O sentido das Aves

A visão é o mais desenvolvido

Antonio Carlos Palermo Chaves

(antoniocarlos@maniadebicho.com)

Sem dúvida, o sentido mais desenvolvido nas aves é o da visão, mas no seu dia a dia, uma ave utiliza-se, dependendo da situação e da espécie, um ou uma combinação dos outros sentidos, de maneira vital para sua sobrevivência.

Audição: o sentido da audição também é altamente desenvolvido nas aves. Elas conseguem uma amplitude de freqüência de 40 a 9.000 Hz, chegando a distinguir as diferentes notas sonoras melhor do que o homem. Tal fato deve-se à presença de uma quantidade dez vezes superior de células ciliadas por unidade de comprimento coclear do que a encontrada nos mamíferos (a cóclea do ouvido interno é um tubo curto que termina em fundo cego).

A anatomia do aparelho auditivo externo leva ao tímpano (ou membrana timpânica); desse, um osso, a columela auris, transmite as ondas sonoras através da cavidade do ouvido médio até a janela oval do ouvido interno (da mesma forma que acontece com os anfíbios e répteis). De cada ouvido médio, uma trompa de Eustáquio dirige-se até a faringe, sendo que os dias possuem uma abertura comum no palato.

Olfato e Gustação: olfato e gustação são geralmente pouco desenvolvidos nas aves, sendo que podemos notar algumas exceções tais como: albatrozes e procelárias (possuem lobos olfativos relativamente grandes), pica-paus e patos (possuem receptores táteis na língua e/ou no bico), quivis (espécie noturna primitiva da Nova Zelândia que procura minhocas utilizando as narinas quase terminas, no bico) e o urubu-de-cabeça-vermelha Cathartes aura (consegue localizar carniça pelo olfato). Comparações feitas entre o tamanho da cerebral responsável pelo olfato em Cathartes aura, mostrou ser do que por exemplo à encontrada em Caragyps, o urubu-de-cabeça-preta.

O epitélio olfativo geralmente é relativamente restrito e confinado à superfície da concha superior (as passagens nasais das aves apresentam três conchas).para esse fato existe uma relação com o pequeno tamanho dos lobos olfativos do cérebro sendo responsável pelo sentido do olfato pouco desenvolvido.

Normalmente as aves apresentam aberturas externas (narinas) e estas são quase separadas internamente. Nos pelicaniformes as aberturas estão fechadas e em algumas aves, como por exemplo em determinadas espécies de gruiformes não existe a separação interna. Quanto à gustação, a maioria das aves não possui botões gustativos na língua, apesar deste serem encontrados no revestimento da boca e da faringe. O reconhecimento do alimento depende primariamente do sentido da visão. Em psitacídeos como papagaios, são encontradas papilas gustativas na língua (mesmo assim em número bem inferior do que nos mamíferos, por exemplo); nos lóris, que diferem dos demais psitacídeos por serem nectívoros, as papilas gustativas aumentam de tamanho, ficando eriçadas o que facilita a obtenção do néctar e do pólen.

Outros: Além dos sentidos até aqui vistos, as aves utilizam-se de diversas formas de navegação que, na maioria, são extensões dos referidos sentidos. Aves são sensíveis a pequenas variações de pressão de ar. Como exemplo disso, pode-se apontar experiências realizadas com pombos dentro de um quarto, quando estes conseguiram detectar a diferença de pressão entre o teto e o chão. Tal sensibilidade pode ser útil durante o vôo e pode servir ainda na previsão das mudanças dos padrões climáticos (importante para o fenômeno da migração). Ainda sobre o tempo, aves podem captar informações através do infra-som (som de baixíssima freqüência), produzido por movimentos de ar em grande escala, como no caso de tempestades e ventos soprando através dos vales. Diversas evidências apontam para o fato de aves conseguirem detectar campos magnéticos; a orientação de um grupo de aves, quando em movimento migratório, pode ser mudado, de maneira previsível, utilizando-se um campo magnético artificial.

