Coleiro
Considerações
Continuando na linha de bem informar o leitor e na seqüência de dicas sobre a criação dos principais pássaros canoros brasileiros, não poderíamos deixar de mencionar a criação do Coleiro. Sem dúvida, é o mais popular dos pássaros brasileiros, como disse o amigo Epaminondas Jr. em seu artigo no Jornal do CUBIVALE N. 11. Seu tamanho diminuto facilita o manejo. É a maior paixão de crianças que gostam de pássaros. Esse lindo passarinho cantador é quase sempre o primeiro tipo de pupilo dos passarinheiros. Foi o meu primeiro, quando tinha 6 a 7 anos, lá pela minha Manhuaçu. Havia centenas deles por perto de minha casa. Hoje bem mais escasso, mas ainda é, certamente, o que existe em maior número pelo Brasil afora. Conhece-se, pelo menos, quatro formas diferentes: o coleiro de gola e do peito branco, o Sporophila caerulescens caerulescens; o cabeça preta do peito amarelo, o Sporophila nigricollis nigricollis; o de gola e do peito amarelo, o Sporophila caerulescens hellmayri.
Há ainda citações sobre o Sporophila ardesiaca e o Sporophila melanops, como Coleiro mineiro e Coleiro de Goiás, respectivamente. Sobre o cabeça preta do peito branco não há uma clara definição sobre o nome científico É preciso mais clareza dos técnicos e dos livros existentes sobre a questão para se ter a certeza sobre o nome correto. É difícil, também, é conhecer as fêmeas de cada um deles, são idênticas. O mais comum é o de gola, coleira e de peito branco, o de dupla coleira – e é aquele que mais se cultiva, o espécie típica. Afirmam os mais entendidos que é o mais valente e cantador. Conhecido também como: Coleirinha, Coleirinho, Papa-Capim, Coleira – Coleiro Laranjeira e Papa-Arroz – é um pássaro de porte pequeno, 11 cm de comprimento, envergadura 17 cm, com 14 penas grandes em cada asa. De cor preta chamuscada na cabeça e costas; abdome branco ou amarelo; mosca branca nas asas; garganta preta em cima de uma gola branca para ter logo abaixo uma coleira de um preto bastante intenso. Os olhos enegrecidos são circundados com pequenas penas claras, formando um gatinho. Bico é delicado e possui tons amarelados, cor de laranja. Há um marcante dimorfismo sexual: a fêmea tem a cor diferente do macho. Ela é parda, castanho claro, a mesma cor dos machos jovens que vão gradativamente se tornando pretos, e já procriam pardos com a idade de 7/8 meses.
Distribui-se por grande parte do Brasil, especialmente o Centro-Sul e países limítrofes. Na natureza, costuma procriar entre os meses de novembro e março.
Preferem as beiradas de matas, pomares, pastos, brejos, capoeiras e praças das cidades. É um pássaro territorialista, isto é, quando está chocando demarca uma área geográfica em torno do ninho onde o casal não admite a presença de outras aves da espécie. Canta muito e assim delimita seu território. Quando não estão na época da reprodução, contudo, podem ser vistos em pequenos grupos junto com os filhotes. Estão sempre à procura de alimentos, tipo semente de capim verde. Para isso, agarram-se aos finos talos dos cachos para poderem se alimentar; são especialistas nisso. Embora o braquiária, seja um capim exótico, apreciam muito sua semente e ele tem ajudado muito como alimento. Nos meses de julho e agosto costumam se juntar em grandes bandos, especialmente nos anos de seca prolongada. Nessas ocasiões, o fogo costuma destruir os capinzais fazendo com que os nossos queridos pássaros desesperados e famintos procurem os locais onde possam encontrar comida, muitas vezes até no interior das cidades. Seu canto é simples, melodioso e a frase musical tem, em geral, poucas notas; entre cinco ou dez. Não repetem o canto, mas retomam muito rápido em alguns casos um a dois segundos de espaço entre um canto e outro. Existe uma infinidade de dialetos; na verdade, cada ecossistema possui um próprio. Todavia, há alguns que são mais apreciados e cultivados pelos