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Marcilio Picinini

Lua de mel no paraíso

José Carlos Ramos

Era o verão de 1969. Casei-me e partimos para passar a lua-de-mel em um sítio que me oferecera um amigo num lugar chamado Mendes, no Estado do Rio de Janeiro, acerca da serra de Paracambí, hoje já emancipado.

Chegamos ao anoitecer e ainda ouvia-se um outro canto de algum passarinho que teimava em não se recolher. Ouviamos mais o coaxar da rãs e sapos num regato próximo, quebrando o silêncio da noite .

Amamos instalados em um verdadeiro paraíso.

Pela manhã acordei com os primeiros raios solares atravessando pela janela invadindo nossa privacidade.

Levantei-me e abri a janela pensando em brigar com o rei sol. Em vão. Fiquei extasiado com a paisagem. O sol dourava a relva ainda úmida da madrugada. De algumas árvores frutíferas pareciam cair pingos de ouro como se o Astro-Rei tivesse dourado seus galhos. Eis que uma melodia despertou-me a atenção. Um curió bem na árvore em frente entoava seus primeiros acordes. Um maravilhoso canto como se fosse a alvorada.Um assobio melodioso, entremeado de rasgadas ou cerradas maravilhosas, o que muitos “curioseiros” não admitem, e dizem com certo orgulho: meu curió só canta assobio. Nos meus 50 anos que lido com essa ave esplendorosa, nunca soube ou ouvi um curió mateiro que só cantasse assobio. É que o homem está querendo sempre mudar a natureza e o “amigo do homem” (significado da palavra curió) também não escapou.

Percebam que as primeiras gravações do avinhado, como também é conhecido, eram naturais, não eram só assobios. Depois passou-se a gravar puros assobios para aprendizagem.

Retornando ao paraíso, lembro-me bem, me quedara absorto, perplexo, atônito, ouvindo aquela melodia, ao despertar do meu “amigo”, quando minha mulher perguntando que cantoria divina era aquela.

Respondi-lhe: é o canto melódico do curió paracambí.

Voltando-me para ela nos amamos ao som harmonioso, que mais parecia vir de um violino de um orquestra sinfônica.

Mas era dali mesmo, no meu paraíso, de uma avezinha tão extraordinária.

Escrito por José Carlos Ramos, em 29/5/2006

O mudo da muda

Não escuto nada

José Filho escreveu em 7/2/200654

O MUDO NA MUDA

Hoje acordei mais triste

Levantei com a pulga atrás da orelha

Andei pela casa procurei pelos cantos

No entanto nada encontrei

Procurei pelos cantos

No entanto nada vi

Procurei pelos cantos

No entanto nada escutei

 

Hoje me peguei mais só

Procurei companhia pra desabafar

Andei pelos cantos que não encontrei

Olhei pelos cantos que nada vi

Solitário e triste o silêncio bateu

Bateu em silêncio que nem enxerguei

Cantei pelo bico num assovio

Assoviei um canto de curió

 

Hoje a brisa é mais fria

Sombria e nebulosa é a nuvem que paira

São só penas que voam

Flutuam porta a fora invadem a casa

Farinhadas broas suspensas engordam

Unhas enrolam bicos descascam

Bichos se isolam aos bandos se calam

Não se falam nem se olham na cara

 

Hoje acordei mais triste

Hoje me peguei mais só

Hoje a brisa é mais fria

Inbernação tristeza silêncio

Hoje é o primeiro dia

Do início da muda do meu curió

 

Autor: José Filho A Lima

Escrito por José Filho, em 7/2/2006