a serem afligidos por ácaros especialmente de penas, utilize Permozim para combater. Só falta, então a escolha do local apropriado, ele deve ser o mais claro possí­vel, arejado e sem correntes de vento.

A temperatura deve ficar na faixa de 20 a 30 graus Celsius e a umidade relativa na faixa de 40 a 60%. A época para a reprodução no Centro Sul do Brasil é de setembro a fevereiro, coincidente com o perí­odo chuvoso e com a choca na natureza. Pode-se criá-los em viveiros, grandes ou pequenos, todavia não o aconselhamos. Em viveiro, o manejo é difí­cil e controle do ambiente impossível, ali os filhotes costumam cair do ninho e morrem. Para quem optar por utilizar gaiolas – que têm a relação custo/benefí­cio menor – elas devem ser de puro arame, com medida de 60cm comprimento x 40cm largura x 35 cm altura, com quatro portas na frente, comedouros pelo lado de fora para dentro da gaiola, e com um passador lateral. A do macho pode ser a metade disso. No fundo, ou bandeja da gaiola, colocar grade que terá que ser lavada e desinfetada uma vez por semana, no mí­nimo.

Utilizar ninhos, de preferência de bucha, de diâmetro 7 cm e 5 cm de profundidade no centro. Não esqueça de pendurar bastante raiz de capim e pedaços de corda de sisal para estimular a fêmea.

Sabe-se que uma fêmea está pronta quando ela começa a voar muito, a arrancar papel do fundo, carregar capim no bico e levá-lo para o ninho. No manuseio do macho, o melhor é colocá-lo para galar e imediatamente afastá-lo para outra gaiola, assim pode-se utilizar um macho para até 6 fêmeas. Elas podem ficar bem próximas umas das outras em prateleiras, separadas por uma divisão de tábua ou plástico, mas não podem se ver, de forma alguma. Senão, matam os filhotes ou interrompem o processo do choco, se isto acontecer.

O número de ovos de cada postura é quase sempre 2, às vezes 3. O filhote nasce aos treze dias depois de a fêmea deitar e sai do ninho aos dezesseis dias de idade podendo ser separado da mãe com 35 dias.

Importante a administração de Energette, através de uma seringa graduada, no bico dos filhotes enquanto eles estão no ninho para ajudar a fêmea no tratamento. Pode-se trocar os ovos e os filhotes de mãe quando estão no ninho. As anilhas serão colocadas do 7º ao 10º dia de vida, com diâmetro de 3,0 mm – bitola 4, a ser adquirida no Clube onde seja sócio.

Cada fêmea choca 4 vezes por ano, podendo tirar até 8 filhotes por temporada. Quase todas as AZULONAS são excelentes mães, cuidam muito bem dos filhotes, por isso, muitos criadores as utilizam como babás para criar filhotes de bicudos. Fundamental, porém, é que se tenha todo o cuidado com a higiene. Lembremos que os fungos, a coccidiose e as bactérias são os maiores inimigos da criação, e têm as suas ocorrências inversamente relacionadas com a higiene dispensada ao criadouro. Armazenar os alimentos fora da umidade e não levar aves estranhas para o criadouro antes de se fazer a quarentena, são cuidados indispensáveis.

Como recado final, confiamos que todos aqueles criadores que apreciam este maravilhoso pássaro, passem efetivamente a se preocupar com a reprodução deles e que com o respectivo aprimoramento genético buscando conseguir exemplares de alta qualidade e que assim se possa combater o tráfico ilegal, como também o respeito da sociedade pelo real trabalho de preservação executado.

Agradecemos pelas informações recebidas dos criadores Claro Santos (0XX55) 5121177 e Antonio de Moraes Neto (0XX12) 3512429, bem como do Diretor da FOG, Fábio Souza Jr (0XX51) 3214326.

Escrito por Aloí­sio Pacini Tostes, em 2/9/2003

Salvem o do Nordeste

Preservação

Este singelo passarinho é conhecido por vários nomes: Coroinha, Baianinho, Pintassilgo da Bahia, Yarrell’s Siskin, Yellow-Faced Siskin, entre outros. É um pássaro do gênero Carduelis e espécie yarrellii da família Fringillidae e sub-família Carduelinae. É um cantor incansável, seu canto é repleto de variações melódicas, em andamento rápido e pode durar até cinco minutos sem pausas. Mede, dependendo da área de ocorrência, entre 10 e 11 centímetros. Esta espécie de Carduelis ocorre no Nordeste do Brasil, do Rio Grande do Norte ao norte e nordeste da Bahia e também, na Venezuela. Os machos têm o abdômem, o peito, a garganta, os lados da cabeça, a nuca e o baixo dorso de cor amarelo-vivo; o alto dorso é amarelo-esverdeado; o bico é cinzento escuro, assim como as pernas; o alto da cabeça (coroa), as asas e a cauda são negras, estes últimos com marcações amarelas e cinzentas que são características de identificação de espécies americanas do gênero Carduelis. As fêmeas, semelhantes aos machos, não possuem a coroa negra e as cores são esmaecidas. Os filhotes, antes da plumagem adulta, são semelhantes às fêmeas, porém, o bico é negro. Existe ainda, uma variação que ocorre apenas no Brasil que é considerada por alguns como uma raça à parte, são os conhecidos “Zorros”, devido ao negro da cabeça se estender muito abaixo do olhos. Outros estudiosos e interessados sugerem que esta variação seja produto de uma mestiçagem entre Carduelis yarrellii e os Carduelis magellanica que se encontram e cruzam no estado da Bahia. Por enquanto, não há nada comprovado. Habitam geralmente campos e pastagens, no Brasil vivem também na Caatinga.

