O Divino, Maravilhoso Curió

Feio apenas nome

O DIVINO, MARAVILHOSO CURIÓ

Dinah Silveira de Queiroz

 

A um amigo importante, pessoa de grandes e sérias responsabilidades, mandei apenas um recado: a televisão havia apresentado um concurso de curiós, em Niterói. A resposta veio imediata e feliz: lá estivera ele concorrendo com um pássaro de sua criação e ganhara prêmio!

Parece não haver muita dúvida de que o mais apreciado de todos os pássaros canoros brasileiros o curió,pela harmonia de seu trinado e pela capacidade de ser educado para cantar horas seguidas na presença de outros pássaros e em meio aos seres humanos. Tenho um exemplar em minha casa, quase todo negro mas com tons avermelhados – daí que também o chamam de “avinhado” – pelo tom debaixo das asas. Seu bico curto e de aparência muito dura. É uma daquelas espécies de aves das quais se diz, com freqüência cada vez maior, que está em extinção. 0 extraordinário no curió é que ele se adaptou à criação em viveiros e gaiolas e se reproduz fora de seu meio natural; seu canto é educável dentro daquilo que os criadores especializados chamam de “estilo”.

A fim de proteger a espécie contra o desaparecimento, o Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal baixou uma portaria que exige seja o curió participante dos torneios sujeito ao “anilhamento”, isto é, a colocação de um pequeno anel numa perna, anel que normalmente se pode ser posto, sem riscos maiores, em pássaros muito jovens e filhotes. 0 objetivo é estabelecer que os pássaros que competem nos torneios – de onde lhes advirá o sucesso e o alto valor financeiro dos mesmos – procedam de criações domésticas e não sejam de origem selvagem, o que aumentaria o risco de extinção.

Hoje, na era do chamado “som quente”, e dos mais sofisticados aparelhos de gravação e reprodução de música e da não-música, há brasileiros que dão o preço que pedirem por um curió afamado.Tenho ouvido falar em quinze, vinte, trinta mil cruzeiros. E até mais do que se paga por um cachorro de alta raça. Que nunca falte o curió brasileiro, ainda selvagem na Amazônia e outras regiões, nosso avinhado, lindo, de canto bem temperado, feio apenas no nome de sua classificação zoológica: “Oryzoborus angolensis”.

 

Dinah Silveira de Queiróz

Vamos ajudar a preservar as espécies

Escrito em 1983

ADERBAL JUREMA

É um terra palpitante a defesa da fauna e da flora brasileira. Ainda há poucos dias o Presidente João Figueiredo foi ao Pantanal para dar, com sua presença, ênfase ao combate aos caçadores clandestinos e traficantes de fronteira que estão dizimando a fauna daquela região.

Todos os Clubes e Associações de Criadores de Bicudos e Curiós do Brasil estão com o Presidente nesse bom combate, que não deve parar, pois sabemos que os contrabandistas internacionais de peles de jacaré, de felinos e plumas de aves silvestres estão agindo sem descanso na ambição de dólares e mais dólares.

Bicudos e curiós, graças a Deus, estão fora desse mercado, pois são aves canoras e que não se adaptam em climas frios. São espécies ecologicamente tropicais e que só atingem a plenitude do canto nos climas quentes e temperados.

Em verdade, os maiores contrabandistas de bicudos e curiós são os desmatadores e os espargidores de inseticidas. Pássaros dos brejos irrigados por água corrente, onde vicejam o capim navalha ou o pé de arroz nativo, bicudos e curiós estão sempre ameaçados pela extinção criminosa das nossas reservas florestais.

Mesmo o reflorestamento não cria “habitat” para essas admiráveis espécies de aves canoras, porque “eucalyptus” não da sombra nem grão… 0 movimento vitorioso dos Clubes e Associações, incentivando os seus associados a reproduzirem, em cativeiro, bicudos e curi6s, e a única esperança, para nós, amantes do canto melodioso do curió e do canto aflautado do bicudo, de preservação das espécies.

0 anilhamento compulsório dos nascidos em cativeiro ou adquiridos já adultos foi uma providência oportuna e inteligente do IBDF. Advertimos, porém, com a nossa experiência, que tudo isso só frutificará se fizermos uma campanha educativa, em todo o País, sem atitudes radicais ou falta de conhecimento do problema, que exige compreensão e amor das autoridades e de todos os criadores de bicudos e curiós do Brasil.

Escrito por Aderbal Jurema, em 29/3/2004