Um caso muito especial: as corujas

Podemos afirmar que acusticamente, as corujas são as aves mais sensíveis; algumas espécies são diurnas e outras crepusculares (nesse caso sua atividade metabélica se dá com maior intensidade ao amanhecer e ao anoitecer). Para freqüências acima de 10quilo-hertz, a sensibilidade auditiva dessas aves pode ser comparada a de um gato. Isso só é possível por ser a anatomia das corujas adaptadas para tal, ou seja, possuem membranas timpânicas e coileas grandes e centros auditivos no encéfalo bastante desenvolvidos. As suindaras – Tyto alba – (Ordem Strigiformes, Família Tytonidae) são corujas que apresentam tamanho pequeno a médio, cabeça em forma de coração, olhos relativamente pequenos, bico proporcionalmente longo, asas longas e arredondadas, pernas longas recobertas de penas, garra mediana pectinada sendo cosmopolitas com exceção a Nova Zelândia e algumas ilhas oceânicas. A família é formada por onze espécies. Essas corujas serviam para que se pudesse realizar interessantes testes de orientação acústica. Na escuridão total, as suindaras eram capazes de agarrar camundongos; se esses estivessem puxando um pedaço de papel pelo chão, não eram mais atacados e sim o papel, o que mostra ser o estimulo auditivo o utilizado pelas suindaras.

Ainda sobre corujas, muitas apresentam o disco facial (formado por penas rijas). Esse disco atua como um verdadeiro refletor parabólico dos sons. Os discos de algumas espécies são assimétricos e isso parece acentuar a habilidade delas na hora de localizar as presas. Quando os discos das mesmas suindaras do exemplo anterior foram removidos, estas cometeram grandes erros de localização de alvos. Não apenas o disco facial apresenta assimetria, mas também o próprio crânio é assimétrico em muitas espécies e é justamente nestas espécies que encontra-se a maior sensibilidade auditiva.

Escrito por Antonio Carlos Palermo Chaves, em 11/8/2004

Texto para a Revista COBRAP

Editorial

O SONHO REALIZADO

A partir da década de 80 a conjuntura mudou, as agressões ao meio ambiente aumentaram mas a consciência por parte da sociedade também cresceu e tende a crescer cada vez mais. As grandes potências mundiais continuam a explorar desbragadamente os recursos naturais, o homem moderno quer conforto, quer poder e viver em luxúria e desperdício. E nós todos debaixo desses dilemas: ou o homem toma jeito e cuida muito bem da natureza e de todos os seus recursos ambientais ou todos seremos extintos.

De nossa parte, falando da ornitofilia, embora a Lei 5.197 tenha sido publicada em Jan 67, coincidentemente só de vinte anos para cá é que a criação e a manutenção de pássaros nativos brasileiros tomou um rumo no sentido de trabalhar sua preservação, coincidente com o despertar de toda a sociedade de que seria de extrema necessidade cuidar-se bem do meio ambiente. Muitos de nós fizeram a sua parte, a começar pelo grande Mestre Marcílio Picinini de Matias Barbosa MG , o pioneiro, aquele que provou que era possível procriar curiós de forma intensiva em pequenos ambientes e com uma alta produtividade. Não podemos esquecer também do amigo, de saudosa memória, o Ernesto Scatena em Ribeirão Preto SP, que mostrou que criar bicudos era tão fácil como criar canários domésticos. E assim por diante, muitos abnegados criadores de várias partes do Brasil montaram verdadeiros santuários ecológicos onde são produzidas as vidas desses pequenos seres alados da fauna brasileira. Hoje temos centenas de criadouros espalhados por todo o Brasil do Rio Grande do Sul a Roraima, a comunicação se estabeleceu e vamos assim, muitas vezes por conta própria multiplicando os indivíduos nativos com a melhor proficiência. Um exemplo para o mundo de como se pode fazer um trabalho de preservação tão importante como esse, inclusive, porque, não temos conhecimento de nenhum País que exerça esse tipo de atividade com suas respectivas aves nacionais. Somos um povo mestiço e o sangue índio corre em nossas veias, cerca de oito milhões de brasileiros tem por uso e costume manter uma ave junto de si, um pedaço da natureza ao seu lado. Quem de nós pode e tem o direito de legitimamente proibir? O que a sociedade e todos nós queremos é que não haja mais de forma alguma depredação ou prejuízos ao meio ambiente. Qual a solução, então? Reproduzir domesticamente aquelas aves para as quais há demanda das pessoas que desejam mantê-las; esse é o caminho. Além de gerar vidas, pode-se gerar empregos e rendas com a atividade; aqueles que querem ter a atividade amadorista, criam pouco devem ter a sua ação legalizada, outros que querem montar empresas para grandes criadouros também devem ter amparo legal, e os que desejarem apenas manter suas aves que assim o façam com segurança e tranqüilidade de saber que seu pupilo tem origem comprovada e legal.

