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Capital da Ornitofilia

A cidade morena

Cada etapa do Torneio da COBRAP vemos que a cidade sede se torna a “capital da ornitofilia”, tal a quantidade de companheiros de outros estados que se deslocam, alguns com mais de mil e quinhentos quilometros de distância, não necessariamente para competir, mas pelo prazer de estar com os amigos.

Desta feita, coube a Campo Grande/MS que cumpriu o seu papel, e com louvor, assim como Paracambi e Vitória.

Impressiona sempre o calor humano com que somos recebidos, com o desdobramento dos anfitriões para ciceronear visitas a criadores locais, recepções, etc…

O torneio no domingo acaba sendo o complemento de uma extensa programação.

Na sexta, uma recepção organizada pelo Gersinho, com um churrrasco de carnes exóticas de deixar todos satisfeitos.

No sábado, a recepção na sede do Clube de Campo Grande, com a amabilidade costumeira do Mário Praia e demais, com o apoio de muitos (sem citar nomes, pois a memória é fraca) e o empenho do José Rubens, presidente da Federação e principal executor do evento.

Cumprindo o prometido e para enriquecer o evento, Ferdinando e Gradela ministraram mais uma vez uma palestra sobre Cantos de Bicudos.

No sábado á noite uma forte ventania e um temporal de assustar, deixando a todos apreensivos, fazendo uma pequena pausa para que todos pudessem chegar ao local e depois a chuva continuou, mas sem uma maior interferência no desenrolar do torneio, pois as condições do “Moreninho” são das melhores.

Sucesso

Fuji

Na casa em que fiquei hospedado, praticamente “Centro” de Campo Grande, um espetáculo à parte, com revoadas de papagaios dos mais diversos, Tucanos, sabiás, anu branco e muitas outras espécies………….

Escrito por Rogério Fujiura, em 28/9/2005

Crônica de Uma Viagem

Não gostei do que vi

Viajar…Puxa sempre uma ansiedade me toma antes de cada partida. Percorrer estradas deste Brasil rumo a Cuiabá/MT Verde/GO . Ufa, arrumar as malas, ajeitar os pássaros na kangoo já cheia de muambas e lá me vou. Sair de São Paulo/Capital para percorrer estradas de ar puro e vegetações que desconheço. Com certeza vou observar aves em seu habitat natural mesmo com o carro em movimento. Penso no alívio que vai ser para meus olhos e mente deixar esta cinzenta cidade para trás. Afinal é primavera. Estação das flores e aonde a natureza fornecem elementos para a reprodução. A ansiedade aumenta.

Começo a viagem por estradas já muitas vezes percorridas, trechos que já conheço de cor. Normal que a paisagem neste inicio já me seja tão familiar e por ser tão pobre de variedades, me seja até mesmo monótona. Sei que logo vou atravessar fronteira e a minha ansiedade cresce ainda mais. Finalmente vou ver novos visuais, imagens a que minhas retinas não estão acostumadas.

Vou chegando próximo à divisa com Mato Grosso do Sul. Não fosse a placa já desgastada avisando que estou na divisa e a placa ainda mais gasta de Boas Vindas…..Não fosse por isso e não saberia notar as diferenças. Será que a vegetação nativa se resume a quatro? Vejo o pasto. Vejo a cana. Vejo os Eucaliptos (meu amigo Zeca me fez uma descrição tétrica deste plantio: me perguntou se já caminhei por entre os Eucaliptos, aonde não há vida, não há luminosidade, apenas o silêncio de um lugar inabitado: que ser vivo escolheria tal local para reproduzir?) Vejo a soja.

Ops, tenho que ir mais devagar. Não para prestar atenção na paisagem, que é o que mais queria. Mas sim para desviar dos buracos de estradas mal conservadas que não despertam o interesse nem mesmo das concessionárias que espoliam os viajantes com cobranças de pedágios.

Ei! Vejo um casal de araras voando de lá não sei pra onde. Animo-me. Daqui pra frente finalmente a paisagem deve mudar. Grande engano…..O que consigo ver é a leste, oeste, norte, menos sul que ficou pra traz é fumaças por todo estes pontos. Belíssimo visual….Parecem aqueles cogumelos que se formam ao explodir uma bomba atômica. São várias bombas, penso eu, que não emitem irradiação, mas não dão nenhuma chance de vida a raios de kms ao seu redor.

