Nomes Científicos

Um pouco de latim

No português e em qualquer outra língua existem os sufixos (última sílaba comum a muitas palavras), que dão sentidos diferentes à mesma palavra. Essas sílabas transformam um substantivo em adjetivo. Por exemplo: amarelo – amarelado, pinta – pintado, Paraná – paranaense.

Nos nomes científicos também aparecem muitos sufixos, como por exemplo:

– Ata ou atus

– Eola

– Ensis

Os 2 primeiros (ata e eola indicam que o pássaro possui o caractere anterior. Ex: cristata – possuidor de crista, flaveola – de cor amarela).

O terceiro (ensis) geralmente faz referência à suposta região de origem do pássaro. Mas há inúmeros equívocos, como o curió, (Oryzoborus angolensis) que não tem nada a ver com angola.

O pássaro acima por exemplo, de nome científico Sakesphorus canadensis, não tem nada a ver com o Canadá. Estes dois exemplos são verdadeiros equívocos de classificação.

Até aqui, descobri 16 cores:

– Albi: BRANCO ou CLARO

– Atra: PRETO (URUBU: Coragyps atratus)

– Aurantio: LARANJA

– Caeru: CINZA ou ACINZENTADO

– Chloro: VERDE

– Cyano: AZUL

– Flav: AMARELO

– Griseo: CINZA (origina-se daqui a denonimação GRISALHO aos cabelos que tem o aspecto de “cinza”, grisalho: derivado de Griseo)

– Gutta: PINTADO (ex: Tangara guttata)

– Ictero: AMARELO (também pode significar algo como “cores quentes”, nesse caso representa amarelo, laranja e vermelho. Ex: família Icteridae, a grande maioria dos icterídeos apresenta uma das três cores citadas)

– Leuco: BRANCO ou CLARO

– Nigro: PRETO

– Ochro: MARROM

– Rubro: VERMELHO

– Rufi: VERMELHO

– Xantho: AMARELO

Como podem ver, existem vários nomes para uma só cor. Uma das explicações para isso é que eles podem fazer diferenças a coisas distintas, e que possuem esta mesma cor.

Por meio disso podemos explicar uma infinidade de nomes científicos.

Eis o significado do nome do nosso querido Canário da terra, e mais outros:

– Sicalis flaveola : “Possuidor da cor amarela”, ou “de cor amarela”

– Carduelis atrata : “Possuidor da cor preta”, ou “de cor preta”

E mais no gênero Cyanerpes (saís) todos apresentam cor azul, daí o nome.

Idem na família Icteridae, com cores quentes e amarelo na maioria.

Também pude descobrir o significado de algumas partes do corpo dos pássaros:

– Capilla: PARTE DA CABEÇA (geralmente a parte superior, daí vem couro capilar, e cabelo)

– Caudatus: CAUDA

– Cephala: CABEÇA

– Collis: PESCOÇO

– Frons: “TESTA” E GARANTA, PARTES SUPERIOR E INFERIOR AO BICO

– Gastra: BARRIGA

– Gullaris: PAPO

– Melas: REGIÃO DA CLOACA

– Phrys: “SUPERCÍLIO”

– Ptera: PARTE DA ASA (popular “encontro”, quando a asa está dobrada, em repouso, forma-se uma MOSCA na asa do mesmo, que corresponde a esta parte recolhida)

– Thorax: PAPO + PEITO

– Ventris: FRENTE (garganta + papo + peito)

A partir destas duas listagens e suas combinações, deciframos mais uma “panelada” de nomes.

– Sporophila leucoptera (chorão): MOSCA BRANCA

– Tangara cyanocephala (saíra lenço): CABEÇA AZUL

O bicudo, Oryzoborus maximiliani, pode ter este nome porque tenha sido descoberto pelo pesquisador alemão Alexander Philip Maximilian, que esteve no Brasil entre 1815 e 1817. Seu sobrenome, latinizado, virou maximiliani, e batizou várias espécies.

OBS: Todas as informações aqui contidas são fruto de mera observação e comparação (“dedutômetro” ou “chutenóstico”), sendo portanto, completamente passíveis de erros e correções.

Augusto Florisvaldo Batisteli

Escrito por Augusto Florisvaldo Batisteli, em 22/7/2004

Selecionar é determinar

Consangüinidade um método de seleção

O simples ato de juntar casais para criar, chama-se Reprodução. Selecionar é determinar quais indivíduos serão os pais das futuras gerações. Tanto faz se essa seleção se processa por consanguinidade ou por acasalamentos de pássaros oriundos dos mais diversos criadores e localidades, sem a mínima possibilidade de existir qualquer percentual do mesmo sangue. E é aí que mora o problema.