Não é preciso mais retirar nada da natureza, o estoque existente é suficiente para exercer as atividades de reprodução; aliás os setores que criticam deveriam encontrar, então um destino racional e justo para todo o acervo de aves que está hoje em poder da população, sem propor a crueldade e a insensibilidade da incineração, cadafalso ou extermínio sob o radical argumento de que não se pode manter animais em domesticidade. E o patrimônio genético envolvido vamos extermina-los que base tem esse argumento? Nenhuma, com certeza. Ainda mais se levarmos em conta que estão jogando fora e mal orientando estudantes que precisarão em breve de empregos, de campo para trabalhar. Onde um veterinário vai trabalhar, na selva , curando o bico de um papagaio silvestre; não seria bom um biólogo nos ajudar na busca da alta linhagem, orientando formas melhores nos cruzamentos e na análise da elaboração de um manual com base no comportamento de cada espécie; e o zootecnista, fundamental na preparação de um projeto de criadouro e nas pesquisas sobre o manejo da criação; todos teriam muito espaço a preencher, a um campo enorme, muita pesquisa a ser feita. No Brasil, passarmos pó isso, na Europa, em especial na Bélgica são bilhões de dólares faturados com esse tipo de atividade, tanto na criação como na fabricação de produtos para serem exportados para o mundo inteiro. E nós aqui sendo chamados de cruéis, desalmados e predadores. Também pudera, a mídia sensacionalista, hipócrita e mal intencionada bota lenha na fogueira, só noticia com ênfase tráfico, mortes e degradação, como se tudo devesse ser um paraíso e não houvesse um trabalho organizado que poderia colaborar com a conservação, como é o nosso.