Em uma das paradas que faço para abastecer e me refrescar (40º) escuto sons de pássaros pretos cantando. Observo melhor e vejo um bando. Muitos deles ao abrigo da cobertura do posto. Paro o carro sob uma árvore (raridade) para na sombra poder “abrir” um pouco os pássaros que estão comigo viajando. Puxo conversa com o borracheiro, perguntando a ele aonde os pássaros pretos aninham….e com a maior naturalidade ele me responde; – ali, naqueles postes……- sábia natureza, penso eu…..Sabem aqueles pássaros que ninguém tão cedo vão arrancar aqueles postes, a não ser por um acidente. Tal qual uma árvore que pode ser arrancada por um vendaval, não fossem antes arrancadas pelo homem ou destruído pelo fogo.

Sigo viajem (já estão cansados ?) e vejo os pastos. Muito bem cercados, diga se de passagem. Ao invés de cavalos ou bois…Avestruzes. Como combinam com aquele cenário! Altivas, protegidas, nem parecem se incomodar com toda aquela plumagem que um dia vão fazer a alegria dos figurinistas das Escolas de Samba. Sim, porque escola de samba que se preza tem de ter adornos com penas de Avestruz. Aliás, é um produto que vem de fora tipicamente para ser reexportado: alguém já viu oferta de carne de avestruz no mercado interno? Ou fazendo a composição da cesta básica para cálculo do custo de vida. Pois é, tivemos um esclarecimento de que para importar avestruzes é uma burocracia bem maior do que de criação de aves nativas. Daí encontro a explicação por estarem elas tão bem protegidas, ao passo que as Emas, nossas pobre Emas que também pude ver um pouco mais à frente. Desprotegidas, sem cercas, se alimentando à beira da estrada e podendo atravessá-las a qualquer momento, correndo o risco de serem atropeladas. Mal menor, perto de se considerar que poderiam estar sendo criadas, pois disseram que a autorização para tal é menos burocrática do que para a criação de suas primas estrangeiras. Deve ser mesmo. Brasileiro gosta é de dificuldades para se vender facilidades. Ops, escapou….. Magela, você está me influenciando mal com suas histórias sobre Avestruzes, penso comigo mesmo….e solto uma das minhas únicas gargalhadas.

E pensar que no Parque do Ibirapuera, da minha malfadada São Paulo, encontro uma biodiversidade maior do que vejo por aqui. Tanto em fauna, como flora. Viva o Discovery! E o Ecoturismo, que se por via rodoviária tem que percorrer no mínimo mil quilômetros para poder mostrar algo diferente. Converti meu carro para álcool, mais para economia do que para emitir menos poluente (regra máxima da ecologia e preservação do meio ambiente: o que motiva a isso é o bolso, não a cabeça. A não ser por aqueles que andam com as burras vazias e precisam de um modo providencial, ou seria previdencial? para enchê-las). Quando vi a as plantações de cana, em alguns trechos sendo adubado com o próprio caldo (aquela garapa resultado da lavagem da planta) senti aquele cheiro característico e agradável. Em um primeiro momento olhei para o lado para ver ser o companheiro de viagem não estava em ebulição. Não, não era ele. Logo deixei de fazer as contas de quantos quilômetros por litro estava fazendo meu carro para imaginar quanto daquelas terras seriam necessários para produzir um mísero litro de álcool. Álcool, essa energia renovável, 100% nacional, não, ou menos poluente, gerador de empregos para centenas de bóias frias, puta merda, deixa eu voltar pro combustível que vem dos Sheiks: Lá pelo menos já é tudo naturalmente desertificado. Aqui caminhamos para encarar como natural o processo de desertificação.

Minha ansiedade muda de lugar. Passa a se ocupar de chegar o mais rápido possível ao destino. Para encontrar os amigos e seus pássaros. Em um único local ( o do torneio) vi mais pássaros do que em 1800 kms percorridos. Sem sombra de dúvida, a ausência e extinção dos pássaros se dá pelos caçadores e traficantes. Os agrotóxicos, as queimadas, a monocultura, etc… são apenas desvios de uma mente mal informada como a minha. Que as grandes empresas geradoras de energia, da eletricidade aos derivados de petróleo, continuem financiando as entidades que defendem o meio ambiente. Pois o que vi, e não gostei, só pode ser a visão de um sujeito retrógrado e anti progressista.

Rogério Fujiura desejoso de ter nascido mascateiro e não muambeiro (muito moderno)

Escrito por Rogério Fujiura, em 20/10/2004