criadores. São eles: o tuí-tuí-zero-zero ou tuí-tuí-zel-zel (o mais comum), exemplo desse canto está na fita do Cabrito; já nos cantos mais sofisticados, considerados clássicos, o Coleiro emite a terceira nota, assim: tuí-tuí-grom-grom-grom-ze-ze-zel-zel-zell ou tuí-tuí-tcho-tcho-tcho-tchá-tchá-tchaá e outras variações, para frases bem parecidas. A diferença está apenas no entendimento e na interpretação de segmentos de criadores nas nomenclaturas onomatopéicas das notas. Exemplo desse tipo de canto são as gravações dos Coleiros Mirante e Capricho. Em ambientes domésticos a característica principal do Coleiro é gostar de passear e de ser submetido a muita lida, isto é, quanto mais manuseado (mexido) mais canta. E seu desempenho nos torneios de canto e fibra está em relação direta com a dedicação que seu dono lhe dispensa. Depende muito disso. É, todavia, de fácil entrosamento e fica muito manso com um pouco de carinho. Em suma, o Coleiro é uma ave muito apreciada por todos os segmentos de passarinheiros e para vários objetivos, especialmente os torneios de canto. Agora, pela Portaria 057 do IBAMA, só podem ser transacionados, sair de casa e participar de torneios aqueles que forem criados em ambientes domésticos e que tiverem anilha fechada, como prova disso.. Está aí, também, a Portaria 118, que é a de criadouro comercial, a pessoa física ou jurídica que quiser montar um é só falar com o IBAMA, em sua respectiva Superintendência Estadual. Dessa forma, compete-nos então, reproduzi-los em larga escala para poder preservá-los e suprir a grande demanda que está aí. Quem quiser e puder praticar a sua procriação, terá, com certeza, sucesso garantido. O Coleiro reproduz-se com mais facilidade que o bicudo e o curió e com uma produtividade excelente. É uma ave longeva, vive por volta de trinta anos, dependendo de sua saúde e do trato que se lhe dispensa. A alimentação básica deve ser de grãos, notadamente o alpiste 50%, painço amarelo 30%, senha 10%, niger 10%, acrescentar periodicamente o painço português legítimo. É salutar que de disponibilize, também, ração de codorna misturada a 50% com milharina adicionando Mold-Zap® à base de 1 gr. por quilo. Dois dias por semana administrar polivitamínico tipo Orosol®, Rovisol® ou Protovit®, este à base de 2 gotas para 50ml d’água. Já sua alimentação especial para a fase de reprodução deverá ser a seguinte. Quando houver filhotes no ninho, em uma vasilha separada, colocar 3 vezes ao dia, farinhada assim preparada: 6 partes de milharina, 1 parte de farelo de soja torrado,/ 1 parte de germe de trigo, / premix F1 da Nutrivet® (4 colheres de sopa para 1 quilo), / sal 2 gr. por quilo, / Mold-Zap® 1 gr. por quilo, / Mycosorb® 2 gr. por quilo. Após tudo isso estar muito bem misturado, coloque na hora de servir uma gema de ovo cozido e uma colher cheia de “aminosol®” para uma colher bem cheia de farinhada. Dá-se larvas, utilizando a chamada “praga da granja”; (tipo de Tenébrio molitor, em miniatura, muito comum em granjas de avicultura industrial), é a melhor e tem mais digestibilidade. Essa larva é diminuta e condizente com o tamanho do bico do Coleiro. Oferecer até o filhote sair do ninho. É bom, também, colocar sempre à disposição das aves “farinha de ostra” batida com areia esterilizada e sal mineral (tipo aminopan®). Outra questão importante diz respeito ao lugar adequado para que eles possam exercer a procriação. Esse local deve ser claro, arejado e sem correntes de vento. A temperatura ideal deve ficar na faixa de 25 a 35 graus Celsius e umidade relativa entre 40 e 60%. O sol não precisa ser direto, mas se puder ser, melhor. A época para a reprodução no Centro Sul do Brasil é de novembro a maio, coincidente com o período chuvoso e com a choca na natureza. Deve-se utilizar gaiolas de puro arame, com medida de 60cm comprimento X 30cm largura X35 cm altura, com quatro portas na frente, comedouros pelo