Tudo bem, do nosso lado, nem tudo são flores, alguns maus dirigentes, notadamente aqueles que nem passarinheiros são e se meteram em nosso meio, de há muito, verdadeiros sacripantas, contemptores, só pela sede de poder ou para se enriquecer ilicitamente com os recursos obtidos dos criadores mais humildes. Aí as autoridades resolveram acabar com a festa deles em detrimento de muitos que trabalhavam bem e com seriedade, mudou a regra do jogo, todos foram envolvidos. Mas, sinceramente, era preciso fazer-se algo , a situação estava gravíssima a ponto de pessoas irem até o Pará e de lá trazerem milhares de curiós “filhotes” anilhados com anilhas 2.8 e ainda com o respaldo da legalidade, foi demais. Veio agora o SISPASS, falamos várias vezes sobre isso, a cerca de dez anos atrás propugnávamos para que o controle fosse eletrônico e depois, via internet, não fizemos,o Poder Público fez. Esperamos que agora o joio seja separado do trigo, tudo que não estiver ali cadastrado tem a ver conosco; o que não estiver não é nossa responsabilidade e aí parar as acusações contra nossa classe. Estamos esperançosos. A COBRAP, com cerca de um ano de fundada, com o apoio de muitas Federações: FEBRASCRI, FECRIPAMAT, FECRIMAS, FENOB, FEOMG, FOG, FOGO, FSB e muitos Clubes, notadamente no norte/nordeste está fazendo a sua parte. Fomos a uma audiência pública na Câmara Federal defender os criadores depois na CPI do Tráfico e participamos daquele circo, se alguma coisa foi apurada não temos notícias disso, mas estávamos lá, sem medo enfrentando acusações , algumas descabidas contra a nossa classe. Viajamos por todo o norte brasileiro em companhia do presidente da FENOB, o companheiro Catarino Lima, levando a mensagem de nossa classe a todos os cantos, falando em universidades com a comunidade acadêmica e com os passarinheiros de lá, o início de um trabalho que atinja aqueles criadores por mais longe que estejam. Fizemos as convenções para estabelecer os regulamentos de canto e de fibra que foram aplicados nos torneios com a participação de muitos, em especial as de bicudo em Franca SP, em São José do Rio Preto SP, em Dracena SP, a de Curió na cidade de Paracambi RJ e a de Fibra na SERCA em São Paulo; fomos várias vezes em Brasília falar com o autoridades do IBAMA , na defesa de nossos interesses. Junto com o bicudeiros de Dracena fizemos gestões e viagem pela região para montarmos um pré-projeto para executar um “repovoamento de bicudos” remetemos o esboço ao IBAMA para que depois de aprovado possamos efetivamente executar esta importante ação de preservação.

Comprovamos um Note Book, com a auxílio de muitos e hoje já é um importante instrumento de trabalho. Efetivamos, também, uma belíssima idéia de nosso conselheiro o Eduardo Dornelles de Porto Alegre RS que criou o grupo COBRAP na internet onde há mais de uma ano estamos discutindo tudo democraticamente antes de tomar qualquer atitude mais séria. Aí a idéia da criação de nosso site o WWW.COBRAP.ORG.BR – , com a colaboração efetiva do Geraldo Magela e seu filho Pedro Belo , está aí um sem número de informações e será sem dúvida um dos grandes aliados nessa nossa luta do dia a dia. Temos que agradecer a muitos que a todos os dias estão nos ajudando, fica até difícil dizer sempre esqueceríamos de alguém, são tantos que, até nos perguntamos será que merecemos. Quando lembramos que, não é pessoal é uma luta que todos participam, a luta pela nossa sobrevivência e a luta pelo respeito da sociedade e do reconhecimento de que fazemos sim, uma atitude de preservação, como dissemos anteriormente. Aí vieram os torneios nacionais COBRAP, em Brasília DF, Campo Grande MS, Pirassununga SP, São Gonçalo RJ, Betim MG e Florianópolis SC; um sucesso todos eles, muitos participantes e muitos pássaros maravilhosos um congraçamento entre nós mesmos e muitos expositores participaram de todos eles………somos muito grato a esses que foram os verdadeiros sustentáculos do sucesso, um sucesso que é de todos que é de nossa classe, provamos que temos condições de cada vez mais nos unir em torno de nossos ideais. Estamos aqui, agora em Ribeirão Preto SP, a realizar Torneio dos Campeões com a participação merecida de quem fez, de quem realizou, aos campeões tudo, a merecida medalha de ouro e o certificado de qualidade aos respectivos criadores que na realidade são os principais responsáveis pela nossa sobrevivência. Vamos testar a marcação eletrônica na fibra e quem sabe se aprovada pelos interessados iremos adotar o processo já neste ano. E finalmente a edição dessa Revista COBRAP que nos enche de esperança, estamos no caminho certo, com o apoio de toda a nossa classe. Muito obrigado a todos os amigos passarinheiros desse nosso querido Brasil. Estamos fazendo a nossa parte.

Aloísio Pacini Tostes