A consanguinidade é apenas um dos métodos de seleção. Como em tudo, temos adeptos e contrários. Nem um nem outro está com a total razão, porém existem pontos que precisam ser mencionados para não fazer crer que o método de sleção por consanguinidade é um método de gerar monstros ou aleijados.

Em todas as espécies animais, de banco genético infinitamente menor que nossos nativos, foi utilizada a consanguinidade em menor ou maior escala. Como em tudo é preciso cuidados, observações, analises, etc. e está intimamente ligado ao ponto de partida.

Volto a manifestar um trecho de uma conversa com o Mestre Paulo Rui, onde foram elencados os predicados ou qualidades que deveriam ter os reprodutores, chegando a conclusão que mais importante que as qualidades canoras ou de fibra ou valentia, o principal é a integridade e higidez dos reprodutores. Seleção, que parte com pássaros doentes, portadores de patologias, defeituosos, só irá gerar problemas.

Mesmo em liberdade existe a consanguinidade, fato este observado e narrado pelo prof. Luiz Otavio Marcondes Machado, no livro “O Canário da Terra – Comportamento Reprodutivo e Social” .

Também o grande estudioso e selecionador de pássaros e galos combatentes, Orlando Rivera Gomes – Espanha, diz:

«tu crees que estos pajaritos que andan por ahí volando libres saben quien o cual es su madre, padre, hermano o hermana, tio o tía? »

A Consanguinidade, que defendo e divulgo, é para ser utilizada para a formação de um reprodutor ou raçador, portador de determinada qualidade que se queira fixar no plantel. Este consanguíneo, mesmo que F6, produzirá quando cruzado com outro pássaro de outra linhagem ou produto de exocruzamentos, um filhote com todo o vigor do híbrido, porém com grandes probabilidades de ter qualidades iguais à do reprodutor consanguíneo.

Convém lembrar que esse Reprodutor Consanguíneo é homozigoto para aquela qualidade selecionada. e Não para todas as qualidades.

Com o tamanho de nosso banco genético natural de nossos nativos, é tranquilo afirmar que essa “depressão endogâmica” jamais ocorrerá.

Para tanto, veja:

1 – No Brasil a raça de bovinos Nelore, com mais de 100 milhões de indivíduos, é tida e reconhecida pela grande rusticidade, resistência a endo e ecto parasitas, fertilidade, ganho de pêso, etc. Muito bem, a exeção de uns poucos animais importados por criadores do Rio de Janeiro (Lengrubrer e outros) a grande importação se deu até 1962 por criadores da então Sociedade Rural do Triângulo Mineiro, hoje Ass. Bras. dos Criadores de Zebu, que totalizou apenas 5.300 animais, sendo a grande maioria fêmeas. Nesta raça foi praticada, com sabedoria, muita consanguinidade especialmente com alguns poucos touros excepcionais e o resultado aí está. O Brasil é o maior exportador mundial de carne bovina.

2 – Todo o plantel norte americano de cavalos Puro Sangue de Corrida descende praticamente de 4 garanhões. Foi intensa a consanguinidade. Aí algum desavisado poderá dizer que transformaram-se em cavalos geniosos e que não se prestam à montaria. Mas quem falou que era para ser cavalos de sela??? o objetivo da seleção era e continua a ser exatamente este: Cavalos geniosos de grande explosão muscular e de índole imbativel. O objetivo é ganhar corridas e não ter cavalos de sela.

3 – Na raça Holandesa Preta e Branca, campeã absoluta em produção leiteira, também foi praticada a consanguinidade para se obter touros de extraordinária característica e transmissão de aptidão leiteira. Para terem noção da utilização, apenas do touro ” Lord Lilly” foram vendidas mais de 1 Milhão de doses de sêmen. Foi utilizado e reutilizado.

4 – Se quiserem podem tentar buscar qual o grau de sangue de “nosso” frango industrial (o que se vende para consumo). Esse produto é o resultado do cruzamento de duas ou mais linhagens de seleção fechadas e homozigotas. E quer maior exemplo de explosão de rusticidade (vivem 10 por m2) aos 48 dias já atingem peso de abate, o índice de mortalidade é baixíssimo, etc. Na verdade esse é um dos mais maiores sucessos da criação doméstica e um dos mais bem guardados segredos de seleção e acasalamentos.

Finalmente como em tudo é necessário o bom senso e a decisão individual de cada criador em determinar os objetivos ideais para seu plantel e qual o caminho que quer percorrer para chegar a ele.

Luis Antonio Taddei

Escrito por Luis Antonio Taddei, em 19/7/2004