lado de fora para dentro da gaiola. A tala, a medida entre um arame e outro não pode ser maior do que 13mm. No fundo, ou bandeja da gaiola, colocar papel, tipo jornal, para ser retirado todos os dias logo que a fêmea tomar banho. Logo depois se deve retirar a banheira para colocá-la no outro dia bem cedo. O ninho, tipo taça, tem as seguintes dimensões: 6cm de diâmetro X 4 cm de profundidade, e será colocado pelo lado de dentro da gaiola. Pode ser feito de bucha ( Luffa cylindrica) por cima de uma armação de arame. Para estimular a fêmea prender raiz de capim ou fiapos de casca de coco, assim ela cobrirá o ninho com estes materiais. O número de ovos de cada postura é quase sempre 2. Cada fêmea choca 3/4 vezes por ano, podendo tirar até 8 filhotes por temporada. As coleiras podem ficar bem próximas umas das outras separadas por uma divisão de tábua ou plástico, mas não podem se ver, de forma alguma. Senão, matam os filhotes ou interrompem o processo do choco, se isto acontecer. Utilizar um macho de excelente qualidade, de preferência um campeoníssimo, para 5 fêmeas. Nunca deixá-lo junto pois ele quase sempre prejudica o processo de reprodução, e mata os filhotes. O melhor, é colocá-lo para galar e imediatamente afastá-lo da fêmea. O filhote nasce aos treze dias depois de a fêmea deitar e sai do ninho também aos treze dias de idade e pode ser separado da mãe com 35 dias. Com 8 meses, ainda pardos, já poderão procriar. As anilhas serão colocadas do 7O ao 10o dia, com anilha 2,3 mm de diâmetro – bitola 1 a ser adquirida do Clube onde seja sócio. Pode-se trocar os ovos e os filhotes de mãe quando estão no ninho. Fundamental, porém, é que se tenha todo o cuidado com a higiene. Lembremos que os fungos, a coccidiose e as bactérias são os maiores inimigos da criação, e têm as suas ocorrências inversamente relacionadas com a higiene dispensada ao criadouro. Armazenar os alimentos fora da umidade e não levar aves estranhas para o criadouro antes de se fazer a quarentena, são cuidados indispensáveis. Os tipos de torneio mais comuns são: 1) Fibra – os pássaros são dispostos em círculo, a 20 centímetros do outro; aquele que mais cantar no final da prova é o que ganha; 2) Canto livre – ganha aquele que mais cantar em 5 minutos, ele compete sozinho, não é analisada a qualidade do canto; 3) Canto Clássico – A ave é examinada sozinha durante 5 minutos; ganha aquela que tiver o canto mais perfeito dentro do padrão pré-escolhido. Tem sido realizados torneios de Coleiros por quase todo o Brasil; sem poder citar todos, destacamos aqueles que tivemos a oportunidade de presenciar ou de ser convidado: Porto Alegre-RS , Florianópolis-SC SAC, Paranaguá- PR , Jacareí -SP-CUBIVALE , Ribeirão Preto-SP, Campos-RJ , Cachoeiro do Itapemirim-ES, Belo Horizonte -MG, Brasília-DF, São Paulo-SP SERCA, Duque de Caxias-RJ. Como vimos, as regiões são as mais diversas, a paixão é nacional, sem fronteiras.
Por fim, como sempre dissemos, não podemos deixar de mencionar essa importante questão: como em todos os tipos de pássaros canoros, os produzidos domesticamente têm muito mais qualidade do que seus irmãos selvagens, isto porque poderemos cruzar os melhores com melhores. Esse é o grande fator de incremento e de estímulo da criação. Quem poderá duvidar disso, a seleção através da genética funciona, e funciona bem. É só testar. A confiança da classe é grande, a responsibilidade também, os aficionados são muitos, a demanda é enorme, as matrizes estão aí, capturar é proibido; daí criatórios em ação, o respeito da sociedade e hobby preservado.. Agradecemos, pelas informações recebidas dos criadores, Geraldo Magela Belo, 011-8105282, Epaminondas Castaldelli Júnior 011-4304543, do cultivador de canto clássico João da Quadra 016-6334186 e do expert no assunto Mário Correa Leite 012-3581786, o competente Presidente da CUBIVALE.
Escrito por Aloísio Pacini Tostes, em 2/9/2003