Este passarinho deveria ser considerado, por nós brasileiros, uma jóia rara. Infelizmente, não é o que vem acontecendo. É comum aqui no sudeste do Brasil assistirmos na TV e internet, fiscais do IBAMA apreendendo carregamentos ilegais de pássaros de origem nordestina, tráfico, no qual se vê gaiolões com centenas de Pintassilgos do Nordeste em situação desesperadora. Mais triste ainda é saber que cerca de 90% destes pássaros apreendidos morrem, pois o Pintassilgo do Nordeste é um pássaro extremamente frágil quando pêgo na natureza e quando sob stress, tende a elevar a taxa de Coccidiose, uma bactéria que vive no organismo do pássaro, levando-o a morte em poucos dias quando não são tratados corretamente e em tempo.

Que a experiência venezuelana venha a abrir nossos olhos, na Venezuela havia duas populações distintas e que viviam separadas por cerca de 400 quilômetros. Segundo o Dr. Carlos Ortega, principal defensor da espécie na Venezuela, a população que vivia nos estados de Carabobo, Cojedes e Portuguesa teve como possível causa de extinção o controle do transmissor do mal de chagas, o Barbeiro, as autoridades venezuelanas usaram pesticidas nos campos. Também as queimadas, o desmatamento e a caça ilegal colaboraram tragicamente para a extinção de, talvez uma raça diferente, pois os Carduelis yarrellii que lá viviam eram os menores representantes da espécie. Hoje, os que vivem nos estados de Anzoátegui e Monáguas são extremamente raros. Como disse nosso amigo venezuelano, em seu artigo “Algo mas sobre el Carduelis yarrellii”, se as autoridades não tomarem controle da situação, o destino destes passarinhos provavelmente é a extinção.

Atualmente o Pintassilgo do Nordeste está na lista do CITES, no apêndice II, esta lista inclui espécies que não se encontram necessariamente em perigo de extinção, mas cujo comércio deve ser controlado a fim de evitar esta possibilidade. O Brasil, com suas leis governamentais, através do IBAMA vem coibindo o tráfico interno multando os infratores, tantos os traficantes como os receptores. A questão, infelizmente, é mais ampla, os caçadores ilegais que vendem os pássaros em feiras ou em beiras de estradas no nordeste do Brasil geralmente são pessoas que não tem outro meio de sobrevivência e são incentivados pelos atravessadores que pagam quantias insignificantes por estes pássaros.

Para adquirir um Pintassilgo do Nordeste, só mesmo se você for registrado no IBAMA ou adquirir os pássaros com nota fiscal de criadouros comerciais legalizados. O pássaro tem de estar anilhado, anilha fechada, diâmetro de 2,4 milímetros e não violada, ou seja, não amassada, não cortada ou alargada.

Espero que em breve tenhamos muitos criadores de Pintassilgo do Nordeste, pois atualmente dá para contar nos dedos os que criam este magnífico passarinho com afinco. Espero também que, nós brasileiros, não venhamos dar a este passarinho o mesmo destino da Ararinha Azul – Cyanopsitta spixii. Mas como diz o ditado: “A esperança é a última que morre”.

Um trabalho muito sério tem sido feito por pessoas extremamente competentes na reprodução em cativeiro do Curió (Oryzoborus angolensis), do Bicudo (O. crassirostris, O. magnirostris e O. gigantirostris) e outros pássaros da família Emberezidae. Devido ao canto e aos campeonatos de canto por todo o Brasil, existe grande procura por estes pássaros nascidos em cativeiro. Baseado nesta observação surgiu-me a idéia de incentivar as Confederações Ornitológicas à abrir espaço para campeonatos de canto de Pintassilgos, assim como a SERCA de São Paulo já tem feito. Quem sabe assim, incentivar ainda mais a reprodução em cativeiro destes Pintassilgos e tirá-los do status a que por enquanto estão submetidos.

Estes passarinhos criam com facilidade em cativeiro, são mansos e longevos. É importante preservar a espécie na forma mais pura possível, para futuramente, se for o caso, serem reintroduzidos em seu habitat natural. A postura é de três a cinco ovos, se for natural de uma a duas posturas por temporada, a incubação é de aproximadamente doze dias e com trinta e cinco dias os filhotes já podem ser separados dos pais. Podem ser criados em gaiolas de criação de Curiós ou de Bicudos. Quanto a alimentação, pense num Canário do Reino do gênero Serinus, estes são os parentes mais próximos dos Pintassilgos. É tão fácil alimentar os Pintassilgos quanto um Canário. A alimentação consiste principalmente de alpiste, folhas verdes, jiló e ovo. É imprescindível a higiêne e a água sempre limpa.

Pelo mundo afora existem muitos admiradores de Pintassilgos do Nordeste, os italianos são os grandes criadores, eu não ficaria admirado se na Europa a demanda de filhotes nascidos em cativeiro superem a nossa em pelo menos dez vezes mais. Dicas de criação é o que não faltam, vide as revistas especializadas, os sites e grupos de discussão nacionais, espanhóis, franceses e até australianos na internet. Tem também o “Atualidades Ornitológicas” que é um jornal informativo que sempre traz alguma matéria do “Papa na criação de Pintassilgos”, o mestre Giorgio de Baseggio.

Portanto, estamos com a faca e o queijo na mão, é colocar os passarinhos para criar e respeitar a natureza.

Carlos Henrique Luz Nunes de Almeida

Consultor da COBRAP – Confederação Brasileira de Criadores de Pássaros

www.cobrap.org.br

Criador Amador registrado no IBAMA sob Nº 23.604

WebMaster do site “Sítio dos Carduelis”

www.carduelis.bio.br

carduelis@carduelis.bio.br

Escrito por Carlos Henrique Luz Nunes de Almeida, em 2/9/2003